Developer: Tripwire Interactive
Plataforma: Xbox Series, PlayStation 5 e PC
Data de Lançamento: 24 de Julho de 2025
Nascida em 2005 como um mod para Unreal Tournament, Killing Floor é uma franquia com origens humildes, mas que rapidamente conquistou uma legião de fãs através da sua abordagem crua e violenta ao género dos shooters cooperativos. Desde então, a série passou por um processo de evolução constante — especialmente com Killing Floor 2, que cresceu ao longo dos anos até se tornar um nome com alguma dimensão, com uma comunidade activa e eventos sazonais como o Summer Sideshow e o Hillbilly Horror.
Agora, quase uma década depois do último lançamento numerado, a Tripwire Interactive regressa com Killing Floor 3, disponível para PC, PlayStation 5 e Xbox Series X|S — e carrega consigo tanto o peso do legado como a expectativa de uma reinvenção. Mas Killing Floor 3 não é um simples prolongamento da fórmula anterior. É uma tentativa deliberada de reenquadrar a série, adotando uma fundação mais convencional, veloz e moderna — tanto em termos mecânicos como estéticos.
Com um foco assumido na fluidez do movimento, numa direção artística mais sóbria e numa estrutura de classes reformulada, o jogo procura adaptar-se aos padrões dos shooters contemporâneos, aproximando-se de títulos como DOOM Eternal ou mesmo Overwatch na forma como introduz habilidades de classe e combate mais vertical. No entanto, esta modernização tem um custo. A remoção de mecânicas icónicas, assim como a transição para um estilo visual mais limpo, contrastam fortemente com o ADN dos jogos anteriores.
Embora Killing Floor tenha sempre dado primazia à acção cooperativa intensa e ao combate visceral, há um pano de fundo narrativo que justifica a sua violência desenfreada. Tudo começa com a corporação fictícia Horzine Biotech, uma empresa especializada em armamento e engenharia genética. Num esforço para desenvolver supersoldados e outras armas biotecnológicas, a Horzine acaba por criar clones militares conhecidos como “specimens” ou Zeds. No entanto, como manda a tradição neste tipo de coisas, a experiência sai fora do controlo, com os clones escapam do laboratório, espalhando-se rapidamente o caos por cidades inteiras, e gerando uma epidemia de criaturas mutantes.
Nos primeiros dois jogos, os jogadores assumem o papel de forças improvisadas (militares, mercenários ou civis armados) que tentam conter estas vagas de horrores genéticos. A narrativa é fragmentária e deliberadamente minimalista, transmitida através de pequenos trechos de lore, descrições de armas ou ambientes, e sobretudo por meio da ambientação — fábricas abandonadas, instalações subterrâneas, ruas escuras, tudo ecoando a falência da segurança corporativa e a ruína da civilização.
Agora, sete décadas após os eventos do segundo jogo, o mundo não recuperou em Killing Floor 3. Pelo contrário, a Horzine parece ter consolidado ainda mais o seu poder, e recorre a forças de elite chamadas Nightfall para manter a ordem — ou, mais provavelmente, impor o seu controlo num mundo devastado. Ou seja, existe uma pequena mudança, mas no sentido de um cenário que revela uma distopia mais organizada, onde o horror biotecnológico já não é apenas uma ameaça descontrolada, mas também uma ferramenta de domínio.
Killing Floor 3 mantém a essência central da série, focando-se no combate cooperativo contra vagas de inimigos, onde os jogadores assumem o papel de especialistas, cada um com habilidades específicas que incentivam a complementaridade dentro da equipa, sendo que o sistema de especialistas está diretamente ligado a perks — características que definem as capacidades e o estilo de jogo de cada personagem. Inicialmente, as personagens encontram-se rígidas e “hard-locked” às suas especializações, remetendo para jogos do género “hero shooter” (à imagem de Overwatch), porém com um design simplificado e uma quantidade limitada de conteúdo para as personagens.
No combate, a ação mantém-se intensa, com as hordas de monstros a exigirem cooperação e estratégias de equipa. As mecânicas de movimentação foram expandidas, oferecendo novas opções como mantling (subir obstáculos), deslizar e dash, conferindo maior fluidez e dinamismo ao combate, e permitindo escapar e reposicionar-se com maior agilidade. Essa mobilidade é essencial para enfrentar os vários tipos de zeds, que foram redesenhados para serem mais bizarros e assustadores.
Contudo, a ausência do sistema de captura de movimento que caracterizou Killing Floor 2 é notória. Esse sistema conferia uma maior reatividade e realismo às animações dos inimigos, como os movimentos icónicos dos Scrakes. Em Killing Floor 3, isso foi retirado, resultando numa sensação menos imersiva, e especialmente visível nas criaturas menos humanoides, como os crawlers, que apesar de visualmente perturbadores, não possuem a mesma expressividade nas animações. Destacam-se ainda os bosses, cujas aparências grotescas e movimentos únicos diferenciam-se das versões anteriores, criando confrontos marcantes.
Outra alteração importante é a remoção de algumas mecânicas sociais e de interação que marcaram os jogos anteriores, como a possibilidade de soldar portas para bloquear inimigos, uma funcionalidade que acrescentava um elemento táctico e divertido à cooperação entre jogadores. Por outro lado, temos os gadgets, que funcionam como ataques especiais e acrescentam uma nova perspectiva táctica. Por exemplo, a flecha teleguiada do sharpshooter pode ser controlada para atingir inimigos com precisão, proporcionando uma abordagem mais estratégica ao combate. Também a personalização das armas foi ampliada com a inclusão de modificações, permitindo adaptar as armas ao estilo individual de cada jogador e aumentando a profundidade da progressão.
