Developer: Nintendo
Plataforma: Nintendo Switch
Data de Lançamento: 7 de novembro de 2024
Desde o seu lançamento, a Nintendo Switch tem mantido uma cadência quase mensal de lançamentos exclusivos. E quando me refiro a exclusivos, não falo de pequenos jogos ou produções de estúdios independentes; refiro-me às suas franquias principais ou a IPs fortemente associadas à companhia, como é o caso dos jogos de Pokémon. É impressionante o que tem trazido aos jogadores, e isso é evidente no sucesso global que a Nintendo Switch tem alcançado.
Este mês de novembro, volta à ribalta um título com um público bastante específico. Apesar de não ser uma franquia que conquiste todos os jogadores da Nintendo, a série Mario & Luigi é aguardada ansiosamente pelos fãs mais dedicados. Embora não seja um ícone entre os RPGs, oferece uma experiência única, misturando exploração, plataformas e ação, além de combates intensos por turnos.
Como referi nas primeiras impressões e antevisão, esta franquia não era desenvolvida diretamente pela Nintendo, mas por um estúdio colaborador, a AlphaDream, que encerrou portas em 2020. Felizmente para muitos jogadores, a Nintendo decidiu não deixar cair esta série. E, antes da chegada da nova consola – já anunciada –, trouxe-nos Mario & Luigi: Brothership.
Nesta nova aventura, os irmãos canalizadores encontram-se em terras desconhecidas: Mario e Luigi vão explorar o mundo de Elétria. Tudo começa de forma misteriosa, quando os irmãos e outros habitantes do Reino do Cogumelo são sugados para este estranho lugar. Embora a narrativa tenha como foco Mario e Luigi, várias outras personagens desempenham um papel fundamental na história. Logo após a chegada a Elétria, encontramos duas figuras importantes: Tetê e Pligue.
Tetê e Pligue explicam que o mundo de Elétria já foi bem diferente. No passado, era um continente formado por várias ilhas, todas ligadas entre si e com pequenas distâncias entre elas, formando uma massa de terra única no vasto oceano de Elétria. Contudo, um evento inesperado separou as ilhas, transformando-as em arquipélagos dispersos pelo mar.
Com Mario e Luigi determinados a regressar ao Reino do Cogumelo, Pligue propõe-lhes uma troca: ajudará os irmãos a voltar a casa se eles o ajudarem a restabelecer a ligação entre as ilhas. Aceitando o desafio, Mario e Luigi descobrem que se encontram na Ilha Nauta, uma ilha especial que navega no oceano, movida por correntes marítimas.
Esta ilha tem algo de único no seu centro: uma árvore mágica chamada Arbolux. Esta árvore é a chave para restaurar a ligação entre as ilhas, funcionando como um gerador de energia. Cada ilha possui um farol que deve ser conectado à Arbolux através de um cabo elétrico, criando uma rede vital de energia.
Surpresos? Pois. Terão de se habituar. Isto porque em Elétria tudo está ligado de alguma forma, à eletricidade. As ilhas conectam-se como se fossem fios elétricos prontos para ligar à Arbolux, abrindo caminhos à medida que cada ilha se ativa. Flores energizam-se e florescem, desbloqueando novas passagens. Entre muitos outros elementos todos eles relacionados com energia.
Outro bom exemplo desta ligação com a eletricidade é o nome dos antagonistas: um grupo liderado por Ampério, que comanda o temível Batalhão de Extensão. Estas personagens, por razões misteriosas, estão associadas à separação das ilhas e têm um plano maléfico para o mundo de Elétria.
Com uma missão árdua pela frente, Mario e Luigi, acompanhados por Pligue, vão de ilha em ilha para cumprir o seus objetivos. A cada nova ilha conectada à Arbolux, encontramos novidades locais: começam a surgir missões secundárias, novas personagens, e um sistema de interação interessante entre as ilhas e os seus habitantes. À medida que avançamos no jogo, fica claro que a narrativa é sólida e bem construída, com atenção aos detalhes de cada ilha — desde a cultura, objetivos de cada uma e até as dificuldades inerentes à exploração devido aos seus biomas.
