Developer: Maciej Targoni, Ultimate Games
Plataforma: Xbox Series, Xbox One, Nintendo Switch e PC
Data de Lançamento: 10 de Abril de 2025

Lançado como uma colecção unificada de dois jogos, Hook: Complete Edition inclui tanto o Hook original quanto a sua sequência direta, Hook 2, numa proposta concisa e minimalista de raciocínio lógico. Desenvolvido inteiramente por Maciej Targoni, um criador polaco conhecido por suas experiências de puzzle elegantes e acessíveis, este título representa não apenas o esforço individual de um artista digital, mas também um exemplo claro de como o género de quebra-cabeças encontrou espaço fértil no ecossistema dos jogos indie.

Nos últimos anos, à margem dos grandes lançamentos, os jogos de puzzles minimalistas e relaxantes consolidaram-se como um nicho importante dentro do mercado independente. Sem depender de grandes orçamentos ou tecnologias gráficas de ponta, criadores como Targoni têm explorando ideias simples com execução refinada, entregando títulos capazes de gerar uma sensação de fluxo meditativo para o jogador.

Hook: Complete Edition encaixa-se perfeitamente nesse molde, não apenas pela estética discreta e a banda sonora serena, mas também pela clareza do seu conceito base: pressionar botões para puxar linhas na ordem correcta, de maneira a desbloquear novos caminhos mecânicos. O mérito da obra não está na inovação extrema nem na ambição desmedida, mas na forma como explora cuidadosamente uma ideia central, sem nunca perder de vista o ritmo calmo e a acessibilidade do seu design.

A jogabilidade assenta numa proposta relativamente prática, mas engenhosamente construída, em torno de uma simples acção: pressionar botões. À primeira vista, o conceito parece demasiado singelo — cada botão activa um mecanismo que recolhe uma linha, ou fio, ligado a uma peça do cenário. No entanto, é na ordem e no encadeamento destas acções que reside o verdadeiro desafio. O objectivo de cada puzzle é remover todas as peças do ecrã, puxando os fios sem que estes se bloqueiem uns aos outros. Para isso, o jogador precisa de observar cuidadosamente o diagrama apresentado, antecipar os movimentos e decidir qual a sequência correcta de interacções.

Nas fases iniciais, o jogo introduz estas regras de forma gradual e acessível, permitindo ao jogador familiarizar-se com os princípios da lógica interna de cada sistema. À medida que os níveis avançam, novos elementos são introduzidos, como interruptores remotos que activam fios distantes, sobreposições que obrigam a lidar primeiro com o que está por cima, ou ainda mecanismos giratórios que alteram a direcção dos fios.

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Cada um destes acréscimos é apresentado com clareza e incrementa o grau de complexidade sem quebrar a coerência visual ou estrutural do jogo. A curva de dificuldade é bem calibrada: os desafios tornam-se mais exigentes com o tempo, mas sem nunca sacrificar a acessibilidade. No fundo, é uma abordagem elegante e descomplicada ao puzzle digital — uma experiência que não pretende reinventar o género, mas que o serve com precisão, coerência e um foco louvável na clareza de design.

O segundo jogo, incluído também nesta Complete Edition, segue exactamente a mesma lógica do primeiro — a tal sequência de botões e fios — mas introduz um elemento diferenciador: a rotação da perspectiva. Se o primeiro Hook funciona num plano bidimensional fixo, Hook 2 transpõe os puzzles para um espaço tridimensional. Agora, o jogador pode rodar a câmara em torno da estrutura do puzzle, o que introduz tanto uma nova leitura, como também outro planeamento.

Pode parecer uma diferença mínima, mas com esta mudança, fios e peças podem estar escondidos atrás de outras estruturas, ou parecer acessíveis quando, de outra perspectiva, se revelam bloqueados. Nesse sentido, apesar de subtil, esta adição é suficiente para refrescar a experiência e colocar à prova a orientação espacial do jogador. A rotação da câmara, contudo, pode ser ligeiramente lenta com um comando, o que em níveis mais complexos torna a navegação menos fluída. Ainda assim, não é algo que prejudique a experiência, sendo mais característico do que problemático.

