Developer: Guerrilla Games
Plataforma: PlayStation 5
Data de Lançamento: 19 de abril de 2023
Será impossível falar da nova expansão para Horizon Forbidden West sem fazer spoilers, portanto, peço, se ainda não terminaram o jogo, para terem em atenção que nesta análise vou dar conta de vários pormenores que se interligam com o fim do jogo base.
Comecemos por despachar a questão desta expansão apenas sair para a PlayStation 5. Acho que fica claro, perante esta opção que o jogo base foi criado para ser a bandeira da nova geração da PlayStation, mas que, com a questão da pandemia e da escassez de recursos e do seu transporte, a Guerrilla Games, foi “obrigada”, a ajudar a sua patroa e não deixar a PS4 de fora das opções, visto que a maior parte dos jogadores ainda não tinha feito a transição. Pessoalmente, não condeno tal opção, tal como não condeno esta de ser exclusiva para a PS5. O que eu acho desnecessário é não assumir com todas as letras que tal aconteceu e, que agora, a Guerrilla Games teve a oportunidade de trabalhar como sempre quis e ambicionou em Horizon Forbidden West: Burning Shores.
Numa entrevista ao blog oficial da PlayStation, o director do jogo, Mathijs de Jonge dizia: “Horizon Forbidden West é um jogo muito visual, então a promessa de mais poder de CPU e de memória significava que seríamos capazes de adicionar ainda mais qualidade à imagem… e em termos de jogabilidade, estava ansioso para poder jogar a 60fps. Isso estava no topo da minha lista de desejos pois funciona muito bem com a nossa jogabilidade de combate enquanto lutas contra as máquinas.”, diz de Jonge.
O director do jogo complementou mesmo a ideia do foco na PS5: “Em Burning Shores, já que pudemos concentrar-nos apenas na PS5, fomos capazes de ir mais à frente e estamos muito empolgados com o que conseguimos criar nesta impressionante versão pós-pós-apocalíptica de Los Angeles.”
Os jogadores podem efectivamente queixarem-se de não ter a oportunidade de comprar a expansão para a jogar na PS4, mas não se pode dizer que foram enganados. Não houve uma pré-reserva com direito a bónus referentes à expansão, ou uma edição especial que desse direito à expansão em si. Por mais chato que possa ser, não é, para mim, objecto que faça parte da minha análise ao jogo.
Há ainda uma outra pedra no sapato que os jogadores acharam, e eventualmente sabem do que estou a falar, mas acho tão mesquinho, honestamente, que não vou abordar sequer nesta análise. Talvez num episódio do nosso podcast gaming 4 bits de conversa possamos abordar esse assunto.
Posto isto, passemos ao que realmente interessa que é a expansão Burning Shores e o que ela traz ao jogo base.
Primeiro, dizer que para a jogarem terão, tal como aconteceu em Horizon Zero Dawn, que ter acabado a história principal do jogo.
O nome é uma alusão a Los Angeles, às vezes até alcunhada de Hell-A, como em Dead Island 2, portanto a cidade ardente é retratada através de uma península com um mar translúcido, muitas pequenas praias, embarcações, e zona vulcânicas, algumas delas em erupção, para além de geisers por todo o lado.
A transformação da imagética que temos da cidade de Los Angeles na realidade, com o Observatório no cume de uma colina, do sinal de Hollywood ao lado, ou de alguns arranha-céus, está intacta, isto é, intacta não está, bem entendido seja, mas conseguimos olhar para estes monumentos e ter a noção da sua transformação apocalíptica.
A riqueza dos cenários, das diferenças entre eles, e da sua exploração, são, geralmente, o ponto alto do Horizon. Esse foi um dos pontos determinantes, para mim, na minha análise ao jogo base, a que atribuí a nota máxima. Em Burning Shores o mesmo acontece. Sendo uma península a deslocação é feita através do uso da nossa Asa Solar, mas quando tal não for possível, podem usar um esquife para se deslocarem mais rapidamente. É um bocado como a canoa de God of War Ragnarok, mas aqui, podem sempre saltar do barco e nadar ou explorar as profundezas do mar. Não será apenas essa a novidade na locomoção, visto que os geysers podem fazer-nos levantar voo, se usarmos o escudo como planador, permitindo-nos chegar a alturas antes impossíveis, mesmo utilizando o nosso gancho.
Burning Shores não tem a mesma verticalidade que encontrámos em outras zonas do mapa de Forbidden West, em termos de escalar superfícies, mas ganha uma nova forma de abordagem dessa verticalidade com o uso desta mecânica, quer na deslocação, quer no seu uso em combate.
