Developer: Square Enix, Team Asano
Plataforma: Nintendo Switch, PC, Xbox Series X|S, PlayStation 5
Data de Lançamento: 14 de novembro de 2024
Existem franquias que perduram no tempo e que marcaram gerações, sendo um marco na história dos videojogos. Dragon Quest é um desses casos, e, se quisermos aprofundar mais, podemos afirmar sem quaisquer problemas que Dragon Quest III foi um dos jogos mais marcantes nesse sentido. Foi lançado em 1988 no Japão e em 1992 na América do Norte, e revolucionou a indústria dos RPG, trazendo um mundo aberto para o jogador explorar, juntamente com uma história muito bem construída. Essa influência moldou muitos dos grandes RPGs de hoje, e tornou-se praticamente um padrão.
A chegada de Dragon Quest III HD-2D Remake é uma oportunidade única para revisitar algo extremamente nostálgico, ao mesmo tempo que permite que os jogadores mais novos conheçam este clássico, mas agora numa versão mais moderna. A opção de recriar o jogo com a estética HD-2D, que combina gráficos 2D pixelados com ambientes 3D, é uma escolha bastante interessante. Por um lado, consegue oferecer um toque do passado, devido ao estilo artístico escolhido, e, por outro, inova com cenários verdadeiramente incríveis e bonitos que trazem uma nova vida ao jogo. E, com um estilo visual, já usando em muitos RPG da Square Enix, como por exemplo Octopath Traveler, Triangle Strategy, Live a Live, entre outros.
A narrativa leva-nos numa jornada épica, que combina os elementos mais clássicos deste tipo de aventuras, desde salvar um mundo, derrotar um vilão e os seus exércitos, e até alguns pontos emotivos. A história começa no reino de Aliahan, onde o protagonista vive com a sua mãe, mas prepara-se para abandonar aquele reino para finalizar uma missão que o seu pai não conseguiu: derrotar o demónio Baramos e assim restaurar a paz ao mundo.
É logo desde o início da história que percebemos que o protagonista está destinado a feitos grandiosos, assim como o seu pai, Ortega, um herói lendário que era amado por todos no reino. Ortega foi enviado na missão para derrotar Baramos, mas desapareceu sem deixar rasto, e a ideia com a qual ficamos desde inicio, é que Ortega morreu, logo cabe ao seu filho dar continuidade ao seu legado e enfrentar o terrível demónio. A missão é-nos confiada pelo rei de Aliahan, que nos convoca e nos impõe esta tarefa.
O reino de Aliahan é relativamente pequeno, mas serve para nos familiarizar com as mecânicas do jogo: explorar, visitar as cidades e vilas, falar com os diversos NPCs que encontramos, receber missões, entrar nas lojas para comprar ou vender itens, e claro, ir até às igrejas para salvar o jogo e ressuscitar as personagens que nos acompanham – um clássico de todos os jogos de Dragon Quest.
É nessa exploração pelo reino que começamos a investigar onde podemos encontrar Baramos, que nos leva para fora do reino de Aliahan. Nesse momento, percebemos a grandeza de Dragon Quest III HD-2D Remake, com um vasto mapa para explorar, onde teremos várias formas para nos deslocarmos nele. Algo verdadeiramente brilhante no jogo é que não existe uma ordem correta de explorar ou fazer as coisas; temos uma ideia do nosso destino, mas o mundo é tão vasto, que muitas vezes simplesmente começamos a explorar e a distanciar-nos do nosso objetivo.
Durante todo o jogo temos diversos reinos para explorar, e cada um com características únicas. Isso nota-se em todos os cenários, quer nas áreas que percorremos no mapa mas também dentro das próprias cidades, onde cada local apresenta um design distinto, e até as roupas dos NPCs variam consoante a reino e a região. Existem zonas desérticas, outras verdejantes, outras montanhosas, etc. Uma curiosidade é que o jogo tem diversas localizações inspiradas no nosso mundo, por exemplo, o reino de Portuga é inspirado em Portugal do tempos dos Descobrimentos, mas também existem regiões baseadas no Japão, Egito e até Índia.
