Developer: SNK
Plataforma: PlayStation 5, Xbox Series X|S, PC
Data de Lançamento: 24 de abril de 2025
Falar de Fatal Fury é lembrar da minha infância e de como ficávamos fascinados com as várias máquinas arcade que os salões de jogos tinham. Até mesmo alguns cafés, aqueles mais modernos para a época tinham uma ou duas máquinas arcade, onde os mais novos como eu na época ficávamos a ver os mais velhos jogar.
Para os mais novos, certamente a franquia Fatal Fury não diz muito, mas convém destacar que é um marco na história dos jogos de luta, com seu primeiro título a ser lançado em 1991 pela SNK. O jogo não foi um pioneiro neste campo, ainda assim, introduziu novidades e inovações que passaram a ser pilares nos jogos de luta. Para terem uma ideia, personagens como Terry Bogard apareceram primeiro em Fatal Fury, e mais tarde entraram na franquia King of Fighters. Com o último jogo da franquia a ser lançado em 1999 em Fatal Fury: Mark of the Wolves, foi uma enorme surpresa perceber que, 26 anos depois, a franquia estava de volta com Fatal Fury: City of the Wolves.
Este renascer da franquia chega com uma enorme variedade de modos de jogo que me agradaram bastante. Além disso, chega com uma enorme surpresa, chamada Episodes of South Town. Mas já lá vamos. Começamos com o modo mais clássico neste tipo de jogos, o modo Arcade, que é o modo que qualquer fighter tem de ter para ser um digno jogo deste género. Aqui, teremos de enfrentar uma série de adversários antes de enfrentar o boss final, e como é fácil de perceber, segue a fórmula já consagrada destes títulos e de muitos outros. Cada personagem tem seu próprio percurso, com as lutas a irem aumentando a dificuldade até chegarmos ao último boss, e, se o derrotarmos, termos o final daquele lutador.
Depois temos o Practice, onde encontramos o Training, o Missions e o Tutorial. Não é propriamente o local onde passaremos mais tempo, mas é o local perfeito para perceber as mecânicas do jogo ou melhorarmos as nossas habilidades. O tutorial do jogo é bastante detalhado, com explicações sobre os sistemas de combate e como realizar combos, contra-ataques e defesas. Já as Missions são desafios, também eles bem construídos, com uma série de objetivos que nos permitem familiarizar bastante bem com o jogo, principalmente perceber o S.P.G. e o uso do REV (assuntos que falaremos mais à frente).
Obviamente que o jogo chega também com o modo Online, e aqui tenho de destacar o cross-play entre as plataformas que o jogo foi lançado (PlayStation, Xbox e PC), fazendo com que o leque de jogadores que podemos apanhar online seja bastante grande, o que irá melhorar significativamente as partidas ranqueadas. Algo que me agradou bastante foi sentir que a latência foi sempre baixa nas partidas que fiz, o que é essencial neste tipo de jogos, já que muitas vezes isso pode fazer a diferença entre defender ou levar um golpe.
Dentro do Online temos então os Ranked Match, os Casual Match e o Room Match; depois temos opções para ver o nosso perfil online, ver o leaderboard e replays, assim como no caso de quem jogar na PlayStation 5 ter ainda o PlayStation 5 Tournaments. Além disso, existe ainda uma funcionalidade que não posso deixar de mencionar, chamado Clone. Aqui, iremos lutar contra o CPU, mas em que a luta é baseada no estilo de jogo de jogadores reais, o que aumenta significativamente o desafio, já que é bastante diferente jogar contra um jogador ou um CPU.
Por último, a surpresa que falei acima, o modo Episodes of South Town. Inspirado em jogos de ação-RPG, este modo leva-nos a uma jornada pelo mapa da cidade, onde devemos completar missões para ganhar experiência e equipamentos. Esse modo é uma tentativa de aumentar o conteúdo do jogo e dar uma nova vida ao universo de Fatal Fury, trazendo consigo elementos de progressão de personagem mais típicos dos RPGs. Além disso, também inclui várias atividades paralelas, como time atacks e mini-jogos.
Os pontos positivos de jogar este modo é a oportunidade de explorar as habilidades de cada personagem de maneira mais aprofundada. A progressão de habilidades e os desafios adicionais são uma maneira interessante de nos manter colados ao jogo, oferecendo um novo tipo de conteúdo para quem prefere o single player aos os modos competitivos. Ainda assim, é preciso perceber que nem tudo é perfeito, já que depois de algum tempo neste modo, começa a ser repetitivo. Muitos dos combates acabam por ser apenas para o simples grind, ou seja, lutar contra inimigos fáceis para acumular experiência e poder superar os bosses principais que vão aparecendo conforme vamos progredindo.
A última actualização do jogo chegou ainda com uma novidade para este modo, tudo o que fizerem nos outros modos do jogo, vai acumular XP, que depois poderá ser gasto no Episodes of South Town nos personagens que pretenderem.
A jogabilidade é o ponto mais forte de Fatal Fury: City of the Wolves. Traz-nos nostalgia dos fighters mais antigos com diversas inovações, sendo que neste aspecto a SNK conseguiu criar uma jogabilidade que honra o legado da franquia, mas também traz mecânicas novas que dão uma identidade própria ao jogo.
Em termos de novidades, temos o sistema S.P.G. (Selective Potential Gear). Este aparece numa zona da barra de vida de cada personagem. e varia de local, por vezes pode estar numa zona mais inicial, outras a meio e outras mais no final da barra, destacando-se por uma cor diferente. Quando entramos nessa zona da barra de vida, esse sistema é ativado, e passamos a ter vários benefícios: aumento de dano, recuperação mais rápida de certas ações e a possibilidade de executar golpes críticos chamados de Hidden Gears.
