Developer: Nintendo
Plataforma: Nintendo Switch
Data de Lançamento: 29 de agosto de 2024

Em 2021, a Nintendo lançou os remakes de dois jogos da franquia Famicom Detective Club: The Missing Heir (lançado para a Famicom, a edição japonesa da NES, em 1988) e The Girl Who Stands Behind (lançado para a mesma consola no ano seguinte, em 1989). O sucesso desses lançamentos levou a Nintendo a decidir, após 30 anos, relançar uma nova história da franquia, intitulada Emio – The Smiling Man: Famicom Detective Club.

O jogo segue os mesmos parâmetros do remake dos dois títulos remasterizados, pelo que, se jogaram algum deles, estarão bastante familiarizados com o que vão encontrar neste novo jogo. Mais uma vez, a história é o ponto central do jogo, o seu núcleo; todas as outras mecânicas servem como complemento ou, se preferirem, como ferramentas para nos fazer avançar na narrativa.

Emio – The Smiling Man: Famicom Detective Club transporta-nos para uma história macabra que começa com o homicídio de um adolescente. O mais intrigante, contudo, é que, à medida que a história avança, descobrimos que o caso é ainda mais perturbador do que o próprio crime inicial, uma vez que o modo como o homicídio foi cometido nos remete para outros casos ocorridos há 18 anos atrás, de forma semelhante.

O estudante em questão é Eisuke Sasaki, um aluno do secundário que é encontrado morto por estrangulamento, e com um saco de papel com um sorriso desenhado colocado sobre a cabeça. Só este começo já é bastante estranho e instiga-nos imediatamente a desvendar a identidade do assassino. Contudo, a história torna-se ainda mais intrigante com a revelação de três homicídios que ocorreram 18 anos antes, em que as vítimas, todas mulheres, também tinham sacos na cabeça com sorrisos desenhados.

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Apesar das semelhanças, há diferenças notáveis. No caso de Eisuke Sasaki, a vítima é um rapaz, enquanto que nos três homicídios anteriores as vítimas eram raparigas. Este pormenor levanta várias questões: será o assassino o mesmo, ou há um novo responsável por estes crimes? E se for o mesmo, por que motivo voltou a matar após 18 anos, e por que razão escolheu um rapaz desta vez? Como podem ver, há muitas pontas soltas neste caso que precisamos de desvendar.

A alimentar ainda mais este mistério está a existência do mito urbano de Emio, também conhecido como The Smiling Man. Segundo o mito, trata-se de um assassino em série que, ao encontrar alguém triste ou a chorar, não só mata a pessoa, como também coloca um saco na cabeça da vítima com um sorriso desenhado, de maneira que a vítima fique a sorrir para sempre. Sendo um mito urbano, a sua veracidade é sempre incerta, mas o que sabemos é que há quatro casos com demasiadas semelhanças para serem ignoradas.

Ciente do que se passa, a nossa personagem, um jovem detetive que trabalha na Utsugi Detective Agency – uma agência bem conhecida para quem jogou os títulos anteriores – começa a investigar todos estes eventos. Mas ele não estará sozinho; a sua colega Ayumi Tachibana, também uma jovem detetive, partilhará a responsabilidade de desvendar este caso, até porque existem momentos em que jogaremos com com ela. Além disso, contamos com o apoio do diretor da agência, Shunske Utsugi, que nos oferece algumas pistas preciosas e que, por acaso, trabalhou nos três homicídios ocorridos há 18 anos.

É importante destacar que não é apenas a nossa agência de detetives que está empenhada em resolver o mistério; a própria polícia, que nos solicitou ajuda, também está profundamente envolvida no caso. Os inspetores ligados à investigação desempenham um papel crucial na história. Em particular, o inspetor-chefe Kimiharu Kamada, que colaborou com Shunske Utsugi nos casos de há 18 anos, foi o responsável por contratar a nossa agência para apoiar na resolução do homicídio de Eisuke Sasaki.

Outra personagem relevante é a inspetora Junk Kuze, que está a trabalhar ainda mais intensamente neste caso. No entanto, fica claro desde o início que ela não está muito favorável à participação da nossa agência na investigação. À medida que a história se desenrola, percebemos que a sua ligação ao caso é mais peculiar do que aparenta.

Sem revelar mais detalhes da história, até porque já partilhei bastante e mantive-me dentro dos limites do que é apresentado na demo do jogo, vou agora falar sobre as suas mecânicas. Tal como nos títulos anteriores, para interagir com o ambiente, temos à disposição um menu do lado esquerdo com várias opções.

As opções neste menu variam conforme o local onde nos encontramos e as ações que podemos realizar no momento. Uma das opções é a Travel, que surge apenas em determinados momentos, como, por exemplo, quando uma conversa termina e precisamos deslocar-nos para outro lugar. Às vezes, essa opção também permite viajar para um local importante, mas só aparece quando já completámos todas as ações possíveis no cenário atual.

A opção que mais irão utilizar ao longo do jogo é Ask/Listen, que permite interagir com as personagens. Em determinados momentos, este comando abre um sub-menu com opções para perguntar sobre assuntos específicos, como perguntas sobre algumas pessoas, sobre o cenário, entre outras coisas. É importante entender que 90% do jogo consiste em diálogos, ou seja, em utilizar esta opção. Assim, este não é, claramente, um jogo para todos os jogadores; é uma experiência onde a narrativa é o ponto central, e a ação é praticamente inexistente, tornando-o um título mais voltado para um público de nicho.

