Developer: Sora, Hal Laboratory, Nintendo
Plataformas: Nintendo Switch 2
Data de Lançamento: 20 de Novembro de 2025

Um dos títulos mais inovadores e marcantes que muitos jogadores tiveram a oportunidade de experimentar na GameCube foi Kirby Air Ride. Para a época, o jogo apresentava uma proposta singular, ousada e surpreendentemente desafiante, conquistando rapidamente uma legião de fãs. Com o passar dos anos, poucos acreditavam verdadeiramente que a série algum dia regressaria, o que tornou ainda mais inesperado o anúncio de Kirby Air Riders para a Nintendo Switch 2. É um regresso muito aguardado, 22 anos depois do último lançamento, trazendo de volta um dos jogos mais interessantes do catálogo da HAL Laboratory.

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Desde o primeiro trailer, e especialmente após os dois extensos Nintendo Directs dedicados ao jogo, tornou-se evidente que estávamos perante algo muito maior do que uma simples revisitação nostálgica. Kirby Air Riders apresenta-se como uma produção ambiciosa que combina o melhor que o jogo anterior tinha e que tanto agradou os fãs, mas agora com novas ideias, sistemas profundamente reformulados e, claro, a criatividade inconfundível de Masahiro Sakurai. À boa maneira do criador, o jogo explode em cor, energia e reinvenção, recuperando conceitos do clássico de 2003 e ampliando-os em todas as direções. Mais do que uma sequela espiritual, é um título que evolui significativamente em termos de jogabilidade, profundidade estratégica e impacto visual, beneficiando de forma clara do novo hardware da Nintendo Switch 2 e do salto tecnológico que oferece às equipas de desenvolvimento.

A jogabilidade é o verdadeiro coração de Kirby Air Riders e o principal motivo pelo qual o jogo funciona tão bem. Desde o início, percebe-se que é acessível a todas as idades, mas com uma profundidade surpreendente. Um dos elementos que se destaca é a forma como a velocidade é tratada: as Air Ride Machines movem-se sozinhas, cabendo ao jogador apenas controlar a direção, enquanto a aceleração é automática. Deixar as máquinas seguir sem intervenção resulta num ritmo lento, o que serve para realçar a essência do jogo: ganhar velocidade através de técnicas e decisões estratégicas.

O sistema Boost Charge & Drift exemplifica isso na perfeição. Ao travar, acumulamos energia que, ao ser libertada, dispara a máquina com grande velocidade, sendo nas curvas que esta técnica mostra todo o seu potencial. A precisão e o timing necessários tornam a sensação de domínio incrivelmente satisfatória. Além disso, a velocidade também aumenta ao atingir adversários ou inimigos espalhados pelo percurso, usando ataques como Quick Spins, aspiração de inimigos ou os ataques especiais de cada Rider, transformando as corridas num constante vai-e-vem entre ataque, fuga e controlo.

A mecânica de Copy Abilities, típica da série Kirby, permite aspirar inimigos para adquirir habilidades temporárias que podem alterar o rumo da corrida, enquanto o planar adiciona uma componente estratégica: ao saltar, podemos controlar a trajetória da máquina, ajustando a posição no ar e aproveitando rampas para ganhar velocidade extra.

Por fim, o Star Slide é uma mecânica visualmente apelativa e tática: todas as máquinas deixam um rasto de estrelas, e alinhar-se com ele concede uma aceleração generosa, ideal para ultrapassar adversários e reforçando a importância de ler a pista e a posição dos rivais.

Kirby Air Riders apresenta quatro modos principais, cada um com a sua identidade: Air Ride (Rali Rasante), Top Ride (Vista Aérea), City Trial (Prova Urbana) e Road Trip (Pé na Estrada). Começando pelo Air Ride, o modo mais tradicional do jogo, é aqui que encontramos a aplicação mais direta da jogabilidade central. Trata-se de corridas, mas com um ritmo imprevisível e caótico, onde a velocidade depende tanto das características do Rider e da máquina como das nossas decisões estratégicas durante a prova, como reagir aos adversários, usar técnicas de aceleração e lidar com os inimigos espalhados pelos circuitos.