Outro sistema que chega com o jogo é o REV, esta é uma barra que se encontra no canto inferior esquerdo ou direito (conforme sejam o jogador 1 ou 2 respectivamente), e quando cheia, permite-nos aumentar o poder dos golpes especiais. No entanto, há um detalhe interessante que foi implementado, isto é, quando usado em excesso os golpes REV, a barra pode ficar em OverHeat, o que nos deixa muito mais vulneráveis durante algum tempo, até que a barra volte ao normal.
O jogo chega ainda com dois sistemas de controlos, uma característica que começa cada vez mais a tornar-se habitual nos fighters. Os jogadores mais veteranos certamente vão preferir os controlos clássicos, onde usamos os movimentos típicos destes jogos, como as meias-luas e o botão de ataque, os para a frente e para trás e o botão de ataque para fazer as habilidades especiais. Já o segundo sistema é um modo de controlos simplificados, onde as habilidades especiais são feitas com combinações muito mais simples, sem necessidade dos movimentos típicos que pode dificultar os jogadores mais novatos.
Um ponto que achei fulcral na jogabilidade de Fatal Fury: City of the Wolves foi o equilíbrio entre o ataque e a defesa. Isso muito se deve a mecânicas como o guard crush, dodge counters e just defend que ajudam bastante os jogadores que atacam desenfreadamente. No entanto, muitas vezes também é o ponto fraco nestes jogos, e quem for mais ofensivo quase sempre sai vencedor. Aqui, sabendo usar estes sistemas, facilmente conseguimos virar a batalha a nosso favor.
No que diz respeito às personagens, temos dezassete jogáveis, com algumas bem familiares para os jogadores, como é o caso de Terry Bogard, Rock Howard e Mai Shiranui. Para quem os conhece bem, irá notar que os seus estilos de luta se mantêm os mesmos, mas com alguns retoques para estarem mais modernizados, quer nas animações como nas técnicas, mas sem nunca perderem a sua identidade bem conhecida. Mas também existem personagens novas, por exemplo Preecha, que usa um estilo de luta baseada no Muay thai.
Assim fora da caixa, temos também duas personagens convidadas, são eles: Cristiano Ronaldo e DJ Salvatore Ganacci. O nosso monstro, CR7, é uma lenda do futebol mundial, mas vê-lo adaptado a um fighter era algo que eu não esperava, mas percebe-se facilmente que existiu bastante criatividade para o incorporar no jogo, com os seus ataques a serem essencialmente remates acrobáticos e movimentos de agilidade com bola. Já Ganacci, traz um estilo de combate inspirado em movimentos de dança, transformando coreografias em combinações de golpes chamativos e ritmados. Embora completamente fora do contexto de luta, a verdade é que a SNK conseguiu de maneira eficaz colocá-los no jogo.
Para completar o elenco temos ainda B. Jenet, Marco Rodrigues, Hotaru Futuba, Vox Reaper, Tizoc, Kevin Rian, Billy Kane, Kim Dong Hwan, Gato, Kain R. Heinlein e Hokuto Maru.
A variedade entre eles é bastante grande, cada um com uma enorme diversidade de mecânicas, alguns que nos permitem controlar os adversários à distância, outros que nos ajudam a manter uma pressão sempre em cima do adversário. Além disso, agora dá para conhecer ainda melhor a personalidade de cada personagem, se antigamente tínhamos uma ideia pela roupa, por algumas falas e até pelo final do modo arcade, agora com o Episodes of South Town, e com as várias falas que acontecem durante esse modo, podemos ter um conhecimento mais apurado sobre cada personagem.
Em termos gráficos, a SNK adoptou um estilo mais animado do que realista neste jogo, existe uma forte inspiração nas lutas de rua, com locais cheios de grafites, e cenários que nos fazem lembrar muito os filmes dos anos 80 e 90. Os modelos das personagens apresentam um nível de detalhe excelente, com texturas que destacam tecidos, e os seus movimentos, e nos momentos das animações cinemáticas de certos golpes isso torna-se ainda mais evidente. As animações são muito fluidas, e ajudam a manter sempre a velocidade que se quer num jogo destes.
Os elementos dos cenários é que poderiam levar ainda alguns retoques, se por um lado temos elementos com texturas incríveis, por outro temos outras que nos parecem demasiado datadas, como certas paredes ou alguns locais do chão – para não falar do ambiente das multidões que estão a ver as lutas, que podiam ser bastante melhores e mais animadas. Ainda assim, este não é o foco do jogo, logo, isto não mexe em nada com a sua jogabilidade e com o seu ponto fundamental.
Um aspecto que pode incomodar alguns jogadores, é a falta de cinemáticas quer no modo arcade como no Episodes of South Town, sendo tudo apresentado um pouco como acontecia nos anos 90, com ilustrações e legendas. E embora estas estejam visualmente incríveis, a adição de algumas cinemáticas tinham dado outra beleza ao jogo.
No aspeto sonoro, a banda sonora oferece diferentes estilos de música, com Rock, hip-hop e jazz a entrarem na sua banda sonora. O jogo apresenta ainda a inclusão de uma jukebox, um recurso que permite desbloquear e ouvir músicas clássicas da série Fatal Fury desde o início, sendo que esta funcionalidade é obviamente muito nostálgica para todos os jogadores mais antigos.
Fatal Fury: City of the Wolves para mim foi uma excelente surpresa, e depois de 26 anos a SNK conseguiu modernizar o jogo sem perder a sua essência. Para quem gosta de fighters, diria que este é um jogo altamente recomendado, e que quem o adquirir certamente não irá sair defraudado, já que o jogo apresenta diverso conteúdo e uma boa gama de personagens jogáveis.