Developer: Blizzard Entertainment
Plataforma: Xbox Series, Xbox One, PlayStation 5, PlayStation 4 e PC
Data de Lançamento: 8 de Outubro de 2024
A série Diablo tem sido, desde o seu lançamento em 1996, uma referência no mundo dos action RPGs, conquistando uma legião de fãs graças à sua jogabilidade viciante, história incrível e, claro, as suas expansões, que têm sempre sido bem recebidas pela crítica e pela comunidade. A cada novo jogo ou expansão, a Blizzard conseguiu elevar o patamar do género, oferecendo experiências ricas e inovadoras, que desafiam as expectativas e moldam o futuro da franquia e, por vezes, até dos RPG’s em geral.
Ao longo dos anos, cada título da série recebeu pelo menos uma expansão que marcou a saga, e estas expansões têm sido vistas como verdadeiros marcos no desenvolvimento de Diablo. Em Diablo II, por exemplo, a expansão Lord of Destruction (2001) não só introduziu novas áreas, inimigos e classes (os icónicos Assassin e Druid), mas também estabeleceu novas mecânicas que se tornaram centrais na fórmula de Diablo. Do mesmo modo, Reaper of Souls (2014), a expansão de Diablo III, corrigiu muitos dos problemas iniciais do jogo base e acrescentou uma profundidade narrativa e de jogabilidade que revitalizou a experiência para os jogadores.
Agora, com Vessel of Hatred, a Blizzard continua essa tradição de excelência, ao trazer uma expansão que não apenas solidifica as melhorias feitas no jogo base de Diablo IV, mas também o projecta para um futuro ainda mais ambicioso. Após um lançamento inicial que não esteve ausente de críticas, Diablo IV passou por uma transformação profunda, e Vessel of Hatred marca o culminar dessa metamorfose, encerrando um ciclo de renovações e abrindo caminho para novas aventuras.
Ao contrário das expansões anteriores, Vessel of Hatred não apenas amplia o conteúdo com novas áreas e inimigos, mas também apresenta uma evolução significativa na abordagem da narrativa e da construção de personagens. A Blizzard optou por um tom mais humanizado, oferecendo diálogos e interações entre as personagens que destacam a dualidade entre a brutalidade do mundo de Sanctuary e as suas ligações emocionais. Isto cria uma expansão que, além de visualmente e mecanicamente rica, traz uma nova profundidade emocional ao mundo devastado pela eterna batalha entre o Céu e o Inferno.
A história da expansão Vessel of Hatred é uma continuação directa dos eventos de Diablo IV e aprofunda o conflito entre os mortais e as forças demoníacas do Inferno, com ênfase no retorno de Mephisto, o Senhor do Ódio. No jogo base de Diablo IV, os jogadores foram introduzidos a uma versão mais sombria e madura do universo de Sanctuary, marcado por uma atmosfera de desolação e terror. O enredo de Diablo IV segue a ascensão de Lilith, a Filha do Ódio, que tenta tomar controle de Sanctuary e moldá-la à sua imagem, enfrentando o poder celestial de Inarius, um anjo exilado e seu antigo amante.
Ao longo da campanha do jogo base, o jogador, na pele do Wanderer, tenta impedir o plano de Lilith de libertar Mephisto, mas embora Lilith seja derrotada no final do jogo, o destino de Mephisto permanece em aberto, pois sua essência é aprisionada numa soulstone pelo personagem Neyrelle, uma jovem e determinada feiticeira que busca proteger o mundo dos perigos das forças demoníacas.
A expansão Vessel of Hatred retoma a narrativa a partir desse ponto crucial, e foca-se em Neyrelle e na sua luta para lidar com o fardo de carregar uma das entidades mais poderosas e malignas da mitologia de Diablo — Mephisto. Neyrelle sente o peso dessa responsabilidade enquanto viaja para o território inexplorado de Nahantu, uma região densamente florestada e corrompida, no extremo sul de Sanctuary. E, como não podia deixar de ser, o jogador, mais uma vez assumindo o papel do Wanderer, é convocado para ajudar Neyrelle na sua missão.
A narrativa da expansão é impulsionada pela dinâmica entre Neyrelle e o poder de Mephisto. Enquanto Neyrelle luta contra o fardo de carregar um dos Senhores Supremos do Inferno, o jogador é atraído para um enredo cheio de dilemas morais, em que se debate constantemente sobre as consequências de lidar com o poder de Mephisto, um dos seres mais perigosos da mitologia da franquia.
A relação de Neyrelle com o poder do ódio encapsulado na soulstone é um reflexo das tentativas anteriores de Lilith que também tentou utilizar forças proibidas para os seus próprios fins. No entanto, ao contrário de Lilith, Neyrelle é apresentada como uma personagem trágica, assombrada pelo fardo e pela responsabilidade de proteger o mundo, o que oferece um contraste interessante.
O que diferencia Vessel of Hatred da campanha original de Diablo IV é a mudança de tom na narrativa. Enquanto a campanha original era extremamente sombria e pessimista, focando no ciclo inevitável de conflito e destruição entre o Céu e o Inferno, Vessel of Hatred oferece uma perspectiva mais esperançosa, ao destacar a importância das conexões humanas e da compaixão num mundo condenado.
