Developer: Square Enix
Plataforma: PC
Data de Lançamento: 17 de setembro de 2024
A franquia Final Fantasy é uma das mais icónicas na indústria dos videojogos, com fãs de várias gerações que ajudam a criar uma sólida base de jogadores a cada novo lançamento da franquia. Isso foi facilmente visível no lançamento de Final Fantasy XVI quando este foi lançado o ano passado como exclusivo para a PlayStation 5, sendo um dos melhores jogos de 2023, e que tive o prazer de analisar aquando do seu lançamento na consola da Sony. Passado mais de um ano, os jogadores do PC finalmente terão a oportunidade de o jogar, com as habituais alterações que quase sempre colocam o jogo noutro patamar, face às melhorias possíveis num PC.
A versão de PC de Final Fantasy XVI traz como principais melhorias a opção de gráficos a 4K com taxas de FPS (frames por segundo) ajustáveis, que proporcionam um desempenho suave e visual deslumbrante, essencial para explorar o mundo vibrante de Valisthea. Além disso, a versão de PC inclui suporte para configurações personalizáveis, permitindo que os jogadores ajustem a qualidade gráfica de acordo com o hardware da sua máquina. Esta flexibilidade garante que, quer tenham uma máquina poderosa ou uma máquina mais modesta, consigam desfrutar do jogo. Depois, também temos sempre a parte discutível entre jogadores, que é o suporte para mods, o que para alguns é uma experiência divertida e que permite fazer algumas maluqueiras nos jogos, já outros, acham esse tipo de alterações uma aberração.
A história do jogo leva-nos até ao fascinante mundo de Valisthea, um continente repleto de intrigas políticas, magia poderosa e conflitos épicos. O enredo foca-se no protagonista, Clive Rosfield, o primogénito do arquiduque de Rosaria, que carrega o peso da responsabilidade de proteger o seu irmão mais novo, Joshua, o Dominante da Fénix. Desde os primeiros momentos do jogo, somos apresentados a um cenário de paz frágil, onde as seis nações de Valisthea prosperam graças aos Mothercrystals, cristais mágicos que sustentam a vida e a magia dos seus habitantes. No entanto, a chegada de uma Praga, que torna várias regiões estéreis, marca o início de uma série de conflitos devastadores.
A história inicia-se numa noite fatídica, quando um ataque surpresa interrompe um ritual que deveria assegurar a proteção do reino. Durante essa noite, Clive vê-se envolvido numa batalha colossal entre Eikons, criaturas gigantescas que representam o poder supremo dos Dominantes. O desaparecimento de Joshua após este ataque desencadeia uma série de eventos que transformam Clive de um protetor dedicado, num homem consumido pela vingança. A sua jornada leva-o a confrontar os responsáveis pelo desaparecimento do irmão, ao mesmo tempo que se vê atormentado por diversas questões de identidade e destino.
À medida que a narrativa avança, os temas centrais de sacrifício, lealdade e ambição tornam-se cada vez mais evidentes. Clive é uma personagem complexa que luta contra as expectativas impostas pela sua posição e família. Ele é apenas um Portador, que supostamente é incapaz de ter o imenso poder dos Dominantes, mas isso não o impede de lutar por justiça e redenção. O seu desejo de proteger aqueles que ama, mesmo diante da adversidade, revela o seu lado mais humano, ainda que a raiva e o peso do desaparecimento de Joshua por vezes mostre o seu lado mais frágil.
Algo bastante importante na história, são as relações entre personagens, já que Clive ao longo da aventura irá formar alianças com personagens como Jill, uma jovem guerreira com um passado trágico, e Cid, um mentor carismático que tem uma visão única sobre os Dominantes e o seu papel em Valisthea. A dinâmica entre estas personagens é bem desenvolvida, trazendo à tona conflitos internos e dilemas éticos.
