Developer: Gust, Koei Tecmo
Plataforma: PlayStation 5, PlayStation 4, PC, Nintendo Switch
Data de Lançamento: 12 de dezembro de 2024
Os jogos baseados em franquias de manga/anime são sempre aguardados com grande entusiasmo pelos seus fãs, e Fairy Tail 2 não foi exceção. Depois do sucesso do primeiro título inspirado na obra de Hiro Mashima, os jogadores finalmente têm acesso à sua sequência. Este novo capítulo chega quatro anos após o jogo original e coincide com o regresso do anime, alimentando ainda mais as expectativas.
O primeiro jogo destacou a Gust e a Koei Tecmo pela capacidade de capturar de forma autêntica o mundo de Fairy Tail, oferecendo um excelente RPG por turnos que conseguiu criar uma excelente réplica das personalidades e aventuras dos protagonistas. Agora, Fairy Tail 2 mantém várias ideias que conquistaram os jogadores no jogo anterior, enquanto introduz novas mecânicas para renovar e melhorar a experiência dos jogadores.
Dando continuidade aos eventos do jogo anterior, iniciamos esta aventura após a saga Books of Zeref. A narrativa centra-se na guerra contra o Império de Alvarez, liderado por Zeref e os 12 Spriggan, num dos maiores desafios que as guildas de Ishgar já enfrentaram. Este arco, um dos mais grandiosos da série, é adaptado com enorme competência no jogo, oferecendo uma verdadeira sensação de urgência. Desde o peso deste conflito até ao esforço conjunto das guildas, tudo está presente para nos fazer sentir a escala épica deste confronto.
A adaptação dos arcos da manga e do anime é bastante competente, capturando os momentos mais incríveis, quer nas batalhas épicas, como nos momentos mais emocionantes, e que definem a essência da série. Contudo, não esperem uma recriação cem por cento fiel à obra original, já que algumas personagens e eventos importantes foram omitidos. Embora essas ausências possam desapontar os fãs mais familiarizados, o jogo consegue, ainda assim, recriar muito bem o ambiente e a atmosfera de Fairy Tail.
Nem tudo pertence à manga e anime, já que foram introduzidos capítulos e eventos totalmente originais e exclusivos do jogo. Estes capítulos focam-se em aprofundar as relações entre os membros da guilda, explorando amizades e personalidades de forma mais detalhada. É um risco que muitos jogos correm, e a grande maioria falha nesse aspecto. No entanto, em Fairy Tail 2 resultou de forma positiva, enriquecendo a narrativa e oferecendo uma perspectiva mais abrangente dos membros da guilda.
Por fim, e sem spoilers, revelar que após a conclusão da história principal, o jogo oferece conteúdo adicional no pós-jogo, com missões e desafios que prolongam a nossa aventura e incentivam-nos a continuar a explorar este mundo.
No aspecto da exploração e da estrutura das áreas do jogo, este apresenta um mapa semi-open world, isto é, oferece uma estrutura em que podemos explorar as áreas, contudo, com elas muito bem delineadas, com os caminhos bem marcados no mapa; ao contrário de outros jogos que podemos explorar e andar onde quisermos. Os mapas são simples de explorar e com a ajuda do mini-mapa é fácil percebermos todo os locais que estão acessíveis. O jogo apresenta locais bem conhecidos dos jogadores, como por exemplo, Magnolia. Esta será a cidade principal, e atua como o nosso centro das operações, onde podemos aceitar missões, interagir com NPCs e gerir a evolução da guilda.
Conforme vamos fazendo missões, iremos explorar diferentes mapas, que diferem, por exemplo, na diversidade de biomas. Vamos encontrar florestas densas, montanhas geladas, desertos áridos e até ruínas misteriosas. Cada área oferece desafios únicos, incluindo inimigos, que como já é habitual servem apenas para nos manterem entretidos até chegarmos ao nosso objetivo. Muitos dos inimigos nada têm a ver com a série, mas servem para ir dando vida aos ambientes que percorremos.