Este ponto é especialmente interessante, pois os biomas são extremamente variados: há ilhas de neve, vulcânicas, com florestas densas, desertos e até algumas tecnologicamente mais avançadas do que outras. Essa diversidade proporciona uma experiência de exploração rica e dinâmica, acrescentando camadas de profundidade ao jogo. Além disso, por diversos personagens do Reino do Cogumelo também terem sido transportados para o mundo de Elétria, a história daquele mundo irá intercalar-se com a entrada de diversas personagens que conhecemos ao longo da aventura, trazendo novidades e algumas surpresas e reviravoltas, o que é sempre interessante.
Como já referi, a Ilha Nauta funciona como um barco, e, nesse sentido, Mario e Luigi são uma espécie de marinheiros, encarregados de decidir para onde a ilha deve dirigir-se. No entanto, como a ilha só se move através de correntes marítimas, não é possível viajar para qualquer destino a qualquer momento. Existem correntes específicas que podemos escolher, permitindo explorar e encontrar diversas ilhas ao longo do caminho. É importante lembrar que, como as ilhas estão separadas, logo, nenhuma personagem sabe onde estas se encontram até serem descobertas. Ao encontrarmos uma nova ilha, devemos ir ao canhão telescópio para a inspecionar e, caso decidamos explorá-la, colocar Mario e Luigi no canhão e dispará-los até lá.
Devido a este sistema, quando chegamos a uma ilha que ainda não está ligada à Ilha Nauta, não conseguimos sair de lá até a conectarmos à Arbolux da Ilha Nauta. Além disso, como mencionei, o jogo está dividido por arquipélagos, e aqui entra outro elemento essencial: as ilhas especiais chamadas Ilhas do Grande Farol. Somente ao completar uma dessas ilhas e reativar o Grande Farol é que conseguimos desbloquear uma nova corrente marítima, permitindo o acesso a um novo arquipélago.
Conforme progredimos na história, surgem novas possibilidades, e aqui o jogo começa a mergulhar no seu lado RPG. Avançar significa que já tivemos diversas batalhas, que nos rendem XP e permitem aos nossos heróis subir de nível, aumentando os seus atributos e tornando-os mais preparados para os perigos que têm de enfrentar.
Os atributos incluem: Pontos de Vida, PB, Ataque, Defesa, Velocidade e B-Gode. Se os Pontos de Vida e a Defesa são de fácil compreensão, os outros podem ser mais complexos. O PB é necessário para realizar Ataques Bros – os ataques especiais do jogo. O Ataque varia com o tipo de arma utilizada, como o Salto ou o Martelo. A Velocidade define a probabilidade de atacar antes dos inimigos, aumentando quanto maior for este atributo. Por fim, o B-Gode representa a chance de realizar um ataque Q-Sorte, que é essencialmente um golpe crítico.
Além disso, temos ainda os equipamentos, essenciais para garantir o sucesso no jogo. Neste caso, contamos com uma arma (um martelo), um fato, umas botas, umas luvas e ainda uma espécie de joia. O martelo e as botas são as peças principais de ataque, proporcionando pontos de ataque específicos para martelo ou salto. O fato, por sua vez, está associado à defesa. Já as luvas e a joia proporcionam bónus, que podem aumentar atributos como XP, ataque, defesa, entre outros.
Inicialmente, só é possível usar um par de luvas ou uma joia, mas mais à frente é possível desbloquear uma slot adicional para usar ambas as peças ao mesmo tempo. Ao longo da aventura, encontrarão várias lojas onde podem comprar ou criar novos equipamentos, embora os itens obtidos durante a exploração tendam a ser melhores do que os adquiridos nas lojas. Por isso, a exploração é uma parte crucial neste jogo.
