Developer: Sketchbook Games, Modus Games
Plataforma: Xbox One, , PlayStation 4, Nintendo Switch e PC
Data de Lançamento: 6 de Abril de 2021

Há jogos que nos lembram a cada momento o porquê de nos termos apaixonado pelos videojogos, e a razão de ser a mais completa e derradeira experiência para um contador de histórias. E sobretudo nas produções independentes, cujos estúdios não são tão pressionados pela obrigatoriedade do retorno dos investimentos, podemos encontrar criações deveras especiais.

Lost Words: Beyond the Page começou por ser um exclusivo do Google Stadia, em 2020, no entanto, seria quase um crime privar os jogadores das outras plataformas de algo tão mágico e original. E eis que, felizmente, um ano depois, chega à Xbox One, PlayStation 4, Nintendo Switch e PC.

É mais um exemplo do quanto os videojogos evoluíram em termos de profundidade e narrativa. E entende-se porquê, uma vez que o argumento é da autoria de Rhianna Pratchett, um grande nome da industria, e que cooperou em projectos como o Heavenly Sword, Mirror’s Edge, Tomb Raider e Rise of the Tomb Raider.

Este novo trabalho é como se abrisse uma janela para o processo criativo da escritora, e a sua obra mais pessoal até à data. E representa também a prova de não existir uma verdadeira separação entre a imaginação, a fantasia e a compreensão, sendo essa condição a primordial qualidade que nos diferencia das outras espécies.

Como foi confessado pela própria Rhianna, o sentimento de perda foi o principal catalisador para a história; e ainda que de forma discreta, o estúdio Sketchbook Games esteve brilhante em transmitir a ideia de uma passionalidade que é sempre subjectiva, o que demonstra na perfeição o resultado de quando ao talento se junta a criatividade.

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É uma história sobre como lidar com a morte. É sobre encontrarmos escapes para ultrapassar o que, por vezes, é mesmo inultrapassável. É sobre nos descobrirmos durante os períodos mais autênticos que podemos experienciar como seres humanos – o momento da dor emocional.

E se não há dor sem memória, também há aquelas palavras que não se deixam traduzir.

O título “Lost Words” não é por acaso, e conta a história de uma menina que passa por uma dessas fases da sua vida. Uma criança que devia ser poupada a tais circunstâncias em idade tão tenra, porém, a tragédia não escolhe idades, e a maneira que encontra para conseguir superar esta dolorosa etapa é através da sua grande paixão por escrever.

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O nosso papel passará por ajudá-la a escrever o seu primeiro livro, e começamos logo por decidir alguns dos ingredientes básicos da história, enquanto Izzy – a protagonista – vai apontando com entusiasmo todas as ideias no seu diário.

Percebemos, desde logo, como é um jogo diferente de tudo o que já jogámos. Inicialmente iremos, literalmente, percorrer palavra por palavra do seu diário, sendo esta uma das características que o ajuda a definir-se como um jogo de plataformas. Funcionará também para conhecermos os controlos e as mecânicas mais frequentes.

Convida-nos, por intermédio de puzzles, a participar no desenrolar da história, onde tudo se vai revelando ao ritmo da narração de Izzy. Essa simbiose entre o conto e a jogabilidade torna toda a jornada ainda mais especial, sendo que às vezes até nos esquecemos que estamos perante um jogo.

A dificuldade dos quebra-cabeças é variada. Curiosamente, muitos estão relacionados com palavras, e podem mesmo ser encarados como os desafios existenciais que a protagonista tem pela frente. O analógico esquerdo irá servir para Izzy se mover, e o direito para determinadas interacções; e podemos igualmente saltar, assim como empurrar e puxar objectos.

É uma dinâmica fantástica no sentido de que tudo foi pensado de maneira a que o jogador se deixe entrelaçar pela imaginação de Izzy, ao mesmo tempo que se vai identificando e simpatizando com as suas batalhas. Lost Words é assim tão profundo.

Graficamente tem aquele tom animado de fantasia colorida que é ideal para este tipo de jogos. Não nos esqueçamos que é um mundo idealizado por uma criança, e como tantos outros que partem do ponto de vista de quem é inocente, é feito de sonhos e aspirações.

Ao mesmo nível está a banda sonora que nos envolve e conduz por esta extraordinária viagem. As músicas foram criadas por David Housden, um compositor premiado e conhecido por colaborar noutros videojogos e que mostra aqui todo o potencial para se tornar uma referência no meio. E uma nota ainda para a brilhante interpretação de Sidonie Maria Šakālis que dá a voz a Izzy.

Lost Words: Beyond the Page começa por ser uma surpresa agradável, mas rapidamente se torna inesquecível. E é com alguma pena que prevejo que nunca terá o reconhecimento que merece.

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Nuno Mendes
Completamente obcecado por tudo o que tenha a ver com futebol, é daqueles indesejados que passa mais tempo a editar as tácticas do PES do que a jogar propriamente. Pensa que é artista, mas não conhece as cores primárias, e para piorar, é ligeiramente daltónico. Recusa-se a acreditar que o homem foi à Lua.
analise-lost-words-beyond-the-page<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Uma história tocante e poderosa</li> <li style="text-align: justify;">Os puzzles estão muito originais</li> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Uma obra de arte que merecia uma maior divulgação</li></ul>