Obviamente que, por os mapas serem apenas semi-abertos, muitas vezes temos aquela sensação de estarmos bastante limitados, tanto nos caminhos, como mesmo na exploração. É um dos pontos em que o jogo poderia estar mais adaptado à realidade, porém, não é por isso que deixam de ser mapas bem desenhados e competentes.
Como acontece na maioria dos RPG’s, o que não falta em Fairy Tail 2 são itens para adquirirmos, com muitos deles a termos de ir apanhando durante a progressão no jogo. Grande parte desses itens estão espalhados pelos mapas enquanto exploramos, sendo estes fáceis de adquirir, já que se encontram indicados no mini-mapa. Estes itens são muitas vezes úteis para usar durante as batalhas, já que muitos deles são consumíveis, mas também temos itens materiais, em que podemos trocar por outros itens nos mercadores que vamos encontrado. Além disso, ainda existem itens necessários para desbloquear novas habilidades e até para completar algumas missões secundárias. O problema que se coloca neste ponto, é que esta coleta é praticamente sempre igual, o que se torna algo bastante repetitivo. Basicamente passa por ir sempre até aos baús, quase sempre rodeados de inimigos, e depois derrotar esses inimigos, e abrir o baú para adquirir os itens que lá estiverem.
O sistema de personalização é um dos elementos que mais contribui para a estratégia de combate. Para terem uma ideia, as lacrimas continuam a ser o principal item para personalizar os atributos das personagens, deixando-nos assim melhorar características específicas para cada personagem. Para quem não conhece o sistema, estas lacrimas funcionam como pedras mágicas que podem ser equipadas para melhorar estatísticas como ataque, defesa e magia. Além disso, existem também lacrimas especiais com novos poderes.
Comparado com o primeiro jogo, nota-se claramente a introdução de novos tipos de lacrimas, com efeitos mais diversificados e específicos, oferecendo-nos uma maior liberdade de personalização de cada personagem. Por exemplo, algumas lacrimas além de aumentarem os atributos básicos, também desbloqueiam habilidades passivas ou melhoram habilidades específicas.
Embora a personalização seja livre, a verdade é que para termos sucesso e conseguirmos tirar o melhor de cada personagem, existem lacrimas específicas que optimizam certas personagens. Confesso que embora tivesse opção para testar várias lacrimas, muitas vezes foquei-me naquelas que ofereciam mais poderes a certas habilidades, criando assim estratégias especificas para diferentes personagens.
Em relação ao primeiro jogo, Fairy Tail 2 apresenta uma jogabilidade renovada, introduzindo mudanças significativas no sistema de combate em relação ao primeiro título. Mantendo-se como um RPG por turnos, agora oferece mecânicas bem mais dinâmicas e estratégicas, que tornam as batalhas mais interessantes e táticas. Uma das maiores novidades é o sistema de combos, que permite combinar ataques entre personagens para causar danos verdadeiramente devastadores.
O uso de mana e habilidades também foi ajustado. Apesar das habilidades ainda serem o principal recurso nas batalhas, o número limitado de habilidades disponíveis em combate para cada personagem é uma das restrições que o jogo tem, especialmente em combates mais longos ou contra múltiplos inimigos. Isto obriga-nos a alternar frequentemente entre personagens, o que torna a gestão da equipa num ponto essencial. A possibilidade de trocar de personagens durante os combates também nos dá uma maior flexibilidade, permitindo assim que, conforme o inimigo que tenhamos pela frente, possamos conseguir adaptar-nos rapidamente, de maneira a ter uma maior vantagem, seja nos ataques que exploram as fragilidades dos inimigos, seja para dar heal, aplicar buffs, entre outras coisas.
Outro aspeto a destacar é o sistema de “Awakening”, que introduz transformações temporárias ou habilidades especiais para algumas personagens, como o Dragon Force de Natsu ou a utilização de armaduras de Erza. Estes momentos permitem desferir ataques poderosos ou resistir a ataques inimigos, sendo uma ferramenta crucial nas batalhas mais difíceis. É importante terem em mente que não se pode usar o “Awakening” a qualquer momento, já que este depende da barra de energia que demora a encher.