O problema de Burning Shores é a ligação dos componentes, para manter a tónica tecnológica. A história é interessante, até porque confere desenvolvimentos importantes na história que terminou em Forbidden West, e, para além disso, está bem construída, focando-se na tribo Quen e em mais um dos elementos do Zénite que nos faz, claramente, lembrar Elon Musk, mas não tem a mesma densidade, ligação com missões secundárias ou a exploração devida e necessária, para aprofundar as personagens que são apresentadas.
Assim, a acção torna-se demasiado focada em voar no Asa Solar até determinado local para explorar a missão principal e regressar, repetindo a dose um número de vezes. A falta de desbravar o mapa através da exploração para concretizar vários objectivos, ou através das ligações feitas aos Longneck, ou Pescoções, para identificar pontos no mapa, acaba por fazer imensa falta para conectar todas as acções. Percebo que a ideia seja bastante mais “straight forward”, mas acaba por pecar em termos gerais na construção da narrativa.
No sentido inverso está a presença de uma nova protagonista, Seyka da tribo Quen, que, apesar de não poder ser controlada por nós, acaba por nos acompanhar em toda a campanha e ajudando-nos em vários momentos de combate e dos vários puzzles de ambiente. Essa é outra das grandes novidades desta expansão, visto que Aloy e Seyka vão ter que se coordenar, seja para criar plataformas para aceder a mecanismos, seja a de defenderem uma à outra em outros momentos, ou de ajudar na exploração e combate contra as máquinas em mundo aberto. É uma lufada de ar fresco, quer seja nas mecânicas e no desenvolvimento das ações e do combate, mas também em termos de narrativa, onde Aloy finalmente encontrou alguém à sua altura, que a acompanha nas aventuras e até nas decisões, para além da relação entre elas.
Sendo uma novidade, há momentos que não estão polidos o suficiente, nomeadamente quando Seyka se torna “invisível” para todos os inimigos e anda pelo campo aberto como se nada fosse, sem que as máquinas a vejam, recordando-nos The Last Of Us Remastered.
Dito isto, Burning Shores é relativamente curto, a campanha terá cerca de 4 a 5 horas se se focarem apenas nela, o que eu não recomendo de todo. A melhor forma de aproveitar esta expansão é fugir à história e explorar tudo o que é possível, recolhendo coleccionáveis, procurar a Relic Ruin ou o novo Cauldron disponível. Fazer algumas missões para melhoramento das armas e armadura, para depois andar a caçar algumas das novas máquinas disponíveis. E, com algum peso e medida, ir fazendo a história, até porque existem habilidades por desbloquear e uma nova arma com tecnologia Zénite para aproveitar. A questão é que eu não vos deveria dizer isto, o jogo devia levar-vos a isso, isso sim.
É apenas nesse capítulo que vejo esta expansão falhar. As histórias que vão ler nos pequenos diários que vão encontrar, traçam a personalidade de Walter Londra como o multimilionário que apenas queria ser adorado custasse o que custasse. O megalómano que quer ter o maior número de seguidores possível, provável paralelismo com o fenómeno das redes sociais, e com o Twitter em particular; a sua ambição por definir a mentalidade das civilizações, mesmo que para isso tenha que os submeter a uma lavagem cerebral, outro paralelo com a manipulação da informação através dos média e das redes sociais.
No fundo, existem aqui vários elementos de reflexão que são extrapolados através do imaginário do jogo, mas que têm um paralelo com a vida real. Curiosamente, coincidência ou não, há vários “easter eggs” que apontam para um dispositivo de realidade virtual, um side quest que nos fala sobre a solidão e o estar só e uma preocupação com a saúde mental, há um relacionamento gay, e várias alusões a filmes do cinema real, sendo um deles o Jurassic Park. Há ainda um outro em relação a The Last of Us que vos vou deixar descobrir por vocês mesmos.
Horizon Forbidden West: Burning Shores focou-se naquilo que tem de melhor, a sua jogabilidade, as mecânicas de combate e caça e apimentou-as com algumas variações bastante interessantes. Aproveitou esta oportunidade para subir a fasquia gráfica das texturas e do level design, da capacidade de processamento da PlayStation 5 e apresentou um mundo mais detalhado e recheado de pormenores. Deu uma companheira a Aloy, capaz de seguir as suas pisadas, e deu novas formas de se mover e explorar.
Para uma expansão, deu tudo e mais alguma coisa, só que nem sempre ligou bem os componentes.