Developer: Sports Interactive. SEGA
Plataforma: PC, Xbox Series, Xbox One, PlayStation 5, IOS e Android
Data de Lançamento: 4 de Novembro de 2025
Football Manager 26 marca o retorno de uma das maiores franquias de culto de sempre, o jogo de futebol que, ano após ano, é jogado religiosamente por milhões de adeptos que vivem o desporto-rei muito para lá das quatro linhas. Mais do que um simulador, Football Manager é uma instituição — um ritual que se repete entre temporadas, longas noites de transferências e a eterna busca pela tática perfeita. E, depois de um ano de jejum provocado pelo controverso cancelamento da edição de 2025, o regresso da série trouxe consigo uma aura de expectativa quase messiânica: seria esta a versão que justificaria a espera?
A Sports Interactive enfrentou o maior desafio técnico da sua história recente — a transição para o motor Unity — e, com ele, um processo de desenvolvimento longo, complexo e cheio de incertezas. A mudança de tecnologia não se tratou apenas de uma decisão estética ou de desempenho, mas de uma reconstrução profunda das bases do jogo. Durante meses, os fãs acompanharam em silêncio um projeto envolto em mistério, onde a ausência de uma nova edição levantava dúvidas sobre o futuro da franquia. Agora, com Football Manager 26 finalmente em mãos, a resposta começa a surgir: sim, a espera parece ter valido a pena.
Pela primeira vez em muitos anos, o novo Football Manager não se sente como uma mera atualização anual, mas como um verdadeiro renascimento da série. A experiência é marcadamente diferente, com uma interface completamente redesenhada, um motor gráfico renovado e novas formas de interagir com o mundo do futebol virtual. Tudo, desde a navegação até à visualização dos jogos, foi repensado de raiz para tirar partido da nova tecnologia e proporcionar uma imersão mais natural, fluida e acessível. É a maior transformação da série em mais de uma década, e uma nova era para o jogo que há vinte anos ensina os fãs que, no futebol, o verdadeiro poder não está nos pés… mas na cabeça.
A conversão para o motor Unity em Football Manager 26 simboliza o início de uma nova era para a série — e não é exagero dizer que se trata da maior reforma técnica e estrutural das últimas décadas. Depois de anos a operar sob a mesma fundação tecnológica, a Sports Interactive deu finalmente o salto que há muito se esperava. Esta transição é o alicerce de um ecossistema totalmente renovado, que permitirá ao estúdio escalar o jogo para plataformas e experiências diferentes, e, sobretudo, oferecer um nível de detalhe visual e técnico inédito na história de Football Manager.
Os gráficos, tradicionalmente secundários na série, são agora parte integrante da imersão — as animações são visivelmente melhores do que em FM24, com ângulos de câmara mais dinâmicos, movimentos de jogadores mais naturais e posicionamentos táticos visivelmente mais coerentes com as instruções dadas. Assinala o “primeiro passo de um novo ciclo de 20 anos” da série, segundo os próprios produtores, indicando que será o alicerce sobre o qual se construirão todas as edições futuras futuras, tanto no PC como em consolas e plataformas móveis.
Esta transfiguração técnica também teve impacto direto no comportamento das equipas em campo. O Unity permitiu um refinamento profundo na IA, tornando as partidas mais imprevisíveis e realistas. As transições entre fases de jogo, os cortes defensivos, o timing dos passes e as movimentações sem bola foram amplamente retrabalhadas. Já não se trata apenas de ver “o que” os jogadores fazem, mas de perceber “como” o fazem — e como cada pequena decisão influencia o desenrolar da partida. Esse salto qualitativo reforça a sensação de autenticidade e coloca FM26 num novo patamar em termos de simulação desportiva.
E se por um lado, pouco ou nada se notou de diferente na parte sonora, por outro, a experiência visual é finalmente digna de um jogo moderno, sem perder a essência analítica e tática que define a série há décadas. O novo motor 3D está absolutamente incrível, especialmente se escolhermos a opção de qualidade gráfica máxima, sendo um upgrade enorme quando comparamos com as edições anteriores. Parece, finalmente, ter sido encontrado o equilíbrio entre a precisão estatística e o prazer de ver futebol bem jogado, e ainda que seja o mesmo jogo de sempre na sua complexidade, agora é igualmente apresentado com uma sofisticação visual que o aproxima daquilo que os adeptos vêem todos os fins de semana na televisão.
Mas os benefícios do Unity não se limitam à jogabilidade. No plano estrutural, o motor foi fundamental para criar um sistema unificado de interface e funcionalidades, partilhado entre os próximos jogos da Sports Interactive. Isto significa que as ferramentas, menus e categorias de dados do FM26 são o protótipo de um ecossistema mais vasto, preparado para ser expandido, atualizado e personalizado de forma mais rápida e eficiente do que no passado. Na prática, isso traduz-se numa base técnica mais estável, em atualizações visuais e funcionais que poderão ser integradas anualmente sem comprometer o desempenho, e numa redução notória dos tempos de processamento.