As pistas são variadas, visual e estruturalmente, cada uma com desafios próprios que obrigam o jogador a pensar estrategicamente na escolha de Rider e da máquina. A combinação certa pode significar a diferença entre ganhar ou perder, além de conseguir apanhar as zonas de boost que aumentam significativamente a velocidade. Além disso, a interação com os adversários, usando ataques como Quick Spins ou habilidades especiais, transforma cada corrida numa constante dinâmica de ação e reação, tornando o modo muito fluído e envolvente.

O Air Ride inclui quatro sub-modos: Corrida, Contra o Relógio, Livre e Partidas Online. Corrida permite competições locais de 2 a 6 participantes, misturando jogadores humanos e CPU, sendo perfeita para desafios competitivos entre amigos. Contra o Relógio foca na superação de recordes individuais, testando o domínio das pistas e das técnicas de aceleração. O modo Livre oferece uma experiência mais relaxada, ideal para explorar os circuitos, testar diferentes máquinas e dominar atalhos e trajetórias. Por fim, as Partidas Online dividem-se entre classificatórias e rápidas, garantindo uma componente competitiva mais global. O Paddock está também integrado nesse modo, mas já falaremos dele.

Se o Air Ride representa a vertente mais clássica e acelerada de Kirby Air Riders, o Top Ride surge como uma homenagem direta ao modo original de 2003, agora completamente reimaginado. A perspetiva muda para uma câmara aérea fixa, oferecendo uma visão ampla das pistas e um ritmo que, embora mais lento, não perde a intensidade característica da série. A jogabilidade mantém a simplicidade essencial, mas a vista superior transforma cada corrida num pequeno caos controlado, onde reagir ao que acontece em toda a pista é tão importante como dominar a própria máquina.

Este modo aproxima-se mais de um party game, destacando-se pela precisão dos controlos e pela forma como cada curva, obstáculo e item pode alterar o resultado num instante. A velocidade das máquinas continua a ser relevante, sendo essencial utilizar o Boost Charge & Drift, sobretudo nas curvas apertadas. Os itens exclusivos, como Kaboomb, Drift Flames ou Drill Driver, introduzem imprevisibilidade, onde é possível passar de últimos para primeiros ou perder a liderança em segundos.

As pistas apresentam características únicas, desde obstáculos repentinos a zonas de aceleração móveis, tornando cada corrida divertida e dinâmica, ideal para jogar com amigos. Este modo suporta de 2 a 8 participantes, com até quatro jogadores humanos localmente, completando o total com CPU se necessário. Quanto aos sub-modos, são os mesmos do Air Ride: Corrida, Contra o Relógio, Livre e Partidas Online, funcionando de forma idêntica e oferecendo a mesma variedade estratégica.

O City Trial continua a ser um dos modos mais icónicos e marcantes, regressando agora numa escala maior, mas mantendo o princípio que o tornou especial em Kirby Air Ride. Ambientado em Skyah, uma ilha flutuante com uma cidade aberta cheia de zonas distintas e segredos escondidos, o objetivo principal passa por melhorar a nossa máquina ao longo do tempo limite antes do desafio final. A cidade vive de forma dinâmica, com eventos aleatórios que alteram o ritmo da partida e exigem adaptação constante, tornando cada segundo importante, e cada decisão estratégica para o resultado final.

A exploração assume um papel central, com caixas de melhorias que aumentam velocidade, defesa, ataque ou fornecem elementos especiais capazes de mudar o comportamento da máquina no desafio final. A tensão surge na busca por upgrades valiosos, nos confrontos com outros jogadores ou na tentativa de os evitar, criando momentos intensos. Para além do combate, a própria construção da cidade incentiva uma leitura inteligente dos caminhos, atalhos e zonas mais ricas em recursos, transformando cada ronda num exercício de adaptação e planeamento constante.

Os eventos aleatórios continuam a ser um dos traços mais característicos deste modo, desde tempestades que bloqueiam áreas, meteoros que caem do céu, passagens para outras dimensões, até bosses como Kracko ou Dyna Blade. Itens especiais podem tornar-se mais poderosos ou mais raros, garantindo que cada sessão seja imprevisível e única. Esta imprevisibilidade brilha sobretudo no multiplayer, onde a confusão cria situações hilariantes e disputas acesas por simples caixas de upgrades, mantendo o caos controlado que define o City Trial.

