Developer: FromSoftware
Plataforma: PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox Series X|S, Xbox One, PC
Data de Lançamento: 30 de Maio de 2025
À entrada para Elden Ring Nightreign a expectativa devo confessar que estava muito baixa. Do que tinha visto dos trainers, pouco me cativava e sentia que não iria encontrar neste jogo aquilo que me tornou fã dos jogos da FromSoftware. Vamos ver se jogar Nightreign mudou a minha ideia sobre o mais recente jogo da agora saga Elden Ring.
Nightreign é em tudo diferente dos clássicos jogos da FromSoftware, desde o modo de jogo, as personagens, e desenvolvimento das mesmas, podemos afirmar que não existe praticamente nada de RPG em Nightreign. No entanto, não falta ação. divertimento e batalhas memoráveis.
Ao contrário de Elden Ring, em Nightreign não podemos criar a nossa personagem, mas podemos escolher entre 6 personagens que são o centro de toda a experiência. Estas personagens são totalmente diferentes entre si, com focos e especialidades bem vincadas. Cada personagem tem um passivo, uma skill e um ultimate. Passo a falar um pouco mais detalhadamente sobre cada classe.
Wyler é a clássica build de strenght para iniciantes, com escudo pequeno e umas das armas mais utilizadas e mais beginner friendly de todos os Souls, a claymore. As suas habilidades são um gancho que nos permite aproximar dos inimigos e uma explosão que dá forte dano. É uma personagem fácil de dominar e talvez a mais polivalente de todas.
Visualmente, o Guardian é uma das personagens mais incríveis. Uma águia enorme com escudo pesado e um halbert que nos permite atacar a uma maior distância. Em vez de um roll, o guardian tem apenas um dash, e a capacidade de se desviar mantendo o escudo para cima. As suas duas habilidades funcionam como dano AOE e a segunda tem uma animação excepcional onde a nossa personagem voa antes de bater de volta com toda a força no chão dando dano aos inimigos que se encontrem na área. Guardian é o tank de sonho, no entanto, poucos jogadores escolhem esta personagem.
Ironeye é um arqueiro especialista em ataque à distância. Permite-nos atingir os inimigos à distância, sendo uma das classes mais usadas em todas as runs. Extremamente útil por conseguir manter-se longe do perigo, Ironeye consegue também levantar companheiros à distância com o seu arco. As suas habilidades são uma flecha mais forte que trespassa os inimigos e a possibilidade de criar pontos fracos com um ataque corpo-a-corpo.
Raider é o clássico barbarian com uma build de strenght para armas pesadas. Aqui jogamos com um guerreiro enorme perfeito para armas colossais. É uma personagem focada em dano e focada em ataques lentos, pesados e extremamente fortes. As suas habilidades permitem-nos assumir posição de ataque e desferir golpes caóticos e o ultimate deixa-nos evocar uma lápide monstruosa que nos dá uma posição de vantagem sobre os inimigos, e impede-os de chegar até nós.
Executor é uma personagem focada em dexterity e que tira o melhor proveito de katanas e armas com bleed. Esta personagem tem aquele que é, na minha opinião, o ultimate mais louco de todo o jogo, ao transformar-se num animal enorme que nos aumenta a vida e o poder de ataque. Executor foi a personagem com que joguei mais horas e sem dúvida a que mais gostei de jogar neste jogo. Para além do ultimate, a segunda skill consiste numa katana sagrada que podemos usar a qualquer altura. Esta katana permite-nos usar um move set especial a custo de alguma mobilidade.
Recluse é a build de mago disponível em Nightreign. Esta personagem foca-se em combate à distância e uso de spells. Tal como o Ironeye, é extremamente útil pois para além de conseguir dar dano à distancia, consegue também levantar os colegas à distância. A sua skill permite-nos disparar um ataque mais prolongado e o seu ultimate ataca vários inimigos em área.
Para além destas personagens existem mais duas personagens desbloqueáveis após matarmos o primeiro boss principal. Não vou alongar muito sobre estas duas personagens, mas servem para complementar as personagens já existentes, sendo a Duchess uma personagem mais rápida e de ataque corpo a corpo e a Revenant que nos dá a possibilidade de evocar fantasmas que lutam ao nosso lado.
Para cada personagem existe uma pequena passagem no Jornal que podemos encontrar em Roundtable Hold. Aqui temos uma pequena história dividida por capítulos e que nos dá alguns objetivos extra para cumprir durante as runs.
Nighreign embora seja um jogo da FromSoftware não segue o conceito conhecido como Soulslike, mas sim uma mistura de vários jogos. Aqui podemos encontrar elementos de Battle Royale, Roguelike e jogos clássicos de ação. Passo então a explicar um pouco mais detalhadamente como funciona uma run de Nightreign.