Esta nova abordagem contrasta com a atmosfera sombria do jogo base, trazendo momentos de leveza e humanidade, especialmente através das interações dos mercenaries, personagens que podem acompanhar o jogador durante a campanha. Ao mesmo tempo, Vessel of Hatred não ignora a essência de Diablo, que sempre foi sobre batalhar hordas de demónios e enfrentar o horror crescente que ameaça destruir Sanctuary. Mephisto, é uma figura central na narrativa, e a sua influência é sentida em todo o enredo da expansão.
Para iniciar a expansão Vessel of Hatred, é necessário que os jogadores tenham completado a história principal de Diablo IV. A campanha original de Diablo IV culmina com a derrota de Lilith e a captura da essência de Mephisto por Neyrelle. Estes eventos servem de base para a narrativa de Vessel of Hatred, o que significa que é fundamental concluir a narrativa-base antes de avançar para a expansão. Sem o contexto do que ocorreu durante a campanha principal, a história e os temas da expansão perderiam o seu impacto emocional e narrativo.
Assim que acabam a campanha principal, os jogadores recebem uma nova missão, que os encaminhará para Nahantu, a nova região. Contudo, quem quiser experimentar a nova classe e passar directamente para a expansão, saibam que têm a opção de fazê-lo, saltando a história de Diablo IV. E embora a nova região seja recomendável para níveis entre 50 e 60, não se preocupem, porque ainda que comecem com nível 1, a dificuldade dos inimigos ajusta-se ao vosso nível.
A nova região de Nahantu é uma adição visualmente deslumbrante e tematicamente rica do mundo de Diablo IV. Localizada no extremo sul do mapa de Sanctuary, esta área é caracterizada por uma densa selva que, ao mesmo tempo, é linda e aterrorizante. A atmosfera de Nahantu é opressiva e cheia de contrastes, apresentando uma paisagem exuberante e pesada ao mesmo tempo, onde a beleza natural se mistura com a corrupção demoníaca que sempre fez parte do mundo de Diablo.
Em termos de fauna, Nahantu é lar de uma variedade de criaturas tanto naturais quanto demoníacas. Os inimigos que os jogadores enfrentarão nesta nova região são variados e ameaçadores, incluindo monstros inspirados em mitologias tropicais. Entre eles, destacam-se abominações de tentáculos, serpentes gigantes e criaturas com aspectos grotescos que lembram os horrores clássicos da série, mas com um toque fresco e inovador.
Nahantu também abriga diversas dungeons que os jogadores podem explorar. Estas dungeons foram desenhadas para serem desafiadoras e oferecerem excelentes recompensas, incluindo drops raros e novos itens que complementam a jogabilidade. O design das dungeons combina elementos de exploração com combate intenso, levando os jogadores a enfrentarem hordas de inimigos enquanto buscam tesouros e desafios únicos.
A nova classe introduzida em Vessel of Hatred chama-se Spiritborn, e é uma adição fantástica, já que traz novas mecânicas e uma jogabilidade diferente ao universo de Diablo IV. Esta classe é inspirada na conexão entre os guerreiros de Sanctuary e os seus deuses-animais, permitindo que os jogadores invoquem poderes sobrenaturais que reflectem essa ligação. Os Spiritborn são conhecidos pela sua habilidade em utilizar artes marciais combinadas com as forças elementares dos seus animais guardiões, criando um estilo de combate dinâmico e versátil, numa espécie de fusão entre o Monk e o Druid.
Os jogadores podem personalizar os Spiritborn através de uma árvore de habilidades que permite uma combinação única de ataques, tornando cada construção de personagem distinta. Por exemplo, a classe permite que os jogadores utilizem uma variedade de habilidades que se baseiam em diferentes elementos, como electricity e fire, proporcionando uma experiência de combate que se adapta ao estilo de cada jogador. Além disso, a nova mecânica de combinação de habilidades promove uma jogabilidade fluída e contínua, onde os jogadores podem alternar entre ataques rápidos e outros mais poderosos.
Uma das características mais marcantes da classe é a sua flexibilidade em combate. Os Spiritborn podem criar builds que se podem concentrar exclusivamente no dano, mas igualmente em crowd control ou mesmo em aumentar a sua própria sobrevivência, dependendo da forma como os jogadores escolhem desenvolver a sua personagem. O uso de animal spirits permite que os jogadores chamem poderes adicionais durante o combate, oferecendo uma estratégia que vai além do simples ataque.
A jogabilidade do Spiritborn é complementada por uma composição visual que demonstra da sua ligação com o mundo espiritual e os deuses animais. As animações foram construídas no sentido de expressar agilidade e uma elevada técnica marcial, mostrando a capacidade da personagem de se relacionar com os seus poderes de uma forma impressionante. Esta nova classe enriquece claramente as opções de combate em Diablo IV, mas também traz uma nova vertente de estratégia e personalização, permitindo que os jogadores explorem as suas preferências pessoais ao lutarem contra as forças do mal em Sanctuary.
