Developer: Amplitude Studios
Plataforma: Xbox Series, Xbox One, PlayStation 5, PlayStation 4, PC e Nintendo Switch
Data de Lançamento: 17 de Outubro de 2023
O universo dos videojogos, como qualquer outro meio criativo, é um terreno fértil para a experimentação e progresso. Os títulos indie têm, ao longo dos anos, ganho destaque e notoriedade por ousarem desafiar as convenções, explorar novas ideias e expandir os limites do que é possível num videojogo. É neste cenário de inovação e ousadia que a Amplitude Studios, conhecida por títulos como “Endless Space” e “Endless Legend,” nos apresenta o seu mais recente título: “Endless Dungeon.”
Os jogos independentes há muito que deixaram de ser vistos como projectos de nicho. Têm vindo a redefinir o panorama dos videojogos, muitas vezes agindo como catalisadores de novas tendências e abordagens criativas. Em particular, os jogos indie têm a capacidade única de fundir estilos e mecânicas, criando experiências únicas. E é nesse ponto que “Endless Dungeon” se destaca. Este híbrido entre o twin-stick shooter, o roguelite e o tower defense, é a prova viva de como os estúdios indies conseguem quebrar as barreiras dos géneros convencionais.
Ao explorar o vasto espaço do gaming, os estúdios independentes muitas vezes têm o “privilégio” de não estarem limitados por orçamentos exorbitantes ou por agendas de lançamento rígidas. Isso permite-lhes concentrar na qualidade da experiência do jogador e na inovação de jogabilidade. E “Endless Dungeon” é um exemplo impressionante desse espírito de liberdade criativa.
Num cenário estelar distante, o Endless Dungeon desenrola-se a bordo de uma enorme estação espacial, e uma relíquia de uma antiga raça misteriosa conhecida como os Endless. No entanto, hoje a estação permanece deserta, excepto pelos horrores que a infestam, e claro, de um grupo de heróis. A única esperança destes últimos reside em encontrar o núcleo da estação e tentar reactivar o seu reactor, de maneira a poderem escapar.
A narrativa é muito simples e serve essencialmente para nos apresentar à jogabilidade, onde começaremos com o Sweeper, um dos tripulantes. Enquanto luta pela sobrevivência contra temíveis criaturas alienígenas, ao lado de Zed, um space marine, irá, simultaneamente, desvendar os segredos da estação e do funcionamento do Reloader – uma incrível tecnologia que ressuscita quem cai em batalha. Como é habitual em muitos jogos de baixo orçamento, as partes mais relevantes da história são contada através de cutscenes ao estilo de uma BD, e apesar de não ser onde mais brilha, é eficaz no propósito.
Endless Dungeon apresenta-se primordialmente como um twin-stick shooter, porém, com uma identidade muito peculiar. Temos de escoltar o simpático Crystal Bot enquanto enfrentamos incontáveis vagas de inimigos, e desde que um membro do grupo permaneça vivo e impeça os inimigos de destruírem o Crystal Bot, os restantes companheiros regressarão após terminar cada vaga. Contudo, se o Crystal Bot for destruído, a equipa será prontamente dizimada.
O ciclo do gameplay consiste em avançar de sala em sala e derrotar diversos tipos de inimigos e os bosses correspondentes, sem nunca sabermos o que vamos encontrar. Como tal, rapidamente iremos entender que não conseguimos enfrentar as desafiantes vagas de inimigos sem ajuda, e é precisamente aí que entra a vertente de Tower Defense. Também podemos contar com um grupo de personagens com habilidades bastante úteis, uma boa variedade de armas, além das turrets que podemos melhorar à medida que avançamos.
O risco compensa, porque entrar em sala irá compensar-nos com tipos específicos de moedas, cada uma oferecendo opções para melhorar equipamento e não só. Há moedas especificamente para os upgrades das armas, outras para boosts às personagens, outras para construir turrets e muito mais. Nesse sentido, quanto mais portas abrirmos, maior a margem de evolução, embora exista o perigo de o desafio estar para além das nossas capacidades. Mas essa incógnita faz parte da diversão, uma vez que adiciona uma certa dose de tensão à decisão entrarmos – ou não – numa nova sala. É uma mecânica original, e que funciona excepcionalmente bem, sendo talvez o coração de toda a dinâmica de gameplay.
Tanto é possível jogar a solo, na companhia de uma ou mais personagens (com os upgrades certos). Todavia, é com amigos que Endless Dungeon atinge o seu ponto mais alto. Cada herói tem a sua própria classe e uma arma inicial, onde o objectivo é desbloquear outras personagens através de missões. As classes – ou personagens, se preferirem – são variadas e há para todos os gostos. Existem oito no total, cujos perfis proporcionam de tudo um pouco. Temos damage-dealers, tanks, suports, healers e crowd control, e alguns que misturam elementos entre esses mesmos estilos.
Jogar a solo, torna o gameplay mais parecido a um RTS de acção, e devido à própria natureza do jogo, por vezes sentimos que é uma forma insuficiente de desfrutar de Endless Dungeon. Novamente, é o seu modo cooperativo (apenas online) que entrega a experiência ideal, já que iremos depender da comunicação para coordenar inúmeras tarefas e estratégias. O caos é constante, mas também a satisfação de superá-lo quando combinamos esforços com os nossos companheiros. É um jogo que ganha uma alma especial quando é jogado assim, e óptimo para passar um bom bocado com amigos.
A planificação para os tipos de inimigos que vais enfrentar torna-se crucial nos pisos mais difíceis, e é aí que a natureza aleatória das armas e torres disponíveis pode ser um pouco frustrante. Houve corridas em que as armas e melhorias eram comuns, e eu podia sentir-me como um génio tático ao implantar exatamente os tipos certos de torres e usar armas feitas à medida para os inimigos na área. É muito divertido ver um exército de monstros a evaporar-se enquanto é desfeito por defesas bem colocadas. Mas depois há momentos em que a má sorte aparece, sem melhorias relevantes à vista e monstros atrás de cada porta. Sentir-se impotente quando uma onda começa, sem nada para conter a horda, sem culpa própria, não é uma sensação agradável – embora, felizmente, esses momentos sejam raros.
Quanto aos elementos roguelite, quando morremos – algo que acontece com alguma naturalidade – vamos ter a oportunidade de comprar itens, upgrades e até skins para a próxima run numa espécie de lobby com o nome de Saloon. Mas não é só, porque tem muito para explorar, incluindo várias personagens com quem podemos conversar e descobrir mais sobre a história de Endless Dungeon. É um sistema interessante, porque até retira um pouco a frustração de uma run mal sucedida, proporcionando uma oportunidade de planear melhor a abordagem para a próxima tentativa.
Graficamente, está muito bem executado e encaixa que nem uma luva na proposta. Tem o mesmo estilo dos títulos anteriores do estúdio, a fazer lembrar o tipo de animação que podemos encontrar nos MOBAS mais populares, como o League of Legends e o DOTA. Os efeitos das armas e das habilidades estão absolutamente fantásticos, acrescentando imensamente ao caos e frenesim da acção. O mesmo acontece com a música e os efeitos sonoros, que complementam a experiência de forma perfeita.
Endless Dungeon foi uma óptima surpresa e é um daqueles jogos que deixamos sempre instalados na consola para quando queremos reunir-nos com amigos. A mistura de diversos estilos nunca parece forçada, e cada elemento tem a sua importância na jogabilidade, tornando a experiência bastante agradável. Um dos bons indies de 2023.