Algo bem marcante durante todo o jogo são os desenvolvimentos surpreendentes que vão acontecendo. Desde revelações inesperadas sobre a verdadeira natureza dos Dominantes, à história secreta de Valisthea e os laços entre as personagens. Embora grande parte da narrativa ofereça uma estrutura linear, a verdade é que também inclui flashbacks e memórias, permitindo-nos explorar a história de Clive de forma envolvente, criando-nos claramente uma ligação à personagem.
Além da história principal, a versão de Final Fantasy XVI para PC chega também com os dois DLC lançados, Echoes of the Fallen e The Rising Tide. Cada um deles, em termos de história, oferece cerca de 3 a 4 horas adicionais ao jogo. De maneira resumida, Echoes of the Fallen o primeiro DLC lançado, e que só pode ser jogado quase no final da história principal, centra-se no aparecimento de misteriosos cristais negros no mercado negro de Valisthea. Clive e os seus aliados iniciam uma investigação para compreender a origem desse cristal e com isso desencadeiam algumas revelações verdadeiramente incríveis para conhecermos mais sobre o universo do jogo. Aqui, iremos conhecer uma nova zona do jogo, The Sagespire, onde teremos pela frente novos desafios e inimigos.
Já The Rising Tide leva-nos a uma nova região, onde mais uma vez Clive e os seus aliados partem à procura de uma tribo esquecida e do Eikon desaparecido, Leviatã. A região que vamos encontrar é verdadeiramente incrível, repleta de florestas exuberantes e construções complexas, tornando a exploração um dos pontos fortes do DLC, devido ao seu visual deslumbrante. Iremos conhecer uma nova personagem chama Shula, que será um dos pontos centrais da narrativa. Esta expansão, embora não apresente uma narrativa incrível como acontece com a história original do jogo, contribui para o seu final. Um dos seus pontos fortes são os combates épicos que oferece.
Quer seja na história principal como nos DLCs, a narrativa está sempre ligada a imensas cutscenes que enriquecem o jogo, como poucos conseguem fazer. Os momentos mais impactantes têm sempre algo para nos oferecer, com a intercalação das cutscenes entre os momentos marcantes e até a ação dos combates. A maneira como os criadores do jogo conseguiram adicionar estas cutscenes tornam os momentos verdadeiramente épicos.
Como em qualquer RPG, as missões secundárias são também parte integrante do jogo, sendo que estas variam entre missões bastante simples e outras mais complexas. As simples, são aquelas que existem em maior quantidade e tornam-se muito repetitivas, já que vão desde fazer um recado, encontrar alguém, encontrar um objeto ou derrotar inimigos; e depois temos as mais profundas e complexas que conseguem expandir o universo de Valisthea, já que proporcionam muitas vezes interações muito interessantes com outras personagens, muitas vezes fazendo-nos ver como é a vida em algumas regiões, e até perceber mais sobre a história de alguns personagens secundários. Depois, temos também outras atividades paralelas, como caçadas e desafios, que incentivam a exploração do mundo e oferecem recompensas.
Outro dos pontos fortes do jogo é sem qualquer dúvida as mecânicas de combate com uma evolução significativa, afastando-se do tradicional sistema de turnos que caracterizava muitos dos títulos anteriores da franquia. É importante notar – e isto para os jogadores que estão menos familiarizados com a franquia – que a saga Final Fantasy largou em definitivo o sistema de turnos, sendo os últimos jogos totalmente orientados para a ação. Isto torna os jogos muito mais dinâmicas e com muito mais ação, semelhantes a jogos como Devil May Cry, que oferecem um sistema de combate em tempo real com foco na fluidez e na rapidez. É possível executar uma série de combos, utilizando uma variedade de ataques e habilidades que podem ser personalizados e melhorados ao longo da campanha.