Além dos equipamentos, há também diversos itens, como cogumelos, amendoins, feijões, entre outros, cada um com uma função específica. Tanto os equipamentos quanto os itens podem ser comprados, encontrados ao explorar as ilhas, ou recebidos como recompensas ao completar missões secundárias. Em geral, cada ilha oferece entre duas a três missões para o jogador cumprir.
Outro ponto importante da exploração das ilhas é que nem sempre conseguimos explorá-las na totalidade, mesmo que estejam ligadas à Ilha Nauta. Muitas vezes, isso deve-se a quebra-cabeças para resolver, mas também porque Mario e Luigi ainda não possuem as habilidades necessárias para aceder a determinadas áreas. Ao longo da aventura, os irmãos vão aprender várias habilidades, conhecidas como Ações Bros., que permitem explorar as ilhas de maneiras inovadoras. Por exemplo, poderão voar como um OVNI para alcançar locais que um salto normal não consegue atingir, transformar-se numa bola para entrar em espaços reduzidos, escalar superfícies inacessíveis ou usar ataques de fogo e gelo para apagar chamas ou derreter gelo.
Mario & Luigi: Brothership mantém-se fieis à fórmula tradicional da franquia, e o sistema de combate não é exceção. Embora o combate seja por turnos, exige atenção constante, visto que tanto os ataques quanto a defesa requerem precisão e rapidez ao pressionar os botões. O botão A é usado para os ataques e defesas de Mario, enquanto o botão B é para Luigi.
Em muitos ataques, é necessário combinar os movimentos de Mario e Luigi, alternando entre os botões A e B. Na defesa, pressionar o botão de ação no momento certo permite desviar dos ataques ou, em certos casos, contra-atacar e causar dano aos inimigos. Embora o contra-ataque não seja fácil de executar, o botão R pode ser usado para defender, reduzindo o dano recebido.
Um dos principais problemas em termos de dificuldade é que, muitas vezes, é difícil antecipar os ataques dos inimigos. Cada um pode ter entre dois a três ataques distintos, e prever qual deles irá usar é, por vezes, uma questão de sorte. Confesso que, enquanto alguns inimigos acabam por revelar um padrão que facilita o contra-ataque, outros são tão imprevisíveis que o melhor é optar pela defesa. Este fator pode tornar-se frustrante, especialmente quando o contra-ataque parece praticamente impossível.
Com os bosses, o desafio aumenta consideravelmente. Estes inimigos não só executam dois ou três ataques seguidos, como causam danos significativos. Apesar disso, derrotá-los é uma questão de perseverança, e com alguma teimosia, é possível superá-los. Como costumo dizer, se eu consegui completar o jogo na dificuldade normal, acredito que qualquer um também consegue.
Para aqueles que se sentirem excessivamente frustrados ou perderem muitos combates, o jogo oferece a opção de diminuir a dificuldade. Não só é possível mudar para a dificuldade Fácil, como se for necessário, existe uma outra ainda mais acessível, chamada “Mamão com Açúcar”, para tornar a experiência mais suave.
Há ainda dois elementos essenciais no combate que merecem destaque. Um deles é o Ataque Bros., que são ataques especiais que Mario e Luigi vão aprendendo ao longo do jogo. Estes ataques variam, com alguns focados em atingir um único inimigo e outros destinados a causar dano em múltiplos adversários. Quando combinados com equipamentos que aumentem o dano ou com Plugs que proporcionem bónus semelhantes, os Ataques Bros. tornam-se verdadeiramente devastadores.
