Developer: Codemasters, EA Sports
Plataforma: Xbox Series X|S, PlayStation 5 e PC
Data de Lançamento: 31 de Maio de 2024
Ao longo dos últimos anos, a franquia F1 tem habituado os jogadores a um padrão de qualidade muito grande. Praticamente desde F1 16, quando a Codemasters ainda era independente, as coisas foram evoluindo, de tal forma que o seu sucesso contribuiu muito para que a EA Sports comprasse o estúdio em 2021 e voltasse a ter uma franquia que já tinha tido no início dos anos 2000.
No meu caso, depois de alguns anos afastado das pistas, voltei a ser um piloto mais assíduo desde 2019, e entre altos e baixos, a verdade é que há sempre alguma novidade de um jogo para o outro. Este F1 24 é mais um passo na construção de uma carreira sólida que uma franquia desportiva com lançamento anual deve ter. No entanto, é normal que sofra de alguns males de um jogo que é lançado todos os anos. Este ano a aposta foi para um suposto renovado modo carreira, mas deixou de lado o modo história que tinha regressado o ano passado, e que vai deixar saudades.
Não sei se a decisão de não incluir novamente este modo de sucesso está relacionado com o tempo de produção que uma nova temporada leva a fazer, se com o querer render o peixe e lançar apenas de dois em dois anos um novo capítulo, recordando que em 2021 foi a estreia de Braking Point e só em 2023 teve uma continuação. A ver vamos se em 2025 aparece a parte 3.
Sem isso, era necessário dar algo novo aos jogadores e aqui dou os meus parabéns à EA e à Codemasters que ouviram as críticas do ano passado em relação ao facto de não ser permitido fazer uma carreira com um piloto profissional. Eu próprio na minha análise a F1 23 coloquei no negativo essa impossibilidade. F1 24 permite agarrar num dos pilotos atuais da grelha e levá-lo ao sucesso. Além dos pilotos da F1, também estão disponíveis os da F2 e algumas lendas, com destaque para Ayrton Senna, Michael Schumacher, Jenson Button ou Jacques Villeneuve. Ao todo são 17 os pilotos icónicos que podemos escolher, o que significa que variedade de conteúdo não vai faltar.
O ponto seguinte é, como já acontecia nos anteriores, escolher a equipa e depois jogar a época com as nossas escolhas. Podemos alterar uma data de características, escolher quantas corridas queremos e o formato de cada fim-de-semana. Tudo pode ser personalizado. Numa tentativa de dar um ar mais interativo a este modo, no início ainda aparecem umas novas cinemáticas que me deixaram a pensar que iria ver mais daquilo no futuro, mas depois acaba por ser tudo muito igual. As novidades são as nossas estatísticas e o nosso contrato com a construtora. Podemos tentar um negócio de maior duração ou de apenas um ano, definindo objetivos, metas a cumprir e que overall teremos de ter para não sermos descartados, que também pode acontecer. A chave do sucesso de cada contrato está na forma como nos portamos em pista e nas expectativas que demos aos nossos patrões. Pelo meio devemos desenvolver o carro, controlar os danos e as peças, alocar pneus a cada Grande Prémio, tal e qual como já fazíamos noutras épocas.
É também ao longo do ano que vamos ter os chamados encontros secretos com outras equipas para definir o nosso futuro. Uma forma de colocar o efeito novela e levar uma espécie de Drive To Survive para o jogo. Por um lado estas reuniões existirem são divertidas, porque nos permite mudar de equipa sem ninguém saber, mas na prática, isto tem alguns defeitos que devem ser corrigidos. Não faz sentido que na primeira reunião a nossa resposta seja apenas “quero continuar as negociações”, ou “não quero reunir novamente”, quando nem há uma conversa, apenas nos apresentam um contrato e com equipa será. Depois também não deixa de ser estranho rejeitar uma proposta e na nossa equipa atual ficarem contentes com a nossa continuação. Não era suposto ser secreto?
Estes novos encontros tem outra força quando jogados numa carreira a dois jogadores online, porque podem optar por escolher co-op, e aí seguem o caminho um do outro, ou então se cada um for à sua vida, podem mudar de equipa sem que o outro saiba até ser oficial, o que é divertido. Este modo de carreira a dois jogadores é um abre olhos para outras franquias que podiam e deviam permitir o mesmo. De resto, na planificação de cada Grande Prémio, podem contar com os habituais Treinos Livres, Qualificação e a Corrida. Em alguns fins-de-semana vão ter as também já famosas corridas Sprint.
Além destes modos carreira, tem ainda a carreira no MyTeam que permanece inalterada em relação aos seus antecessores com gestão de orçamentos, contratação de pilotos, patrocinadores e afins ou então têm ainda a possibilidade de jogar uma carreira de desafios, dividida por episódios com alguma duração de dias em que podemos jogar offline e conquistar pontos em vários cenários. Esses pontos contarão para uma classificação mundial de pilotos no final de cada episódio. O grande vencedor só será conhecido quando esta época terminar. Admito que é um modo interessante, mas que não faz grande coisa por mim.
