Developer: Avalanche Software / Portkey Games
Plataforma: PlayStation 5, Xbox Series S|X e PC
Data de Lançamento: 10 de fevereiro de 2023

É difícil para um fã dos livros e até da recriação nas salas de cinema das aventuras de Harry Potter, ver um novo jogo deste universo a ser lançado. A razão é bastante simples: praticamente todos os jogos lançados foram terríveis, excluindo a maravilhosa recriação dessas aventuras em LEGO portanto, é normal que a expectativa fosse muita, de braço dado com o enorme receio que tudo fosse por água abaixo.

A decisão da WB Games, juntamente com a Avalanche Software e a Portkey Games, em adiar o jogo algumas vezes colocou-me ainda mais apreensivo com aquilo que poderia estar a acontecer no desenvolvimento do jogo, mas o facto da companhia, geralmente, só adiar o lançamento de jogos para dar uma melhor experiência ao jogador, foi trazendo alguma paz de espírito, até ao dia em que finalmente pude colocar mãos à obra. Aí, e com a dura tarefa de varrer as cerca de 35 horas de jogo, senti que efectivamente estava a jogar o melhor jogo deste universo.

Paga-nos o café hoje!

Provavelmente, a melhor decisão da Avalanche Software foi não tentar seguir a história de Harry Potter e os seus amigos e tentar encaixar os 6 filmes nesta aventura, mas em vez disso, recuar no tempo até ao final dos anos 1800, para dar a conhecer Hogwarts, a história da escola de feitiçaria e magia e das personagens que são invocadas apenas em alguns livros ou em pequenos detalhes nos filmes. É sempre mais fácil pegar numa história que não foi escrita, porque o jogador terá sempre um interesse diferente e uma perspectiva fresca, e, especialmente para algo com um clube de fãs tão acérrimo e devoto, também seria uma forma de homenagear todos os detalhes ainda não desbravados. No entanto, para os fãs mais atentos, haverá algumas inconsistências, alguns locais menos bem conseguidos e outras tantas salas e ambientes que não fazem jus às nossas memórias.

Publicidade - Continue a ler a seguir

Em Hogwarts Legacy temos a história de um novo aluno ou aluna de Hogwarts, mas que começa a sua jornada no quinto ano, algo diferente do que alguma vez vimos e não inteiramente justificável, devemos dizer. Durante o percurso, a carruagem é atacada por um dragão e só a perícia do nosso tutor e professor Fig é que nos salvam da extinção. Isso e uma chave especial que recolhemos de uma caixa que só nós conseguimos abrir. E porquê? Porque temos a capacidade de interagir com a magia ancestral. E é essa chave que nos leva para a primeira localização, também ela ancestral, e onde aprendemos as primeiras mecânicas do jogo.

A história começa a ganhar novos contornos a partir daí, onde, com aquela mesma chave conseguimos abrir a porta de um cofre no mítico banco dos Duendes e onde percebemos que há muito mais a dizer em relação a esta ligação ancestral e que anda outro meio mundo à procura dela nomeadamente, um duende chamado Ranrok, que está a planear uma revolta contra todos os feiticeiros. Será a fugir de Ranrok que acabamos em Hogwarts com fortes indicações que a magia ancestral emana por lá.

Hogwarts Legacy 1

Mesmo antes de tudo isto começar, temos a oportunidade de criar a nossa própria personagem. Um editor relativamente competente, que nos deixa escolher os traços gerais das feições do nosso boneco, seja o rosto, as sobrancelhas, os óculos, o cabelo, a cor da pele, o género e a voz. Tenho pena que este editor não fosse bastante mais profundo, senti falta de podermos determinar mais parâmetros da nossa personagem e que alguns destes aspectos que referi tivessem um pouco mais de opções e liberdade de construção. Facilmente, estaria largos minutos a fazer isso, caso existisse essa opção e, tendo em conta a base de fãs, acho que todos queríamos poder fazer uma personagem que representasse a nossa própria imagem, porque, ao fim ao cabo, era a oportunidade perfeita para o fazer. Tive pena dessa questão, apesar de achar que consegui fazer algo mais ou menos parecido.

