Developer: Tequila Works
Plataforma: Xbox Series, Xbox One, PlayStation 5, PlayStation 4 e PC
Data de Lançamento: 6 de Julho de 2023

Foi um título de lançamento do Google Stadia em 2019, o que por si só cativou a curiosidade dos jogadores por ser uma das bandeiras da nova plataforma da gigante americana. Com o encerrar de portas deste serviço de stream, o estúdio Tequila Works teria de inevitavelmente encontrar uma nova casa de maneira a não se deixar arrastar para o esquecimento, e decidiu criar agora versões para a Xbox, PlayStation e PC.

E ainda bem que assim foi, porque além de pretender ser acessível para pessoas em idade adolescente, pretende, especialmente, abordar problemas pelos quais passam os jovens nesta faixa etária. Talvez por isso tenha decidido ir por uma concepção mais sombria, e que embora não tenha seja tão carregada e grotesca como Little Nightmares, notam-se algumas semelhanças relativamente ao estilo artístico escolhido.

 Gylt explora o mesmo tipo de suspense e atmosfera sinistra, mas com a particularidade de quase parecer uma animação da Pixar. Sabe prender-nos a atenção logo desde o começo, e uma das principais razões é o seu aspecto visual que nos impressiona imediatamente. O tom soturno cria o ambiente perfeito para uma história que sabe desde logo ser interessante, conseguindo passar simultaneamente uma mensagem bastante pertinente.

A história acompanha a aventura de Sally, uma jovem corajosa que parte numa busca desesperada para encontrar a sua prima desaparecida, Emily, na cidade de Bethelwood. Como um mal nunca vem só, enquanto foge dos bullies da escola, tem um pequeno acidente, que deixa a sua bicicleta danificada. Não tendo alternativa senão deslocar-se a pé, sem se aperceber, acaba por entrar numa espécie de portal que a transporta para uma realidade paralela da cidade.

Ao explorar os entornos assombrados deste intrigante novo cenário, Sally depara-se com um mundo cheio de criaturas assustadoras num contexto de pesadelo. Enquanto procura por pistas sobre o paradeiro de Emily, Sally terá de confrontar os seus próprios medos e inseguranças, personificados por estas inquietantes criaturas que habitam a cidade. É como uma metáfora para simbolizar as dificuldades da vida adolescente, e como muitas vezes os os jovens se sentem isolados e desamparados.

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A narrativa mergulha nos segredos ocultos de Bethelwood. Conforme Sally desvenda os mistérios da cidade, irá descobrir a conexão entre o mundo real e este reino obscuro chamado Gylt. Significa, portanto, que as suas acções e decisões não apenas afectam somente o seu próprio destino, mas também o destino de Emily e o equilíbrio entre os dois mundos. Caber-lhe-á, então, explorar a profundeza da escuridão e desvendar a verdade por trás de tais eventos perturbadores. A solidão, o medo e a coragem são temas centrais, proporcionando uma viagem muito estimulante aos jogadores.

As cenas mais relevantes são apresentadas por meio de cutscenes que se assemelham a uma BD, sendo uma maneira interessante de contar a história. E ainda que o enredo possa desafiar a realidade da protagonista, nunca se torna confuso, e facilmente percebemos para onde caminha. No entanto, não pensem que é previsível – longe disso. Temos surpresas e alguns twists à nossa espera, que inevitavelmente vão mantendo a curiosidade do jogador.

Paga-nos o café hoje!Muitas vezes estes jogos caiem no erro de se tornarem demasiado silenciosos, mas felizmente é algo que não acontece aqui. Sally frequentemente fala para si, não só como uma forma de absorver tudo o que está a viver, mas também para raciocinar e ajudar os jogadores a entenderem melhor os eventos da história e até as mecânicas do jogo. É como se fosse uma narração não-assumida, que por vezes se transforma num subtil tutorial que fornece pistas sobre a jogabilidade.

O stealth é dominante em Gylt, onde vamos ter de estudar as rotas dos monstros para poder evitá-los. A inteligência artificial dos mesmos é bastante básica, repetindo os mesmos percursos e os mesmos timings, e só quando existem vários na mesma zona é que se torna difícil de calcular quando sair do esconderijo. Temos o sistema usual de detecção deste género de jogos, cujas cores indicam o grau de alerta em que se encontram as criaturas, o que nos permite atrair a criatura para uma área e escapar por outra.

O mapa está bem sinalizado, e ajuda bastante a descobrir – quando necessário – percursos alternativos. Outra assistência importante é que as áreas exploradas ficam marcadas, de modo a não nos perdermos ou retornarmos a locais nos quais já estivemos. Dito isto, fica evidente que é um jogo em que a exploração é crucial, especialmente para encontrar baterias para a lanterna e os inaladores, que nos restauram o HP.

O sistema de combate é uma engraçada combinação entre o que tínhamos em Alan Wake e Dead Space. Vamos usar a nossa lanterna para apontar e encandear as criaturas, porém, isso só as atrasa, e para as derrotarmos vamos ter de apontar às pernas. É claro que não devemos abusar, porque as baterias da lanterna não são exactamente fáceis de achar, logo, recomenda-se que usem esta abordagem só em último caso.

Como não podia deixar de ser, teremos diversos quebra-cabeças para solucionar. São de raciocínio simples, com pouca variedade, e servem essencialmente para nos ocupar e prolongar o tempo de jogabilidade. Sim, é um jogo relativamente curto, e não fossem as fases de furtividade e de puzzles, e poderia ser terminado em poucas horas. Todavia, para quem está habituado a este estilo de jogos, sabe que normalmente é assim.

Graficamente está muito bem conseguido para um jogo indie. O estilo mais animado tendo em conta o seu setting dá-lhe um certo charme, conseguindo ser bonito e sinistro ao mesmo tempo. A nível de performance está muito estável, sem quebras, e com uma fluidez que impressiona. O mesmo se pode dizer da parte sonora, que está à altura da execução gráfica, sobretudo na música e o voice acting de Sally, que foi desempenhado por Dora Dolphin.

Gylt merecia ser jogado por mais jogadores e ainda bem que chegou a outras plataformas. Quem gosta de jogos com algum suspense, mas um pouco mais ligeiros, certamente irá ter aqui algo com que se entreter. A sua mensagem é importante, e está muito bem executado no geral.

REVER GERAL
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Nuno Mendes
Completamente obcecado por tudo o que tenha a ver com futebol, é daqueles indesejados que passa mais tempo a editar as tácticas do PES do que a jogar propriamente. Pensa que é artista, mas não conhece as cores primárias, e para piorar, é ligeiramente daltónico. Recusa-se a acreditar que o homem foi à Lua.
analise-gylt<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">A história é interessante</li> <li style="text-align: justify;">Boa ambientação</li> <li style="text-align: justify;">Graficamente bem executado</li> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Um pouco curto demais</li> </ul>