Developer: Flow Studio
Plataforma: PC
Data de Lançamento: 19 de junho de 2025

Depois de quase três anos em Acesso Antecipado, Len’s Island chega finalmente à sua versão completa, tentando “sobreviver” num mercado saturado de jogos de sobrevivência e construção. Desenvolvido pelo estúdio australiano Flow Studio, este título indie conseguiu conquistar uma base de jogadores fiel desde o seu lançamento inicial em 2021, prometendo uma mistura refrescante de combate em dungeons, uma construção criativa, cultivo e exploração em mundo aberto.

Durante todo o processo de desenvolvimento, o jogo passou por vários ajustes de sistemas, adição de conteúdos e uma constante recolha de feedback por parte da comunidade. A grande questão é se Len’s Island amadureceu o suficiente para se destacar verdadeiramente no género, ou se acaba por ser apenas mais um entre muitos.

O jogo começa de forma simples. Após criarmos a personagem e o mundo onde iremos jogar, somos deixados numa ilha aparentemente esquecida, com pouco mais do que a roupa no corpo e a promessa de recomeçar do zero. A história central envolve a misteriosa substância conhecida como lightstone, cujos efeitos transformadores originaram ruínas de civilizações antigas e criaturas sombrias conhecidas como Voidlings. Embora o prólogo apresente uma narrativa com potencial, o jogo rapidamente se afasta de qualquer tentativa de aprofundamento, entregando ao jogador um mundo vasto, mas com pouca motivação narrativa para que esta seja o foco. O lore está presente, escondido em diálogos esporádicos, artefactos antigos e ruínas, mas a sua apresentação é superficial e pouco integrada na jogabilidade.

A exploração acaba por ser o verdadeiro motor do jogo, quer pela nossa curiosidade, como pela necessidade de progressão. O mundo é composto por um conjunto de ilhas, interligadas por transportes marítimos ou por túneis subterrâneos, e está recheado de pontos de interesse, cavernas, recursos raros e ameaças inesperadas. No subsolo, o ambiente ganha tons mais sombrios e misteriosos, onde uma fonte de luz se torna praticamente indispensável para avançar, criando sempre aquela sensação de que algo antigo e perigoso espreita nas sombras.

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Infelizmente, para quem já tem alguma experiência com este tipo de jogos, sente-se imediatamente a falta de um sistema de mapeamento funcional. Não existe minimapa, e a marcação de locais visitados é feita apenas com ícones genéricos. Isto obriga-nos a memorizar trajetos ou a improvisar soluções com placas sinalizadoras criadas por nós. O zoom do mapa também é praticamente diminuto, o que mesmo usando esses ícones genéricos, não nos permite fazer uma marcação precisa no mapa. Depois temos as entradas subterrâneas, que não correspondem de forma lógica às saídas na superfície, o que na verdade para quem gosta de se orientar, fica durante bastante tempo com uma constante sensação de desorientação — e, com o tempo, de frustração.

Este problema agrava-se ainda mais quando somos derrotados por um inimigo. Todos os itens que transportamos ficam no local da morte, e somos automaticamente transportados de volta para a nossa cama. O regresso ao ponto onde caímos, apenas para recuperar o que perdemos, torna-se uma tarefa morosa — especialmente num mundo sem um sistema de navegação eficiente. É verdade que este tipo de mecânica é comum em muitos jogos, mas aqui, aliada à ausência de ferramentas básicas de navegação, acaba por se tornar cansativa e desmotivadora.

Um dos pontos mais fortes de Len’s Island está na sua jogabilidade, que abrange desde a recolha de recursos à construção de abrigos, cultivo de alimentos, criação de equipamentos e superação dos vários perigos que surgem ao longo da jornada. Começamos como uma personagem bastante vulnerável, munido apenas de ferramentas básicas, e vamos progredindo ao desbloquear melhorias, seja pela exploração de novas áreas, através de crafting mais avançado, ou enfrentando desafios em dungeons infestadas de criaturas.

Para quem aprecia a vertente de construção, este é claramente um dos elementos mais bem conseguidos do jogo. O sistema é intuitivo e flexível, permitindo uma grande liberdade criativa. É possível construir desde simples cabanas a complexas fortalezas, com diversos estilos arquitectónicos e elementos decorativos. No entanto, a impossibilidade de reposicionar objetos depois de colocados — sendo necessário destruí-los e reconstruí-los (felizmente com reembolso total dos recursos) — acaba por ser frustrante, estragando algo que é um dos pontos altos do jogo.

Já a componente agrícola é simples, mas funcional. Podemos plantar sementes, regá-las e colher os seus frutos após alguns dias, utilizando a produção tanto para consumo como para troca. Os recursos obtidos podem também ser vendidos no mercado ou investidos no desbloqueio de novos planos de construção e equipamentos, contribuindo para uma progressão gradual.