E uma das primeiras coisas que saltam imediatamente à vista é, sem dúvida, a nova interface de utilizador (UI). Uma mudança estrutural que transforma imediatamente a experiência do jogo, mesmo antes de se tocar nas tácticas. Além de apenas estética, esta reformulação foi pensada a partir de três princípios fundamentais — Eficiência, Familiaridade e Previsibilidade — com o objetivo de criar um sistema que, ao mesmo tempo que mantém a essência de Football Manager, leve o jogador a explorar e interagir com o jogo de novas formas.
No entanto, a mudança implica algum período de adaptação. A familiaridade nas opções e menus ainda está presente, mas a forma como navegamos entre elas é bastante diferente. Isto tem os seus prós e contras: por um lado, a informação essencial aparece de forma mais visível em ecrãs como o Portal, que combina a antiga Home e Inbox num centro de comando do jogador, com filtros inteligentes para mensagens, acesso rápido a calendário e notícias, e integração direta com a equipa técnica. Por outro lado, algumas tarefas que antes eram intuitivas agora exigem mais passos para serem concluídas, e certas informações menos relevantes podem parecer menos acessíveis ou escondidas até que se explorem os novos menus.
A nova lógica de navegação assenta fortemente no sistema de Tiles e Cards, onde cada “tile” oferece uma visão imediata de dados essenciais e abre um “card” com mais detalhe contextual. Esta abordagem é muito útil para ter uma visão rápida do estado do clube ou de tarefas específicas. Associado a isto, o FMPedia, um glossário interativo embutido, garante que qualquer jogador consiga esclarecer dúvidas sobre funções, regras ou mecânicas, sem necessidade de recorrer a guias externos. Os Bookmarks personalizados são outra adição valiosa, permitindo que o jogador crie atalhos diretos para áreas que visita com frequência, adaptando a interface ao seu estilo e tornando a gestão do clube mais fluída e personalizada.
Outra das novidades mais cativantes de Football Manager 26 está na forma como o papel do treinador é apresentado e personalizado, introduzindo um nível de profundidade e identificação que até agora nunca tinha sido explorado no franchise. Agora, o utilizador tem de definir a origem, o percurso e até a personalidade do seu treinador, moldando uma verdadeira identidade dentro do universo do futebol virtual. Em vez de limitar o jogador ao tradicional perfil de ex-atleta com certificados UEFA, é-nos agora permitido criar um treinador vindo de qualquer contexto — desde um antigo internacional de renome até um completo amador sem qualquer experiência formal, mas movido por paixão e intuição.
Esta liberdade de opções dá ao início de cada carreira uma dimensão narrativa única, tornando cada save numa história pessoal de ascensão, fracasso ou redenção. O mais interessante é que estas escolhas não são apenas estéticas ou simbólicas. O jogo traduz o passado e as características psicológicas do treinador em variáveis concretas que afetam o desenrolar da carreira. O temperamento, o carisma, a capacidade de comunicação e até traços como ambição, paciência ou autoritarismo influenciam diretamente a relação com os jogadores, a gestão do balneário e a forma como a equipa responde em campo.
Um técnico mais carismático pode conquistar o grupo rapidamente, mas corre o risco de ser menos disciplinador; um gestor mais frio e analítico, por outro lado, pode ser eficaz na estratégia, mas falhar em motivar o plantel nos momentos decisivos. É dimensão quase RPG do jogo, em que o treinador é tanto personagem como jogador, e tudo isto contribui para uma sensação de imersão e autoria sem precedentes. Mais do que nunca, é uma narrativa interativa sobre identidade, personalidade e liderança. Cada decisão — desde o tipo de treinador que se escolhe ser até à forma como se reage a uma derrota — molda a trajetória da carreira, tornando cada jornada distinta e pessoal.
Todavia, é no aspecto tático e estratégico – a verdadeira essência do FM –, que podemos verificar uma das renovações mais ambiciosas dos últimos anos. Agora, com as novas fases “In Possession” e “Out of Possession”, não nos limitamos a definir um sistema tático para quando a equipa tem ou não a bola, sendo obrigatório pensar o jogo em vários momentos distintos. Esta abordagem, que havia sido experimentada há mais de duas décadas em Championship Manager 2001/02, regressa agora completamente reconstruída, refletindo com muito mais precisão o futebol contemporâneo, onde as equipas raramente mantêm a mesma estrutura nos diferentes momentos do jogo.
