Developer: Capcom
Plataforma: PS5, Nintendo Switch, PC e Xbox Series X|S
Data de Lançamento: 22 de novembro de 2024
Devo confessar que este era um dos meus jogos mais esperados do ano. Não consigo esconder o entusiasmo, memo que quisesse. Finalmente tenho nas minhas mãos todos os “fighters” clássicos que mais me interessavam, isto é, aqueles que envolvem as personagens da Marvel, e os cross-overs com as personagens do Street Fighter e de todo o universo da Capcom.
Para explicar o meu entusiasmo, para além de poderem ouvir o episódio desta semana do bits e bytes, recordo aqui também a minha história com o primeiro desta série, o X-Men Children of the Atom. Este foi o primeiro título de fighters que incorporou as personagens da Marvel, e logo os X-Men que eu adoro e com as personagens, curiosamente que mais me empolgavam na altura, o Wolverine, Cyclops, Ice-Man, Colossus ou Psylocke.
Pode parecer estranho, mas a verdade é que durante a minha infância apenas tinha experimentado jogos de plataformas ou side-scroller com as personagens da Marvel, e ainda por cima só na Game Gear de um amigo meu na altura, e portanto quando joguei na Sega Saturn este fighter “varri-o” por completo. Tive que ver os fins de todas as personagens, aprender a fazer os ultimates de cada um e dominar todos os combates contra os meus amigos.
Devo confessar que tenho achado impressionante o trabalho da Capcom nos últimos anos, tanto a tentar revitalizar as suas franquias, trazendo algumas remasterizações, remakes e até estas colecções, mas, ao mesmo tempo arriscando a criar novas franquias, como foi o caso de Kunitsu Gami, Path of the Godess, que também analisei este ano.
O que a Capcom acaba por fazer, e acho que isso se vai lutar a curto e médio prazo, é “reciclar” o seu mercado, voltando a chamar os mais jovens para as suas franquias com trabalhos modernizados, trabalhados e até reinterpretados para a era moderna, ao mesmo tempo que premeia os mais velhos que jogaram os seus clássicos e as franquias que adorámos e muitas das quais foram mestres, como é o caso dos “fighting games”.
No total, temos sete jogos que marcaram a geração de 90 e anos 2000, todos inseridos no mesmo género:
- X-MEN® CHILDREN OF THE ATOM
- MARVEL SUPER HEROES™
- X-MEN™ VS. STREET FIGHTER®
- MARVEL SUPER HEROES™ vs. STREET FIGHTER®
- MARVEL™ vs. CAPCOM® CLASH OF SUPER HEROES
- MARVEL™ vs. CAPCOM® 2 New Age of Heroes
- THE PUNISHER™
Para todos os efeitos, todos os títulos presentes são exatamente as mesmas versões que saíram para as Arcades na época. A diferença é que aqui podemos programar a experiência de cada jogo de acordo com a nossa necessidade, seja diminuindo ou aumentando dificuldade e a força de ataque, desbloquear desde o início personagens secretos, disparar ataques especiais apenas com um botão e pequenas alterações gráficas para manter a onda mais CRT ou mais moderna. Salvo isso, podemos optar pela versão do jogo que queremos jogar: japonesa ou americana.
O que é engraçado verificar nestes jogos é como foram adicionando mecânicas e propostas à jogabilidade que se tornaram o standard para qualquer fighter que fosse editado a seguir e que hoje é copiado sem qualquer prurido por qualquer outro jogo mais moderno do mesmo género.
Por isso mesmo, vou me centrar nas novidades que cada título trouxe na história dos videojogos. X-Men Children of Atom, lançado em 1994, até pelas características das personagens, com super poderes e a capacidade de voar, introduziu novas mecânicas, nas tais lutas incessantes até à luta final contra o poderoso Magneto. Aqui vamos ter, pela primeira vez, super saltos, combos aéreos, defesa aérea, especiais gigantes, coisas que viram a fazer parte dos jogos a partir desse momento, como se percebeu no primeiro cross-over que foi editado logo a seguir, o X-Men vs Street Fighter, dois anos depois.
