Developer: KOEI TECMO / TYPE-MOON / Omega Force
Plataforma: PC, PlayStation 4, Playstation 5 e Nintendo Switch
Data de Lançamento: 29 de Setembro de 2023
A série começou pelos mangás e depois pelos animes, acompanhando a história de Shirou Emiya, um estudante que se vê envolvido numa Guerra do Santo Graal. Desde então, a saga Fate expandiu-se numa série massiva que abrange a história da humanidade, com lançamentos regulares de jogos, filmes, animes e atualizações para o jogo móvel Fate Grand/Order.
Ao longo da franquia Fate, pares de mestres e espíritos heróicos – também conhecidos como servos – lutaram ao longo da história numa série de Guerras do Santo Graal, com a dupla vencedora recebendo um antigo artefato que concede desejos. Fate/Samurai Remnant continua a épica Guerra do Santo Graal da série no quarto ano da Era Keian, Período Edo no Japão.
Falemos um pouco do contexto histórico do jogo. Estamos a falar do quarto ano da Era Keian, do Período Edo. Passaram-se quarenta e oito anos desde que Ieyasu, soberano do Japão abriu a capital para o Shogunato Tokugawa. O reinado dos Tokugawa foi passado para o quarto Shogun, Ietsuna. O número de pessoas que viviam em Edo aumentava a cada dia, e a cidade parecia estar a desfrutar da sua prosperidade. No entanto, devido a uma sucessão de dissoluções e revogações pelos senhores feudais, as ruas encheram-se de ronin’s e os dias pacíficos de Edo pareciam estar perto do fim.
Em Asakusa, uma cidade em Edo, havia um jovem chamado Miyamoto Iori. Um filho adotivo e aprendiz do grande ronin Miyamoto Musashi. Iori escolheu não servir a um senhor, mas passou os seus dias treinando a arte da sua espada. Num certo dia, nota que a sua mão está com uma cicatriz estranha e não se lembra como a tinha feito. Não dando grande importância a isso, resolveu apenas dormir. Durante a noite que deveria ser como qualquer outra, é atacado na sua própria casa. O seu algoz é diferente de tudo que já foi visto antes, pois era um samurai de armadura obscura e com força descomunal.
No momento que Iori estava prestes a perder a sua vida, uma marca de brilho escarlate ressoa na sua mão e ele é salvo por uma jovem mulher que refletiu o ataque com a sua espada de formato peculiar, apelidada de Saber. Apesar de o salvar, Iori não estaria a salvo, visto que outro inimigo surge.
Fate/Samurai Remnant traz a Waxing Moon Ritual que seria uma versão mais “arcaica” da Guerra do Santo Graal. Apesar de possuir outro nome, as regras são muito similares, apesar de algumas mudanças intrigantes. Como da praxe, temos sete magos, onde cada um deles foi agraciado com a invocação de um dos sete servos selecionados para essa batalha. Entre eles temos Saber, Archer, Lancer, Rider, Caster, Beserker e Assassin.
Para além disso, ainda há os chamados Rogue Servants, elementos que também participam da guerra. São oito servos que são independentes de mestres. Em resumo, cada servo que possui um mestre também terá uma contra parte da sua classe que é independente e terá que tomar conta de um território de Edo, pois a energia natural daquele lugar é o que abastece o seu corpo astral. O oitavo servo independente é da classe Ruler que tem a função de mediar esta batalha. Apesar dos servos independentes não possuírem mestres, nada os impede de forjar alianças ou criar inimigos. E esse aspecto será uma das principais forças de Iori.
Como já devem ter percebido, a história do jogo e a desenrolar é um dos pontos fundamentais do jogo. A narrativa é densa, os diálogos são longos, pontuados sempre pelo humor característico dos animes da franquia, mas, ao mesmo tempo, intensos e dramáticos. A estrutura está muito bem conseguida, com várias cutscenes arrebatadoras, com uma qualidade gráfica acima da média, criando um certo build up para quando entramos nas batalhas. É um equilíbrio difícil de se conseguir, mas os guionistas Yuuichirou Higashide e Hikaru Sakurai, que já trabalharam em vários elementos da fraquia Fate, conseguiram executar na perfeição.
Fate/Samurai Remnant é um musou, mas dizer que é apenas um musou depois de um jogo como Fate/Extella, lançado em 2019, é dizer muito pouco sobre este novo jogo.
Os jogos musou são uma espécie de hack’n slash que terão começado com a consagrada franquia Dynasty Warriors, onde utilizamos um guerreiro para enfrentar sozinho hordas insanas de inimigos, enquanto executa diversos combos. Há outros títulos que bebem desta fonte como, Samurai Warriors, Cavaleiros do Zodíaco, Hyrule Warriors ou até alguns jogos do One Piece. E à primeira vista até pode parecer que Fate/Samurai Remnant será apenas mais um neste estilo, porém aqui temos uma mescla perfeita de musou e JRPG que traz um action RPG bem diferente do esperado.
Diferente do tradicional, os inúmeros inimigos não são tão passivos. Uma vez que estes são capazes de bloquear golpes e não perdem tanto tempo para executar uma investida. Além disso, há inúmeros bosses menores que deixam os combates mais difíceis e que nos obrigam a aplicar estratégias específicas com a nossa personagem e com o auxílio do nosso Servant.
Se acham que basta apertar os botões todos para ter a vitória garantida, certamente vão ficar frustrados, porque o jogo consegue ser desafiador. Por isso curar, esquivar no momento certo, fazer bom uso do nosso arsenal de habilidades fará toda a diferença para seguir em frente.