Não só podemos escolher formações e instruções coletivas para quando temos e não temos a posse da bola, mas também personalizar instruções individuais para cada jogador, ajustando o seu comportamento consoante o momento específico do jogo. A possibilidade de combinações é imenso, onde, por exemplo, um médio pode pressionar agressivamente na perda de bola, mas assumir um comportamento de contenção. Ou seja, não basta escolher uma posição geral e combinar com instruções de equipa, porque cada função e jogador deve ser pensado como parte de um sistema orgânico e interdependente, onde cada decisão influencia diretamente o fluxo do jogo.
O impacto desta funcionalidade é enorme, e a curva de aprendizagem é acentuada: o novo ecrã “In Possession / Out of Possession” exige uma adaptação cuidadosa, e será um desafio mesmo para veteranos. O potencial, porém, é similarmente enorme. Os novos papéis e funções dos jogador permitem modular o comportamento de cada atleta com detalhes inéditos, criando sistemas que respondem de forma dinâmica à posse, à perda da bola e às transições. Isto não só aproxima o FM26 das leituras táticas da elite mundial, como transforma cada jogo numa experiência ainda mais imprevisível, com cada decisão do treinador a repercutir-se em campo.
E com a reformulação da plataforma TransferRoom — já presente em versões anteriores, mas agora muito mais profunda e centralizada — a experiência de construção de equipas entra num novo patamar de realismo e estratégia. Primeiro, todo o fluxo de scouting, contratação e vendas foi reunido sob um único hub de Recrutamento, proporcionando uma visão completa das necessidades da equipa, dos jogadores com contratos prestes a terminar, da profundidade de cada posição e da pressão da direção e adeptos no mercado.
Depois, surgem duas ferramentas-chave que transformam o modo como abordas o mercado: os Requirements e os Pitch Opportunities. Com os Requirements, podemos colocar anúncios personalizados que descrevam exactamente o que procuramos — posição, função em posse/fora de posse, tipo de transferência, idade perfil, tempo de jogo esperado — e este anúncio circula por todos os clubes do teu mundo de jogo, que podem responder com os jogadores que encaixam. As Pitch Opportunities são o espelho desta lógica, permitindo ver as necessidades de outros clubes — filtráveis para transferência ou empréstimo — e oferecer jogadores que estão em excesso ou que não têm lugar no plantel.
Contudo, é mais uma funcionalidade cuja complexidade acrescida exige um certo período de habituação por parte do jogador. Temos de pensar o plantel como um laboratório continuamente em evolução, gerir anúncios, respostas, timing de ofertas e contrapartidas. Alguns utilizadores poderão sentir que o sistema exige mais atenção e mão-na-massa do que em edições anteriores. Além disso, embora o sistema dê mais poder, isso não elimina por completo as negociações tradicionais, agentes e cláusulas, o que significa que continua a haver trabalho de bastidor.
No que toca à comunicação, Football Manager 26 mantém-se bastante fiel às suas raízes. As conferências de imprensa, as entrevistas rápidas no pós-jogo, as conversas com jogadores e as negociações com a direção seguem praticamente os mesmos moldes das versões anteriores. Ainda assim, nota-se um esforço de simplificação — as conferências, por exemplo, são agora mais curtas e diretas ao essencial, tornando o processo menos repetitivo, sem aquele desgaste que, em edições anteriores, podia quebrar o ritmo de jogo.
A grande mudança nesta área surge sobretudo na forma como a informação é apresentada. Além da habitual caixa de correio, que continua a centralizar mensagens e notificações, as notícias receberam uma reorganização estrutural e estão agora agrupadas num verdadeiro “Site de Notícias”. Este novo espaço funciona como uma área dedicada à actualidade do mundo do jogo, permitindo consultar com muito mais clareza tudo o que é relevante — desde rumores de transferências e resultados de outras equipas e acontecimentos internos do clube.
Mas as novidades não se ficam por aqui, e as novas licenças incluídas no FM 2026 representam uma das maiores conquistas da série e consolidam definitivamente o estatuto do jogo como a simulação de futebol mais completa e autêntica do mercado. Pela primeira vez, o universo do futebol mundial está representado de forma quase total, e essa sensação de legitimidade e escala é imediata assim que entramos no novo menu principal e vemos os emblemas oficiais da Premier League e das competições da FIFA.
O acordo com a Premier League é, por si só, um marco histórico. Ao longo de décadas, os fãs habituaram-se a ver clubes ingleses sem os logótipos reais ou com equipamentos genéricos, mas agora tudo isso muda. Todos os 20 clubes da primeira divisão inglesa estão oficialmente licenciados, com emblemas, equipamentos, fotografias oficiais dos jogadores e branding completo. Esta parceria de quatro anos entre a Sports Interactive e a Premier League não é apenas simbólica — é um reconhecimento formal de que Football Manager faz parte integrante da cultura futebolística britânica, e que a liga mais mediática do mundo quer estar representada no jogo de forma oficial.