Hogwarts Legacy 2

Outro dos pontos que também não achei muito bem conseguido foram os menus do jogo. E aqui tenho que fazer uma ressalva em nome da verdade, porque quem jogar no PC pode ter uma opinião oposta à minha, mas a verdade é que joguei na PS5 e o sistema de ponteiro para mudar as opções, seja os settings, seja percorrer o mapa ou o nosso gear, é lento, pouco fluído e algo aborrecido. As animações que encontramos dentro do menu e na troca de separadores até estão bem conseguidas, mas estão lento e o movimento com o ponteiro só é simpático para quem joga de teclado e mouse. Para quem joga com o comando é apenas chato, especialmente porque num RPG estamos constantemente a navegar nos menus.

Hogwarts Legacy 3

O que vale é que quando começamos a entrar na aventura, vamos facilmente esquecer estas duas questões. Bem, a dos menus nem tanto, mas como vamos mudar tantas vezes o Look da nossa personagem, até acabamos por esquecer a componente da criação. E é isso que Hogwarts Legacy consegue tão facilmente fazer: deixar-nos boquiabertos com a recriação do ambiente dos livros e dos filmes, que facilmente estes pormenores e de algumas texturas menos bem conseguidos, assim como alguns elementos de iluminação, fiquem lá atrás da nossa cabeça, apenas dizendo que existem, mas não tiram o gozo do jogo.

Quando entramos em Hogwarts, passamos por aquele momento épico de seleção da casa à qual pertencemos. Isso acontece com algumas perguntas que nos são feitas para definir o nosso perfil, mas será dada ainda a oportunidade de escolher outra casa, caso não fiquemos satisfeitos com a decisão do Sorting Hat. E o que acontece depois disso é algo que eu particularmente adoro em RPG’s, que é: perder-me por completo. E quando digo perder-me por completo, não quer dizer não saber o que estou a fazer ou o seu porquê, mas sim o facto de haver tanto o que fazer e por descobrir que é difícil ir directamente para as quests principais. Isto é sempre um problema para mim na análise, porque faz com que demore um pouco mais de tempo a lançá-la, mas espero que valha a pena.

Hogwarts Legacy parece-me que inteligentemente foi buscar algumas referências à experiência de jogabilidade de LEGO Harry Potter, isto é, só falta ter os tijolos dourados e vermelhos e invisíveis, porque a quantidade de puzzles de ambiente que temos ao nosso dispor no jogo é em muito semelhante. Até a forma como só conseguimos resolver alguns dos puzzles, após aprendermos algum dos feitiços disponíveis, nos faz lembrar a mecânica dos jogos da LEGO de Harry Potter, onde depois de terminarmos pela primeira vez o jogo, ainda temos dezenas de horas para resolver todos os quebra-cabeças. E aqui é exactamente isso que vai acontecer, porque vão demorar cerca de umas 30 horas para para terminar o jogo, dependendo o grau com que se envolvem nas sidequests.

Para mim foram mais umas 35 horas, porque me embranhei a fazer coisas e depois tive que começar a acelerar para tentar escrever esta análise, mas sei perfeitamente que falta muitas mais para fazer tudo. O melhor de tudo? É que tenho muita vontade de continuar no jogo e isso é muito importante.

Hogwarts Legacy 4

Isso deve-se ao tal pormenor e rigor na recriação deste universo, como já disse, mas por todos os locais terem movimento inerente. Devo dizer que apesar dos NPC’s por vezes parecerem poucos, para o número de alunos que costuma frequentar Hogwarts e as redondezas, o detalhe, principalmente da escola é insano. Várias vezes pensei que nem o Assassin’s Creed no seu melhor conseguiu dar tanto detalhe às estruturas que percorremos. Lembrei-me do Unity, que, de facto, tinha muito da sua jogabilidade em ambientes interiores, e nem esses tinham a riqueza deste. Ainda para mais, visto que no mundo da fantasia e da feitiçaria, nada é o que parece, e os quadros movem-se, os fantasmas aparecem, o lore está escondido nas paredes, os livros voam, podemos reconstruir cenários com o Reparo, e por aí fora.