Infelizmente o jogo ainda conta com um grande defeito que encontramos neste estilo musou, que é a quantidade de inimigos repetitivos e combates consideravelmente parecidos. Felizmente as batalhas contra chefes são empolgantes e trazem desafios avassaladores.
Em termos de jogabilidade temos como comandos básicos um botão de salto, ataque fraco, ataque forte, golpe especial e esquiva. Porém, ao segurar o gatilho esquerdo podemos modificar o tipo de combate de Iori ou utilizar alguma magia, enquanto o gatilho direito traz as habilidades de Saber e também passa a controlá-la.
Iori inicialmente tem uma jogabilidade um pouco parada e pouco ágil, fazendo com que o jogo apresente uma dificuldade ainda maior. Contudo, à medida que progredimos na história e aumentado o seu nível, iori será capaz de executar técnicas mais complexas, combos mais complexos e ataques de afinidade com Saber muito mais poderosos.
Iori não é o único personagem jogável, pois é possível acionar Saber quando uma barra de afinidade está completamente preenchida. Diferente de Iori, Saber tem um gameplay bem mais agressivo, fazendo combos destrutivos e também causando mais dano nos seus inimigos. No fundo, parece um Special que Iori activa, mas que, desta feita, podemos controlar.
Para além dos poderes de Saber apenas dos poderes de Saber, vamos poder também utilizar as dos Rogue Servants, aqui mais limitados, onde apenas podemos utilizar um de cada vez na party, mas para isso acontecer temos que ganhar a sua confiança. A mecânica é um pouco semelhante à de Saber, mas sem o grau de eficácia e destruição da mesma.
Em Fate/Samurai Remnant vamos ter acesso a uma skill tree muito densa e complexa, um pouco ao estilo de Final Fantasy X com o Sphere Grid, lembram-se?! Aqui as personagens percorrem uma espécie de tabuleiro de jogo enquanto desbloqueiam técnicas. A skill tree funciona para Iori e os servos, onde utilizamos pontos de habilidade para desbloquear novos golpes, efeitos passivos e ampliação de status. É claro que Saber tem também uma skill tree própria que funciona conectada a Iori, visto que quanto mais afinidade tiver com o seu mestre Iori, mais secções com melhoramentos e novas habilidades serão desbloqueadas ao longo da jornada. As espadas do Iori também podem ser modificadas ao equipar peças que podem ser obtidas através da conclusão de missões e de um mini jogo onde este se dedica a polir a sua espada em casa. Cada um destes elementos afetará um parâmetro específico e ativará efeitos adicionais cumulativos entre o número total de peças equipadas.
Falando em tabuleiros, Iori também vai ter que dominar as linhas ley que fornecem mana aos servos indepedentes e aos seus magos. Neste modo, chamemos-lhe assim, vamos aceder ao mapa da região de Edo, onde teremos as localizações e um conjunto de linha ley que mais lembra um jogo de tabuleiro. Basicamente vamos ter que dominar territórios, derrotar inimigos, para conseguir traçar essas ligações.
Como em todos os jogos de tabuleiro temos um conjunto de regras. Há regras como movimentarmo-nos uma casa por turno e se ficarmos na casa anterior onde o inimigo estava, ele é derrotado instantaneamente, mas se estivermos ao mesmo tempo, a ocupar área, aí terá que existir um combate para resolver a questão. Pode parecer relativamente simples, mas será necessária alguma estratégia e de afinidade com os Rogue Sevants para dominar o tabuleiro.
A qualidade da história deve-se à supervisão dos guionistas Yuuichirou Higashide e Hikaru Sakurai que já possuem experiência em diversos trabalhos da franquia Fate, mas o o desenvolvimento gráfico e da estrutura JRPG, essa é da autoria da Omega Force.
Em termos da ambientação, a representação do Japão Feudal está muito bem concretizada, com os cenários, o figurino das vários personagens e os diversos elementos gráficos das vilas e aldeias, todos eles a darem credibilidade de estarmos efectivamente nessa era. A direção artística é marcante e sempre presente, e é notório o quanto a equipa é apaixonada por este setting, especialmente na escolha de cores e dos seus enquadramentos. As próprias personagens também são bastante expressivas, quer seja nas suas ilustrações 2D presentes nas caixas dos diálogos ou pelos modelos 3D, com movimentações muito fluidas. É o tipo de trabalho cuja estilização faz uma diferença enorme para manter a experiência coesa e agradável. As cutscenes são incríveis, principalmente as cenas de combate em que há uma coreografia sensacional misturada de momentos épicos. Apesar disso, quando utilizam os “gráficos in game”, dá para sentir uma leve falta de fluidez.
Depois temos uma narrativa assentada também numa forte componente de RPG, onde primeiramente vagueamos pela aldeia de Edo, no bairro encantado de Asakusa, onde Iori mora com sua irmã adotiva e, que rapidamente se torna o quartel das nossas personagens. Vamos ter que investigar os outros mestres e os seus servos, limpar as ruas de criminosos e demónios, ao mesmo tempo que vamos aumentando o relacionamento com as restantes personagens, tentar obter dinheiro e recursos para melhorar o quartel e a oficina mágica. Também podemos melhorar nosso daisho, katana e wakizashi, e modificar os seus elementos para dar diferentes poderes ao cabo -tsuka-, guarda -tsuba- e bainha -saya-. Não falta o que fazer no jogo.
Fate/Samurai Remnant conseguiu estar à altura da franquia que é um sucesso universal e dos animes que já ganharam um estatuto de culto. Comprovou que é possível que um musou seja mais do que apenas carregar em botões, com uma narrativa densa, com mecânicas de combate dinâmicas e com uma forte componente RPG. Graficamente é impressionante, e a história e as cutscenes que a acompanham provavelmente o vão colocar nas listas dos melhores jogos deste ano.