Developer: Capcom
Plataforma: PlayStation 5, Xbox Series X|S, PC
Data de Lançamento: 19 de setembro de 2024
A Capcom já nos habituou a trazer remasterizações e remakes como poucas companhias conseguem fazer. Depois do sucesso dos remakes de Resident Evil 2, 3 e 4, chegou a vez de um clássico de 2006: Dead Rising Deluxe Remaster. Um jogo que marcou uma geração, especialmente numa época em que o tema dos zombies estava completamente em foco. Mais uma vez, o jogador terá de sobreviver a um apocalipse zombie, mas dentro de um centro comercial. A premissa leva-nos a conhecer Frank West, um jornalista à procura da maior reportagem da sua carreira, que rapidamente percebe que terá de lutar pela sua sobrevivência acima de tudo.
Dead Rising é um clássico. Já fazendo parte da história dos videojogos. E esta remasterização traz duas vantagens para os jogadores. Por um lado, permite redescobrir a essência da experiência do jogo original, e até como eram pensados os jogos em 2006; por outro, oferece uma jogabilidade mais moderna e fluida, com mecânicas atualizadas, mas, sobretudo, um aspeto visual mais próximo dos jogos mais atuais. Ainda assim, em alguns momentos, nota-se que é um jogo com alguns anos.
Para aqueles que desconhecem a história do jogo, esta é relativamente simples, mas encaixa perfeitamente no tipo de jogo que vamos encontrar. Frank West, um jornalista (ou, um fotojornalista, já que anda sempre acompanhado pela sua câmara fotográfica), decide ir até Willamette, uma pacata cidade no Colorado, em que o único ponto de interesse é o seu centro comercial.
O interesse de Frank pela cidade surge devido aos rumores de estranhos acontecimentos que lá se passam. Para chegar ao local, contrata um piloto de helicóptero, fazendo com que seja dos primeiros jornalistas a descobrir o que se está a passar ali, e assim, conseguir a reportagem da sua carreira. Ao chegar ao local, ainda no ar, começa a perceber que algo de muito estranho se passa: as entradas terrestres para a cidade estão bloqueadas por militares, enquanto zombies andam a vaguear por todas as ruas, atacando os poucos sobreviventes que ainda por ali se encontram.
Ainda assim, e mostrando uma personalidade louca, excêntrica e ao mesmo tempo intrigante, Frank pede ao piloto para aterrar no topo do centro comercial, pedindo-lhe que voltasse em 72 horas. A partir dali, Frank é deixado no topo do edifício no dia 9, às 12h, com a promessa de ser recolhido no mesmo local no dia 12, também às 12h. Caso contrário, o piloto partiria sem ele, este é um ponto interessante do jogo, já que andaremos sempre a ver o dia e as horas no nosso relógio, para nunca falhar este ponto crucial.
É logo nesses instantes iniciais que vamos encontrar algumas das principais figuras do jogo, desde logo Carlito Keyes, o principal antagonista, e dois agentes do Departamento de Segurança Nacional dos EUA: Jessie McCarney e Brad Garrison. Ao longo da história, a relação entre Frank e os agentes começa com desconfiança, e até de se usarem mutuamente, quer para sobreviverem, como para obterem informações. É importante notar que um jornalista é tudo o que dois agentes de segurança querem evitar, mas à medida que a situação no centro comercial se complica, começam a fazer uma espécie de aliança temporária. É a partir daqui que vamos começando a perceber o que se passa na cidade, principalmente através de Jessie, que, à medida que cumprimos missões e ajudamos os agentes, começa a confiar em Frank, recendo informações cruciais para a história e para a nossa reportagem.
Ainda assim, a personagem mais crucial do jogo será Isabella Keyes, ela que é irmão do antagonista, e que ficará uma boa amiga de Frank. Outra personagem importante é Otis Washington, um velho segurança do centro comercial que comunica com Frank através de um walkie-talkie. Sendo um astuto conhecedor do local, Otis vai-nos informando de pontos onde ainda há sobreviventes e lojas onde podemos encontrar itens essenciais. Embora seja uma figura secundária, Otis desempenha um papel fundamental como suporte, ajudando-nos em elementos que se tornam uma ajuda preciosa.
Um dos pontos fundamentais do jogo é a sua jogabilidade, e esta, tal como aconteceu há 18 anos, continua verdadeiramente divertida. Em Dead Rising Deluxe Remaster vamos ter uma jogabilidade mais moderna, mas marcada pela liberdade e pela criatividade no combate, e isto acontece pela enorme variedade de opções que temos para enfrentar as hordas de zombies que andam pelo centro comercial. Podemos utilizar praticamente todos os objetos que encontramos no cenário e usá-los como armas, desde cadeiras, extintores, mesas, facas, machados, armas de fogo, pedras, móveis, máquinas registadoras, entre outras. O leque de escolhas enorme, e essa diversidade nas armas permite-nos experimentar diferentes abordagens e criar ideias diferentes enquanto tentamos sobreviver.
