Developer: Nintendo
Plataforma: Nintendo Switch
Data de Lançamento: 14 de maio de 2021

Foi com enorme surpresa que vi o anúncio por parte da Nintendo do remake da franquia Famicom Detective Club. Esta franquia com diversos anos conta com dois jogos, The Missing Heir (lançado para a Famicom, a edição japonesa da NES, em 1988) e The Girl Who Stands Behind (lançada para a mesma consola no ano seguinte, em 1989). Este segundo jogo teve direito a um novo lançamento anos mais tarde, mas agora para a Super Famicom (a edição japonesa da Super Nintendo), agora com áudio melhorado, melhores gráficos, e com diversos melhoramentos, sendo um dos jogos mais populares da consola em terras nipónicas. Anos mais tarde, os jogos foram lançados novamente via emulação para o Gameboy, Nintendo 3DS e Nintendo Wii

A razão de trazer-vos estas informações é para perceberem que estes dois títulos não se tratam de meras histórias de detectives, mas sim dois jogos bem conseguidos, que ao longo dos anos tiveram enorme sucesso entre a comunidade gamer no Japão. Significa por isso que este novo remake para a Nintendo Switch oferece as mesmas histórias, mas agora com um grafismo melhorado, com novos sons, e com vozes em todos os diálogos – embora sejam todos em japonês. Confesso que embora conhecesse os títulos pelo seu nome, nunca tinha jogado nenhum, e depois de os jogar consegui perceber a razão do seu sucesso. São duas histórias bastante interessantes, e que conforme vamos jogando, mais vontade dá de ir percebendo o que se está a passar.

São dois jogos onde a história é o principal, porém, vamos desvendar um pouco do que aqui se passa, mas sem revelar nada de importante, para não vos estragar a experiência. Começando pela ordem original de lançamento, The Missing Heir começa de forma bastante particular, com o nosso personagem a acordar na casa de um sujeito desconhecido com o nome de Amachi, e sem sabermos quem somos, onde estamos ou como formos ali parar. Só isto é já de si intrigante, mas mais intrigante fica quando Amachi nos conta que nos encontrou caídos numa zona onde poucas pessoas passam, e que tivemos bastante sorte por ele ter por ali passado.

Com esta informação vamos até ao local, e verificamos que devemos ter caído de um penhasco, até que aparece uma jovem – Ayumi Tachibana – que parece conhecer-nos e leva-nos até um escritório de detectives, onde tanto ela como nós aparentemente trabalhamos. É lá que ela nos conta que estávamos numa investigação, e que o nosso personagem se tinha ido encontrar com alguém que tinha informações bastante relevantes sobre este caso.

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Com o avançar da história percebemos que estávamos a investigar a morte da Kiku Ayashiro, uma senhora de 78 anos que pertence a uma família bastante importante no Japão, e que na noite em que revelou o seu testamento, apareceu morta no seu quarto. O seu médico diz que morreu de ataque cardíaco, mas o seu mordomo não acredita na versão do médico, e então decidiu contratar-nos para investigar o caso e perceber a verdadeira causa da morte de Kiku.

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O enredo à volta desta história está bastante interessante, com os sobrinhos da senhora a terem estado presentes quando a senhora Kiku revelou o seu testamento, além de outras pessoas terem aparecido na casa da família Ayashiro nesse dia. Além disso, existe uma lenda associada ao nome desta família, e nota-se claramente que na vila de Myoujin, onde se situa a residência da família, os cidadãos são bastante reservados quando confrontados com perguntas sobre a família. O desenrolar da história é interessante e vai-nos prendendo ao ecrã da Nintendo Switch, sempre com a vontade de sabermos a verdadeira causa da morte da senhora; mas também para percebermos o que nos aconteceu, para termos perdido a memória, e claro, para aos poucos nos lembrarmos dos detalhes sobre a nossa pessoa.

Já em The Girl Who Stands Behind (a prequela de The Missing Heir), o protagonista é exactamente o mesmo, mas no começo do jogo terá apenas 15 anos, e será nos contada a história de como conhecemos o detective Shunsuke Utsugi e como começámos a trabalhar com ele. Passam-se então 2 anos, e já com 17 anos iremos ter o nosso primeiro caso, onde seremos nós a ter de colocar a mão na massa como detectives principais do caso. Trata-se do caso de uma menina de 16 anos – Yoko Kojima – que apareceu morta junto à margem de um rio. Será nesta investigação que percebemos que ela pertencia a um clube de detectives escolares juntamente com Ayumi Tachibana (a mesma que entra em The Missing Heir), e é ao encaixar várias peças deste puzzle que descobrimos que Yoko andava a investigar um misterioso acontecimento da sua escola – Ushimitsu High School.

