Developer: FromSoftware
Plataforma: PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox Series X|S, Xbox One, PC
Data de Lançamento: 21 de junho de 2024
Elden Ring foi um dos melhores jogos de 2022. Elogiei bastante Hidetaka Miyazaki por ter conseguido oferecer aos jogadores a sua melhor obra de sempre, e isso refletiu-se no número de vendas: mais de 25 milhões de cópias vendidas. Isso significa que o público deste jogo aumentou drasticamente em comparação com todas as outras franquias anteriores, como Demon’s Souls, Dark Souls, Bloodborne ou Sekiro.
É importante perceber que 25 milhões não representam um nicho. A população portuguesa nem sequer chega a metade desse número, situando-se entre os 10 e os 12 milhões, só para termos uma ideia. Assim, quando queremos fazer a continuação de um jogo, temos de ter em conta o público que alcançámos, e não voltar a enfiar a cabeça na areia, focando-nos apenas no pequeno nicho que tínhamos, como acontecia com as franquias anteriores. Esta, para mim, foi a grande falha de Hidetaka Miyazaki em Shadow of The Erdtree.
Mas comecemos pelo início: Elden Ring – Shadow of The Erdtree é um DLC incrível, isso não está em causa. Mas foi claramente pensado para os jogadores que continuaram a jogar em NG+, NG++, NG+++ e por aí adiante. Acho que dá para perceber a ideia. Eu, depois de finalizar o jogo e deixar 4 ou 5 bosses secundários para trás, simplesmente apaguei-o e comecei a jogar outras coisas.
Esta expansão leva-nos a uma nova dimensão que expande significativamente o universo já complexo e intrincado do jogo. A história começa com a nossa personagem a ser transportada para um novo reino, onde os mistérios da árvore mítica Erdtree e as suas sombras são reveladas. No entanto, não pensem que é só instalar o DLC e começar a jogá-lo. Obviamente, seria necessário complicar um pouco a vida a alguns jogadores; será necessário terem derrotado Mohg, Lord of Blood, e Starscourge Radahn.
No meu caso, faltava-me derrotar Mohg, Lord of Blood, pois, como referi, fui matando os bosses necessários para finalizar o jogo e alguns secundários que me apareciam pelo caminho enquanto explorava o jogo. Para matar tanto Mohg como Radahn, é necessário completar duas quests, que por acaso até as tinha completado. E acreditem, foi mesmo por acaso, tanto que matei Radahn quando joguei o jogo há 2 anos atrás, e Mohg ficou para trás
Sabendo disso, fui até lá, derrotei-o e iniciei o DLC. Entrando no DLC, vi novamente um mundo incrível, com a beleza característica de Elden Ring. A história deste DLC gira em torno da corrupção que assola o mundo e da batalha para restaurar a ordem. Miquella, uma figura enigmática já mencionada no jogo original, desempenha um papel central. Além disso, como acontece nos jogos de Miyazaki, existe sempre aquela batalha entre a luz e a escuridão!
Eu gostaria de dizer muito mais sobre a história do jogo, mas como sabem, os jogos de Miyazaki são sempre como ir ao cinema ver um quarto do filme e depois dizerem que, se queres saber o resto, tens de procurar na internet. Pois bem, aqui acontece novamente o mesmo. As personagens dizem 3 ou 4 falas, muitas vezes de difícil compreensão. Não há cutscenes para contar a história, praticamente não há nada; o jogador é lançado num mundo onde tem de andar a matar bosses. Muitos olham para as franquias de Miyazaki com este objetivo em mente: simplesmente derrotar os bosses e sentir a satisfação de superar os desafios.
Quando digo isto, não é no sentido de uma crítica negativa. Cada jogo tem a sua maneira de ser. O que não se deve é iludir os jogadores dizendo que a história de Elden Ring é rica e cheia de pormenores. Não é. É vazia e oferece muito pouco em termos de narrativa. A maior parte das quests completadas pelos jogadores são feitas seguindo guias da internet, pois o sistema de quests praticamente não existe no jogo. Apesar de haver inúmeras quests ao falar com NPCs, o sistema é tão vazio que muitas vezes as quests são completadas por mera sorte. Outras vezes, seguir um guia no YouTube ou num site dedicado a videojogos é a única maneira de não cometer erros.
Falando em quests, diversas novos personagens foram introduzidos no jogo, cada um com as suas motivações, que encontramos espalhados pelo mundo. Muitas vezes, após completarmos algumas partes das quests, eles aparecem noutros locais, enquanto outros desaparecem por completo. Nada de novo para os jogadores, pois é o sistema que o jogo original usava.
Entre todas as conversas, além da corrupção praticamente descrita por todas as personagens, vamos percebendo como aquele mundo é cheio de traições e alianças ocultas, com Miquella e Messmer a terem um papel central. Miquella é visto como o salvador do mundo, um altruísta por natureza, enquanto Messmer é descrito como uma figura aterrorizante que procura o controlo e o poder absoluto.