Quanto ao combate, é talvez o aspeto mais divisor da experiência. O sistema é acessível e funcional, com ataques básicos, esquiva, habilidades associadas às armas e a possibilidade de realizar ataques críticos com o timing certo. Ainda assim, sente-se a falta de variedade de inimigos que exijam abordagens diferentes ou de usarmos alguma estratégia para os eliminarmos. Os combates mais exigentes surgem nos confrontos com bosses, frequentemente encontrados em masmorras. No entanto, mesmo esses tornam-se repetitivos após percebermos os seus padrões de ataque — bastando repetir a mesma rotina durante alguns minutos para sairmos vitoriosos sem grandes dificuldades.

O jogo ainda apresenta vários problemas que deveriam ter sido resolvidos com o lançamento da versão final. Desde logo, destaca-se a ausência de funcionalidades básicas de acessibilidade, que hoje em dia são praticamente indispensáveis neste tipo de jogos. A experiência com comando — que é, para muitos jogadores, a forma preferencial de jogar — revela-se pouco polida, com controlos inconsistentes e menus difíceis de navegar. O jogo é claramente mais confortável de jogar com teclado e rato, o que limita o seu acesso.

Uma das adições mais relevantes na versão final foi o suporte a multiplayer para até 8 jogadores. E é aí que Len’s Island revela o seu verdadeiro potencial. Jogar com amigos muda por completo a dinâmica do jogo: tarefas repetitivas tornam-se mais leves, a progressão é mais rápida, e até os momentos de combate ganham outra dimensão. É curioso notar que o jogo parece ter sido concebido desde o início com o multiplayer em mente — o que contrasta com o facto de, durante todo o período de Acesso Antecipado, apenas estar disponível em modo solo.

Uma perceção que tive durante as sessões de jogo que fiz com amigos — e que também foi partilhada por eles — é que o ritmo geral do jogo é demasiado lento. A progressão é morosa, tanto no desbloqueio de novas construções como na aprendizagem de receitas e mecânicas. Esta cadência arrastada pode desmotivar rapidamente, faltando aquela sensação recompensadora desde as primeiras horas de jogo.

Graficamente o jogo adota um estilo artístico isométrico com elementos impressionistas que lhe confere identidade própria. As cores são suaves, a iluminação é cuidadosamente trabalhada e os efeitos visuais, especialmente à noite ou em zonas subterrâneas, criam uma atmosfera imersiva e envolvente. As ilhas são distintas, com diferentes biomas que são bastante distintos na parte visual e transmitem bem a sensação de progressão e descoberta. A construção também oferece um visual bastante agradável, permitindo criar edifícios com estilos variados e bastante detalhe. Diria que em termos puramente estéticos, o jogo consegue ser apelativo e, por vezes, até surpreendentemente bonito, sobretudo quando exploramos tranquilamente o mundo e nos deixamos envolver pela serenidade da sua arte.

A componente sonora cumpre os mínimos, mas nunca se destaca. A banda sonora é discreta, composta por temas suaves que acompanham a exploração e o ritmo calmo do jogo, mas que rapidamente se tornam repetitivos. Diria que lhe falta bastante identidade, com falta daqueles momentos que nos marcam numa aventura. Os efeitos sonoros são funcionais: as ferramentas têm sons distintos, os ambientes reagem ao nosso movimento, e os inimigos emitem ruídos característicos, mas tudo soa genérico e sem grande impacto. O jogo não apresenta quaisquer vozes, algo compreensível num projeto indie, o problema é mesmo os restantes elementos sonoros não se destacarem.

Len’s Island é um jogo ambicioso, com ideias promissoras e que oferece um mundo visualmente apelativo. Brilha especialmente quando jogado com amigos. A construção, a exploração e o sistema de progressão oferecem momentos genuinamente satisfatórios, mas que perdem muito do que está bem feito devido à ausência de ferramentas de acessibilidade básicas e uma narrativa praticamente inexistente. Confesso que após tanto tempo em Acesso Antecipado, esperava encontrar algo que me deixasse mais entusiasmado, ainda assim, continuo a achar que o potencial está claramente presente, a execução é que ainda deixa a desejar.

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Rui Gonçalves
Desde o tempo do seu Spectrum+2 128k que adora informática. Programador de profissão nunca deixou de lado os jogos, louco por RPGs e jogos de futebol. Adora filmes de acção e de ficção científica, mas depois de ver o Matrix nunca mais foi o mesmo.
analise-lens-island<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Visualmente bonito</li> <li style="text-align: justify;">Ideias interessantes</li> <li style="text-align: justify;">Jogado com amigos ganha outra vida</li> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Progressão demasiado lenta</li> <li style="text-align: justify;">Falta de diversos recursos de qualidade de vida</li> </ul>