Quando o tempo termina, somos levados ao desafio final, a partida de Estádio, onde quatro provas possíveis são apresentadas, vencendo aquela mais votada pelos participantes. As provas podem variar entre corridas, combates em arena ou desafios de planar para recolher pontos, testando a estratégia de upgrades recolhidos na fase anterior. O modo suporta até 4 jogadores humanos localmente, com o total de 2 a 16 pilotos, completando com CPU se necessário. Os sub-modos incluem Prova, Estádio, Livre e Partidas Online, permitindo explorar a cidade, participar apenas nos desafios finais ou jogar online em partidas classificatórias ou rápidas, sempre com o Paddock como ponto central de organização.

Antes de falarmos do último modo de jogo, o Road Trip, é importante destacar o Paddock, presente em todos os modos anteriores e responsável pela evolução da componente online de Kirby Air Riders. Funciona como um verdadeiro ponto de encontro central, um lobby interativo onde podemos escolher o Rider, a máquina, personalizar detalhes e interagir com outros jogadores num ambiente descontraído. Podemos criar hubs públicos, abertos a qualquer jogador, ou privados, apenas para amigos, cada um com um ID próprio, tornando simples organizar partidas de qualquer tipo — Air Ride, Top Ride, City Trial ou Estádio — e misturar jogadores humanos com adversários controlados pelo CPU.

O Paddock reforça o espírito social e leve da série, oferecendo um espaço para preparar corridas, explorar estratégias e divertir-se antes de cada desafio. Uma novidade de destaque é o modo Swap Relay (Revezamento) no Air Ride, onde quatro equipas de quatro corredores competem em modo estafetas, com cada jogador a usar o seu próprio Rider e máquina preferida. Esta variação simples, mas divertida, mostra bem a criatividade por trás do regresso de Kirby Air Riders, garantindo partidas sempre dinâmicas e imprevisíveis.

Vamos finalmente ao Road Trip, uma espécie de modo história ou aventura de Kirby Air Riders, oferecendo uma forma sólida e contínua de experimentar tudo o que o jogo tem para oferecer. A narrativa é simples, sendo contada em pequenas cutscenes ao longo das fases, garantindo um fio condutor que não compromete a surpresa e mantém o jogador imerso na progressão do jogo.

Para contextualizar, há milhares de anos uma máquina viva chamada Zorah vagueava pelo universo até colidir com o planeta Popstar. Incapaz de se mover sozinha, ficou presa numa região isolada, sonhando com a liberdade. O Road Trip explica como Popstar acabou por se encher de máquinas utilizadas pelos Riders e como um satélite vivo que orbita à volta do planeta está intimamente ligado a esta história.

O modo está dividido em várias fases lineares com múltiplas etapas onde cada uma delas apresenta objetivos variados: corridas no modo Air Ride, provas do Top Ride, desafios do City Trial ou competições do Estádio. Existem também bosses para derrotar em confrontos diretos ou durante corridas. À medida que completamos os checkpoints, avançamos naturalmente para a fase seguinte, podendo melhorar atributos como Turbo, Velocidade Máxima, Ataque, Defesa e Curva, além de subir de nível ao superar provas e desafios.

Apesar de ser exclusivamente single player, o Road Trip oferece toda a intensidade dos outros modos, incluindo corridas caóticas, desafios competitivos e até uma componente monetária, com moedas que permitem comprar upgrades ou receber atributos adicionais ao vencer desafios. O modo foi pensado para conseguirmos explorá-lo e experimentá-lo à nossa maneira, equilibrando narrativa, progressão e desafio, funcionando como um excelente complemento à experiência completa de Kirby Air Riders.

A influência de Masahiro Sakurai sente-se em praticamente em todos os cantos de Kirby Air Riders, algo evidente desde os menus até ao nível de personalização disponível, remetendo diretamente para a estética de Super Smash Bros. Ultimate. A forma como o conteúdo desbloqueável está distribuído reforça ainda mais essa ligação, já que independentemente do modo que escolhemos jogar, há sempre algo a ganhar. O jogo está repleto de pequenos desafios que, ao serem concluídos, nos oferecem peças de um puzzle que garantem prémios, sejam novas pistas, Riders, máquinas ou itens de personalização. Melhor ainda, temos total liberdade para navegar no puzzle e ver os desafios associados a cada peça, tornando todo o processo de progressão mais claro e recompensador.