Passando para o ambiente e design do mundo, que juntamente com a música são os dois pontos altos desta expansão, temos um mundo que impressiona visualmente, com uma atmosfera rica e uma imensidão de cenários diferentes. A verticalidade, já presente no jogo original, é ainda mais aprofundada.
As paisagens são sombrias e misteriosas, muitas marcadas por vegetação seca ou sem cor e uma arquitetura desolada. A expansão leva-nos a um reino devastado, com árvores retorcidas, campos cobertos de neblina e estruturas antigas em ruínas. A atmosfera é densa e opressiva, criando uma sensação constante de perigo iminente.
Existem zonas pantanosas, diversas grutas para explorar, castelos, torres e muito mais. Algo que rapidamente se percebe é que Shadow of the Erdtree incorpora um nível de navegação vertical muito mais complexo e desafiador do que o encontrado no jogo original. Enfrentamos penhascos íngremes, plataformas suspensas e passagens ocultas que exigem exploração cuidadosa e muitas vezes, alguma habilidade para lá chegar. Esta verticalidade adiciona uma nova dimensão ao jogo, incentivando os jogadores a pensar em múltiplos níveis enquanto exploram.
Por outro lado, isso acrescenta ainda mais complexidade ao mapa. Se no jogo original já era complicado perceber como chegar a determinadas áreas, agora isso torna-se ainda mais desafiador. Portanto, preparem-se para muitas vezes ficarem completamente perdidos, sem saber como subir para certos locais ou descer para algumas áreas.
Confesso que uma das coisas que mais gostei, tal como aconteceu no jogo original, foi a exploração. As áreas são cuidadosamente construídas e recompensam a curiosidade e a atenção aos detalhes. Cada área é rica em elementos ambientais e, por vezes, parece contar histórias por si mesmas, desde os restos de batalhas passadas até aos vestígios de civilizações perdidas. Vale sempre a pena ressaltar que este tipo de trabalho não é novidade para a FromSoftware, que mais uma vez demonstra a sua habilidade em criar ambientes imersivos.
Preparem-se para explorar vastos campos abertos e complexos labirintos subterrâneos, cada um com os seus próprios desafios e inimigos únicos. A transição suave entre diferentes tipos de terreno e ambientes mantém a exploração fresca e envolvente, evitando a sensação de repetição. Além disso, o jogo continua a oferecer elementos dinâmicos, como mudanças climáticas e iluminação variável, que contribuem para a atmosfera e a imersão no jogo.
Vamos então falar do que mais interessa neste tipo de jogos: os combates e os bosses. Como devem imaginar, os combates continuam intensos e desafiadores, muito desafiadores até. Esta expansão chega com novos inimigos e mecânicas que renovam a experiência de batalha para os jogadores. A expansão introduz uma variedade de novos elementos que não apenas aumentam a dificuldade, mas também expandem as opções táticas disponíveis.
Os novos inimigos de Shadow of the Erdtree são diversificados e apresentam imensos desafios. Desde criaturas menores e ágeis até gigantescas aberrações que requerem estratégias específicas para serem derrotadas, cada encontro é projetado para testar as habilidades do jogador e a sua capacidade de resistência. Os bosses, em particular, são uma das maiores atrações da expansão. Cada um é meticulosamente desenhado com padrões de ataque únicos e mecânicas que exigem precisão, paciência e uma grande resistência por parte do jogador. Muitos adversários agora chegam com ataques devastadores e movimentos imprevisíveis, mantendo os jogadores constantemente alerta.
Por um lado, isto pode satisfazer o nicho de jogadores que já vêm dos vários jogos “souls” da FromSoftware, mas também mostra como cerca de 20 milhões de jogadores que iniciaram a sua aventura com Elden Ring foram esquecidos e deixados de lado. É fácil perceber onde quero chegar. Como sempre digo quando analiso este tipo de jogos, o combate com bosses é como uma espécie de dança. Depois de um certo número de combates, os jogadores entendem as mecânicas, os golpes e o loop que acontece na maioria das vezes. Após decorar isso, é só “dançar” com o boss: esperar que ele ataque, desviar ou defender, e depois atacar. O loop era quase sempre este; bastava entender a sua mecânica.
Agora isso está ligeiramente alterado. Embora seja possível conhecer os 7 ou 8 golpes de cada boss, a verdade é que o loop que tanto ajudava os jogadores desapareceu. Os golpes passaram a ser completamente aleatórios, e praticamente 90% dos bosses do jogo agora têm ataques que alcançam todo o terreno de combate. A ideia de fugir para tentar beber um flask ou observar os movimentos do boss acabou. O objetivo agora é tentar eliminar o jogador de qualquer maneira. Muitas vezes, ao entrar na arena, já estamos a levar com um ataque do boss, sem ter tempo de colocar um buff ou chamar a Mimic.
Isto pode parecer divertido para o pequeno nicho de jogadores que só jogam soulslike, mas para aqueles que começaram com Elden Ring, isto é como dizer-lhes que não são bem-vindos aqui. Não tem a ver com o nível de dificuldade, porque qualquer jogador pode passar 100 horas a subir o nível da personagem em vários locais do jogo, até ao ponto de matar os bosses facilmente com 3 ou 4 golpes. Mas não é isso que se deve esperar de um jogo. Passar 100 horas apenas a subir uma personagem é tempo suficiente para terminar 4 ou 5 jogos de outros estúdios, e numa época em que o tempo é precioso, ter de fazer isso, não será muito apelativo a alguns jogadores.