Algo que continua do primeiro jogo é a progressão por ranks. É um elemento fundamental no jogo, influenciando tanto o poder da equipa como as recompensas disponíveis. À medida que completamos missões e vencemos as batalhas, a guilda sobe de rank, desbloqueando novas áreas, habilidades e equipamentos. Esta maneira de progredir incentiva a não só fazemos as missões da história, como também todas as missões secundárias que nos aparecem pela frente.
No aspecto da dificuldade, além de existirem 4 níveis de dificuldade – Story, Balanced, Hard e Ragnarok – o jogo segue um desafio bastante gradual, tendo as fases iniciais uma abordagem acessível, permitindo que nos adaptemos ao sistema de combate e às novas mecânicas. Conforme vamos progredindo, e avançando na narrativa, as batalhas tornam-se mais exigentes, especialmente quando os inimigos começam a utilizar estratégias mais complexas e habilidades específicas que nos obrigam a começar a usar tudo o que aprendemos nas fases iniciais.
As batalhas contra bosses são o local onde podemos sentir mais dificuldade. Estas batalhas exigem um domínio das mecânicas de combate, mas quando conseguimos ultrapassar cada um dos bosses a verdade é que proporcionam momentos memoráveis que refletem os eventos do anime e da manga. Cada boss apresenta ataques diferentes dos demais, e isso, além de os tornar únicos, também nos obriga a ter uma estratégia para ultrapassar cada um deles. Ainda assim, acredito que os novos jogadores recorram diversas fazes à mudança de dificuldade do jogo, principalmente nestas fases, já que se sente um aumento de dificuldade bastante acentuado a cada novo boss que encontramos.
Quanto à parte gráfica, nota-se uma evolução clara em relação ao primeiro jogo. Começando pelas cutscenes, estas estão verdadeiramente bonitas, com animações que parecem ser tiradas do anime. Os modelos das personagens foram muito bem recriados, mostrando boas texturas, com as animações faciais a demonstrarem tudo aquilo que estamos habituados a ver no anime.
É nos momentos das batalhas que a qualidade gráfica se nota que é um pouco reduzida. Provavelmente por o jogo também estar presente ainda nas gerações anteriores de consolas, não levou aquele melhoramento gráfico tão desejado. A parte boa, é que isso torna o combate bastante dinâmico e oferece excelentes efeitos visuais. Tal como no anime, os efeitos das habilidades foram também transpostos para o jogo, e estão verdadeiramente bonitos, com a luz e as cores a tornarem esses momentos espetaculares.
No aspecto dos vários biomas disponíveis, cada região apresenta uma paleta de cores e design únicos. Ainda assim, se tiverem muito tempo a explorar o mesmo bioma, começam a notar alguns locais com texturas repetidas, e aquela sensação de “eu já vi isto em qualquer lado”.
O aspecto mais notável no que toca ao som são os voice acting. especialmente porque é feita pelos actores originais do anime, transmitindo-nos logo uma sensação de veracidade e de autenticidade nas interações entre os personagens. Os efeitos sonoros também estão bem implementados, e os sons das habilidades são variados e bem executados, com explosões, rajadas de vento e descargas elétricas que dão dinamismo às batalhas.
Já a banda sonora apresenta várias músicas originais que acompanham bem o ritmo do jogo, desde melodias tranquilas para explorar os cenários, até temas mais enérgicos durante os combates. Infelizmente, faltam claramente as músicas icónicas do anime, e foi um dos pontos que me deixou um pouco desapontado, já que neste tipo de jogos, estamos sempre à espera de reconhecer as várias musicas que os animes nos apresentam.
Fairy Tail 2 é um jogo que agradará certamente aos fãs da franquia, oferecendo diversos momentos importantes do anime e da manga. Não é necessário terem jogado o primeiro jogo para se iniciarem neste, mas convém conhecerem o anime para terem um bom enquadramento do que se está a passar, ou não será fácil entrar na narrativa. Embora não seja um jogo perfeito, é um jogo que não desilude.