Developer: Polyphony Digital
Plataforma: PlayStation 5, PlayStation 4
Data de Lançamento: 4 de Março de 2022
A comemorar os 25 anos de existência, Gran Turismo (GT) dá uma autêntica prenda a quem acompanhou a sua evolução ao longo dos tempos. No meu caso, fã desde GT2, não podia pedir melhor à equipa da Polyphony Digital que fez um trabalho de luxo na construção dos veículos, das pistas, de novos modos de jogo e de conteúdo que nunca mais acaba.
O exclusivo PlayStation, Gran Turismo 7 consegue juntar o melhor de dois mundos. De um lado está o tão desejado Mapa Mundial, jogado offline, a fazer lembrar os velhos tempos da carreira, enquanto do outro, está o modo mais competitivo que se tem vindo a especializar nos últimos anos desde GT Sport, com as corridas online em destaque. Se quando era mais novo dizia que queria jogar “o jogo dos carros”, essa sensação não mudou em nada. É isso que o jogo é quando explora as marcas e os modelos que marcaram a história do automóvel. Desde o brilhante vídeo inicial que se percebe que a intenção do criador de GT, Kazunori Yamauchi, era escrever uma carta de amor ao automobilismo em forma de jogo. Pasmem-se ou não, ele conseguiu.
Confesso que tinha grandes expectativas para ver o regresso de um modo carreira ao jogo. Estava com saudades de gerir a minha garagem, de comprar automóveis, de tirar as cartas de condução, de correr na Sunday Cup, uma das competições mais emblemáticas da franquia e até de poder lavar ou mudar o óleo dos nossos carros. Está cá tudo no modo Mapa Mundial, que acrescenta ainda a maior novidade de GT7, o já famoso Gran Turismo Café, que foi apresentado num dos State Of Play de antevisão do jogo. É o ponto central do mapa e é por lá que vamos passar bastantes vezes.
O Café funciona como um guia, não só para iniciantes, como também para experientes nestas andanças. Dá uma orientação aos jogadores para que não aconteça muito aquele fenómeno de andar perdido sem saber onde ir correr. É claro que podem abordar esse lado mais rebelde e ir para onde bem vos apetecer, mas é aqui, através de ementas com determinados objetivos que vamos avançando no jogo. Para dar um exemplo, se lá pedir para colecionar três carros, temos de ir a determinadas corridas para os conseguir ganhar e assim completar a ementa. Isso desbloqueia novos objetivos, novas pistas e áreas no mapa. Tudo feito de forma gradual, o que faz com que o jogo tenha uma grande curva de aprendizagem. Também não é difícil identificar quais as corridas que temos de completar uma vez que o jogo dá-nos uma bússola com a orientação e sinalização dos locais que temos de ir.
Além disto, é no Café que podemos ver os troféus ganhos em campeonatos, as ementas concluídas e as coleções de carros que já conseguimos adquirir. Tudo com direito a saber um pouco mais sobre a sua história acompanhada de imagens lindíssimas e uma música bastante gourmet, ou não fosse este, um café de luxo.
Já volto ao Mapa Mundial para falar de tudo o resto, mas tenho obviamente de falar nas corridas e na jogabilidade que o jogo nos oferece. Gran Turismo 7 aproveita o bom trabalho de condução feito em GT Sport e dá-lhe um toque ainda mais refinado. Quem passa de um para o outro não vai sentir grandes diferenças, vai sim sentir uma maior imersão com outros elementos extra que otimizam a experiência de conduzir um carro.
Para isto acontecer contribuem vários fatores. Começo pelo grafismo na PlayStation 5, onde rodei o jogo, que está belíssimo, e que até era um dos meus medos depois das primeiras imagens que mostraram. Felizmente está fantástico, principalmente com os efeitos de luz e os reflexos que o sol tem nos nossos veículos. Se conduzirmos na câmera fora do carro vemos os faróis traseiros e até a chapa da marca a brilhar quando o sol é intenso e se formos com a visão dentro do carro percebemos que o tablier e a zona dianteira do veículo estão iluminados. A mesma coisa acontece quando passamos em túneis com o reflexo a ver-se nos espelhos ou mesmo no vidro da frente. Coisas que dão outra dimensão à simulação de condução que já é boa, só por si.
Outro fator é o tempo dinâmico em algumas pistas, bem como o ciclo de amanhecer, ou anoitecer com o pôr do sol. GT7 recorreu a dados meteorológicos da NASA para recriar os céus exatamente como eles são na realidade e isso nota-se em pista. Dos 34 locais com variantes para 97 pistas, existem várias que têm estes recursos e já se sabe que de noite é sempre mais complicado de jogar em zonas com pouca luz, mas até nisso o jogo está bem feito com os efeitos luminosos dos veículos a terem grande importância. De salientar alguns regressos no que toca a circuitos, como é o caso de Daytona International Speedway ou as clássicas da franquia Trial Mountain, High Speed Ring e Deep Forest Raceway.