Outra opção bastante importante é a Think. Esta é uma das ferramentas mais cruciais, pois permite à personagem refletir sobre as conversas e formular as suas próprias ideias e opiniões. Além disso, serve como um guia, oferecendo dicas sobre o que devemos fazer a seguir, funcionando como um desbloqueador nos momentos em que o jogador se sente perdido. E acreditem, isso acontece várias vezes, especialmente devido a uma das maiores falhas do jogo, que reside na opção Ask/Listen. Passo a explicar: frequentemente, estamos a discutir um determinado assunto, e a personagem com quem estamos a conversar diz algumas coisas e, em seguida, silencia-se. Naturalmente, qualquer jogador pensará que a personagem terminou o que tinha a dizer sobre aquele assunto. No entanto, para que a conversa continue, é necessário voltar à opção Ask/Listen e pedir novamente para falar sobre o mesmo tema, para que a personagem continue a conversa. Esta mecânica é um tanto ilógica e muitas vezes interrompe o fluxo de pensamento do jogador, deixando-o sem noção do que fazer a seguir.

Existe ainda a opção de visualizar o cenário através do Look/Examine. Aqui, uma lupa aparece no ecrã, permitindo-nos selecionar qualquer parte do cenário, semelhante aos jogos point-and-click. Esta é outra opção que será usada várias vezes ao longo do jogo, quer para procurar algo num cenário, mas também muito frequentemente para examinar a expressão facial das personagens com quem estamos a falar, ajudando-nos a perceber se estão com uma expressão suspeita ou algo do género.

Outra opção importantíssima é a Open Notebook, onde encontramos as anotações sobre todas as personagens com quem interagimos, assim como todos os envolvidos no caso e todos os detalhes relevantes para a investigação. Aqui, podemos consultar fotos, palavras-chave, locais, datas e outros elementos essenciais.

Por último, é importante mencionar a opção Review no menu. Este é o local onde tiramos conclusões sobre o que foi descoberto até ao momento. Às vezes, a personagem faz essa análise sozinha, mas muitas vezes acontece em cooperação com outro personagem, geralmente no escritório, com Ayumi. Esta opção está também associada a alguns “mini-jogos”, que podem envolver selecionar a resposta correta entre duas ou três opções, consultar as anotações para encontrar uma informação crucial, ou, ocasionalmente, preencher uma palavra que falta numa frase. Contudo, esta última mecânica tem um problema, visto que não é possível avançar sem inserir a palavra correta, e nesses momentos, não é possível aceder ao menu para consultar as anotações, o que pode ser bastante frustrante.

Agora seria o momento de falar da jogabilidade, como a exploração dos cenários e a deslocação entre locais à nossa escolha, mas infelizmente nada disso existe neste jogo. Tal como nos jogos anteriores, tudo é estático. Existem animações mínimas durante os diálogos, e quando estamos a examinar locais, tudo é feito numa imagem fixa, onde movemos a lupa, semelhante a um jogo point-and-click. Não há momentos de ação, vídeos, ou mesmo longas animações. Se nos remakes dos títulos anteriores isso era compreensível, dado que eram jogos com muitos anos, neste novo título já é algo mais difícil de justificar.

Apesar da ausência de cutscenes ou animações elaboradas, o grafismo do jogo é bonito e bem desenhado. Embora seja uma pena que esses elementos estejam em falta, é difícil ficar desapontado com a qualidade apresentada, já que os visuais oferecem um bom nível de detalhe.

Um dos aspetos que poderá afastar alguns jogadores é o facto de todas as vozes estarem em japonês e todo o texto em inglês. Considero que é uma falha significativa o jogo não oferecer, no mínimo, um áudio em inglês, especialmente porque a quantidade de texto que temos de ler é bastante extensa, o que pode tornar a experiência aborrecida. Como é um jogo sem ação, é difícil não sentir alguma sonolência após algumas horas de jogo. Também é difícil compreender por que razão este jogo não tem localização em português, visto que se trata apenas de tradução de texto.

Emio – The Smiling Man: Famicom Detective Club é um jogo de nicho, mas que conta com uma história bastante interessante, que nos motiva a tentar desvendá-la. No entanto, é um título que nos remete para os point-and-clicks de antigamente. Depois dos remakes de The Missing Heir e The Girl Who Stands Behind, era altura desta franquia dar um salto em direção a algo com um pouco mais de ação. Dessa forma o jogador podia sentir-se realmente parte da história, em vez de apenas sentir que está apenas a seguir o enredo como o autor o planeou, sem termos opção de fazer escolhas relevantes ao longo da narrativa. Ainda assim, quem gostou dos jogos anteriores certamente ficará entusiasmado com este novo título da franquia.

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Rui Gonçalves
Desde o tempo do seu Spectrum+2 128k que adora informática. Programador de profissão nunca deixou de lado os jogos, louco por RPGs e jogos de futebol. Adora filmes de acção e de ficção científica, mas depois de ver o Matrix nunca mais foi o mesmo.
analise-emio-the-smiling-man-famicom-detective-club<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">História bem escrita e muito interessante</li> <li style="text-align: justify;">Personalidade dos personagens bastante variadas</li> <li style="text-align: justify;">Irá agradar aos fãs de point-and-click e de jogo de detetives</li> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">O dialogo não é fluido, já que o jogador tem de estar sempre a insistir para este acontecer</li> <li style="text-align: justify;">Falta de animações</li> <li style="text-align: justify;">Não tem tradução para português</li> </ul>