O segundo elemento é exatamente os Plugs. Este é um tipo de equipamento especial que melhora as habilidades de Mario e Luigi nas batalhas. É um elemento completamente novo na série, mas que faz todo o sentido existir. Existem vários tipos de Plugs, com efeitos que vão desde aumentar o dano normal, potenciar o dano dos Ataques Bros., aumentar a probabilidade de contra-atacar, até usar automaticamente cogumelos, entre outros. Para desbloquear estes Plugs, é necessário usar lumenéctar – um recurso que podemos recolher nas ilhas sempre que as conectamos à Arbolux. Outra forma eficaz de adquirir uma quantidade significativa de lumenéctar é derrotando bosses, que quase sempre nos recompensam generosamente com este item.
Confesso que, embora tenha gostado bastante de Mario & Luigi: Brothership – algo que se comprova pelas horas que investi no jogo –, há um ponto que me frustrou em alguns momentos: os timings rigorosos que o jogo exige em certas fases das batalhas. Nos Ataques Bros., por exemplo, enquanto os primeiros ataques são relativamente simples de executar, os mais avançados tornam-se consideravelmente complexos devido à precisão necessária para pressionar os botões no momento exato. Falhar estes ataques acaba por ser demasiado frequente, o que me levou muitas vezes a desistir de os utilizar. O mesmo se aplica ao aspeto defensivo: se nos bosses compreendo a dificuldade em contra-atacar ou esquivar, há inimigos comuns em que o timing é tão rigoroso que nos leva a desistir de tentar, o que acredito não ser o propósito do jogo – caso contrário, essa opção nem sequer estaria disponível.
Um ponto interessante do jogo é o papel de destaque que Luigi assume na história, com uma voz ativa e um protagonismo inesperado. Enquanto na maioria dos jogos Mario é o herói principal, aqui Luigi frequentemente rouba o foco devido a uma novidade chamada Luigideia. Estes são momentos de inspiração de Luigi que muitas vezes permitem a progressão da história ou a superação de obstáculos que pareciam impossíveis ou inacessíveis, e até mesmo ajuda a resolver quebra-cabeças. Além disso, durante as batalhas contra bosses, é comum Luigi ter uma Luigideia que nos ajuda a encontrar uma estratégia eficaz para causar um dano significativo ao inimigo por breves instantes.
Outro ponto importante a mencionar é que o jogo está disponível em português do Brasil, tornando-o mais acessível para os mais novos. Sendo um jogo com bastantes diálogos entre personagens, ter os textos em português é um incentivo extra para que as crianças compreendam a história e saibam o que precisam de fazer. Além disso, a dificuldade Mamão com Açúcar garante que os mais pequenos não se frustrem durante os combates, assegurando diversão para uma faixa etária mais jovem.
O grafismo é um dos aspetos mais interessantes do jogo, com um estilo visual em cel shading muito bem executado, que oferece cenários detalhados e visualmente apelativos. As personagens ganham um destaque especial com esta escolha gráfica, captando a atenção tanto dos mais novos como dos adultos. As cores vibrantes, característica comum nos jogos de Mario, são outro ponto forte; seja em biomas mais alegres como florestas, ou em ambientes mais simples como desertos, os cenários refletem sempre um cuidado especial com os pormenores.
As animações também são dignas de nota, quer nos combates, nas habilidades, ou mesmo ao explorar os cenários. Mario, Luigi e todas os personagens contam com animações bem detalhadas e fluidas. No aspeto sonoro, o jogo é igualmente competente, com uma banda sonora variada que encaixa perfeitamente nos diferentes locais e situações do jogo. Momentos de suspense, surpresa ou alegria são sempre acompanhados por músicas que reforçam a emoção do momento.
Mario & Luigi: Brothership é o verdadeiro RPG que tantos jogadores aguardavam, e os fãs da série não ficaram desiludidos. Com uma duração média de 40 a 50 horas, dependendo do nível de exploração e do número de combates realizados para aumentar o nível de Mario e Luigi, o jogo oferece várias horas de entretenimento. Mantém-se fiel à identidade da franquia, enquanto introduz novidades e melhorias que trazem frescura à série. É, sem dúvida, uma excelente continuação da saga, agora nas mãos da Nintendo.