A chuva também está presente em alguns circuitos e é bonito ver no interior do carro, os pingos a cair no vidro dianteiro. As poças de água acumuladas nas bermas e no asfalto têm um reflexo de fazer inveja a alguns espelhos e tudo junto formam imagens que me pareceram demasiado reais. Também para quem joga agora num DualSense, vai sentir os barulhos, a vibração do carro a puxar, os gatilhos pesados na hora de acelerar e travar, entre outras sensações, tal como já acontece em alguns jogos como WRC, por exemplo. O ray tracing está presente no jogo, podendo optar por dar prioridade a isso ou não. Está mais nas repetições e imagens do que no desempenho da corrida que mantém os 60 frames por segundo.
Ainda nas pistas, a Inteligência Artificial dos outros pilotos está bem melhor que qualquer outro jogo de carros. Sentem a nossa presença e não vão à toa contra nós só para seguir uma certa linha de trajetória. Não são perfeitos e cometem erros, principalmente em algumas curvas apertadas, onde se vê o fumo dos pneus quando há uma travagem mais apertada e lutam entre si por posições em pista, o que melhora toda a envolvência.
O que adoro no jogo é que consegue implementar novidades sem esquecer o que o trouxe até aqui, nestes 25 anos de história. É bom ver que a essência da franquia se mantém em Gran Turismo 7 e por isso não pensem que se livram das cartas de condução. Se no início não precisamos, à medida que vão aparecendo novos desafios, há essa necessidade e exigência para entrar em certas corridas e campeonatos. Podemos aprender a jogar melhor e a aumentar a nossa perícia nas pistas. Das cartas nacionais às internacionais, seremos um piloto de elite com a Super Carta. São 5 licenças ao todo com 10 desafios cada. Há carros que podem ganhar nessas cartas conforme o desempenho que se tem. Nos tradicionais tempos de ouro, prata e bronze, se conseguirem tudo de ouro, a recompensa será melhor. Coragem.
Também regressa ao jogo o mercado de compra de carros usados em stands, que vão desaparecendo e aparecendo tal como se fosse um concessionário virtual. Podemos também optar pelos novos, fabricados a partir de 2001 e recorrer à loja das marcas para os obter, embora já se saiba que são mais caros, por não terem ainda grande uso. Sim, porque os quilómetros vão aumentando à medida que usamos o carro. Nestes stands das marcas podemos ainda aceder a uma zona de museu, onde nos fala da história da marca e sobre os seus marcos. Para os mais colecionadores, podem ir à loja de carros lendários e quem sabe encontrar aquele com que sempre sonharam ter. Alguns são de stock limitado, mas às vezes são tão caros que nem vale a pena. O senão das microtransações pode assustar, mas diria que se consegue fazer bom dinheiro virtual no jogo para que não se tenha de recorrer a extras. Há ainda ofertas especiais por tempo limitado para cada jogador. Eu recebi um convite da Aston Martin, mas acabei por não comprar, porque achei caro demais.
Como já referi os carros vão-se desgastando e isso leva-nos até à manutenção de veículos no GT Auto, onde por vezes é necessário lavar o carro ou mudar o óleo. O sistema de danos do GT não é conhecido por danificar os carros como acontece em F1, onde saltam as peças todas, mas não se livram de umas boas amolgadelas ou de raspas na pintura de algumas zonas do carro. Lembro-me de estar com um BMW preto com a frente quase branca, na área do pára-choques.
É aqui nesta zona que também podemos fazer algumas modificações ao carro, tais como: colocar uma asa traseira, mudar as lâmpadas, matrículas, editar as cores do carro e fazer designs únicos que depois até se podem exportar para outros jogadores. Se forem criativos, preparem umas valentes horas para passar aqui a construir vários carros. Também podem modificar o fato e o capacete do piloto. É tudo uma questão de estética.
Além destas mudanças, podemos recorrer à loja de afinação para melhorar o desempenho dos nossos veículos. O jogo dá-nos a indicação dos PP do nosso carro, que é basicamente o que ele vale no geral. Há algumas técnicas que podemos usar para o melhorar. Novas peças, pneus suaves ou diminuição de peso são só algumas. No entanto, é necessário ter em conta que algumas provas não permitem usar carros com determinado PP, o que se deve ter em conta quando se modifica. Podemos ainda ajustar alguns dados do carro para o tornar mais ou menos poderoso conforme as necessidades.
Se forem como eu, que não percebo assim tanto de modificações em carros, não se preocupem porque é tudo muito intuitivo e antes de comprar algo aparece no ecrã se o carro melhora, mantém ou até piora. Esta loja de afinação revela-se crucial quando não estamos a conseguir passar alguma corrida. Gran Turismo 7 vai fazendo as coisas de modo gradual e as corridas vão ficando mais difíceis se não tivermos determinados carros. Também vos digo que há peças mais caras que carros usados, mas às vezes compensa.
