Developer: SEGA
Plataforma: PS5, PS4, Xbox One, Xbox Series S|X e PC
Data de Lançamento: 22 de fevereiro de 2023
Muitos jogos decidiram abordar o setting do Japão Feudal e curiosamente nenhum deles foi o Assassin’s Creed e, talvez por isso, nem todos tenham sido memoráveis. Há sempre uma vaga de ambientes históricos que são repescados para os jogos, mas agora parece que Japão está na moda.
Devo dizer que este factor preocupava-me um pouco quando tive a oportunidade de analisar este Like a Dragon: Ishin!, mas tendo em conta que a série Yakuza e Judgment resultaram tão bem, atirei-me de cabeça.
Para quem não sabe, a franquia Yakuza é chamada no Japão de Like a Dragon, e como a SEGA tem obtido ótimos resultados no ocidente com a série e com Judgment, não é da estranhar que tenha reanimado este jogo, no seu nome original Ryū ga Gotoku Ishin!, que foi originalmente editado em 2014, só no Japão. A pergunta do costume surge logo a seguir: será um remaster, um remake, e será bom?! É isso que vamos descobrir.
Like a Dragon: Ishin! Passa-se em 1860, numa altura em que o Japão começava a abrir-se para o ocidente. Como devem calcular, o choque de culturas foi brutal, numa era em que os Samurai e os Ronin dominavam o país, e eram vistos como os protectores das vilas e aldeias, mas o ocidente traz algo bastante diferente para o oriente: armas de fogo. Em meados de 1868, com a implementação das reformas Meiji, e com a retomada do imperador da Japão da época, a classe dos Samurais foi extinta, dando a vez ao exército nacional. A história do jogo passa-se neste período de transformação.
Pode parecer pouco, mas acaba por ser uma metáfora sobre a metamorfose das culturas, da sua evolução, mas também uma aprendizagem de como não perder os seus hábitos culturais e de que os valores são transversais.
A personagem que controlamos no jogo é Sakamoto Ryoma, um ronin da região de Tosa que regressa a casa, apenas para perceber que há um domínio das classes mais ricas sobre as mais pobres, desvalorizando a vida humana. É precisamente a salvar a vida de uma criança desta luta de classes, que Ryoma é preso e percebe a problemática que vai ter que enfrentar, especialmente por ser um órfão adoptado pelo daimiô de Tosa. O seu pai adoptivo acaba por o salvar, mas é assassinado pouco tempo depois com a culpa a ser atribuída ao próprio Ryoma. E é aqui que entramos no modo Like a Dragon que estamos acostumados.
Ryoma parte assim numa jornada, rumo a Quioto, para descobrir o verdadeiro assassino do seu pai adoptivo, entrando para um grupo ou um gangue, se preferirem, para o encontrar, enquanto se vai envolvendo com outras figuras históricas do período, numa verdadeira conspiração para tentar acabar com samurais no Japão e ao mesmo tentar restituir o poder do Imperador. Portanto, como já perceberam, todo o enredo é contado da mesma forma de como acontece com a série Yakuza, ou seja, há um assassinato, um mistério e uma perseguição com contornos que vão ficando mais claros ao longo do tempo. E claro, com as formas menos ortodoxas possíveis de resolver o caso.
Além disso, praticamente todas as personagens de Like a Dragon: Ishin! adota o visual de alguma personagem clássico da série Yakuza. Sakamoto Ryoma, por exemplo, é Kiryu Kazuma, Ito Kashitaro é Daisaku Kuze, um dos vilões mais icónicos de Yakuza 0, além de outros personagens como Okita Soji que é o maravilhoso Goro Majima e assim por diante. Isto dá logo uma familiaridade para os fãs da franquia.
Como é habitual contem com várias side-quests, aqui apelidadadas de sub-histórias. Este é sempre um dos pontos altos da franquia, onde vamos explorar a história das várias personagens envolvidas, assim como o ambiente dos locais que percorremos. É também aqui que vamos encontrar as histórias e objectivos mais bizarros do jogo, pous claro.
Como todo jogo da franquia Yakuza, um dos destaques de Like a Dragon: Ishin! é o sistema de combate do jogo. Aqui, Ryoma tem quatro estilos de combate:
○ 1. Swordsman: Usando a Katana, vamos poder desferir golpes certeiros e pesados nos adversários, assim como defender e deflectir os ataques inimigos.
○ 2. Gunman: Usando um revólver para disparar contra os adversários, o que acaba por facilitar bastante o jogo, para além de ser extremamente útil em inimigos que estão mais longe no mapa, é também uma das melhores armas contra os Bosses do jogo.
○ 3. Wild Dancer: Onde Ryoma combina a sua Katana com o seu Revólver para causar o máximo de dano numa dança entre o passado e o futuro.
○ 4. Brawler: Desarmado, podendo disferir socos e pontapés, para além de poder atirar com os inimigos e atirar objectos nos inimigos também.
O sistema de combate de Like a Dragon: Ishin! é muito divertido e satisfatório. As combinações fazem-se suavemente, com movimentos fluídos e bem recriados com animações de execução que dão aquele ar dramático que tantos gostamos da franquia. O único revés prende-se com os Bosses que passam muito tempo a defender e que causam muito mais dano com ataques simples do que nós.
A progressão do jogo acontece em dois parâmetros fundamentais. O subir de nível com o progresso da história, das sub-histórias ou até de mini-jogos e, a utilização de cada um dos estilos diferentes de combate. Conforme subimos de nível vamos ganhado esferas que podem ser usadas em cada um dos quatro estilos, e ganhamos mais esferas para determinado estilo, consoante a sua utilização. Como é habitual podem treinar, aqui numa velha escola de artes marciais do Komaki para aprender novas técnicas durante o jogo.
Obviamente que não poderiam faltar os mini-jogos, elemento fundamental e diferenciado da série. Como era esperado, não temos propriamente máquinas arcade para jogar, mas não deixamos de ter diversão. Vamos poder cantar e encantar, dançar, fazer apostas em corridas de galinhas, assim como no mais tradicional mahjong e poker em vários formatos.
Esta é a lista total de todos os mini-jogos:
● Cantar (Utamaruya)
● Dançar Buy (Nichibuza)
● Pitching in at the Udon Shop
● Yamabuki (Bordel)
● Treinador de canhões
● Scarecrow Chateau
● Pescar
● Cortar lenha
● Corrida de galinhas
● Shogi
● Poker (Hold’em), Koi-koi, Oicho-Kabu, Cee-Lo, Cho-Han
● Mahjong
Temos também histórias extra sobre os cidadãos de Quioto, algumas que desbloqueiam as próprias actividades referidas, com uma quinta para tratar, refeições para experimentar pela cidade, equipamento para coleccionar, peixes para pescar, e amizades para formar com personagens progressivamente mais caricatas.
Like a Dragon: Ishin! é um óptimo remake. As cutscenes fazem-nos pensar que foi lançado agora para a nova geração, a própria fluidez dos movimentos e do combate também. A luta de classes ainda continua a ser pertinente e as mutações culturais também. Esta franquia tem algo de particular e cativante, especialmente pelo storytelling e pela sua excentricidade, mas tudo é bem feito e bem medido. Para quem acha que o Japão Feudal já está fora de moda, vai aqui encontrar um enquadramento diferente do normal. É uma telenovela bem feita e jogável.