A personalização é outro dos pontos em que Kirby Air Riders excede claramente as expectativas. Podemos equipar Riders com diferentes acessórios, alterar cores, aplicar decalques, imagens e detalhes visuais às máquinas, criando combinações únicas que refletem o estilo de cada jogador. Há até a possibilidade de comprar garagens dedicadas à exposição das máquinas, algo que não afeta a jogabilidade, mas agrada a quem gosta de mostrar as suas coleções. A variedade de Riders e Máquinas cresce de forma significativa após algumas horas de jogo, com uma torrente constante de desbloqueáveis que mantém o ritmo sempre motivador — mais uma marca típica do trabalho de Sakurai. A estrutura de progressão em forma de puzzle incentiva-nos também a experimentar todos os modos, já que cada um possui o seu próprio conjunto de desafios e recompensas.

É impressionante a quantidade de sistemas, detalhes e opções que o jogo oferece. Desde menus altamente ajustáveis a modos dedicados como a Autoescola, que funciona como um tutorial completo e progressivo, tudo contribui para uma experiência profunda e cuidadosamente trabalhada. E, apesar da complexidade opcional, Kirby Air Riders mantém-se extremamente acessível, cativando jogadores mais novos de forma imediata graças à presença de personagens familiares, ao caos colorido dos cenários e à jogabilidade intuitiva. Mesmo cá por casa, ao testá-lo com os miúdos, o entusiasmo foi constante, sempre com corridas e combates disputados até ao último segundo, provando o quão universal e divertido o jogo consegue ser.

Algo que não posso deixar de elogiar é a presença da língua portuguesa — neste caso, português do Brasil — que contribui imenso para tornar o jogo mais acessível, sobretudo para os jogadores mais novos ou para quem tem mais dificuldades com o inglês.

O grafismo apresenta uma direção artística vibrante, cheia de personalidade e perfeitamente alinhada com o universo de Kirby. Os cenários são sempre coloridos e variados, misturando elementos naturais, estruturas futuristas e ambientes mais fantasiosos, sem nunca perderem uma identidade visual coesa. A abundância de efeitos, partículas, explosões de velocidade, brilhos, distorções e pequenas animações espalhadas pelos cenários reforça a sensação constante de movimento e contribui para a adrenalina das corridas. Os Riders e as Máquinas também beneficiam de um cuidado especial, com modelos detalhados e animações expressivas que dão vida a cada personagem, tornando o jogo visual muito apelativo e profundamente cativante.

Na componente sonora, o jogo mantém a mesma qualidade. As músicas seguem a tradição da franquia Kirby, com melodias alegres, dinâmicas e perfeitamente ajustadas ao ritmo frenético das corridas. Cada pista tem a sua própria personalidade sonora, ajudando a reforçar o ambiente de cada local e tornando cada prova mais memorável. Já os efeitos sonoros, desde o roncar das máquinas a acelerar, aos impactos, aos itens apanhados ou aos ataques das Copy Abilities são claros, bem produzidos e dão um impacto fantástico aos momentos mais intensos. A combinação entre música e efeitos cria um ambiente sempre divertido, enérgico e envolvente.

Kirby Air Riders é um jogo verdadeiramente divertido. É mais do que um simples regresso de um clássico, é uma reinvenção completa que, ainda assim, preserva a alma que outrora conquistou tantos jogadores. É daqueles jogos que, ao fim de poucos minutos, já nos arrebatou e nos deixa com vontade de fazer mais uma corrida, mais um combate ou experimentar uma nova personalização. Mostra, mais uma vez, como Masahiro Sakurai continua a ser um mestre na capacidade de criar experiências ricas, cheias de conteúdo e irresistivelmente divertidas.

REVER GERAL
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Rui Gonçalves
Desde o tempo do seu Spectrum+2 128k que adora informática. Programador de profissão nunca deixou de lado os jogos, louco por RPGs e jogos de futebol. Adora filmes de acção e de ficção científica, mas depois de ver o Matrix nunca mais foi o mesmo.
analise-kirby-air-riders<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Jogabilidade fluida e viciante</li> <li style="text-align: justify;">Visual vibrante e carismático</li> <li style="text-align: justify;">Progressão sempre recompensadora</li> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Caos por vezes pode atrapalhar</li> </ul>