Começamos por escolher a nossa personagem e juntarmo-nos a mais dois jogadores (caso não queriam ir sozinhos, coisa que eu aconselho a não fazerem). Após esta escolha, somos largados numa zona aberta e podemos circular livremente e escolher o caminho que vamos fazer para levelar as nossas personagens. Ao matarmos inimigos ganhamos runes, e ao interagir com os Sites of Grace podemos consumir essas runes para subirmos o nível da nossa personagem. Ao contrário do que acontece nos outros Souls, aqui não podemos escolher os atributos que melhoramos, pois tudo isso já está automatizado. Assim que matamos um boss podemos optar entre algumas recompensas random, que vão desde equipamentos a upgrades de stats. Durante os dias, a zona onde podemos circular vai ficando cada vez mais pequena até chegarmos à árvore onde iremos encontrar o boss da noite.
Nightreign está dividido entre noite e dia. Durante o dia temos de evoluir as personagens e prepará-las para durante a noite combatermos um boss. Ao matar esse boss, a noite acaba e temos mais um dia para evoluir. Após a segunda noite, e matarmos o respectivo boss, vamos para o terceiro e final boss. Este boss final é escolhido logo no início da run, e é o último desafio antes de voltarmos a Roundtable Hold. Se morrermos durante o dia, podemos renascer mas perdemos um nível e as runes ficam no sítio onde morremos. Se morrermos durante a noite, ficamos no sítio até nos ajudarem, ou, se os 3 jogadores morrerem, a run acaba.
Uma das grandes diferenças para os Souls é sem dúvida a movimentação. Nightreign é absolutamente frenético no que diz respeito à maneira como nos movemos, com sprints rapidíssimos que só consomem stamina no arranque, double jumps, e mais surreal de todos, sem fall damage. Esta mobilidade é fundamental principalmente quando o mapa começa a fechar e temos de nos deslocar a toda a velocidade para não ficarmos para trás. Isto cria também a sensação de que estamos constantemente em movimento e que parar é perder tempo. Essa urgência é essencial para o sucesso das nossas runs, pois cada segundo que estamos parados é tempo que não estamos a utilizar para subir a nossa personagem.
Se há coisa que agarrou os jogadores desde o Demon Souls foram as batalhas épicas e as mecânicas de bosses que a FromSoftware consegue fazer sem igual. Aqui, embora os bosses que aparecem durante o dia estejam quase todos presentes em Elden Ring, os bosses de final de run (terceiro dia) são completamente novos e apresentam as tais mecânicas que nos deixam de queixo caído. As batalhas são longas e cheias de mudanças que testam as nossas skills, não só de combate mas neste caso de gestão, uma vez que temos mais dois companheiros com quem temos de coordenar tudo o que acontece.
Embora tudo o que fazemos durante a run se perca no fim da mesma, existe um elemento que trás um pouco de roguelike para Nightreign, as Relics. As Relics consistem em gems que equipamos nas nossas personagens e que nos dão melhorias para as runs. Aqui temos gems de 4 diferentes cores, sendo que cada personagem tem slots com combinações de cores diferentes. Existem gems azuis, vermelhas, amarelas e verdes. Cada personagem tem um goblet com cores específicas onde podemos equipar as gems, se as cores não corresponderem às gems que pretendemos equipar, é possível comprar um segundo goblet com cores diferentes para cada personagem. Ao terminarmos uma run, quer com sucesso ou não, recebemos Relics novas, de forma a poder melhorar logo a próxima run.
Se existe uma crítica a ser feita a Nightreign é sem dúvida a sua falta de qualidade de vida em alguns aspectos. Considero que para um jogo multiplayer cooperativo, não ter crossplay nem uma opção para apenas dois jogadores é algo que podia facilmente ser implementado e que poderia melhorar em tudo a experiência dos jogadores. Cada vez mais o standard da indústria começa a ser a facilidade de acesso e os jogadores poderem jogar juntos independentemente da plataforma que escolheram, e Nightreign não cumprir esse requisito é no mínimo lamentável.
Compreendo que Nightreign não seja uma obra prima que esteja ao nível de Elden Ring, mas a verdade é que a proposta é diferente e divertida o suficiente para nos agarrar ao comando por muitas horas. Embora seja uma experiência mais encarrilhada e com menos opções de escolha para os jogadores, as personagens são diversas o suficiente para conseguirmos encontrar em todos eles uma das builds clássicas dos Souls. Nightreign tem, no entanto, tudo o que podemos pedir num jogo deste género. Tem rejogabilidade, pois todas as runs são diferentes, tem diversidade de personagens, e consequentemente, diversidade de gameplay e tem as icónicas e inigualáveis batalhas com bosses que apresentam mecânicas surpreendentes e que testam todas as nossas capacidades. Aqui a Fromsoftware leva-nos pela mão, da-nos rapidez e fluidez de movimentos e cria de certo modo o playground perfeito para qualquer fã de Souls. Nightreign não é o jogo perfeito, não é uma experiência souls, não é um RPG, mas mesmo assim, é um jogo muitíssimo bem conseguido.