Falando no sistema de progressão, este foi projetado para oferecer uma experiência gratificante, permitindo que personalizemos Clive e as suas habilidades de acordo com o nosso estilo. À medida que Clive ganha experiência com as batalhas e desafios, sobe de nível e desbloqueia novas habilidades que podem ser equipadas e melhoradas. O jogo apresenta um sistema de pontos que podemos gastar para adquirir novas magias e habilidades, incentivando a experimentação e a adaptação. Além disso, a inclusão de habilidades derivadas dos Eikons são um dos pontos essenciais nas batalhas. Falando dos Eikons, é impossível não mencionar as batalhas entras criaturas monstruosas, que além do hack and slash adicionam ainda time events, que elevam ainda mais os combates que por si só já são incríveis.
Quando à componente gráfica, o jogo já era deslumbrante na PlayStation 5, mas agora conseguimos perceber que numa boa máquina o jogo aproveita ao máximo o seu potencial gráfico, oferecendo uma qualidade visual impressionante que destaca detalhes meticulosos e ambientes ricos. Além disso, as opções de configuração que nos permitem ajustar o jogo de acordo com as nossas preferências e capacidades do nosso hardware, incluem os habituais ajustes de resolução, qualidade de texturas, sombras, reflexos e efeitos, permitindo-nos encontrarmos o equilíbrio ideal entre desempenho e fidelidade visual. Ao contrário da PlayStation 5, em que por vezes se notavam algumas quebras de FPS, no PC, devido à possibilidade de ajustes das definições gráficas, essas quebras não acontecem, desde que os jogadores criem uma configuração ajustada para a sua máquina.
Seja com uma máquina incrível, ou com uma máquina que permita ter as configurações acima da média, facilmente percebemos que estamos perante uma verdadeira obra-prima, combinando realismo com a estética fantástica característica dos jogos de Final Fantasy. A Square Enix criou ambientes meticulosamente detalhados que trazem uma atmosfera imersiva. As cidades são desenhadas com uma arquitetura única, refletindo a identidade de cada região, enquanto as áreas naturais são repletas de flora e fauna variadas, criando um sentido de lugar distinto. Temos zonas com uma paleta de cores variada e iluminação dinâmica para dar vida a Valisthea, tornado este jogo visualmente deslumbrante.
O design do ambiente meticulosamente criado também serve para guiar-nos durante o jogo, mostrando pistas visuais que ajudam na navegação e a explorar os cenários. As cutscenes visualmente brilhantes, colocam-nos num filme de alta qualidade, proporcionando quase um filme interativo, onde nós somos a personagem principal. Diria que todo o jogo apresenta um mundo que impressiona visualmente, mas que também enriquece a experiência do jogador, tornando cada exploração numa aventura memorável.
A banda sonora do jogo é uma das melhores da franquia, composta por temas que ressoam com a intensidade emocional da narrativa. Cada faixa foi cuidadosamente elaborada para alinhar-se com os eventos do jogo, criando uma atmosfera que intensifica grande parte dos momentos. As músicas nas batalhas são particularmente impactantes, elevando a adrenalina dos confrontos e tornando-os memoráveis. Um ponto que não podemos fugir é o voice acting, e que tem uma altíssima qualidade. Nota-se claramente que os atores contribuíram verdadeiramente para a profundidade da narrativa, mostrando as emoções e motivações das personagens do jogo durante as suas interações.
Final Fantasy XVI é um jogo incrível, uma obra prima que se foca na narrativa e com um sistema de combate verdadeiramente divertido e que cria a sensação de poder ao jogador. Apresenta personagens carismáticas, e as missões da história principal são verdadeiramente interessantes, peca por demasiadas missões secundárias repetitivas e por alguns combates que por vezes não acrescentam muito ao jogo, já que se repetem diversas vezes. Os jogadores do PC têm aqui um jogo que não devem perder, ainda por cima com a adição dos dois DLCs que acrescentam cerca de mais 8h de jogo às já 40 horas que terão, se apenas seguirem a história principal. Caso sejam como eu e gostem de limpar a maioria dos jogos, então preparem-se para mais de 100 horas de jogo contando com o jogo principal e DLCs.