Developer: 11 bit studios
Plataforma: Playstation 4, Xbox One
Data de Lançamento: 11 de outubro de 2019

Frostpunk é daqueles jogos que vêm do PC para as consolas com uma grande responsabilidade. O sucesso que arrasta e as boas críticas que teve podiam dificultar o processo de passagem para a Xbox One e Playstation 4. Talvez por isso, a 11 bit Studios tenha esperado cerca de um ano e meio para tornar o jogo uma realidade nas consolas. Valeu a pena a espera porque Frostpunk: Console Edition apresenta-se em boa forma e capaz de vos agarrar horas e horas sem darem muito por isso.

A premissa do jogo é simples. Uma geada gelada criada por um vulcão afetou todo o mundo e ninguém escapou ao frio. Pobres ou ricos, foram todos arrasados com estas alterações climáticas. Sem estarem minimamente preparados para esses acontecimentos, milhares de pessoas morreram e a única esperança é rumar a norte. No caminho, o comboio tem um acidente e alguns dos sobreviventes encontram um gerador gigante no centro de uma cratera e é a partir daí que vamos ter de criar a “última cidade” com todos os contras que isso trará a nós e à população que vai tentar sobreviver com as nossas decisões.

Tomamos então conta da cidade e temos em mãos 80 pessoas sem nada. Apenas um gerador à espera de carvão que o possa colocar a trabalhar para aquecer a população. A partir daqui é explorar três recursos chave. Colocar trabalhadores a explorar carvão, aço e madeira é o essencial numa primeira fase. Os recursos são finitos, até encontrarmos forma de os explorar por toda aquela montanha de neve que existe e por isso temos de saber muito bem o que fazer. Precisamos de carvão para ligar o gerador, precisamos de madeira e de aço para construir tendas, casas, ruas, enfermarias, cozinhas e outros alicerces fundamentais numa sociedade que não tem nada.

O sucesso em Frostpunk está no equilibrio de dois factores da nossa civilização. O descontentamento e a esperança. São duas barras que devemos ter muita atenção. Principalmente quando temos em mãos dilemas como, ou não há carvão para alimentar o gerador e muitos podem morrer de frio, ou então colocamos turnos de 24 horas em cima dos nossos trabalhadores e já conseguimos aquecer a cidade. Parece fácil a escolha, mas não nos podemos esquecer que também podem morrer com o cansaço de trabalho e claro, a barra de descontentamento sobe imediatamente. Teremos de saber lidar com tudo isso.

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Depois de ultrapassados estas primeiras dificuldades vão surgindo outras. São precisas casas para habitar as pessoas, abrigos para crianças, enfermarias para curar os doentes, armazéns para guardar os recursos, cozinhas para alimentar a população e por aí fora. A situação complica-se à medida que mandamos avançar o tempo. O tempo é crucial neste jogo. Não só o tempo meteorológico que nos avisa quando vamos passar de uma situação de -20º para -40º Celsius, mas também o tempo de rotina da nossa sociedade. O trabalho normal das 8h às 17h, o noturno das 18h às 02h por exemplo, horários que à medida que os dias avançam vamos percebendo que são fundamentais ter controle sobre eles. Não se dêem ao luxo de deixar trabalhadores a descansar por esquecimento. Eles obrigam a um esforço extra de outros ou até a limitar o funcionamento de alguns serviços. Existem dois tipos de trabalhadores, os engenheiros que tratam das construções, da parte medicinal e da pesquisa cientista e a classe operária trabalhadora que são pau para toda a obra. E aqui não está em causa uns serem mais que outros, mas há uns que de vez em quando se recusam a obedecer às nossas ordens de turno de 24 horas por exemplo.

