Developer: Codemasters, Electronic Arts
Plataforma: Xbox One, Xbox Series, PlayStation 4, PlayStation 5 e PC
Data de Lançamento: 25 de Fevereiro de 2022
O reboot de GRID em 2019 representou uma mudança de paradigma na franquia, adoptando uma abordagem que mesmo mantendo algumas das bases dos simuladores, mostrava que a ideia seria seguir uma abordagem mais arcade no futuro. E foi isso que se confirmou precisamente com GRID Legends, provavelmente com a condução mais acessível da série para novatos, no entanto, não esquecendo igualmente quem prefere uma simulação mais rigorosa.
Temos agora o quinto jogo de uma saga iniciada em 2008 e que se ficou, na altura, como uma das principais referências dos simcades. É uma franquia que passou por várias fases de experimentação com o objectivo de perceber onde se devia especializar. E parece que finalmente encontrou o seu lugar. GRID Legends oferece uma experiência de velocidade que promete rivalizar com outros jogos que partilham da mesma tribo.
É o primeiro jogo da Codemasters desde a aquisição da Electronic Arts, e havia uma enorme expectiva. Não só porque é uma franquia com algum nome no género, mas também porque todos procurávamos saber que tipo de produto nos traria a Codemasters agora sob a tutela da EA. E o resultado foi bastante auspicioso, uma vez que é clara a tentativa de chegar a várias pessoas, numa abordagem mais ampla.
Não esquece as suas origens, não se preocupem. Os traços que caracterizam a franquia continuam todos lá, mas segue uma tendência de jogos de desporto que proporcionam uma jogabilidade com uma direcção de toada narrativa. Pega num elemento que resultou muitíssimo bem em F1 2021, um modo história, e cria um contexto deveras interessante para as diferentes competições.
“Driven to Glory” é o nome da campanha narrativa que realmente dá um entusiasmo diferente no momento de nos fazermos à pista. Não se pode dizer que tenha um enredo inesquecível, mas funciona e disfarça um pouco aquela sensação de repetição que muitas vezes fere os racing sims. Entre corridas temos normalmente uma sequência que vai construindo os cenários para os desafios colocados, com cutscenes numa natureza live-action que ajudam a contar a história, cujos actores têm uma interpretação surpreendentemente boa.
Faremos parte da equipa Seneca, chefiada por um Marcus Ado ávido de sucesso, mas que se debate para encontrar o rumo das vitórias. Felizmente, a personagem que iremos incorporar chegou para alterar o rumo das coisas, e apesar de inexperiente, o seu talento convence Marcus a apostar nele. Pelo caminho terá de gerir uma complicada relação com Yume Tanaka – a sua colega de equipa –, ao mesmo tempo que tenta vencer o seu implacável rival Nathan McKane.
A história é apresentada num formato de reality TV e consegue ser cativante, especialmente à medida que a rivalidade entre as equipas Seneca e Ravenwest vai crescendo, levando mesmo a uma certa dualidade moral. Existem diversas personagens intrigantes que acrescentam alguma trama ao enredo, e que ajudam a marcar o ritmo da narrativa. Os capítulos vão sendo divididos por competições, onde nos são dados objectivos mínimos que terão de ser cumpridos. E a partir do momento que o entrecho embala, é quase impossível resistir à vontade de querer saber o que acontecerá de seguida.
É composta por 36 eventos que, conforme a dificuldade escolhida, podem ser completados entre 6 e 9 horas. Serve de introdução a um Modo Carreira mais robusto, cuja progressão pode ser vista como mais tradicional. Recomenda-se mesmo que comecemos pela história, porque além de transformar uma simples corrida em algo com mais substância, será igualmente depois mais descomplicado de entender como tudo o resto funciona.
Neste Career Mode esperam-nos inúmeros eventos da temporada GRID, nos quais podemos competir como pilotos e donos da nossa própria equipa. Divide-se em três dificuldades (Rookie, Semi-Pro e Pro), com um quarto modo de dificuldade a ser desbloqueado posteriormente. Variedade é a palavra que melhor descreve o Modo Carreira, essencialmente quando olhamos para a quantidade de competições e veículos disponíveis.