Além de carreiras há mais modos para jogar, mas são tudo coisas que os jogadores da franquia já conhecem de outros anos. O F1 Life permanece quase inalterado, no que toca à sua forma original, com desafios e corridas para completar, evoluir o carro, ganhar pontos para gastar em material, em pessoal e correr novamente, seja offline ou online. Noutros modos há também os servidores online que funcionam muito bem numa noite com amigos ou em campeonatos criados que têm regras próprias a cumprir. Um dos meus modos favoritos.
De fora para dentro das pistas, houve mexidas na aerodinâmica e na física do carro, fazendo com que este fique mais “preso” ao asfalto. Eu sinceramente tive uma adaptação rápida e depois de algumas voltas já estava a conduzir como faço normalmente, mas eu jogo com um comando e com as definições do carro quase predefinidas. Mexo apenas numa ou noutra característica, quando sinto que as coisas estão demasiado automáticas no carro, para me ir dificultando a vida. Agora, admito que quem joga com volante possa sentir diferenças maiores com estas novas afinações que dizem tornar o jogo mais arcade. Eu não sinto que seja assim tão linear, porque há a possibilidade de mudar tanta característica no carro, que podemos optar por uma experiência mais facilitada ou outra mais complexa e mais parecida com a chamada simulação. É uma questão de afinação.
Quanto à IA dos nossos oponentes, eu continuo a criticar o facto de eles serem quase todos certinhos nas trajetórias e darem, muitas vezes, prioridade a nós jogadores em situações de aperto numa curva. Era giro vermos mais acidentes por alguma desconcentração ou até por alguma teimosia nossa de querer ultrapassar a todo o custo não dando espaço e fazendo com que o outro piloto tenha de travar. E se ele não travasse? Se isso acontecesse dariamos mais valor a essas situações de corrida. O segredo de uma boa experiência nestes jogos de F1 é descobrir em que dificuldade devemos jogar e por isso, até atingirem um ponto certo de desafio e recompensa, a luta pode ser dura, mas há vídeos que explicam algumas formas de descobrir em que nível estamos. Também podem optar por uma dificuldade dinâmica que vai alterando conforme as nossas prestações. Eu prefiro o modo manual e ser eu a controlar essa dificuldade.
Este ano, F1 24 está ainda mais bonito graficamente, mas como acontece, por exemplo num EA FC, ao sexto dia que jogamos já não nos lembramos como era o antigo e no final das contas vai se a ver e a diferença não era assim tanta. Notei que este ano a sujidade salta para o ecrã com maior facilidade e a verdade é que esta situação até gerou um momento engraçado quando numa saída de pista, achei que era a minha TV que estava por limpar, depois lá percebi que aquilo ia desaparecendo. Jogar à chuva continua a ser das coisas mais desafiantes, complexas e bonitas ao mesmo tempo e de resto, os pormenores das pistas continuam lá e em alguns circuitos até foram adicionadas as mudanças que já existem na realidade, desde escapatórias, novas barreiras ou curvas que antes não existiam.
Toda a apresentação de F1 24 é digna de transmissão televisiva, desde a entrada com os pilotos à espera do início da corrida, aos grafismos que simulam a realidade, culminando no grande festejo acontece na cerimónia do pódio com muito champagne à mistura. Este ano foi introduzido também algumas frases reais que os pilotos disseram em determinada altura nos rádios dos carros. É bom ver isso quando ganhamos, com os festejos, ou então depois de terminar uma corrida em último em que se houve um pedido de desculpas. A ideia é boa, mas senti falta de mais interatividade no meio das corridas. Está tudo muito condicionado. A única coisa que acontece é a nossa equipa dar-nos um desafio extra a meio da corrida que vai desde cumprir umas voltas sem sair de pista a ultrapassar um certo piloto que pode estar envolvido numa rivalidade connosco. Mais uma vez, acho a ideia interessante, mas um bocado aleatória.
No campo do som, se jogarem de phones vão sentir ainda mais a emoção de cada corrida e apesar de já não ser o barulho de outros tempos, ainda dá para sentir a velocidade, o vento quando bate de frente e toda a envolvência de um Grande Prémio. Na banda sonora, este ano a aposta vai para a música eletrónica e embora não conheça muitos dos artistas, está lá uma das minhas favoritas deste ano: Neverender de Justice com Tame Impala.
F1 24 continua líder incontestável e a fazer um bom trabalho naquilo que lhe compete. A falta de concorrência é que lhe deixa numa situação folgada em que os serviços mínimos e uma paragem na box mais demorada continuam a não colocar em causa a sua vitória no final do Grande Prémio. Para quem não passa sem jogar F1 quase todas as noites, vão ter de comprar este jogo novamente, nem que seja pela atualização de pilotos em pista, agora se forem jogadores casuais que só lá vão jogar umas corridas, as mudanças não justificam um investimento tão grande, pelo menos nesta fase inicial.