Vamos ter que ter mão em tudo o que se vai passar. Se uns estão contentes, outros vão estar zangados e contra as nossas decisões. Cabe-nos a nós fazer cumprir as promessas que vamos fazendo e a confiança em nós aumenta, mas não é nada fácil. Por exemplo, a população diz “precisamos de mais cuidados de saúde”, e nós vamos ter de lhes dizer algo. Ou que “sim senhor, vamos curar toda a gente”, ou “vamos curar alguns” e ainda “não posso tratar disso agora”. É apenas um exemplo que vai influenciar muita coisa em Frostpunk. Se prometermos, temos de cumprir no tempo que nos aparece de lado. Se não honramos a nossa palavra haverá um aumento de descontentamento e no dia em que vos aparecer para diminuir o descontentamento para 75% e vocês não o conseguirem serão expulsos da cidade. Dá se o chamado Game Over. E olhem que não é assim tão improvável de acontecer. Da primeira vez que joguei durei 3h e pouco até o chamado game over. Na segunda com mais experiência e sabendo que não podia cometer os erros da primeira vez, durei mais um bocado. Explorei mais, mandei procurar possíveis sobreviventes de um acidente, voltaram alguns, apareceu um londrino sem esperança e contagiou a população e eu sem saber lidar com aquilo lá se foi novamente um game over. 

As regras e leis que colocamos em prática é outro dos pontos fundamentais para nos safarmos. A cada dia que passa podemos impor uma nova regra. Há de tudo. Permitir os tais turnos de 24 horas, definir para onde vão os mortos, se para um cemitério ou se os enterram na neve, se alteramos as rações para dar para mais pessoas, se oferecemos sopa apenas à população que se vai fartar rápidamente, entre muitas outras. Desde o local onde curamos os doentes, até à tomada de decisão se os deixamos morrer ou se os aguentamos em casas próprias para essas situações limite. Podemos ainda enveredar pelo caminho da fé e da religião para dar esperança ao povo. Construir santuários pode ser um bom escape para que a população acredite que dias melhores virão ou então impor a ordem e disciplina através de outras politicas.

Acreditem que cada decisão pesa na vossa consciência e pesa ainda mais no jogo que vão perdendo o controlo com tanta coisa que se vai passando. Se olharmos para jogos como Cities por exemplo, Frostpunk segue a mesma lógica mas e uma forma diferente e bem mais agressiva. Já vos disse que se falharem vos mandam embora daquela cidade, mas quem sabe se conseguirem organizar uma população e criar estabilidade não serão premiados com uma estátua de fazer inveja ao Marquês de Pombal. Vá também não sonhem tão alto, ate porque se chegarem ao dia 20, que pode parecer fácil, desbloqueiam uma série de novas “cidades”, mas todas com a mesma premissa. Também podem jogar com recursos infinitos e ter tudo à vossa disposição se quiserem passar apenas um bom bocado a chegar, mas a parte divertida disto é mesmo o desafio de criar muito com pouco.

A parte negativa do jogo é mesmo a passagem do rato para os comandos. Ter um rato não é a mesma coisa que um comando e embora reconheça o esforço, não é a melhor sensação do mundo em termos de controlos. Outro aspeto negativo é também a falta de ajuda em alguns objetivos que nos propõem. Apesar de haver bastante informação, não chega para sabermos como se faz certas e determinadas coisas que nos mandam fazer. Ainda assim é uma passagem quase perfeita do PC para as consolas.

Frostpunk: Console Edition é divertido e desafiante. Ao ponto de jogarem horas e horas seguidas sem darem conta disso. Os dilemas e as nossas decisões elevam a qualidade do jogo, mesmo para quem não é fã deste género. Trata-se de um trabalho muito bem feito e de um jogo que deve ser experimentado por todos. Pelo menos os mais aventureiros que se acham capazes de dominar uma sociedade.

 

REVER GERAL
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Élio Salsinha
Aprendeu a jogar ao Pedra, Papel, Tesoura com o Alex Kidd e a contar até 100 com o Sonic. Substituiu a Liga da Malásia pela Liga Portuguesa no Fifa 98 e percebeu que havia jogos melhores que filmes com o Metal Gear Solid.
analise-frostpunk-console-edition<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">A passagem para as consolas de um jogo de sucesso</li> <li style="text-align: justify;">Divertido e viciante</li> <li style="text-align: justify;">Vários desafios ao longo da campanha</li> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Jogar com os comandos não é tão intuitivo</li> <li style="text-align: justify;">Às vezes não se percebe bem como atingimos determinado objetivo</li> </ul>