Mas antes disso, tivemos ainda o primeiro Marvel Super Heroes, aqui alargando o roster a mais do que apenas aos X-Men, trazendo elementos dos Vingadores, como é o caso do Capitão América, Hulk, Iron-Man ou Spider-Man. Em 1995, o jogo tentava trazer a famosa saga das Jóias do Infinito, com Thanos a ser um dos vilões jogáveis e o Boss Final, introduzindo a mecânica de power-ups durante as partidas em forma de jóias do infinito. Basicamente tínhamos um buff de poder, de cura, ou de aceleração, modificando a jogabilidade durante curtos períodos de tempo.
X-Men vs. Street Fighter foi o videojogo que colocou, pela primeira vez, as personagens das duas maiores franquias lado a lado para lutarem, isto em 1996. Este foi o primeiro jogo que apresentou o combate em duplas, onde, como é óbvio, o objectivo é zerar a barra de vida dos dois oponentes. No jogo podemos alternar entre as duas personagens a qualquer momento (Crossover Attack) ou chamá-la para ajudar num golpe (Crossover Assist) o que facilita a nossa aproximação para iniciar um combo. Até mesmo os especiais podem ser desferidos em dupla, desde que tenhamos, pelo menos, duas barras de especial. E, como devem calcular, foi game changing.
Uma curiosidade em relação a este título foi que o port para a PlayStation ter algumas limitações como, por exemplo, a impossibilidade de trocar de personagem a qualquer momento. Isso só seria possível se o adversário tivesse escolhido a mesma dupla que nós. Já a versão do SEGA Saturn, por outro lado, devido ao cartucho de expansão de memória, contava com a mesma versão dos arcades. Porém, o jogo só foi lançado no Japão.
Em 1997 viríamos até mais um jogo com as personagens do Street Fighter, mas agora com as personagens do Marvel Super Heroes. Este talvez foi o título menos conseguido, onde até o número de personagens jogáveis era diminuto, parecia mesmo só um mistura de personagens com o sprite de personagens de Street Fighter Aplha a serem aproveitados, apenas os cenários foram retrabalhados e teve novas animações nos especiais.
E depois chegamos às pérolas desta colecção, na minha modesta opinião, que são o Marvel vs. Capcom e, em especial, Marvel vs. Capcom 2. O primeiro título de 1998 acrescenta algumas possibilidades que não estavam presentes nos títulos anteriores, como uma terceira personagem (special partner) random, entre vinte opções, que pode ser usado um número determinado de vezes, durante a partida, para desferir um ataque no adversário. Algo que também ainda nunca tínhamos visto no fighting game até então. E também o Duo Team Attack, em que controlamos as duas personagens escolhidas ao mesmo tempo. Nesses instantes, o uso de especiais é livre. Para além disso, o roster era bastante maior nestes títulos, em especial no segundo onde tínhamos 50 personagens jogáveis
Já Marvel vs. Capcom 2, lançado em 2000, é um dos jogos mais queridos de todos os crossovers já lançados pela Capcom e é figura cativa até aos dias de hoje em campeonatos como a EVO. Aqui, podemos selecionar três personagens, ao invés de dois, e escolher o comportamento do nosso herói — entre três variações — quando for nos dar uma assistência em combate. Os botões de ataque e combos foram simplificados. Ao invés de três botões de soco e três de pontapé, temos apenas dois de cada. Usando uma barra de especial, podemos também expulsar um adversário, forçando a substituição por um outro da sua party. E existe a possibilidade de desferir um especial triplo ou de bloquear um especial acionando o vosso parceiro. As animações são mais polidas, as passagens para os especiais e super especiais também, mas a grande mudança gráfica prende-se com o facto dos cenários serem tridimensionais, o que por vezes até era algo estranho visto que as personagens não o eram. Mas não deixa de ser um ponto a assinalar.