Se acharem que é pouco é porque ainda não viram o que há para fazer lá fora… é que temos toda uma Hogsmeade para explorar, para além da Floresta Proibida e tantas outras Dungeons e passagens secretas em cada um dos locais. E apesar de existirem inúmeros pontos de Fast Travel, eu duvido que percam a oportunidade de voar com a vossa vassoura ou então em cima de um Hippogriff ou de um Thestral.

Há centenas de collectibles para apanhar e muitas Side quests de exploração do mapa, algumas delas particularmente interessantes, porque podem definir a utilização das magias e feitiços proibidos, as Dark Arts, sendo que para isso têm que comprar uma das edições especiais do jogo. Ser “mau” e usar estas magias tem um preço e neste caso é em euros.

Já sei que o querem saber agora é a parte do combate, e podem estar  descansados porque é outro dos pontos altos do jogo. Há mais de 20 feitiços, e todos eles têm usos estratégicos, que vão desde desarmar inimigos até a apenas dar dano. Usar levioso, por exemplo, faz com que inimigos flutuantes levem mais dano dos ataques diretos. Também podemos fazer vários tipos de combo, muitos deles necessários para quebrar a guarda do inimigo. E outros que quase podiam ser do Scorpion do Mortal Kombat, como levitar o adversário, puxá-lo para bem perto de nós, queimá-lo com um feitiço de fogo e depois batê-lo no chão com toda a força. É realmente satisfatório e ainda mais conforme vamos ficando mais fortes e com mais opções de escolha.

No início, podemos equipar equipar quatro feitiços, e usá-los segurando o R2 e apertando um dos quatro botões de acção. O problema é que em poucas horas já temos acesso a  mais de uma dúzia de feitiços, e vamos ter que escolher. Com alguns upgrades, dá para desbloquear até quatro grupos de feitiços. Podemos alternar entre eles segurando o R2 e apertando uma das direções do direcional. Ou seja, dá para ter 16, dos 20 e tantos feitiços, equipados a qualquer momento. O problema aqui é que o sistema de trocar não é tão fluído como um Forspoken, um Horizon Forbidden West ou Last of Us, algo que poderia e deveria ser limado. O que acaba por acontecer é que esquecermo-nos os que temos equipados e onde, além disso, há alguns que apenas usamos em momentos pontuais, como os de decorar a nossa base ou alimentar bichinhos.

Como já tinha referido, o User Interface e o HUD são mesmo os pontos menos conseguidos, porque era desnecessária toda a informação que fica “colada” ao ecrã. A não ser a barra de vida dos inimigos, que aparecem contextualmente, tudo o resto fica. A nossa vida, os feitiços equipados, o minimapa, mesmo em situações de combate ou quando estamos a passear pela escola, é desnecessário e, apesar de dar para tirar esses elementos, só dá para tirar para sempre ou ter para sempre.

A nossa experiência com Hogwarts Legacy foi na PlayStation 5 e a imersão é sempre maior quando temos um DualSense para jogar. O comando assume a cor da casa que escolhemos, o feedback háptico dá-nos a sensação dos trilhos pelos quais caminhamos e os gatilhos hápticos a sensação de cada magia e feitiço que lançamos. Para além disso, a pequena coluna do comando dá os efeitos das magias, como se tivéssemos a varinha na nossa mão.

Hogwarts Legacy 5

Hogwarts Legacy também é muito competente na sua vertente RPG. Devo dizer que depois de Marvel’s Avengers todo e qualquer jogo em que tenha um sistema de progressão, deixa-me logo com calafrios, mas este jogo lida muito bem com isso.

Temos efectivamente pontos de experiência para ganhar em todas as actividades que fizermos, desde encontrar peças icónicas em Hogwarts ou livros mágicos que andam a voar, passando pela inúmera side-quests ou as missões principais. Conforme vamos adquirindo XP, vamos subindo de nível desbloqueando novas habilidades, feitiços e por aí fora. Ao mesmo tempo que isso acontece, podemos equipar nova roupa na nossa personagem que nos pode dar diversos atributos de defesa, ataque, magia, etc. O jogo pareceu-me sempre equilibrado nestes dois factores, sem me “obrigar” a fazer demasiadas coisas acessórias para seguir na história, ao mesmo tempo que explorar foi sempre recompensador nos items que recolhi.