É também o início de uma nova fase na relação entre o estúdio e a FIFA, com a inclusão, pela primeira vez na série, de torneios licenciados como o Mundial Masculino, o Mundial Feminino e o Mundial de Clubes. Cada uma destas competições surge com o seu próprio pacote gráfico, transmissões com estilo televisivo e todos os elementos de identidade visual correspondentes. E mais do que uma adição apenas estética, abre novas possibilidades de carreira e gestão internacional, permitindo aos jogadores viver a experiência de comandar seleções nacionais em contextos autênticos e oficialmente representados.
Todos os 48 países participantes no Mundial de 2026 terão equipamentos e emblemas oficiais, o que reforça a profundidade e o realismo global do jogo. É um passo gigantesco na ambição da Sports Interactive de transformar Football Manager numa plataforma verdadeiramente universal, onde o futebol masculino e feminino, os clubes e as seleções, convivem num mesmo universo. Em conjunto, estas licenças não apenas aumentam o realismo, como também legitimam a experiência — algo que durante anos foi pedido pela comunidade.
Falando ainda do Futebol Feminino, Football Manager 26 marca finalmente o momento em que o estúdio cumpre uma promessa feita há vários anos — a de integrar plenamente o futebol feminino no ecossistema do jogo. Não se trata, como muitos poderiam imaginar, de um modo separado ou de uma versão paralela do FM, mas de uma incorporação total, que coloca o futebol feminino lado a lado com o masculino, com a mesma profundidade estatística e riqueza de opções. É uma prova de que a Sports Interactive quer criar uma simulação verdadeiramente completa, onde qualquer carreira possa transitar livremente entre géneros, equipas e competições.
Esta liberdade permite, por exemplo, carregar ligas femininas e masculinas do mesmo país e navegar entre elas como um verdadeiro gestor global. O trabalho de pesquisa é incrível, com a base de dados inicial a contar com mais de 36 mil jogadoras e 5 mil elementos técnicos, distribuídos por 14 ligas jogáveis em 11 países e três continentes. Estão incluídas competições de topo como a Barclays Women’s Super League, a NWSL, a Frauen-Bundesliga ou a UEFA Women’s Champions League, todas devidamente licenciadas e reproduzidas com o rigor que sempre caracterizou a série.
Mais impressionante ainda é o cuidado com que o estúdio tratou as particularidades do futebol feminino. Não se limitou a replicar o modelo masculino — ajustou-o à sua realidade. Desde a duração e formato dos contratos, menos dependentes de cláusulas de rescisão e mais marcados por transferências a custo zero, até à adequação das finanças dos clubes e dos salários médios, tudo foi calibrado de acordo com dados concretos. Até as diferenças físicas e fisiológicas foram tidas em conta, com novas sessões de motion capture realizadas especificamente com futebolistas profissionais, garantindo animações mais realistas e diferenciadas nos movimentos, reações e colisões.
Nem tudo são aspetos positivos, claro. Apesar de Football Manager 26 representar um passo enorme na evolução da série, a experiência ainda está longe de ser perfeita. Durante as minhas horas de jogo, encontrei diversos pequenos problemas que, embora não comprometam a jogabilidade no geral, acabam por gerar alguma frustração. Houve, por exemplo, situações em que simplesmente não consegui realizar certas trocas de jogadores, mesmo quando todas as condições pareciam reunidas. Noutra ocasião, durante um jogo, um dos meus atletas sofreu uma lesão mas sem qualquer indicação visual ou textual de quem se tratava — uma falha estranha, sobretudo num título que aposta tanto no realismo e na atenção ao detalhe. Também notei que o jogo por vezes não memoriza algumas alterações táticas feitas entre partidas, obrigando-me a repetir ajustes.
Há nitidamente limitações da interface que parecem mais descuido do que decisão de design, ainda assim, é importante sublinhar que é um jogo que ainda se encontra em acesso antecipado, o que significa que estas falhas são naturais numa fase inicial. A equipa da Sports Interactive tem historicamente um bom registo na resolução de bugs e otimização do jogo nas semanas que antecedem o lançamento final. Tudo indica, portanto, que estes problemas serão corrigidos em breve — e que o resultado final estará à altura da ambição e da escala desta nova era da série.
Football Manager 26 representa uma verdadeira redefinição da série. Depois de um ano de espera devido ao cancelamento da edição de 2025, e com o desafio monumental de migrar para o motor Unity, o jogo mostra-se não apenas uma evolução, mas um verdadeiro renascimento da franquia. Cada detalhe, desde a nova interface até ao motor 3D revitalizado, passando pela novidades táticas, demonstra a determinação da Sports Interactive em criar algo que vá muito além de uma simples atualização.