Em Vessel of Hatred, a introdução dos Mercenaries é uma das novidades mais importantes e enriquecedoras da expansão. Esta mecânica já era familiar para os fãs da série, especialmente de Diablo II e Diablo III, mas aqui, os mercenários retornam com um novo nível de profundidade e interacção. Não são meros figurantes, mas sim personagens com histórias próprias. Cada mercenário pertence a um grupo de renegados que nos ajudará durante os combates.
Estas personagens trazem não apenas skills bastante úteis, mas também criam uma atmosfera de camaradagem. Enquanto viajamos com os mercenários, poderemos ouvir diálogos entre eles, dando mais vida às suas personalidades. Por exemplo, Raheir frequentemente menciona a sua filha nas conversas, enquanto os outros brincam com o gosto culinário de Varyana, acrescentando uma pitada de humor ao ambiente sombrio de Sanctuary. Existem quatro Mercenaries no total (Raheir, Subo, Aldkin e Varyana), cada um com abordagens muito distintas uns dos outros, para que possamos combiná-los com o nosso próprio estilo.
Vão igualmente evoluindo conforme o jogador avança, desenvolvendo novas habilidades e aumentando a sua eficácia em combate. Cada mercenário pode ser melhorado e afinado para se adaptar à nossa maneira de jogar e, com o tempo, formar um elo importante na jornada para nos tornarmos uma lenda em Sanctuary. Tanto nos podem ajudar automaticamente durante os combates, como podemos usá-los de forma mais tática, activando-os através de habilidades específicas que são uma ajuda preciosa em momentos cruciais.
Com a expansão vem também um novo sistema de runes. Funcionam como modificadores passivos que oferecem efeitos únicos às habilidades ou condições específicas do jogador, proporcionando ainda mais flexibilidade na construção de personagens e no combate. Embora as runes já tenham aparecido em jogos anteriores da série, como Diablo II, em Vessel of Hatred o sistema foi reimaginado para integrar-se com as mudanças da jogabilidade e a nova filosofia do jogo.
Existem dois tipos principais de runes: as Effect Runes, que proporcionam efeitos específicos às nossas habilidades (por exemplo, aumentar o dano de um feitiço ou reduzir o tempo de recharge), e as condition runes, que ativam certos efeitos quando determinadas condições são cumpridas (como, por exemplo, quando derrotamos um número específico de inimigos num curto espaço de tempo). A grande inovação no sistema de runes em Vessel of Hatred é a capacidade de combinar essas duas categorias para criar efeitos e sinergias. É um sistema abre possibilidades vastas para a experimentação de builds e oferece aos jogadores a oportunidade de se adaptarem mais facilmente aos diferentes desafios que encontram nas profundezas de Nahantu.
A expansão Vessel of Hatred mantém o impressionante nível gráfico e sonoro de Diablo IV, mas eleva ainda mais o fator imersivo graças à nova região de Nahantu. Visualmente, o jogo continua a ser um dos RPGs de ação mais refinados da indústria, com uma atenção ao detalhe que se destaca desde as texturas ricas até à iluminação dinâmica, que reflete de forma magistral o clima sombrio e opressivo do mundo de Sanctuary. No entanto, a nova área de Nahantu traz consigo uma composição visual única que proporciona um contraste refrescante com os ambientes mais clássicos da campanha principal.
As selvas de Nahantu estão saturadas de vegetação densa e retorcida, com cores profundas e escuras que transmitem um ambiente de decomposição e decadência, adequado à narrativa que o jogador enfrenta na expansão. O chão lamacento e coberto de lianas, a névoa que paira ao nível do solo e as sombras dos monstros que se esgueiram por entre as árvores criam uma atmosfera imersiva e inquietante. Sem esquecer as partes submersas da cidade de Kurast que reaparecem nesta expansão, criando cenas quase oníricas.
As cutscenes, marca registada da saga Diablo, mantêm o seu papel vital na construção da narrativa, oferecendo momentos cinematográficos de tirar o fôlego. Como em jogos anteriores da franquia, estas cenas são executadas com uma mestria notável, destacando-se pelo nível de detalhe visual e pela profundidade emocional que conseguem transmitir. Em Vessel of Hatred, estas cenas desempenham um papel crucial no desenvolvimento da história de Neyrelle e na sua ligação a Mephisto.
No campo sonoro, esta expansão continua a tradição de excelência da série. A banda sonora é incrível, com músicas que variam entre melodias suaves e sombrias para momentos de exploração, e ritmos intensos e caóticos durante as batalhas mais ferozes. O design de som é impecável, destacando-se os sons dos feitiços, das armas a golpear, dos demónios a gritar em desespero, e o rolar das ondas no litoral de Nahantu. Tudo isso cria uma experiência imersiva que mantém o jogador constantemente alerta.
Vessel of Hatred é um marco na evolução de Diablo IV, demonstrando a capacidade da Blizzard de ouvir os fãs e adaptar o jogo com uma conjunção perfeita de inovação e nostalgia. Com uma história rica, a introdução de uma nova região, uma classe inédita, e o retorno dos Mercenaries, esta expansão amplia o universo de Diablo de uma forma simplesmente fantástica.