Acontece que nessa escola, quando os alunos se encontram sozinhos, seja numa sala de aula, num corredor, ou mesmo numa escadaria, por vezes começam a ouvir sons, e aparentemente aparece uma estranha rapariga coberta de sangue, umas vezes à sua frente, outras vezes atrás deles. Esses relatos já têm mais de 15 anos, e nunca se descobriu as razões desses acontecimentos. The Girl Who Stands Behind foca-se essencialmente nesses eventos, ou seja, no assassinato de Yoko Kojima, e claro, neste estranho mistério. Mais uma vez oferece um bom enredo, e que nos leva a querer sempre avançar para perceber tudo o que está por detrás destes casos.

Deixando agora as histórias de lado, passamos então para o gameplay do jogo, e aqui vão encontrar um point-and-click à moda antiga, onde teremos de falar com diversos personagens, procurar provas e pistas de algo suspeito com a nossa “lupa”, e claro, fazer suposições sobre o que já sabemos e o que pode ter levado a determinadas acções de alguns personagens. Não esperem um jogo de muita acção, muito pelo contrário, tudo acontece de uma forma lenta, com muito texto, e muitas vezes a termos de andar de um lado para o outro para falar com as mesmas personagens várias vezes.

Algo que corta bastante o ritmo da história é exactamente a forma como falamos com os diversos personagens do jogo, já que isso acontece a partir de um menu onde vamos perguntando sobre determinada pessoa, ou determinado acontecimento. O que não teria qualquer problema se não tivéssemos de perguntar três e quatro vezes sobre o mesmo personagem na mesma cena, de maneira a conseguir que o sujeito que estamos a interrogar nos fale um pouco mais sobre essa pessoa.

Embora eu tenha gostado de ambos os jogos – essencialmente pelo enredo –, a verdade é que por vezes fiquei “preso” nos interrogatórios, já que o jogo não deixa avançar sem os personagens nos contarem tudo o que sabem. Nesse sentido, por vezes, vão ter de “spammar” todas as opções que o jogo oferece, para ver se salta mais umas palavras interessantes e que nos ajudem a avançar na investigação, mas essencialmente, para podermos avançar no jogo.

Devem também perceber que ao contrário do que acontece noutros jogos de detectives, onde podemos andar com o nosso personagem pelos locais, aqui tudo é estático. Temos pequenas animações, e as investigações dos locais são feitos mesmo como os jogos de antigamente: uma lupinha, e andam praticamente numa imagem a ver se descobrem algo relevante. Já o detalhe gráfico e as animações são de muito boa qualidade, tudo ao género dos melhores animes japoneses. O grafismo do jogo aparece de duas maneiras, com pequenas animações quando acontece algo relevante, ou com cenários mais estáticos para investigarmos ou quando interrogamos outras pessoas. Seja como for, em ambos os casos, ninguém vai ficar desiludido com a qualidade, já que tudo oferece bons detalhes e um óptimo grafismo.

Algo que devemos valorizar, é que tudo o que é relevante para os casos vai ficando escrito no nosso notepad, de maneira a podermos sempre ir reler os detalhes de cada um dos personagens. Isto pode não parecer muito importante, mas quando estiverem a jogar vão verificar que é de extrema utilidade para conseguirmos perceber cada detalhe, e até a ligação de uns personagens com os outros.

Um detalhe que pode incomodar alguns jogadores tem a ver com todas as vozes estarem em japonês (podem desligar caso prefiram). Isso obriga-nos a ter de ler os textos na íntegra (estes encontram-se em inglês), algo que provavelmente se estivesse num áudio mais acessível como o inglês, não seria necessário estarmos com tanta atenção na sua leitura. Caso o inglês não seja o vosso forte, é um jogo que nem vale a pena começarem a jogá-lo, já que para percebem a história na sua totalidade convém lerem todos os textos e perceberem cada detalhe.

Famicom Detective Club: The Missing Heir e The Girl Who Stands Behind é um jogo que me fez relembrar os grandes clássicos de detectives dos anos 90, onde o point-and-click era já algo incrível e levava a nossa imaginação a transportar-nos para os locais que estávamos a investigar, em busca dos segredos de cada casos. Neste momento já é algo um pouco ultrapassado, mas que ainda assim, devido ao bom enredo das duas histórias, nos faz querer avançar e desvendar estes dois casos de detectives.

REVER GERAL
Geral
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Rui Gonçalves
Desde o tempo do seu Spectrum+2 128k que adora informática. Programador de profissão nunca deixou de lado os jogos, louco por RPGs e jogos de futebol. Adora filmes de acção e de ficção científica, mas depois de ver o Matrix nunca mais foi o mesmo.
analise-famicom-detective-club-the-missing-heir-e-the-girl-who-stands-behind<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Duas histórias com um enredo interessante</li> <li style="text-align: justify;">Grafismo bem conseguido e apelativo</li> <li style="text-align: justify;">Excelente para os fãs de point-and-click</li> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Torna-se estranho fazer a mesma pergunta diversas vezes no mesmo dialogo</li> <li style="text-align: justify;">Não tem tradução para Português</li> </ul>