Embora o nosso principal objetivo seja encontrar Baramos e derrotá-lo, a verdade é que vamos ter de cumprir várias missões para conseguir progredir na história. Isso fará com que exploremos várias partes do mapa, ajudando aqueles que se cruzarem cononsco e muitas vezes até cumprir missões para termos acesso a locais inacessíveis. Sem darmos por isso, vamos ficando com uma visão abrangente do que se passa nos reinos por onde passamos, o que também aumenta o nosso conhecimento sobre aquele mundo.
Sem revelar muito mais, a verdade é que o jogo apresenta uma grande reviravolta e uma revelação que mudará substancialmente o nosso objetivo inicial. É aí que percebemos a razão deste ser o primeiro jogo de uma trilogia, que conta com Dragon Quest I, II e III, sendo este último o primeiro da linha cronológica. Por essa razão, em 2025, teremos o lançamento de Dragon Quest I & II HD-2D Remake, que completará a trilogia.
Em termos de estrutura, como já referi, temos um mundo aberto que nos permite explorar tudo o que vemos. Essa exploração leva muitas vezes à descoberta de itens valiosos e equipamentos, além de nos ajudar a melhorar o nível das nossas personagens, uma vez que, em qualquer local, podemos encontrar inimigos.
Por ser um Remake, o jogo apresenta novidades e melhorias que o tornam mais atual e melhoram as qualidade mais básicas do gameplay. Uma das novidades é a possibilidade de guardar diálogos que achamos importantes, sendo assim mais fácil relembrar-nos de alguns assuntos. Outra funcionalidade que agradará também aos jogadores é a opção de realizar viagens rápidas, e isso é possível através de um item ou através de uma habilidade que aprendemos a determinado nível. Essa habilidade permite-nos deslocar rapidamente para locais importantes, como cidades, castelos, entre outros.
Tendo agora um mapa completamente interativo e uma exploração envolvente, face à qualidade gráfica e a tudo o que podemos encontrar, temos diversas formas de explorar o mundo. Desde o simples caminhar, até andar de barco pelos mares, o que nos permite chegar a localizações inacessíveis de outra forma. Além disso, as dungeons, embora mantenham a essência do original, em termos visuais estão deslumbrantes, com puzzles e diversos itens escondidos que foram adicionados ao jogo. Isso leva-nos a querer explorar cada caminho que existe sempre á espreita de encontrar algo novo. Destacar ainda as áreas secretas do jogo, que só conseguimos encontrar com a exploração, e que nos levam a locais de exploração mais curtos que as dungeons, mas que oferecem sempre recompensas e em alguns casos alguns desafios.
Outra grande adição do jogo prende-se com a possibilidade de apanhar monstros ao longo da nossa viagem. Serão monstros amigáveis que servem para entrarmos nas batalhas de arena. Batalhas essas que, além do prestigio pela vitória, oferecem recompensas, quer com itens, como em dinheiro. Existem mais de 100 monstros que podemos apanhar, embora amigáveis, nem todos são fáceis de capturar. Por vezes, será necessário usar algumas habilidades, itens, ou usar a Classe Monster Wrangler, se tivermos algum membro da equipa com essa classe.
Nestes RPG, o combate é uma componente essencial, aqui teremos como é habitual na franquia combates por turnos. Neste remake, temos a possibilidade de selecionar grupos de inimigos que queremos atacar, de maneira a nos focarmos naqueles que nos fazem mais sentido derrotar primeiro, como é o caso dos healers. Além disso, existe ainda a opção Tactics, que nos permite definir o comportamento dos membros da nossa equipa. A nossa personagem, além do seu ataque normal, terá diversas habilidades desbloqueadas conforme aumentamos o seu nível, o que torna o combate mais interessante, e oferece assim uma componente mais tática. Uma das novidades do combate é a possibilidade de aumentarmos a velocidade com que decorrem, o que é uma adição muito bem vinda.
