Developer: Motive, Electronic Arts
Plataforma: Xbox Series, PlayStation 5 e PC
Data de Lançamento: 27 de Janeiro de 2023

É incrível pensar que já se passaram quase quinze anos desde o surgimento de uma das obras que mais influenciou o estilo do terror nos videojogos. Quando Dead Space foi lançado em 2008 ninguém estava preparado. Uma viagem surreal, visceral, quase cinematográfica, e que transportava o jogador para uma situação inacreditavelmente violenta, e que iria testá-lo até ao limite. Muitos tentaram, mas poucos foram os jogos que conseguiram aproximar-se do nível de terror de Dead Space.

Em 2021 tivemos o surpreendente anúncio da Electronic Arts de que teríamos um remake de Dead Space. O estúdio Motive ficou incumbido do desenvolvimento, e mostrou desde logo que tinha consciência da responsabilidade desta pesada herança. Tinham a difícil tarefa de recuperar todos os elementos que fizeram do original um dos maiores clássicos do género, mas ao mesmo tempo acrescentar novidades que tornassem a experiência fresca e de algum modo inesperada.

E quem estava mais céptico pode ficar descansado, porque o resultado é tudo aquilo que um fã da série podia desejar. Não só conseguiram reacender a chama de uma franquia que hoje apenas era venerada como uma memória de um passado longínquo, como deram uma masterclass de como fazer um remake com diversas condicionantes criativas parecer como novo. A recepção tem sido excelente, e já se fala mesmo sobre a possibilidade de Dead Space 2 vir a ter o mesmo tratamento, ou, quem sabe, até a própria continuação da saga.

Às vezes, os mais pequenos detalhes têm um poder absolutamente transformador. E é precisamente o que acontece neste caso, onde simples alterações a certos aspectos do jogo fazem com que pareça bastante diferente quando comparamos lado-a-lado com o original. Seja no ambiente, no gameplay, ou na parte gráfica, ainda havia espaço para evoluir inovar, estando mais assustador, mais fluído, e com uma narrativa mais imersiva que nos fará viver tudo muito mais de perto.

Dead Space leva-nos até ao ano de 2508, onde o homem está à beira da extinção pela escassez de recursos no planeta Terra. A última esperança da humanidade tem o nome de Planet Crackers, que são naves da megaempresa Concordance Extraction Corporation (CEC) encarregues de detectar planetas ricos em minério, para depois extrair os seus mais valiosos recursos. A USG Ishimura é a grande referência dessas Planet Crackers, não só pelo seu tamanho massivo, mas porque está equipada com o que de mais avançado a tecnologia tem para oferecer. Foi enviada para o planeta Aegis VII, para o seu 35º empreendimento de extracção, e que decorre normalmente, até as comunicações caírem no silêncio, sem antes emitirem um pedido de SOS.

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Isaac Clarke é o engenheiro da tripulação a bordo da USG Kellion, a nave enviada para investigar o que possa ter ocorrido na USG Ishimura. Na chegada, continua a não haver qualquer sinal de vida, porém, uma avaria no sistema de docagem obriga a que tenham de entrar na USG Ishimura até encontrarem uma solução. Não demorará muito até começarem a entender que esse é o menor dos seus problemas, e aquela que começou por ser uma missão de resgate, passou a ser uma desesperada luta pela sobrevivência.

O primeiro contacto com os necromorphs causa as primeiras baixas, mas força igualmente a separação da equipa. Embora consiga comunicar com os restantes membros da tripulação, Isaac está agora sozinho, e essa não é a sua única preocupação, uma vez que, para piorar, estão em rota de colisão com o planeta Aegis VII. Isaac Clarke não tem mãos a medir, mas a sua versatilidade, argúcia e determinação revelar-se-ão como características fundamentais para o desafio que tem pela frente.

Todavia, a verdadeira razão para ele fazer parte desta expedição é descobrir o que terá acontecido à sua namorada, Nicole Brennan – uma das médicas residentes na USG Ishimura –, e que se encontra actualmente desaparecida. Pelo caminho, Isaac irá perceber que o real motivo para a Ishimura orbitar aquele planeta não se relaciona propriamente com a extracção de minério, mas com um enigmático artefacto com o nome de Red Marker em Aegis VII. Saberemos depois que esta relíquia é o símbolo supremo de um culto de fanáticos em rápido crescimento e que é conhecido como Cult of Unitology.

O interesse pelo Red Marker está essencialmente no seu poder, cujos efeitos afectaram de alguma maneira os colonos do planeta e a população da nave. Como devem calcular, os necromorphs estão directamente ligados a este fenómeno, e não serão a única forma de resistência com que nos iremos deparar, visto que alguns membros ainda vivos da tripulação estão já sob a influência do misterioso artefacto e serão mais um perigoso obstáculo aos nossos planos. E tudo isto, enquanto tenta conservar a sua sanidade mental.

A história está exactamente igual, o que mudou foi o modo como somos conduzidos pela mesma. Isaac Clarke já não é uma personagem muda, e conta com a voz de Gunner Wright de Dead Space 2. É um pormenor que faz toda a diferença na envolvência da narrativa, especialmente porque podemos finalmente assistir a como Isaac reage ao início de tudo. Cutscenes foram modificadas e acrescentadas para uma experiência mais assustadora, assim como uma USG Ishimura que foi redesenhada para ser maior, e pode ser percorrida livremente sem ser necessário qualquer loading.

