Developer: DRAGO Entertainment, Ultimate Games
Data de Lançamento: 14 de setembro de 2022
Plataforma: PC
Data de Lançamento: 16 de janeiro de 2024
Plataforma: Xbox One, Xbox Series X|S
Data de Lançamento: 13 de abril de 2024
Plataforma: PlayStation 4, PlayStation 5
Data de Lançamento: 2 de julho de 2024
Plataforma: Nintendo Switch
As roulotes de comida são hoje em dia um dos locais mais procurados por muitas pessoas quando se trata de comer em locais perto de estádios de futebol, feirinhas ou até em manifestações, como acontece em Portugal. Por esse motivo, e com o nosso país a viver uma crise política profunda, porque não trazer um simulador de roulote de comida para alegrar o dia e também encher a barriga?
Piadas à parte, Food Truck Simulator coloca-nos no papel de um jovem que herda uma roulote de comida após a morte do pai. Este ponto de partida serve como motivação para mergulharmos no desafio de continuar o negócio de família, mas também de alavancar a nossa conta bancária. Apesar de o jogo tentar criar uma narrativa envolvente, a verdade é que não é isso que vai manter os jogadores agarrados à experiência.
A história começa com o protagonista cheio de vontade de assumir o trabalho do seu pai e gerir a roulote de comida, e, na tentativa de preservar este legado, iniciamos a aventura confiantes, com um primeiro dia bastante promissor. Contudo, logo percebemos que a concorrência está a ser feroz, e é exatamente nesse momento que algo inesperado acontece: a concorrência invade a nossa garagem, onde a roulote está guardada, e provoca um incêndio, destruindo uma parte significativa do equipamento necessário para o progresso do nosso negócio. Este golpe inicial serve para criar uma narrativa que nos obriga a seguir um percurso nada fácil ou linear.
Com esta tragédia na garagem, o negócio fica seriamente comprometido, e somos forçados a aceitar trabalhos de terceiros para conseguirmos reerguer a nossa atividade. Durante esse processo, vamos trabalhar em diversas áreas, como entregas de mercadorias, tarefas em roulotes de outros e missões paralelas para sustentar a nossa recuperação financeira. Estes trabalhos tornam-se praticamente obrigatórios face à necessidade de lutar pelo nosso negócio e recuperar a nossa roulote de comida.
Durante este período, vamos aprender diversas mecânicas essenciais, dominar várias receitas, além de explorar os pontos importantes da cidade. A verdade é que todas estas vivências a trabalhar para terceiros vão tornar-nos muito mais competentes nas tarefas, o que será fundamental quando, finalmente, tivermos a nossa roulote de volta, permitindo-nos satisfazer os clientes de forma mais eficaz.
Algo que torna este simulador um pouco diferente de outros do mesmo género é a presença de personagens com voz, e tanto o nosso protagonista como outros têm falas ativas, embora falte profundidade nos diálogos. As falas são muitas vezes monótonas e sem grande entoação, o que dá a sensação de que os atores estavam a ler um guião sem saber exatamente qual seria o efeito desejado. Isso é particularmente evidente, por exemplo, quando a nossa garagem está a arder, e o protagonista não demonstra qualquer tipo de emoçao, nem sequer grita com quem lhe está a incendiar o local.
Mas, passando para o que realmente interessa (a parte de simulação), podemos afirmar que as mecânicas de culinária e gestão de ingredientes são o ponto essencial do jogo. Aqui, teremos de realizar todas as tarefas da cozinha, desde o corte de vegetais até à montagem final dos pratos, visto que o jogo tenta simular o ambiente frenético de uma roulote de comida em pleno funcionamento. Cada tarefa exige precisão, e é necessário seguir etapas específicas para preparar hambúrgueres, pizzas, sushis e outras refeições populares. As exigências aumentam à medida que os clientes esperam um serviço rápido e eficiente, forçando-nos a equilibrar velocidade e qualidade.
Embora a ideia esteja bem pensada, com detalhes que poucos jogos oferecem, nem sempre a execução do jogo é satisfatória, especialmente nas consolas, onde jogar com o comando nem sempre proporciona a melhor precisão, dificultando a execução de algumas tarefas. Além disso, por vezes, ao cortar ingredientes, algumas partes desaparecem misteriosamente, deixando-nos a olhar para o ecrã sem saber o que aconteceu. Inicialmente, os problemas de precisão não são muito problemáticos, já que os pedidos são simples e há tempo suficiente para completá-los. No entanto, à medida que o jogo avança e a pressão aumenta, esses problemas tornam-se uma grande fonte de frustração.