A equipa é outro ponto fundamental. Existem diversos tipos de personagens que podemos escolher para nos acompanhar, como Warrior, Mage, Priest, Monster Wrangler, entre outros. Estas escolhas vão influenciam diretamente a nossa progressão, mas ter uma equipa bem estruturada, e que conheçamos bem, é muitas vezes a diferença entre avançarmos sem problemas no jogo, ou termos de ressuscitar membros da nossa equipa repetidamente.
Ainda assim, se estão à espera de um jogo fácil, reconsiderarem as vossas expectativas. Dragon Quest nunca foi um jogo fácil e sempre foi um jogo desafiante, e este remake continua com a mesma premissa. É um jogo que exige paciência e calma para avançar, fazendo com que os jogadores vão evoluindo a equipa enquanto desfrutam da aventura. Caso sejam aqueles jogadores que não têm paciência para tal, então a opção de baixar a dificuldade é para vocês, e assim, passam a desfrutar unicamente da história, já que as personagens não morrem em combate e ficam sempre com apenas 1 de vida.
Provavelmente, muitos jogadores optarão por esta solução, especialmente porque, ao contrário do que acontece com outros jogos deste género onde os inimigos são visíveis no mapa, em Dragon Quest III HD-2D Remake os combates acontecem de forma aleatória. Não existem inimigos à vista no mapa e entramos em combate aleatoriamente, simplesmente por estarmos a andar. Podemos percorrer longos percursos apanhando apenas um ou dois combates, como podemos fazer o mesmo caminho e ter vários combates consecutivos, e é um aspecto que, por vezes, pode cansar o jogador e tornar-se repetitivo.
Embora já tenha mencionado a parte gráfica, é impossível não aprofundarmos um pouco mais sobre esta componente, já que visualmente o jogo está deslumbrante. Podemos dizer que é um dos melhores exemplos de pixel art apresentado num jogo, com efeitos de iluminação impressionantes, texturas detalhadas e uma profundidade notável. Dragon Quest III HD-2D Remake combina na perfeição o nostálgico com a modernidade, trazendo cenários incríveis que vão desde florestas a desertos e montanhas. Até mesmo a água está visualmente muito bonita.
E podemos explorar ainda outros detalhes, desde as casas cujos interiores estão repletos de detalhes, completamente decoradas e cheias de objetos que dão vida aos locais. As cidades e vilas com diversos NPC; as dungeons foram criadas ao pormenor e muitas delas verdadeiramente complexas. Algumas parecem-se com grutas, outras são enormes edifícios, há ainda as que têm aspecto de catacumbas, ou seja, tudo foi pensado ao mínimo detalhe, e só assim, foi possível ter um trabalho tão impressionante. Dá gosto explorar cada recanto do mapa para não perder nenhum detalhe.
No aspecto sonoro, e como é habitual, temos uma banda sonora magistral, do melhor que podemos encontrar. Composta por Koichi Sugiyama, a música do original foi remasterizada, ganhando nova vida neste remake. Já os habituais efeitos sonoros foram modernizados, mas foram mantidos os efeitos clássicos dos títulos de Dragon Quest. Destacar ainda a qualidade do voice acting, que, quando existe, está bastante interessante. Isto é, nos momentos ligados à história principal do jogo.
Algo que não posso deixar de mencionar é que a maior parte dos diálogos são apresentados apenas por texto. Tirando os diálogos que se referem à história – e esses têm voz – os restantes são apenas escritos. Com a enorme quantidade de diálogos presentes, por vezes torna-se maçador e cansativo ler tudo o que é apresentado no ecrã, especialmente quando a maioria dos RPGs existentes no mercado já começam a ter voice acting em todos os momentos de jogo. Outro ponto que poderá afastar alguns jogadores é a ausência de tradução para o português.
Dragon Quest III HD-2D Remake é, sem dúvida, um remake que não deixa nenhum fã da franquia indiferente. É um jogo de enorme qualidade que chega modernizado, mas mantendo toda a nostalgia do original. Mais uma vez, a Square Enix prova ser eximia neste tipo de jogos, e, como é habitual, entrega uma experiência de qualidade inigualável. Contudo, é importante notar que este jogo não é para todos os jogadores, mas sim para os fãs de RPGs clássicos.
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