Paga-nos o café hoje!As cenas mais simbólicas foram naturalmente incluídas e são fieis ao material original, mas alguns percursos e missões serão diferentes, tal como muitos dos objectivos e também o meio como lhes chegaremos. E como os sistemas da nave estão a falhar e não há energia para tudo, ver-nos-emos forçados a redirecionar a electricidade de um lado para o outro. Isto significa que muitas vezes teremos de escolher se iremos combater literalmente às escuras, sem gravidade, ou ausentes de oxigénio, só para dar alguns exemplos. À primeira vista pode parecer irrelevante, mas é algo que aumenta imensamente a tensão do momento, e altera por completo certas fases do jogo se compararmos com o original.

Além de um inédito final secreto que nos espera no New Game+, temos igualmente agora pequenas missões secundárias que serão muito importantes do ponto do de vista do lore e da história. E claro, com recompensas que são sempre úteis, principalmente a que nos dará o nível de acesso necessário de acesso a toda a Ishimura. Sim, outra das novidades dá-se pelo nome de Security Clearance, e que nos possibilitará abrir determinadas portas, cacifos e contentores. Estes níveis de acesso têm diversos graus, e vão sendo ganhos ao longo da história ou explorando a nave, logo, convém vasculhar bem todos os locais do mapa para que não escape nada.

Mas nada disto funcionaria sem uma extraordinária atmosfera de terror, e para a Motive esse era um aspecto indispensável em Dead Space, e para esse propósito foi criado aquilo a que o estúdio chama de Intensity Director. No fundo é um sistema de elementos que se ajustam dinamicamente àquilo que o jogador está a ver, brincando com as suas emoções e cultivando uma frequente sensação de inquietação. O suspense é uma constante, e é construído com uma mestria impressionante, por intermédio do som e da música, ou com estímulos visuais que nos causam dúvida, como nevoeiro, sombras, luzes a piscar, e muito mais.

A somar a isso, o novo e espetacular Peeling System. Se em 2008 o revolucionário desmembramento era a imagem de marca de Dead Space, neste remake foram mais longe, e adicionaram-lhe um sistema que proporciona um maior realismo quando atingimos os necromorphs. Foram agregadas camadas de carne e tendões ao osso destas criaturas, para que o desmembramento seja ainda mais credível e carregado de gore. Na prática isso traduz-se numa inevitabilidade de termos de acertar mais vezes nos necromorphs para que os seus membros se desgastem até se separarem dos corpos. Leva também a algum desespero e ansiedade nas circunstâncias onde teremos de lidar com várias ameaças simultaneamente, motivando a que tenhamos de pensar em estratégias alternativas para sobreviver.

Dito isto, as armas sofreram ligeiras, mas importantes alterações, para que possamos equilibrar as coisas. Sentimos muito mais o seu peso e poder, e os efeitos estão verdadeiramente espetaculares, sobretudo com a conjugação do Peeling System. Não temos armas novas, contudo, vamos poder encontrar schematics para upgrades, que desbloqueiam novas ramificações no sentido em que quisermos personalizar a Plasma Cutter, Pulse Rifle, Ripper, Flamethrower, Contact Beam, Line Gun e Force Gun.

São novidades que tornam os confrontos incrivelmente intensos, mas incomparavelmente melhor do que qualquer um dos jogos anteriores. A dificuldade e o pânico aumentaram, mas também as ferramentas que nos deram para responder, seja por meio do arsenal disponibilizado, como com o Kinesis e o Stasis Modules que aprenderemos a usar de modo a tirar partido do cenário à nossa volta. Quando começamos é simplesmente impossível parar, tal é a adrenalina e a genialidade do combate.

Quanto à vertente gráfica, tendo sido somente lançado para a nova geração de consolas, podem esperar, portanto, uma qualidade altíssima. Visualmente é um regalo, tanto nas texturas, como na iluminação, reflexos, ou mesmo no contraste entre luzes e sombras. A atenção dada ao detalhe é notável e o nosso espanto é contínuo, com uma execução técnica que é de louvar por parte da Motive. Nas consolas existe um Quality Mode e um Performance Mode, com o primeiro a entregar resoluções 4K com Ray Tracing a 30FPS, e o segundo a 1440p e 60FPS sem Ray Tracing. O modo de performance é claramente a melhor opção, porque jogar com a fluidez de movimentos que o combate exige, parece quase um crime.

Ao mesmo nível está a banda sonora. Pensada ao máximo para dramatizar as macabras revelações da história e gerar o mais angustiante clima de terror. Raríssimos foram os jogos que o conseguiram fazer tão bem, com a música e os efeitos sonoros a irromperem sempre nos momentos certos. O voice acting é similarmente de topo, em particular os desempenhos de Gunner Wright como Isaac Clarke, Anthony Alabi como Zach Hammond e Brigitte Kali Canales como Kendra Daniels.

Dead Space pode ser um remake, mas é uma lição de como se deve gerir este tipo de projectos. O estúdio teve a coragem de não se limitar a copiar o original e juntou-lhe ideias próprias, conseguindo a proeza de melhorar substancialmente um dos títulos mais icónicos do género.

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Nuno Mendes
Completamente obcecado por tudo o que tenha a ver com futebol, é daqueles indesejados que passa mais tempo a editar as tácticas do PES do que a jogar propriamente. Pensa que é artista, mas não conhece as cores primárias, e para piorar, é ligeiramente daltónico. Recusa-se a acreditar que o homem foi à Lua.
analise-dead-space<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Graficamente incrível</li> <li style="text-align: justify;">Muitas novidades</li> <li style="text-align: justify;">Uma fantástica atmosfera de terror</li> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Pequenos bugs</li> </ul>