São dezenas de pistas nas quais podemos competir, e algumas bastante conhecidas, nomeadamente a de Brands Hatch, Strada Aplina, e claro, a de Indianapolis Motor Speedway. Com mais de 120 veículos à nossa disposição, representados em modelos da Alfa Romeo, Aston Martin, Audi, BMW, Chevrolet, Ferrari, Ford, Lotus, Mazda, Nissan, Opel, Porsche, Renault, Subaru, Volvo e muitos mais, temos aqui muito para desbloquear e nos entreter durante muito tempo.
Relativamente às competições, há muito por onde escolher, e destacam-se o Touring – uma imagem de marca da série GRID –, o regresso das provas de Drift, ou os Trucks – para quem gosta de veículos pesados. Porém, também haverá o oposto com o Open Wheel, abrangendo veículos mais leves e velozes, mas igualmente mais difíceis de controlar. Os carros eléctricos também têm uma categoria específica e foi uma feliz novidade, assim como o Tuner, que apela particularmente à personalização.
Considerando ainda o Race Creator, acho que fica bem evidente como o conteúdo é vasto. E não fica por aqui, dado que são esperados mais 4 DLC’s pós-lançamento que incluem novas histórias de eventos de carreira, novos modos, carros, patrocinadores e desafios. É um jogo que a Codemasters promete não abandonar tão cedo, continuando a trabalhar criativamente em formas de motivar os jogadores a voltar com frequência.
A jogabilidade é absolutamente fantástica, e temos aqui um jogo que irá, certamente, apaixonar quem dá primazia a racing sims num modelo elementarmente mais arcade. A dificuldade da condução é baixa, e quase que provoca o jogador a abusar da velocidade, tornando cada corrida numa espiral de adrenalina. Sentimos bem o peso do carro nas curvas, mas a aceleração e a travagem são tão responsivas, que é fácil controlar o veículo com presteza.
O divertido Nemesis System voltou, trazendo uma IA realista, mas também imprevisível. Este sistema consiste em equipar os pilotos adversários de uma personalidade que se reflecte depois em atitudes vingativas durante essa prova e nas seguintes. Quando pressionamos um piloto na pista, este responderá com um comportamento mais agressivo e até hostil, levando que cada disputa pelo pódio se torne, muitas vezes, mais uma questão pessoal.
Quanto ao multiplayer, a Codemasters tentou principalmente que se traduzisse em flexibilidade e muita recreação. É uma vertente que é extremamente arcade e prática na sua oferta, mas também na sua acessibilidade, visto que podemos inclusivamente entrar em qualquer momento da corrida, substituindo um elemento da IA. Com modos imensamente divertidos como o Drift Battle, o Electric Racing e a Multi Class Race, e a possibilidade de cross-play entre plataformas, temos aqui uma das melhores experiências online dos últimos anos em simuladores de desportos motorizados.
Graficamente é magnífico e um autêntico regalo à vista nas consolas da nova geração, onde atinge os 4K/60FPS. Tanto nas texturas, nos efeitos de luz, de sombras e nas animações de condições climatéricas mais adversas – estas últimas, verdadeiramente espetaculares. As colisões podiam ter sido ligeiramente melhor executadas, mas nada que seja realmente desapontante. Os efeitos sonoros são outro aspecto forte do ponto de vista da imersão, com a música a acompanhar impecavelmente a atmosfera de uma corrida carregada de emoção.
Grid Legends chegou entre os lançamentos do Forza Horizon 5 e do Gran Turismo 7, mas não se deixou intimidar e soube posicionar-se inteligentemente no meio destas duas propostas. Mostrou-se determinado em oferecer um estilo muito próprio, e conseguiu-o, exemplarmente.
Para quem tinha dúvidas, a franquia continua bem viva. E recomenda-se!