Killing Floor 3 mantém a tradição da série em privilegiar a experiência cooperativa como seu pilar central, consolidando-se como um jogo que exige trabalho de equipa e coordenação constante entre os jogadores. A dinâmica de cooperação não é apenas um elemento acessório, mas sim uma parte fundamental da jogabilidade, que influencia diretamente a estratégia, a sobrevivência e o sucesso nas partidas. Cada jogador assume um papel dentro do grupo, incentivando a colaboração para maximizar o desempenho colectivo.
Há seis classes disponíveis em Killing Floor 3 (Commando, Firebug, Engineer, Sharpshooter, Medic e Ninja), cada uma com um estilo de jogo próprio que incentiva a especialização e o trabalho em equipa. O Commando tende a dominar o combate de médio alcance, oferecendo controlo de campo e consciência situacional ao grupo. O Firebug recorre a armamento incendiário para causar dano em AOE e limitar o avanço das hordas. O Engineer, uma adição relativamente nova, introduz um papel mais técnico, centrado no uso de armadilhas e dispositivos de apoio.
Já o Sharpshooter foca-se na precisão a longa distância, ideal para eliminar alvos prioritários. O Medic desempenha uma função de suporte crucial, mantendo os colegas vivos. Por fim, o Ninja — ou possivelmente uma reinterpretação do clássico Berserker — aposta no combate corpo-a-corpo, combinando mobilidade com força bruta. Esta diversidade de classes promove uma jogabilidade cooperativa sólida, onde a eficácia do grupo depende da complementaridade entre estilos de jogo.
As mecânicas cooperativas são projetadas para promover uma interação fluida entre os participantes, seja na divisão de recursos, no suporte em combate ou na tomada de decisões táticas diante das hordas de inimigos. Um exemplo marcante é a possibilidade de reforçar barricadas e proteger pontos estratégicos, criando oportunidades para que os jogadores se complementem, como acontece na série desde os primeiros títulos. A diversidade de mapas e o aumento da variedade de inimigos em Killing Floor 3 ampliam ainda mais a necessidade de comunicação eficaz e adaptação constante às circunstâncias, o que intensifica a imersão e o desafio.
O ambiente e os mapas em Killing Floor 3 apresentam uma variedade considerável, superando até os conteúdos do seu predecessor no lançamento. Enquanto Killing Floor 2 estreou-se com um número limitado de mapas, o terceiro jogo já começa com um conjunto mais amplo, oferecendo uma diversidade maior de locais para os jogadores explorarem e enfrentarem hordas de inimigos, o que constitui uma clara vantagem em termos de conteúdo inicial, apesar de trazerem também uma mudança estética e que pode não agradar aos fãs que esperavam a atmosfera mais clássica.
Os mapas apresentam diferentes tipos de cenários que reforçam a atmosfera de horror e sobrevivência característica da série, ainda que, no geral, o tom visual e a direção estética do jogo tenham sofrido alterações evidentes em relação aos jogos anteriores. Em contraste com a estética suja, escura e “grungy” dos primeiros jogos, Killing Floor 3 traz um visual mais limpo e moderno, inspirado em ambientes que priorizam o realismo e um tom mais “dark”. Essa transformação altera a experiência imersiva, conferindo uma sensação diferente do que se via nas versões anteriores.
O aspecto visual representa uma mudança significativa no tom da série, tanto no que diz respeito ao estilo artístico como à apresentação técnica. O novo diretor criativo, Bryan Wynia, é originalmente um artista especializado em design de monstros, e essa herança nota-se claramente na conceção das criaturas. Os inimigos foram redesenhados para assumirem formas mais grotescas e bizarras, com destaque especial para os crawlers, algo que aproxima o jogo mais de influências como The Thing, de John Carpenter, do que dos tons dos jogos anteriores. Os próprios bosses seguem esta linha, sendo agora mais monstruosos e perturbadores.
A ausência de motion capture de alta qualidade, que marcou Killing Floor 2, é uma das perdas mais sentidas. A fluidez e o peso visual das animações foram reduzidos, o que resulta numa experiência visual que, embora mais limpa e moderna, perde parte da visceralidade e do impacto que caracterizavam os combates anteriores. Em Killing Floor 3, embora o sistema M.E.A.T. (que permite desmembrar e mutilar dinamicamente os inimigos) esteja de volta, a sua implementação parece menos reactiva e menos detalhada, especialmente nos inimigos com formas menos humanas.
No campo sonoro, Killing Floor 3 mantém a tradição da série ao apostar fortemente num som pesado e agressivo, com uma banda sonora que mistura metal industrial e batidas intensas, ajudando a intensificar a sensação de urgência e violência nos combates. No entanto, uma mudança foi uma redução considerável do conteúdo vocal das personagens. Uma das marcas da série era o humor britânico ácido e o exagero cómico nas voicelines. Agora, com a reestruturação das personagens, o número de falas é reduzido, e o tom geral é mais sério e comedido.
Killing Floor 3 surge como um novo capítulo de uma série com quase duas décadas de história, tentando equilibrar tradição e inovação. Apresenta mudanças controversas, sobretudo na forma como aborda o tom e o espírito dos antecessores, optando por uma direcção mais sóbria e menos caótica. Com espaço para crescer através de atualizações e conteúdos sazonais, Killing Floor 3 enfrenta o desafio de reconquistar uma base de fãs exigente, sem perder de vista aquilo que originalmente tornou a série um fenómeno de culto.