Além do combate, as mecânicas de sobrevivência também são importantíssimas, e aí entra a parte de salvar alguns sobreviventes que estão espalhados no centro comercial; alguns barricados nas lojas e outros escondidos. Descansem, que não será apenas por um ato de generosidade que os devem salvar, mas também pelas recompensas. Por Frank andar sempre com a máquina fotográfica, podemos tirar fotografias em qualquer ocasião, umas podem ser porque achamos importantes para a reportagem de Frank, outras apenas por diversão e para aproveitar o momento. No que toca ainda à sobrevivência temos alguns recursos vitais, já que será necessário encontrarmos comida, itens médicos de forma a conseguirmos manter a nossa health bar, mas também para ajudar os sobreviventes.
O sistema de progressão é um factor crucial no desenvolvimento de Frank. À medida que matamos zombies, salvamos sobreviventes e completamos objetivos secundários, aumentarão as habilidades da personagem e também serão melhoradas. A cada nível, Frank torna-se mais forte, mais rápido e capaz de carregar mais itens – algo que inicialmente pode parecer de pouca importância, mas que com o avançar do jogo, revela-se essencial. Além disso, ganhamos também novas técnicas de combate, aumento da resistência e até habilidades especiais que nos preparam para os desafios que o jogo nos irá trazer com o avançar da história. Diria que estas adições tornam-se um ponto fundamental, incentivando-nos a lutar contra os zombies, mas também a completar as missões secundárias.
As 72 horas é um dos aspectos mais marcantes de Dead Rising Deluxe Remaster, já que obriga-nos a fazer escolhas difíceis sobre o que será uma verdadeira prioridade. Vamos dar por nós a olhar imensas vezes para o relógio, até porque a pressão de sobreviver e conseguirmos concluir os objetivos é muita, sendo que algumas missões da história começam a horas específicas, e outras têm de ser concluídas dentro de um determinado intervalo. Esta mecânica além de muito bem implementada, leva-nos muitas vezes a perder algumas oportunidades importantes, de maneira a tentar impactar o menos possível a história do jogo.
O maior problema de Dead Rising Deluxe Remaster, é a sensação de repetição em alguns momentos. Embora, no geral, o jogo seja extremamente divertido, há alturas em que passamos mais tempo a rebentar com enormes hordas de zombies, a salvar sobreviventes e a tentar apanhar recursos do que a progredir na história. Ainda assim, é bom lembrar que isto é um jogo originalmente de 2006, e este tipo de repetitividade era um bocado comum na maioria dos jogos na altura.
Algo que agradará a muitos jogadores é a introdução de pontos de save automáticos. E acreditem que isto é uma adição valiosa, já que o esquecimento de salvar o jogo manualmente, levava a uma frustração frequente, e, agora, se morrermos, recomeçamos do último save automático. Os NPC também tiveram direito a melhorias, principalmente no aspeto da inteligência artificial: agora defendem-se melhor, atacam os zumbis nos momentos certos e tornam-se aliados mais úteis, ajudando-nos a progredir e a enfrentar as hordas de zombies.
Convém referir que o jogo oferece três modos distintos, embora inicialmente apenas o Modo 72 Horas esteja disponível. Ao completá-lo, desbloqueamos o Modo Estendido, que, por sua vez, ao ser finalizado, dá-nos acesso ao Modo Infinito. Para evitar spoilers não vou revelar o que se passa nesses modos.
Por fim, falar ainda de uma adição que chegou ao mesmo tempo que o lançamento da versão física de Dead Rising Deluxe Remaster, a nova dificuldade: Casual. Esta opção é ideal para quem prefere uma experiência mais descontraída, tendo combates mais acessíveis e a progressão bem mais facilidade, já que Frank irá subir de nível de forma mais rápida.
A grande novidade desta remasterização é, sem dúvida, a qualidade gráfica que foi incrementada ao jogo, oferecendo um nível de detalhe bastante melhor nos ambientes e nas personagens, algo que facilmente deixa um jogador impressionado em comparação com o jogo original. Cada área do centro comercial foi cuidadosamente alterada, com texturas mais realistas, iluminação aprimorada e uma enorme quantidade de zombies. As personagens principais parecem saídas de um jogo moderno: cabelos bem modelados, roupas com texturas realistas e animações redesenhadas, proporcionando movimentos mais fluídos e expressivos, especialmente nas sequências de ação e nas interações com NPCs.
A banda sonora é outro dos elementos que contribui para a atmosfera do jogo, oferecendo uma experiência auditiva melhorada e imersiva. O jogo chega com novas faixas que ajudam a empolgar nos momentos mais frenéticos e nas lutas contra as hordas de zombies. Este é outro ponto que destaca a qualidade desta remasterização.
Dead Rising Deluxe Remaster é, sem dúvida, uma remasterização de enorme qualidade, que traz fielmente a essência do clássico de 2006, mas com um aspeto e uma jogabilidade moderna. É difícil não ficarmos rendidos à atualização gráfica e até à inteligência artificial dos NPCs. Para os que nunca jogaram nenhum jogo da franquia, esta é uma boa maneira de entrarem nela, comprovando mais uma vez como a Capcom é uma das melhores companhias, tanto na criação de remakes como na remasterização dos seus jogos clássicos.