O Mapa Mundial não ficava bem sem modos multijogador e online, pelo qual GT Sport fez maravilhas. Podemos jogar em ecrã dividido offline ou então criar salas para jogar online, tal como já acontecia no jogo passado, embora esta seja uma entrada significativa em relação ao último GT6 ainda lançado na PS3. Além destas salas mais amigáveis, existem os chamados Pontos de Encontro em algumas pistas. Lá podemos participar em conversas, jogatanas sem grandes regras e mostrar as nossas criações a outros jogadores de todo o mundo. Cada sala dessas dá para 16 pessoas.
Depois existe o modo mais competitivo, que se chama Sport e parece uma cópia do último jogo lançado que era mais virado para o online, o GT Sport. Teremos corridas diárias, de 20 em 20 minutos, classificação de piloto que indica o nível de perícia do mesmo, a chamada classificação de desportivismo, ou seja, teremos de obedecer a regras de conduta desportiva rígidas para não estragar as provas aos outros participantes, entre outros parâmetros de avaliação. Isto é muito importante para se poder participar em ligas e campeonatos que possam ser organizados online. É aqui que eu digo que isto até parecem dois jogos num só e quem quiser se dedicar mais a um que a outro, está à vontade. O que não falta é conteúdo.
Além de tudo isto no Mapa Mundial, há ainda um modo à parte que é o Rali Musical, no qual vamos conduzir ao som de várias músicas, com medleys hilariantes de clássicos à boa maneira de um espetáculo de André Rieu. O ritmo da música vai diminuindo os compassos e teremos de percorrer o máximo de distância possível em pista antes que esses compassos cheguem ao zero ou que a música termine. Há vários checkpoints em que ganhamos mais tempo e aumentamos a nossa longevidade em pista. À medida que vamos passando as pistas, desbloqueamos novas músicas e acaba por ser um modo divertido, nem que seja para abrir o apetite enquanto o jogo está a instalar, já que é o único modo que GT7 permite jogar enquanto se aguarda pelo seu download total.
Podemos ainda personalizar corridas à nossa maneira, com mais ou menos voltas, escolher as horas do dia, fazer desafios de drift, onde vão ouvir apupos se não conseguirem mostrar espetáculo, participar em contra-relógios, corridas arcade ou fazer a experiência de circuito, no qual, setor a setor, vamos aprendendo a melhor maneira de fazer as manobras.
Há ainda uma zona de desafios que vamos desbloqueando conforme o nosso nível de piloto que vai aumentando com corridas e vitórias. São desafios divertidos nem que seja para jogar com veículos menos convencionais, como são os casos de um Jeep da Segunda Guerra Mundial ou com um Fiat 500. É com eles que também percebemos a sensação de velocidade deste jogo, ou neste caso a falta dela. Um Fiat 500 a subir, não é igual a um Camaro SS numa prova oval a toda a velocidade. Regressam os bilhetes da roleta que lembra GT Sport quando cumpriamos um certo número de quilómetros percorridos por dia, com a diferença que no outro calhava quase sempre veículos repetidos e aqui há peças, dinheiro ou também carros, mas não tive muita sorte.
O que é também interessante no jogo após cada corrida são as repetições musicais. Já não é novidade que podemos ver repetições das provas que parecem reais, mas agora com a música a acompanhar e com a mudança de planos sincronizada com as batidas, tudo isto ganha outro esplendor e será certamente uma maravilha para os criadores de conteúdo que se aventurarem a explorar mais estas repetições. Tem um senão, quando a música é mais pequena que a corrida ela volta para o início e perde um pouco o efeito poético da coisa.
Para os amantes de fotografia, o modo Scapes faz as delícias de qualquer um. Podemos agarrar em cenários de vários locais do planeta e colocar lá os nossos carros. Ao todo existem mais de 2500 locais, incluindo alguns em Portugal. É mais um mundo para andar lá a explorar por longas horas.
Por último, e se calhar a mais importante para a nossa coleção, a Garagem. É lá que temos acesso aos nossos carros e uma caderneta onde mostra todos os que já temos e qual a história de cada veículo. Ao todo existem 424 para colecionar. Podemos ver os interiores deliciosamente bem recriados, assistir a vídeos do carro em algumas paisagens do Scapes, relaxar e apreciar a sua beleza. É aqui que podemos ajustar algumas definições do carro, mudar de veículo, entre outras coisas. O jogo está com os menus em português e todas as informações históricas que consultei estavam muito bem traduzidas.
Gran Turismo 7 é o melhor e mais completo jogo da franquia. Tem modos de jogo para todos os gostos e junta novidades a um conjunto base de elementos familiares a todos os que já jogam GT desde os primórdios. O “jogo dos carros” está de volta com pompa e circunstância. Fala da história do automóvel e ficará ele próprio, na história dos videojogos.