Em conjunto, Hook e Hook 2 oferecem um total de 160 puzzles, todos relativamente curtos, mas suficientemente variados para manter o interesse. Essa estrutura de “puzzles de bolso”, acessíveis e rápidos, favorece uma experiência casual, ideal para sessões de jogo mais relaxadas. Cada puzzle propõe um desafio lógico e claro, sem recorrer a interfaces sobrecarregadas ou a estímulos visuais intensos. Pelo contrário, a estética monocromática e o som ambiente discreto contribuem para um ambiente calmo, em sintonia com o ritmo pausado do gameplay.

Outro aspecto importante é a forma como o jogo lida com os erros do jogador. Como não há penalizações agressivas nem tempo limite, o erro faz parte natural do processo de resolução — o jogador experimenta, falha e tenta de novo. Isso é reforçado com a ideia de que ultrapassar um limite de tentativas reinicia o puzzle, o que obriga à concentração sem gerar frustração. Este tipo de sistema valoriza a atenção e o planeamento, sem nos castigar excessivamente.

 

 

A identidade visual de Hook: Complete Edition assenta numa estética minimalista extremamente coesa e deliberada. Desde o primeiro momento, o jogo apresenta-se com um estilo composto essencialmente por tons neutros — brancos, cinzentos e pretos — que contribuem para uma atmosfera limpa, quase clínica. Esta abordagem gráfica não procura deslumbrar com cor ou detalhe, mas sim criar um espaço de foco absoluto no essencial: os mecanismos dos puzzles. A ausência de elementos supérfluos reforça a clareza de leitura visual e permite que o jogador se concentre apenas nos desafios mecânicos que tem pela frente.

Hook não quer distrair, quer acalmar. As linhas que representam os fios, os interruptores e os mecanismos são desenhadas com precisão e elegância, revelando uma atenção quase matemática ao equilíbrio entre funcionalidade e estilo. Cada elemento tem o seu propósito bem definido, o que contribui para uma linguagem visual intuitiva e funcional. No primeiro jogo, esta sobriedade é constante. No segundo, a introdução do espaço tridimensional e da rotação de câmara traz uma nova dimensão visual, mas sem perder o minimalismo.

No que diz respeito ao som, Hook: Complete Edition complementa o seu visual com uma abordagem igualmente minimalista e serena. Não há música de fundo intrusiva nem efeitos sonoros dramáticos. Em vez disso, o jogo opta por criar um ambiente auditivo que se aproxima de uma aplicação de meditação. Sons ambientes — como o ondular suave de ondas do mar, o chilrear de pássaros, leves toques de piano ou o eco delicado de sinos — constroem uma paisagem sonora subtil, mas envolvente.

É uma abordagem que vai ao encontro da filosofia geral do jogo: reduzir o ruído externo, tanto literal como figurativamente, para que a experiência seja puramente centrada na resolução de puzzles. O resultado é um equilíbrio raro entre desafio e relaxamento, onde som e imagem trabalham em conjunto para criar um estado quase meditativo — uma zona de conforto mental que estimula o raciocínio sem gerar ansiedade. Esta combinação estética é particularmente eficaz porque não se limita a ser bonita ou agradável, isto é, está funcionalmente alinhada com o que o jogo quer provocar no jogador.

Apesar da sua estrutura simples, Hook: Complete Edition é surpreendentemente eficaz a manter o jogador envolvido através de uma curva de dificuldade bem medida, uma interface limpa e uma abordagem permissiva ao erro. A sua duração contida mas significativa, aliada à forma como convida a sessões curtas e relaxadas, tornam-no um jogo ideal para momentos de pausa.

REVER GERAL
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Nuno Mendes
Completamente obcecado por tudo o que tenha a ver com futebol, é daqueles indesejados que passa mais tempo a editar as tácticas do PES do que a jogar propriamente. Pensa que é artista, mas não conhece as cores primárias, e para piorar, é ligeiramente daltónico. Recusa-se a acreditar que o homem foi à Lua.
analise-hook-complete-edition<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Sistema original de puzzles</li> <li style="text-align: justify;">Ambientação relaxante</li> <li style="text-align: justify;">Dois jogos incluídos</li> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Poucas diferenças entre os dois jogos</li> </ul>