Developer: Konami
Plataforma: PlayStation 5, Xbox Series X|S, PC, Nintendo Switch
Data de Lançamento: 24 de Outubro de 2023

Metal Gear Solid é para mim a melhor franquia de sempre dos videojogos e apesar de ser suspeito, dado esse facto, é uma das mais importantes da história para o género furtivo e também para a narrativa cinematográfica, levando ao extremo as interpretações feitas pelas vozes dos atores e claro, as cutscenes longas e épicas que ainda hoje recordamos. 

É impossível separar a saga do seu criador Hideo Kojima que desde os primeiros jogos, se percebia bem que ideias a sua mente criativa queria implementar nos futuros jogos da série. Aos poucos lá foi conseguindo fazer e melhorar as essas mesmas ideias que tinha, ainda que um dos problemas já confessados pelo próprio era o facto de  querer fazer coisas que as próprias consolas não permitiam em determinada altura. Ainda assim, não nos podemos queixar dos resultados finais nem do trabalho que a sua equipa fez de mãos dadas com a Konami, que resultou nesta obra-prima para os jogadores.

A história entre Kojima e a Konami não teve um final feliz, pelo menos que se saiba. Kojima dedicou-se a outros projetos, nomeadamente a Death Stranding e desde Metal Gear Solid V: Phantom Pain, o último trabalho partilhado entre as duas partes, que não houve um jogo com a qualidade que a franquia merecia. É certo que houve uma tentativa com Metal Gear Survive, mas foi uma miragem do que estávamos habituados. 

Já este ano e de forma surpreendente, a Konami anunciou que estava a trabalhar num remake de Metal Gear Solid 3, renomeado para “Delta”, justificando a sua decisão de reavivar a série começando pela ordem dos acontecimentos cronológicos. A água na boca cresceu e para dar a novos e velhos conhecidos da franquia a oportunidade de a experimentar, optou por lançar então esta Metal Gear Solid: Master Collection Vol. 1.

Esta coleção de jogos inclui: Metal Gear Solid, na sua versão original; Metal Gear Solid 2: Sons of Liberty e Metal Gear Solid 3: Snake Eater, em versões  da Metal Gear Solid: HD Collection lançada em 2011. Conta ainda com mais dois jogos antigos, que na verdade marcaram o início de tudo isto, em 8-bits, Metal Gear e Metal Gear 2: Solid Snake, bem como algum conteúdo bónus, como por exemplo o Snake ‘s Revenge da NES. 

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Comecei mesmo por aí este meu regresso à franquia porque nunca os tinha jogado. Metal Gear e Metal Gear 2 foram jogos criados para o computador MSX2 em 1987 e 1990 respectivamente e tendo em conta que eu nasci em 1989, um deles é mais velho do que eu e o outro quase da mesma idade. É óbvio que jogar isto hoje é um bocado penoso, mesmo com uma melhoria a nível de comandos que foram otimizados para se conseguir escolher armas e itens com os gatilhos ou atender chamadas com o touchpad, pelo menos na PS5, onde joguei. 

Tirando isso, o jogo é o mesmo da altura, com a mecânica do stealth a ser o foco do jogo que praticamente não permitia combate à distância. Agora uma coisa é certa, olhando para os elementos que os jogos introduziram, muitos deles passaram para os jogos futuros, nomeadamente o codec que permitia as chamadas por frequências rádio, o radar, o sistema de alerta, quando nos viam ou mesmo o sistema de entrada em portas ou condutas, onde era necessário rastejar.  

Depois destes, fui então jogar aquele que é para mim a porta de entrada na franquia. Joguei pela primeira vez Metal Gear Solid na PS1 em 1999, depois de comprar uma revista que trazia uma demo do jogo. Perdi a conta às vezes que repeti aquela entrada, descobri todos os caminhos da base e sabia muitos diálogos de cor. Voltar lá, 24 anos depois, foi nostálgico, mas surpreendente também porque é ótimo jogar na mesma. Muitas vezes temos medo de voltar a jogos antigos pelo grafismo e algumas mecânicas, mas não me senti desiludido, pelo contrário. 

