Developer: Parabole
Plataforma: PS5, PS4, Xbox One, Xbox Series S|X, PC e Switch
Data de Lançamento: 18 de Outubro de 2023
O jogo leva-nos numa viagem no tempo até à década de 1970, até uma tranquila vila rural de mineração do Canadá. Neste segundo capítulo da série Kona, vamos assumir o papel do detetive Carl Faubert, imerso num cenário assolado por uma tempestade de neve conhecida como Brume. Enquanto Faubert desvenda os enigmas que envolvem este lugar outrora pacífico, a luta pela sobrevivência intensifica-se, ao mesmo ritmo com que tempestade de neve vai cobrindo cada um dos nossos passos.
O nosso detective Faubert, no entanto, não parece estar 100% saudável, não a nível mental pelo menos. Descreve algumas visões, anda a fugir de algo que não compreende e, na tentativa de encontrar paz, pega num pequeno barco a motor e vagueia por um lago. Ao se aproximar do outro lado do lago, Faubert depara-se com vários barcos abandonados antes de avistar uma embarcação tripulada por algumas pessoas. Infelizmente, antes que possamos obter respostas, somos recebidos com disparos hostis. Numa luta pela sua própria sobrevivência, Faubert acaba por nada através de um lago gelado até alcançar terra firme. Avista uma cabana e tenta lá chegar para se aquecer e tratar das feridas.
E é assim que começa Kona II: Brume, envolto em mistério, em investigações, em perigos inconcebíveis e quebra-cabeças desafiadores. Dentro dessa cabana, encontramos uma série de ferramentas essenciais para nossa jornada, tais como uma pistola, um machado, uma lanterna, para além do nosso diário e de uma câmara. O primeiro objectivo é chegar até à mansão de William, apenas à procura de alguém que nos possa ajudar, mas, no entanto, a nossa maior ajuda vai ser um contador Geiger, para detectar o nível de radiação de cada área.
Se julgam que este é o típico jogo de sobrevivência em que a cada esquina vai surgir um perigo diferente, desenganem-se. Kona II: Brume é para aqueles cujo o prazer é desvendar um mistério, reconstituindo todos os passos de todas as personagens envolvidas. A jogabilidade é tranquila, mas imersiva, sentindo muitas vezes que estamos a perder a cabeça, a ouvir coisas ou a passar por experiências paranormais, mas não é uma tensão constante. Para alguns poderá ser um ponto positivo, numa experiência mais contemplativa e focada na narrativa, onde os momentos de acções intensas são relativamente escassos. Até nos quebra-cabeças vamos ter a ajuda de um narrador, que nos acompanha ao longo do jogo, fazendo parecer que a experiência de Kona está muito mais perto de um Alan Wake.
Aliás, falando nisso, ao iniciar o jogo, é nos dada a possibilidade de escolha entre dois modos de narração: uma opção onde o narrador comenta apenas o essencial e outra em que ele está significativamente mais presente. Optei pela segunda opção e,e posso afirmar que é a escolha ideal, tornando a experiência mais imersiva. O Voice acting do jogo é excepcional, assim como a ambientação, os efeitos e trilha sonora. É curioso, como algumas respostas às nossas acções venham inscritas nas superfícies dos objectos em si, é um toque precioso e que enriquece o visual do jogo.
Também a ambientação, especialmente nos interiores, é impressionante. Aqui, ao contrário do primeiro jogo, em que graficamente deixava bastante a desejar, cada detalhe foi cuidadosamente trabalhado. Os armários, as gavetas, as peças de cozinha, as ferramentas, os discos em vinil, os rádios, todos estes objectos que imaginamos que uma casa, nesta caso, mansão, possa ter, está fielmente recriado à época. Difícil não nomear, como exemplo, o vinil de Simon and Garfunkel.
Ao explorar os cantos da mansão, desvendamos seus segredos, revelando fragmentos da história e ganhando uma compreensão mais profunda dos eventos que assolam essa região. Cada descoberta contribui para o desdobramento da trama, proporcionando uma experiência envolvente e intrigante a cada passo.
Nota-se que o jogo está bem estruturado, pensado e narrado, conduzindo-nos, mas, ao mesmo tempo, dando-nos a liberdade de explorar o mapa, quer seja a pé, de trenó ou de barco, à medida que o mapa se vai abrindo ao longo das cerca de 10 horas de jogo. O frio esse será uma constante e teremos que mantermo-nos quentes utilizando ervas ou procurando locais onde possamos criar uma fogueira para nos aquecermos e salvar o jogo.
Outro pormenor que gostei, foi o facto de recebermos indicações quando passamos pelo mesmo local, recordando-nos do que ainda podemos desbravar ou de que não precisamos de voltar a determinado local. Ao bom estilo dos jogos de Sherlock Holmes ou de Call of Cthulhu, vamos ficando a saber, através dessas recordações oníricas, o que se passou, para além de novas pistas para seguirmos o nosso caminho. Portanto, apesar de o jogo contar com poucas personagens ao longo da nossa jornada, vamos tendo sempre companhia.
Por fim, visto que jogámos a versão PlayStation 5, dizer que sem tirar o máximo proveito do DualSense do mundo, gostei de ver como funcionam os gatilhos adaptativos quando temos que manusear o machado. Ou como a feedback háptico também reage quando inspecionamos superfícies e locais. Também fiquei feliz com o som, pois sem usar o posicionamento 3D de forma consciente, é possível distinguir diferentes camadas e segmentações na hora de criar uma atmosfera. O narrador a falar enquanto os nossos passos ecoam na neve ou na madeira, juntamente com os sons secundários posicionados de acordo com a sua origem e distância, dão mais valor àquele cenário gelado e às vezes sobrenatural alcançado.
Kona II: Brume é um jogo muito sólido. É uma aventura que se foca na narrativa, bem construída e intrigante, sem sustos ou terror. O desconforto da situação gélida e da intriga que envolve a zona acaba por ser mais do suficiente para nos agarrar durante as 10 horas de jogo. Foi feito com minúcia, bastante polido em termos gráficos e é uma excelente proposta para aqueles que preferem uma aventura mais “relaxada”, sem o batimento cardíaco estar sempre nos píncaros.