Developer: Ryu Ga Gotoku Studio, SEGA
Plataforma: Xbox Series X|S, PS5, PC, Xbox One, PS4
Data de Lançamento: 25 de Janeiro de 2024
Quando comecei a jogar Like a Dragon: Infinite Wealth estava longe de pensar que este poderia vir a tornar-se um dos meus jogos favoritos de sempre. A verdade é que quanto mais jogo, mais vontade tenho de continuar a fazê-lo por diversas razões. É divertido, tem uma história com um enredo capaz de invejar a maior parte dos filmes sobre máfia e entre muitas outras coisas, há uma imensidão de atividades que podemos fazer. Falarei delas mais à frente.
Primeiro tenho de dar os parabéns à SEGA e claro, ao estúdio Ryu Ga Gotoku, que depois de arriscar com a proposta de Yakuza: Like a Dragon em 2020, onde muda o estilo de jogo para um JRPG de combate por turnos e decide trocar o personagem principal que estávamos habituados noutros jogos Yakuza, conseguiu manter os jogadores interessados na série e ainda trazer novos para esta nova forma de jogar. Foi um bocado o meu caso, uma vez que da franquia apenas tinha jogado Yakuza 2, antes de experimentar estas novas aventuras com o nome de Like a Dragon.
Uma nota prévia e porque muitas vezes me perguntam se é necessário ter jogado Yakuza: Like a Dragon para perceber melhor este Like a Dragon: Infinite Wealth, a minha resposta é que não. Ainda assim, devem ter em conta que ele existe e é importante para o rumo da história que este toma. Existem acontecimentos passados que este jogo de vez em quando recupera com imagens de arquivo e com recordações dos próprios personagens a lembrar acontecimentos passados que quem jogou, certamente se recorda.
É também certo que este é o jogo que mais faz pela história da franquia. De regresso está o carismático e tolo Ichiban Kasuga o tal que no trailer de apresentação deste Infinite Wealth aparece em tronco nu numa praia e só repara momentos depois. É dessa amostra que se pode ter a certeza do humor presente no jogo em toda uma grande escala e com paralelismos com o mundo real. No início deste Like a Dragon, a sua missão é ajudar ex-Yakuzas a arranjar trabalho honesto para que estes consigam ter uma vida digna. Tem também o sonho de acabar com os sem-abrigo e dar-lhes um local onde possam todos viver bem e felizes.
Ichiban é um dos melhores personagens criados para um videojogo por todas as suas ações e também pelos contextos que o rodeiam, mas não está sozinho nesta nova aventura. Alguns conhecidos vão se juntado a nós e até Kazuma Kiryu, personagem principal de outros jogos da franquia cá está para em parceria tentar encontrar o paradeiro de uma personagem importante na vida do seu, agora amigo, Ichiban.
Para isso, Like a Dragon: Infinite Wealth leva-nos até ao Hawaii, mas não deixa o Japão de fora da história, uma vez que muitas vezes lá teremos de voltar após passar a parte inicial da aventura. Há pontas soltas que Kiryu vai tentar resolver, numa homenagem ao passado da franquia e que os jogadores mais antigos certamente vão adorar. Para quem é novo, essas missões podem não ter assim grande sentido, mas são sempre enquadradas com bons diálogos e cinemáticas. Aliás, jogar Like a Dragon é estar 45 minutos a ver longas cutscenes que enquadram de forma gradual toda a história maior do jogo e até em pequenas coisas, acaba por dar aos jogadores uma maior compreensão de alguns porquês de certas ações de alguns dos personagens.
Vamos ao sistema de combate, que se mantém por turnos, mas foi melhorado. Cada personagem tem agora um círculo à sua volta que dá a noção do espaço que o rodeia e faz com que os adversários que estejam mais perto tenham maior dano do que os que estão mais longe. Há também a possibilidade de agarrar em objetos que estão nessa área e bater nos inimigos com eles, sejam mesas, bancos, pranchas de surf, entre muitas outras coisas. Se houver muros ou carros por perto, também podemos aproveitá-los para mandar um adversário contra isso e fazer com que tenham maior dano. As lutas são divertidas e acima de tudo variadas, notando-se principalmente uma maior violência à medida que o nosso nível de personagem vai aumentando. Não faltam também os ataques em conjunto, nem os truques especiais que podemos “ganhar” ou equipar nos personagens.
Como grande parte do jogo envolve entrar em lutas no meio das ruas, para poder evoluir os personagens, existe uma função de luta automática, onde podemos dar indicações se queremos estar mais ao ataque ou à defesa. Eu usei algumas vezes este modo, em lutas que não eram de missões, uma vez que mesmo sendo mais rápido, ainda temos os mini-jogos de acertar no botão certo em determinada altura de um ou outro ataque. Para facilitar a vida a quem joga, é possível saber muitas vezes o nível do inimigo e também o nível recomendado, antes de entrarmos numa missão de maior sequência de lutas, em que pode ser difícil sair de lá com vida. E ainda podemos chamar em algumas lutas uns alter-egos classificados como “disque ajuda” que após um pagamento, aparecem para nos ajudar.