As vozes dos protagonistas e o ambiente cinematográfico ganham em relação ao grafismo que na altura era incrível, mas agora tem logicamente as suas limitações. O jogo é jogado no formato 4:3, onde podemos personalizar os cantos da nossa TV ou monitor com várias imagens alusivas à franquia. Para quem, como eu, já tentava ter o jogo no seu formato original há algum tempo e não o encontrava à venda, esta pode ser uma boa oportunidade para o fazer e ficar com um dos jogos mais emblemáticos de sempre.

As lutas com os bosses, nomeadamente Psycho Mantis, que nos lia a memória, os diálogos grandes e complexos com o General Big Boss e a primeira vez que se vê um Metal Gear são algumas das coisas que não se esquecem quando se joga o primeiro da série Solid e que abriu caminho para o grande sucesso da franquia. As mecânicas mais atuais usadas para altura ainda não tinham a mira nas nossas armas e isso tornava os combates algo complicados, mas o radar e a imagem isométrica em 3D com a câmera fixa pode ser difícil de explicar nos dias de hoje, mas o que é certo é que continua a ser fácil de jogar, mesmo sem esse controlo total da nossa câmera.

A história do jogo passa-se em 2005 quando Solid Snake, um ex-soldado que já estava na reforma é chamado a entrar em ação para uma operação de incursão numa base no Alasca para neutralizar uma ameaça terrorista e claro, evitar que armas nucleares e o Metal Gear seja ativado por quem não deve. Dois anos depois destes acontecimentos em Shadow Moses, chegamos a Metal Gear Solid 2: Sons Of Liberty, aqui na sua versão da HD Collection e que graças a isso, o seu aspecto visual está muito melhorado. 

Lembro-me da primeira vez que joguei a demo deste jogo num centro comercial, durante uma visita de estudo. Ainda não tinha uma consola que desse para o jogar, mas foi um dos meus primeiros jogos assim que adquiri uma PlayStation 2. A primeira zona, no barco, mostra logo muitas melhorias, nomeadamente uma mira na nossa arma em modo primeira pessoa, quando era preciso, o sangue que ia deixando rasto e alertando os inimigos, as garrafas que podiamos acertar com tiros e as bombas possíveis de desativar eram só algumas das novas mecânicas. 

Sem ninguém esperar, Snake depois dessa parte inicial que culmina com uma cutscene memorável em que um Metal Gear é retirado do navio, destruindo tudo deixando o nosso personagem em apuros à deriva no rio, o jogo deixa o tempo passar um ano e resolve trocar-nos as voltas todas e dar o protagonismo a Raiden, personagem que vamos conduzir na maior parte do jogo que se dividia em blocos, numa plataforma chamada Big Shell. Aquilo que eu chamo de uma “Kojimada” é ainda hoje um motivo de discussão, na qual muitos fãs não se revêem nesta situação e não perdoam a decisão tomada. Mas Kojima adora criar estas controvérsias nos seus jogos e tem coragem de o fazer. 

Com esta introdução, conseguiu-se subir a parada do combate porque Raiden era bom com espadas e por isso, além dos tiros, das lutas corpo a corpo e dos momentos de ameaça em que os guardas levantavam as mãos como quem diz “não me faça mal”, o jogo trazia também a luta com armas de maior alcance, nomeadamente a espada. A história acaba por ter algum paralelismo com a realidade, embora diga sempre que são eventos ficcionados, e são. No mundo real não existem vampiros ou gajos que tenham raios à volta do seu corpo, que eu saiba. A exploração de algumas intrigas e a maneira como tentavam explicar o que acontecia era feita com alguma complexidade e por vezes difícil de decifrar, mas esta era mais uma forma de colocar o jogo em discussão.