Imaginem, por exemplo, que têm vários pedidos ao mesmo tempo: batatas fritas, hambúrgueres e até pizzas, onde temos de colocar diversos ingredientes no grelhador, como carne, bacon (que tem vários estados: mal passado, médio ou bem passado) e o pão para torrar. No caso das batatas, temos de as fritar, colocando-as na fritadeira, que também possuem dois estados. Depois, há os condimentos para tudo, e para os hambuúrgers temos de cortar tomates, já para as pizzas cortar cogumelos, fiambre e outros ingredientes; mas ainda existem os molhos para colocar, e agora fazer tudo ao mesmo tempo, sem ter uma precisão decente, para tirar tudo no tempo certo, é muitas vezes um desafio quase impossível. E embora este problema afete todas as versões do jogo, a versão para PC oferece a melhor experiência, já que, com o rato e o teclado, a precisão nas tarefas é muito maior.
Além disso, um dos maiores problemas do jogo é não nos deixar corrigir os nossos erros. Por exemplo, estamos a fazer um hambúrguer que não leva tomate, mas, sem querer, colocamos uma rodela de tomate. O jogo simplesmente não nos deixa retirar o tomate, ou, no caso de colocarmos um hambúrguer num pedido errado, ainda sem o entregarmos ao cliente, é impossível retirar a caixa do hambúrguer para colocá-lo no pedido certo. Este é um ponto absurdo e frustrante.
O jogo também requer condução, já que teremos de andar pela cidade, seja para chegar aos locais onde vendemos, seja para voltar à garagem, ir à bomba de gasolina ou até adquirir ingredientes no armazém. Aqui, não esperem uma condução apurada, mas a experiência é satisfatória, e para um jogo onde a condução não é a parte principal da experiência, diria que está razoável e cumpre o propósito – embora a física não seja incrível e a inteligência artificial dos outros veículos seja limitada.
É também importante salientar que o jogo oferece um conjunto de atividades que tentam enriquecer a experiência, sendo a personalização uma delas. Teremos a possibilidade de modificar a nossa roulote com diferentes opções estéticas e funcionais, ajustando a aparência e até melhorando o equipamento da cozinha para otimizar a preparação dos pratos. Esta possibilidade de personalização é um dos pontos mais positivos, permitindo-nos adaptar a roulote ao nosso gosto e estilo.
Além da personalização, Food Truck Simulator também inclui tarefas como a encomenda de ingredientes, gestão do inventário e realização de missões secundárias, que tentam oferecer variedade ao jogo. É necessário comprar ingredientes com frequência, acompanhar o stock e até resolver alguns desafios secundários que surgem ao longo do caminho. À medida que avançamos, também teremos acesso a novas receitas, que aumentam o leque de pratos que podemos preparar. Por outro lado, isso também aumenta o desafio do jogo, refletindo a evolução do nosso negócio. Diria que são estes elementos que fazem com que a experiência do jogo se mantenha minimamente interessante, apesar dos problemas que já relatei.
Em termos gráficos, o jogo apresenta um visual que, apesar de funcional, é bastante limitado em diversidade e detalhe, o que se torna um ponto negativo e pode afastar alguns jogadores. A paleta de cores, desprovida de vivacidade, torna o ambiente monótono e pouco imersivo. A cidade praticamente não tem vida, dando a sensação de um cenário quase sempre estático e pouco entusiasmante. Já no aspecto sonoro, o jogo também deixa a desejar, faltando os habituais sons da cidade, os sons dos objetos que mexemos e a conversa das pessoas à volta. Ou seja, passando-se o jogo numa cidade, falta toda uma panóplia de elementos sonoros que nos façam imergir no ambiente.
Food Truck Simulator apresenta uma ideia promissora, mas que claramente não foi implementada da melhor maneira, precisando de diversas melhorias para se destacar no género da simulação. Para quem aprecia jogos de simulação, provavelmente vai querer experimentar o jogo, mas é difícil ignorar algumas falhas que afetam a jogabilidade. Com mais ajustes, otimização e um maior foco na criação de um ambiente envolvente, este título tem tudo para se tornar uma experiência verdadeiramente atraente.