Antes de vos falar jogo que falta, deixem-me primeiro dar conta das novidades que encontramos nestes fighters. Temos partidas online rankeadas, casuais e personalizadas, disponíveis para todos estes seis jogos de luta e suportadas com netcode de reversão para a experiência de jogo online mais estável. Aqui, podemos criar salas, entrar em salas públicas ou privadas e participar de partidas casuais ou rankeadas. E foi sempre fácil encontrar jogadores com que jogar devido ao rollback netcode. Diria que esta componente online é mesmo a maior novidade de todas, visto que antes ou tínhamos de ir à casa dos amigos ou então ir com os amigos para as máquinas arcade para jogarmos juntos.
Temos também um modo Treino, com visualizador de hitbox, para aprender as mecânicas de cada jogo, o alcance dos golpes e testar combinações de personagens que casam mais com a vossa forma de jogar. Há ainda algumas opções de filtros (que funcionam mais como um controle de brilho e contraste na maioria das vezes e de tamanho do ecrã, que recomendo não usarem. Os jogos foram feitos para CRT’s com o formato 4:3, passar para 16:9 perde o encanto, a definição e até a fluidez do jogo.
Falemos por fim do último jogo desta fornada The Punisher. Neste caso, até foi o primeiro a ser editado, em 1993, mas diferente de todos os outros, porque era um side-scroller beat’em up. No entanto foi este título que abriu as portas para a parceria entre Capcom e Marvel, visto que foi o primeiro jogo a ter personagens da Marvel, neste caso, The Punisher, Nick Fury e Kingpin. A capacidade da Capcom de fazer belíssimos beat’em up’s já vinha de trás, com títulos como Cadillacs and Dinosaurs, Captain Commando e Final Fight, portanto o trabalho em The Punisher apenas manteve a excelência vista nos outros títulos da empresa japonesa.
The Punisher emerge como o destaque da coleção em termos de fluidez e otimização. O jogo roda de forma excepcionalmente suave, superando as expectativas para um título dos anos 90. A minha recordação de o ter jogado na Feira da Luz com moedas de 50 escudos, na altura, era visualmente um pouco mais tosca. Além do desempenho técnico, The Punisher impressiona por ter envelhecido graciosamente em termos de jogabilidade, nível de desafio e diversão geral. A sua campanha de seis capítulos oferece uma experiência envolvente e satisfatória, reafirmando o seu status como um clássico intemporal do género beat ’em up. Um destaque adicional é a implementação do modo multiplayer em The Punisher. Esta nova funcionalidade permite que dois jogadores cooperem na campanha, com um controlando o protagonista Frank Castle e o outro assumindo o papel do lendário espião Nick Fury. O jogo contou também com um port para a SEGA Mega Drive, em 1995, que apesar de ter sido publicado pela Capcom, foi desenvolvido pela finada Sculptured Software e era um autêntico desastre.
Por fim, tenho ainda que destacar alguns dos recursos adicionais, criados para os fãs. Temos uma jukebox com a banda sonora de todos os jogos, mais de 200 temas para ouvir, temos ainda um museu com carta Marque-o originais de todos os títulos, e a possibilidade de usar alguns filtros de exibição pra emular os ecrãs de televisão e das máquinas arcade da altura. E temos também a possibilidade, no modo single-player de salvar o jogo onde quisermos, isto é, não precisamos de voltar tudo atrás se perdermos contra o boss final, ou podemos mudar de personagem antes do mesmo para ver mais facilmente todos os fins de todas as personagens.
MARVEL vs. CAPCOM Fighting Collection: Arcade Classics é obrigatório para todos o fãs dos jogos originais e para aqueles que nunca tiveram a oportunidade de os experimentar. Não há outra coleção onde possam os jogar todos no mesmo sítio e, para além disso, estes jogos envelheceram muito bem. Ainda são um vício no dia de hoje, aprimorados com pequenas correções gráficas, de interface e com a adição da componente multiplayer, é simplesmente tudo o que podíamos sonhar. A simplificação dos comandos em alguns dos jogos poderão tirar algum gozo, mas fora isso, está impecável.
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