Chegamos então a Metal Gear Solid 3: Snake Eater, que nos leva para a selva e até meados dos anos 60, começando o jogo por nos dizer claramente que depois da Segunda Guerra Mundial o mundo dividiu-se em dois, na chamada “Guerra Fria”. Os acontecimentos deste jogo são os primeiros da franquia e até a versão de Snake, é na verdade o Naked Snake. Não vou agora explicar tudo sobre ele, mas basicamente, para perceberem ele é o Coronel Big Boss que guia o Solid Snake durante o primeiro Metal Gear Solid. O paralelismo com a história real aqui é mais evidente com as armas nucleares e os planos secretos de engenheiros a serem colocados em equação ao longo do jogo. 

É aqui que a série introduz vários elementos de sobrevivência, retirando o radar e dando a possibilidade de nos alimentarmos para recuperar energia. Podemos ainda suturar feridas, desinfectar, colocar ligaduras e ainda tomar analgésicos, comprimidos para o estômago, entre muitas outras coisas. O modo furtivo continua em força com uma nova mecânica de camuflagem, em que podemos usar vários disfarces de forma a ludibriar o inimigo e parecer invisível nas nossas incursões. Desde o fato às pinturas da cara, tudo era personalizável e voltar a jogar isto agora deu-me aquela sensação de que os jogos na parte final da PlayStation 2 já estavam tão evoluídos, que a fasquia ficou elevada para tudo o que vinha depois. Também as cutscenes foram ampliadas e recorriam por vezes a imagens reais, bastante bem disfarçadas. A qualidade e o modo cinematográfico das mesmas é que permanecia intacto.

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Além destes jogos, há ainda mais conteúdo digital, como música, as missões VR, álbuns digitais com as novelas gráficas de algumas partes do jogo retratadas numa espécie de banda desenhada e claro com as versões de várias línguas, bem como os seus Masters Book com muita informação sobre os jogos. Com este conteúdo todo eu só lamento a falta de organização que nos é apresentada. Os jogos são instalados separadamente e depois há também esta parte de conteúdo que é outro processo à parte. Eu sou adepto de colocarem tudo num menu geral dentro da própria coleção, como se fosse um jogo só e isso não acontece aqui. Tendo em conta o nome Vol.1, significa que o futuro vai nos trazer um segundo volume, talvez com jogos como Peace Walker, lamentavelmente deixado de fora, MGS 4: Guns of The Patriots e quem sabe ainda o pack de MGS V. A ver vamos.

Metal Gear Solid: Master Collection Vol. 1 é nostálgico e obrigatório para quem é fã da franquia e lhe falta algum jogo na biblioteca. É bom voltar a Shadow Moses, reviver os acontecimentos da Big Shell e andar pela selva a tentar sobreviver. É uma oportunidade para conhecer ou reviver toda a evolução da série e voltar a ter discussões saudáveis sobre os personagens e saber quem é quem neste universo criado por Kojima. Se a Konami viu aqui uma oportunidade de fazer dinheiro? Sim, sem dúvida, mas é no final de contas, o chamado dinheiro bem gasto.

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Élio Salsinha
Aprendeu a jogar ao Pedra, Papel, Tesoura com o Alex Kidd e a contar até 100 com o Sonic. Substituiu a Liga da Malásia pela Liga Portuguesa no Fifa 98 e percebeu que havia jogos melhores que filmes com o Metal Gear Solid.
analise-metal-gear-solid-master-collection-vol-1<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Voltar a Metal Gear Solid é uma sensação que não se explica</li> <li style="text-align: justify;">Mostra a evolução da franquia</li> <li style="text-align: justify;">Os jogos são tão bons como eram na altura</li> <li style="text-align: justify;">Ver as cutscenes é puro cinema</li> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">A organização de todo o conteúdo</li> </ul>