Depois há algo do qual muito pouco se tem escrito e que, para mim, é um dos elementos fundamentais do jogo e desta componente RPG que é o Room of Requirements. Este será o nosso verdadeiro espaço de criação mágica. Aqui vamos poder customizar todos os elementos decorativos da sala, desde o tecto, as cadeiras os móveis, mudando as suas cores e estilo ao vosso belo prazer.

Para conseguirem fabricar estes elementos vão precisar saber a receita para os mesmos, que pode ser comprada em Hogsmeade, assim como alguns recursos que vão recolhendo ao longo da aventura. Será aqui também que vão poder germinar algumas plantas para as vossas poções, criarem traits que podem adicionar às vossas roupas para dar buffs passivos e até terem acesso ao vosso próprio Vivarium, uma espécie da mala do Newt do Fantastic Beasts, onde vão poder ter as vossas criaturas mágicas, salvar até algumas e mimá-las também. Curiosamente, temos uma espécie de medidor de felicidade dos nossos animais de estimação mágicos que, quando cheio, nos recompensa com recursos especiais. Este Vivarium também pode ser totalmente customizável.

Graficamente o jogo é fascinante. A quantidade de detalhe é alucinante e, como já referi, é difícil não ficar embasbacado com tudo aquilo que acontece à nossa volta, especialmente em Hogwarts. Porém, o facto do desenvolvimento ter começado e até demorado muito tempo para PlayStation 4 e Xbox One, é algumas vezes perceptível. Os efeitos de iluminação parecem um pouco planos, nota-se alguma dificuldade em acompanhar o movimento da nossa personagem e os efeitos de luz na entrada de cada sala, especialmente se formos de uma zona interior para o exterior e vice-versa. Ao contrário de outros tantos jogos, nomeadamente Forspoken, em Hogwarts Legacy há ciclos de dia/noite e até das estações do ano, dando sempre a sensação de tempo e de novos detalhes que vão surgindo devido a essas condições.

Algumas animações são um pouco rígidas, onde coisas como tentar saltar sobre objetos altos, ficar em pé em superfícies irregulares e a maneira como alunos e professores se movem no mundo do jogo sugerem parecem algo datadas e primitivas. Depois, o design salva tudo isto, com os rostos das personagens e dos monstros que são, efectivamente, de nova geração. Algo que acaba também por fazer toda a diferença nas cutscenes do jogo, que facilmente parece estarmos dentro de um filme da saga de Harry Potter.

Hogwarts Legacy é um verdadeiro monstro de jogo. Temos que tirar o chapéu à Avalanche Software pela recriação de um universo e de um ambiente que respira a palavra detalhe. É divertido e desafiante ao mesmo tempo que é imersivo e faz-nos acreditar mesmo que somos um aluno em Hogwarts. A quantidade de missões e side-quests é enorme, com uma duração muito acima de média, mas sem ficarmos entediados. O combate está muito bem conseguido, e isso quer dizer muito, porque tantos outros falharam quando o tentaram neste universo. Graficamente, tem os seus altos e baixos, com destaque para a questão do HUD e do UI e da fluidez dos menus. Nem tudo é perfeito, mas até para fazer uma boa poção é preciso falhar algumas vezes, mas o resultado é altamente satisfatório.

REVER GERAL
Geral
Artigo anteriorDRIFTCE – O novo jogo de corridas de drift
Próximo artigoNovo trailer de The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom
Pedro Moreira Dias
Fundador do Site - Salão de Jogos, o Commodore Amiga 500 foi o seu melhor amigo durante décadas e ainda hoje sabe de cor a equipa principal do Benfica do Sensible Soccer 94/95. Nos tempos vagos ainda edita as botas dos jogadores do FIFA e do PES.
analise-hogwarts-legacy<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">A recriação do universo que encontramos nos livros e filmes/li> <li style="text-align: justify;">A atenção ao detalhe e ao pormenor</li> <li style="text-align: justify;">As mecânicas de combate e os múltiplos puzzles de ambiente</li> <li style="text-align: justify;">A história, a cadência e as missões secundárias</li> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Os efeitos de iluminação planos e com pequenas falhas</li> <li style="text-align: justify;">O User Interface e HUD, assim como os menus de jogo</li> </ul>