Como já vos disse, a cidade que serve de pano de fundo na maior parte do tempo de Like a Dragon: Infinite Wealth é o Hawaii e o tamanho do mapa é verdadeiramente surpreendente. Não esperava que fosse tão grande, mas nem é a sua grandeza que me impressiona, são as atividades que podemos fazer por ali. É aqui que o jogo ganha, para mim, uma maior diversão e dimensão. Não é que os outros jogos da franquia não tenham, mas há mais aqui e deve ser sempre reconhecido o esforço dos seus criadores.
Podemos fazer uma missão secundária que nos dá um Segway para facilitar a nossa mobilidade, podemos entrar num mini-jogo inspirado nas entregas de comida em casa que é o Crazy Eats, onde ao estilo de Crazy Taxi, ou não fosse ele da SEGA, andamos numa bicicleta a apanhar comida para entregar a determinadas pessoas que estão à nossa espera. Nas horas vagas podemos ir até ao karaoke e tentar acertar nos botões corretos, ir até um salão de jogos e jogar, entre outros, um Street Fighter 3tb numa das máquinas arcade, etc…
Há ainda uma data de apps que lembram algumas redes sociais verdadeiras. Há uma onde dizemos olá na rua e ao estilo de um facebook, ficamos amigos dessas pessoas na aplicação e há uma app de encontros que é hilariante. Só para terem uma ideia podem escolher uma ocupação, o que fazem e que interesses têm, depois, baseado nisso é feita uma pesquisa de perfis com os quais podemos interagir. Depois existe todo um mini-jogo de conversas e se tivermos sucesso recebemos fotografias reais da possível mulher com que teremos um encontro. Não vou contar o fim desta minha experiência, mas acabei a fartar-me de rir porque senti-me enganado pelo jogo. Excelente.
Como se não bastasse, Like a Dragon: Infinite Wealth tem ainda mais atividades que parecem jogos novos, ou pelo menos DLC ‘s, mas que não tem de pagar mais para os ter. Um deles é depois do sexto capítulo, em que somos levados para uma ilha chamada Dondoko e que basicamente é um lugar que vamos poder passar lá uma data de horas a tornar a ilha atrativa para turistas, bem ao estilo de um Animal Crossing. As primeiras tarefas são limpar o lixo da ilha, mas depois vamos poder cortar árvores para arranjar madeira, partir pedras, pescar, fazer objetos, construir estradas e até tomar conta da nossa casa naquela ilha que começa apenas com um colchão e uma pequena mesa. Acreditem que é mesmo um outro jogo que nos faz esquecer que estamos dentro do universo Yakuza.
Outra das atividades são os Sujimons, que na prática funcionam como se fossem pokémons humanos em que os podemos “apanhar”, evoluí-los e lutar contra outros mestres em ginásios. Existe mesmo até uma Liga Sujimon para ver quem é o melhor Mestre. É preciso evoluir os nossos Sujimons através de combates e tentar capturar os personagens raros que nos aparecem de vez em quando no meio da rua. Há regras de vantagens e desvantagens, conforme o tipo de cada um e depois numa arena tudo se resolve. Onde é que já vimos isto?
São estas coisas que, embora não tenham nada relacionado, assentam que nem uma luva num jogo que é maravilhoso e me fez sentir aquilo que não sentia há muito tempo que é aquela vontade de sair do trabalho para ir jogar, seja a história, ou as outras atividades hilariantes. Este é daqueles que apesar de termos de passar umas boas 100 horas a jogar, não me incomoda, porque há tanta coisa diferente para jogar. A sua sonoridade é ótima e até podemos ouvir podcasts enquanto andamos pelo meio da cidade. Graficamente, o jogo também cumpre com as expectativas, bons cenários brilhantes, a iluminação beneficia do sol frequente do Hawaii, embora também haja momentos em que chove. Tinha dúvidas que 2024 fosse melhor que o ano passado, mas o que é certo é que este início de ano já mostrou que podemos estar perante mais um grande ano repleto de excelentes jogos.
Like a Dragon: Infinite Wealth é o melhor jogo da franquia e representa o presente sem se esquecer do passado e do legado que Yakuza deixou. O seu humor, a sua história e os seus jogos dentro do próprio jogo fazem dele um dos melhores JRPG que já joguei a par de Persona 5 Royal. Não sei se é a melhor forma de o classificar, mas este funciona para mim como se fosse o GTA dos RPGs. Vai já para o meu top de melhores do ano de 2024 e fico na dúvida se irei jogar algo melhor que isto nos próximos tempos.