Ainda assim, para o pequeno e antigo nicho de jogadores, é fácil dizer que esta é a expansão que tanto esperavam, com bosses verdadeiramente desafiantes. Esta é uma expansão projetada para vocês! Os novos bosses conseguem eliminar o jogador em apenas 2 ou 3 golpes, praticamente todos têm ataques de área, de longo alcance, rodopios e saltos. Alguns até ficam no ar por vários segundos, tornando impossível para os jogadores atacá-los, a menos que sejam mages, enquanto eles lançam golpes mágicos contra o jogador. Uma expansão perfeitamente balanceada para quem acabou Elden Ring três, quatro ou cinco vezes.
Felizmente para os jogadores, existe algo que melhora bastante a vida dos jogadores. Embora mal explicado no jogo, existem dois tipos de itens que são essenciais para se ter sucesso na expansão – apesar de certamente aparecer alguém que a termine sem usá-los. Falo dos Scadutree Fragments e dos Revered Spirit Ash. Estes elementos foram introduzidos na expansão e são projetados para adicionar uma camada estratégica e desafios adicionais à experiência de jogo. Os Scadutree Fragments atuam como recursos de melhoria do poder, uma espécie de buffs que amplificam tanto as capacidades ofensivas quanto defensivas do jogador dentro da expansão. Esses fragmentos são essenciais para ajustar a dificuldade, pois aumentam a resistência e a eficácia da personagem em relação aos adversários, incluindo os bosses. No entanto, a sua obtenção não é trivial, exigindo muita exploração e a superação de desafios para encontrar o número necessário de fragmentos.
Por outro lado, os Revered Spirit Ash funcionam como impulsionadores para as invocações espirituais, melhorando as suas habilidades e tornando-as mais eficazes durante as batalhas. Esses recursos são fundamentais para aqueles que dependem de aliados para enfrentar os desafios da expansão. Juntos, os Scadutree Fragments e os Revered Spirit Ash formam um novo sistema de progressão, criando uma nova mecânica de jogo.
Um dos pontos que me agradou bastante foi a chegada de novas armas e novos feitiços. Confesso que usei pouco os feitiços, pois prefiro sempre andar com uma espada ou katana, e raramente criei uma build de mage, embora saiba que são as mais “OP” em Elden Ring. A expansão inclui uma variedade de novas armas com movimentos únicos, permitindo-nos explorar novos estilos de combate. Entre elas, destacam-se armas que combinam efeitos elementares, proporcionando novas formas de abordagem nas batalhas. Os novos feitiços e habilidades oferecem mais versatilidade, permitindo a construção de personagens ainda mais customizados e estratégias variadas.
Algo que deveria ter chegado com a expansão são ainda mais itens que permitissem ao jogador colocar mais armas no seu nível máximo, assim como itens para dar reset nos pontos colocados na skill tree. Isso seria uma maneira interessante de testar novas builds, até porque muitas vezes, para ultrapassar certos bosses, a vontade é mesmo essa: experimentar coisas novas. No entanto, o número de itens para fazer esse tipo de experimentação é tão limitado que restringe bastante os jogadores de cometer essa “loucura”.
A banda sonora e os efeitos sonoros de Shadow of the Erdtree são um dos seus pontos mais relevantes, desempenhando um papel essencial na criação de uma atmosfera imersiva e envolvente. A música varia habilmente entre temas suaves e melancólicos durante a exploração, até composições intensas e dramáticas nas batalhas contra bosses, utilizando uma orquestração rica que evoca grandiosidade e desespero. Os efeitos sonoros, meticulosamente projetados, complementam essa experiência com detalhes que vão desde os sons ambientes que aumentam a tensão nas novas áreas até aos distintos sons dos inimigos que alertam os jogadores sobre as ameaças iminentes.
Elden Ring – Shadow of the Erdtree oferece uma jornada profundamente imersiva e desafiadora, enriquecida por um mundo vasto e intrigante, com novos desafios de combate e um sistema de progressão que adiciona novas camadas de estratégia ao jogo. Com uma ambientação visualmente deslumbrante, uma banda sonora que complementa perfeitamente os cenários envolventes e uma variedade de novos inimigos, esta expansão expande e aprofunda a experiência oferecida pelo jogo original. Acredito que, tal como o jogo original, irá vender imenso. Ainda assim, caso não sejam lançados patches que balancem a dificuldade dos bosses, a percentagem de jogadores que terminem a expansão será bastante diminuta em relação às vendas. Diria mesmo que, para os que embarcaram nas aventuras dos souls em Elden Ring, a dificuldade exponencial da expansão em relação ao jogo original levará muitos jogadores a preferirem deixá-la de lado. Ainda assim, é uma obra que merece imensa relevância, embora criada para o nicho mais antigo de jogadores.