Developer: Fallen Leaf, Black Drakkar Games, Plug In Digital
Plataforma: PlayStation 5, PC
Data de Lançamento: 22 de Agosto de 2023

Cada vez mais existem videojogos dispostos a dar aos jogadores experiências diferentes daquelas a que estão habituados e aqui, embora não seja algo inédito, o estúdio independente Fallen Leaf decidiu basicamente contar uma história em videojogo. Fort Solis assume-se como um thriller narrativo imersivo linear com muito suspense à mistura que agarra quem está de comando na mão durante as quatro horas e pouco que dura.

O jogo é em terceira pessoa, com aquela perspectiva de imagem por cima do ombro, que lembra, por exemplo, Resident Evil. Sem entrar em grandes spoilers, até porque neste caso, isso seria mesmo matar a experiência, digo-vos que o contexto onde se passa a aventura é no planeta Marte, onde várias bases procuram arranjar forma de o habitar. No início assumimos o papel de Jack que recebe um alarme de uma base vizinha de Fort Solis e ninguém responde às suas palavras. Apesar de estar a poucas horas de entrar nas suas férias, decide visitar a base, ao mesmo tempo que está a conversar com a sua colega Jessica, que fica a par de tudo o que está a acontecer. Para piorar a situação, há uma tempestade que se aproxima e promete ser das fortes. Já estão a ver o fim disto não estão?

A partir deste prologue, podemos chamar-lhe assim, começa o primeiro de quatro capítulos do jogo que são basicamente como se fossem episódios de um serviço de streaming como a Netflix ou a HBO. O nosso objetivo é explorar, seguir as indicações que a narrativa nos dá e pouco mais. Não esperem grande ação ou armas por todo o lado porque isso não acontece aqui. Existem alguns pontos em que temos de carregar em respectivos botões, conforme as nossas ações, nos chamados quick time events, mas se os falharmos, dá-me a ideia que as consequências não são assim tantas quanto isso. Sem grande esforço acertei a maior parte deles, mas naqueles que falhei, não senti grandes mudanças, com uma ou outra exceção. O jogo assume um misto de jogos da Telltale com Firewatch, onde o caminho é a própria experiência e não o resto.

Grande parte do tempo é passado a explorar a base para descobrir o que afinal se está ali a passar com a tripulação. O mistério vai-se adensando e criando cada vez mais curiosidade em nós. Posso dizer-vos que vão jogar com mais do que um personagem e que ambos têm um aparelho onde podemos ouvir áudios que encontramos, ver o mapa, entre outras coisas. Fort Solis é muito isto: chegar à base, explorar os objetos, entrar nos computadores, ler emails de determinada conta, ver vídeos da tripulação e até usar os sistemas de vigilância para destrancar portas, por exemplo. Pelo meio, podemos colecionar posters que vamos encontrando, ou mesmo outros conteúdos que resultam como extras. 

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A liberdade de exploração é quase total para tentar perceber o mistério. É certo que temos de seguir o objetivo que nos pedem, mas até chegar a esse local marcado, podemos andar pela base, ou pelo seu exterior, se for o caso, à procura de evidências. O lado mau desta liberdade é a forte possibilidade que existe de se perderem e a mim aconteceu-me várias vezes, mas também não costumo ser o melhor a ler mapas. A nível gráfico o jogo tem uma grande qualidade e excelentes detalhes e podem optar por modo gráficos ou modo de desempenho, eu optei pelo segundo porque não vi grandes diferenças. A acompanhar a nossa jornada está uma banda sonora de se lhe tirar o chapéu, bem produzida e colocada nos momentos certos. Isto oferece uma experiência digna de um filme que se passa no espaço. 

A juntar a estes dois elementos vem a parte que mais gostei de Fort Solis, o acting dos personagens, que se envolveram no projeto de alma e coração. Podem contar com a voz de Troy Baker (Joel em The Last Of Us), e de Roger Clark (Arthur Morgan em Red Dead Redemption 2). Aos dois junta-se Julia Brown que faz também um grande papel. Juntos são os três personagens principais, Jack, Wyatt e Jessica. Ainda há outras participações que apesar de aparecerem apenas em vídeo ou em áudio, acabam por estar muito bem representadas. Acabei com a sensação que conhecia toda a equipa que devia estar a trabalhar naquela base, mesmo sem os ter visto “pessoalmente” e sem ter jogado com eles diretamente.

Para contrabalançar com as coisas boas, infelizmente existem alguns aspectos em que o jogo deixa a desejar, nomeadamente o facto de não dar para correr em nenhum momento, a não ser quando a cinemática o obriga. Isto faz com que Fort Solis tenha um ritmo lento, o que pode ser um factor de desistência para muita gente. A isto junta-se a ausência de mais opções quando estamos em diálogos ou mesmo em confronto com alguém. Eu não senti necessidade, mas convém saber ao que se vem se optarem por comprar o jogo.

Não posso terminar esta análise sem vos dizer que vale mesmo a pena ir até ao fim da história e ficar surpreendido com os acontecimentos. Entre twists e coisas que já estava à espera, confesso que ainda fiquei admirado com algumas cenas do último capítulo. Também gostei do peso e da forma como alguns sentimentos são explorados ao longo da narrativa, nomeadamente a confiança e a perseverança. Fiquei ainda na cabeça com aquela pergunta, muitas vezes clichê, de até onde é capaz de ir o ser humano quando se vê nos limites, sejam eles quais forem? Acho que ninguém terá a resposta certa para isto.

Fort Solis mostra-se ao nível de uma boa minissérie das que podemos ver nas plataformas de streaming com o extra de deixar explorar mais um pouco do seu grande mistério. O caminho criativo e a história linear que a Fallen Leaf decidiu fazer é bem suportada pelos actores e embora isto não se trate de um filme, não é de descartar que ainda possa vir a ser um sucesso de bilheteira no futuro.  

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Élio Salsinha
Aprendeu a jogar ao Pedra, Papel, Tesoura com o Alex Kidd e a contar até 100 com o Sonic. Substituiu a Liga da Malásia pela Liga Portuguesa no Fifa 98 e percebeu que havia jogos melhores que filmes com o Metal Gear Solid.
analise-fort-solis<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">História enigmática que agarra</li> <li style="text-align: justify;">Bom nível gráfico</li> <li style="text-align: justify;">O acting dos personagens</li> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Podia dar para correr</li> <li style="text-align: justify;">Ausência de opções de escolha em diálogos</li> </ul>