Developer: Airo Games
Plataforma: PC, PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series S|X e Nintendo Switch
Data de Lançamento: 18 de outubro de 2023
Devo confessar que, quando abordei este jogo, sentia que o conhecia de algum lugar. Com os primeiros minutos do jogo essa pergunta ecoava na minha cabeça vezes e vezes sem conta, até ter uma epifania: “com mil raios, o Delta é muito parecido com a personagem do Out of Line!”, e é mesmo. Se olharem para um e para o outro, como demonstro em baixo, rapidamente se sente que o jogo da Nerd Monkeys e que tem San, como personagem central, é muito parecido a Delta, deste trabalho da Airo Games e da Daedalic Entertainment.
Curiosamente, até o mundo distópico é bastante semelhante, baseado num futuro alternativo em que apenas as máquinas, e neste caso robots e lagartos bípedes conscientes ficaram no controlo do planeta. Aqui encarnamos Delta, um robot de baixa estatura prestes a ser desativado num tanque de ácido. Entretanto, um ato de misericórdia por parte de um outro robot, Joe, muda o curso da vida de Delta. Joe retira Delta do líquido tóxico e começa a fazer reparações, o que resulta em sérios problemas para Joe, que acaba capturado pelos lagartos e levado para uma base militar distante.
A ideia inicial do jogo é promissora, estabelecendo um contexto cativante para a narrativa. No entanto, ao longo das três horas de jogo, a trama não consegue cumprir as suas promessas e acaba por se revelar insatisfatória. Os encontros de Delta com outros robots muitas vezes limitam-se a discussões rasas sobre questões imediatas, enquanto as interações com os lagartos, que desempenham um papel crucial, geralmente se restringem a ações de vigilância ou patrulhamento. Essa falta de progresso na narrativa deixa um vazio, e o mundo complexo e distópico do jogo clama por uma exploração mais profunda e por mais detalhes de contextualização. Um aprofundamento maior no cenário e nas motivações dos personagens teria acrescentado uma camada de complexidade à experiência, tornando-a mais envolvente e impactante.
Inicialmente designado para auxiliar em diversas tarefas, Delta embarca numa jornada por zonas devastadas e mundos hostis em busca de Megacity, uma cidade que não é o seu destino final. A sua missão de encontrar um amigo leva-o a interagir com outros robots, explorar diferentes realidades e realizar tarefas desafiadoras para um robô de serviço. O tom do jogo é leve e isso mostra-se adequado, sendo um contraponto ideal para a atmosfera mais sombria retratada nos visuais opressivos. Além disso, Delta é dotado de personalidade e um senso de humor excelente, afastando-se da ideia de ser apenas um robot sem emoções relativamente ao mundo ao seu redor.
A aventura de Delta é um jogo de point ‘n’ click, por isso podes esperar mover o personagem indiretamente através do cursor, de uma forma mais lenta do que o desejado, explorar os cenários em busca de pontos de interação, conversar com personagens um tanto excêntricos e resolver quebra-cabeças, muitos quebra-cabeças.
Vão encontrar diversos itens para resolver problemas ainda mais variados, desde configurar o aparelho que carrega a vossa energia no início do jogo, até preparar sushi de acordo com o menu local. Consertar uma nave, distrair guardas, ajudar os outros e também ajudar apenas porque podem. Delta é um robot de serviço, afinal de contas. Servir é o que ele faz melhor, sempre com um pragmatismo otimista e determinado a dar o seu melhor.
Existem dois tipos de quebra-cabeças no jogo: o clássico point ‘n’ click onde combinam objetos para criar um novo objeto ou ação que vos permite avançar, e mini jogos mais distintos que abrem numa janela, como um jogo de ritmo ou a rotação de peças num circuito para criar um caminho para a energia. O jogo dá-nos poucas pistas sobre o que precisa ser feito de forma geral, mas, quando se trata de quebra-cabeças, ficas mesmo por tua conta para descobrir a solução.
Embora alguns sejam mais intuitivos do que outros, nenhum depende de lógica absurda ou informações ocultas. O mais importante é que a dificuldade é suficientemente justa para que, embora possam ter dificuldades durante alguns minutos, isso apenas aumenta a sensação de satisfação quando conseguem resolver o problema. Recomendo diminuir ao máximo a sensibilidade do comando se estiverem a jogar numa consola, como eu na PS5. Alguns dos quebra-cabeças exigem que cliques em objetos em lugares muito específicos, e um cursor mais lento pode facilitar o controlo preciso.
Os visuais do mundo são muito bem conseguidos, pintados à mão e com originalidade. Representam com precisão um mundo moribundo que está a evoluir com novas formas de vida. Robots e homens-lagarto têm feito o melhor para criar uma vida para si próprios. Isto é evidente com a nova tecnologia misturada com alguns costumes antigos dos humanos. Em vez dos habitantes fingirem ser humanos, mostra como todos se adaptaram ao mundo pós-apocalíptico.
Enquanto os homens-lagarto são na maioria semelhantes entre si, os robots são maioritariamente únicos. Alguns robots partilham designs semelhantes, mas outros têm aparências diferentes. A tecnologia também é uma mistura de tecnologia moderna e futurista, como se algumas partes tivessem sido desenterradas. Há suficientes elementos modernos para que nunca se sintam completamente deslocados, mas é futurista o suficiente para que a presença de robots não vos surpreendam.
Life of Delta acaba por ser um point ‘n’ click competente, sem ser surpreendente. A sua arte, com cerca de 28 cenários pintados à mão, vão nos levar a querer conhecer mais deste mundo ao longo das 3 horas de jogo, mas os puzzles, podiam ser mais intuitivos. Para um jogo que se fundamenta nesses mesmos puzzles para quase todas as acções de desenvolvimento da narrativa, seria de esperar que estivessem mais polidos na sua conceptualização. E aqui não estou a falar da sua dificuldade, até porque, sou daqueles que acha que os puzzles neste género devem ser difíceis. Estou mesmo a falar de que, por questões gráficas, muitas vezes não se perceba o que se está a fazer e a acontecer, levando-nos ao falhanço inevitável por falta de compreensão. Acaba por ser uma história agradável de se jogar, bonita de se ver, mas não é memorável.