Developer: Leikir Studio
Plataforma: Nintendo Switch, PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X|S, PC
Data de Lançamento: 5 de novembro de 2024

A franquia Metal Slug marcou várias gerações com o seu estilo arcade, jogabilidade frenética e uma combinação explosiva de tiros, ação desenfreada e humor irreverente. O primeiro jogo estreou nos anos 90 e, com cada lançamento, consolidou o seu lugar como um marco histórico nos videojogos. Este run-and-gun desafiante era sinónimo de longas filas nos salões de jogos, onde os fãs aguardavam ansiosamente a sua vez de colocar a moedinha na máquina e testar a sua sorte.

Inspirando-se no legado da franquia, a Leikir Studio decidiu ousar e reinventar a fórmula com Metal Slug Tactics, uma proposta que transforma a ação frenética num RPG tático por turnos. Apesar da mudança de género, o jogo preserva a essência da série, com as icónicas armas, personagens, inimigos e a inconfundível arte visual que a caracteriza. Contudo, esta nova abordagem exige uma mudança de mentalidade, trocando a adrenalina da ação por uma estratégia cuidadosamente pensada a cada passo.

A narrativa começa com uma ameaça familiar para os jogadores: o Major Morden. O carismático e infame antagonista, ressurge com mais um plano ambicioso para dominar o mundo. Desta vez, porém, a ameaça ganha proporções ainda maiores, com o Major a reunir um exército renovado e tecnologicamente avançado, lançando ataques coordenados para enfraquecer as principais forças globais.

É neste contexto que os icónicos heróis da série entram novamente em ação – Marco Rossi, Fio Germi, Eri Kasamoto e Tarma Roving. Contudo, agora enfrentam o inimigo de uma forma bem diferente, onde cada estratégia, recurso e movimento precisam de ser cuidadosamente planeados para superar as várias missões que têm pela frente.

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A história está organizada em capítulos, cada um com várias missões pontuadas por pequenas cutscenes que contextualizam os acontecimentos. Um dos pontos fortes são os diálogos entre as personagens, que mantêm o habitual tom humorístico tão característico da série. Cada herói tem o seu peso narrativo e uma artilharia própria, o que também oferece mais complexidade à componente estratégica do jogo.

Felizmente, e para o bem da narrativa, percebemos rapidamente que há mais para além da figura do Major Morden. Sem revelar demasiado para evitar spoilers, é interessante ver como a história vai ganhando nuances e surpresas à medida que avançamos. Além disso, as personagens são apresentadas de forma acessível até para novos jogadores, com diálogos que deixam claras as suas motivações e fornecem vislumbres do seu passado.

Sendo este um RPG tático por turnos, tem as suas mecânicas bem estruturadas e como um dos pontos fortes. Cada movimento, habilidade e até a escolha das personagens que devemos colocar na equipa vão ser vitais para o sucesso a cada missão. O sistema de combate baseado por turnos exige um planeamento cuidadoso a cada ação, aproveitando ao máximo as habilidades especiais de cada personagem, de forma a tentarmos ter vantagens estratégicas.

Os níveis estão divididos em várias fases, cada uma distinta, e estruturados em quadrículas que determinam os locais onde podemos andar e também onde estão posicionadas as unidades – tanto dos nossos heróis como dos inimigos. A movimentação é limitada pelo alcance de cada personagem, definido pelas suas estatísticas individuais. Dependendo de cada fase, teremos vários tipos de desafio: algumas exigem derrotar todos os inimigos; em outras o objetivo é defender uma determinada área; enquanto noutras pedem que façamos resgates, seja para recuperar soldados ou itens importantes; e, por fim, existem aquelas que servem para chegarmos ao ponto de extração. Um único nível pode ter vários desafios consoante a sua fase, o que torna a experiência diferente da maioria dos RPG táticos por turnos.

Uma das mecânicas que mais gostei, é o sistema de sincronização entre personagens. Quando um ataque é realizado perto de um companheiro, este intervém automaticamente, dando um ataque adicional ao oponente. Isto leva-nos a criar estratégias para tentar fazer uso dessa componente, usando assim um posicionamento cuidadoso de cada personagem. Além disso, o terreno e a composição dos inimigos obrigam-nos a ajustar os nossos planos constantemente. Não basta atacar e defender; é essencial criar estratégias que minimizem danos e maximizem as chances de sucesso.

Outro ponto inovador é a introdução de elementos roguelite, que diferenciam o jogo de outros títulos do género. A progressão entre fases permite adquirir novas habilidades e equipamentos, sendo que as escolhas feitas terão impacto direto quer na missão atual, como em missões futuras. Por exemplo, entre missões ou por vezes entre fases, podemos aceder a lojas para comprar equipamentos, melhorias para as personagens ou consumíveis.

Este sistema obriga-nos a equilibrar entre investimentos a curto e longo prazo. Melhorar personagens com habilidades passivas ou adquirir equipamentos permanentes pode ser uma vantagem a longo prazo, mas, em certas situações, os consumíveis e acessórios de uso temporário são essenciais para superar desafios do nível atual. Este dilema estratégico na gestão de recursos acrescenta mais uma componente estratégica ao jogo, tornando cada decisão significativa e reforçando o desafio geral do jogo.

Ainda que Metal Slug Tactics ofereça uma diversidade de conteúdos bastante interessante, nem tudo é perfeito, e depois de algumas horas a jogá-lo é difícil não começarmos a sentir uma boa dose de repetição. As missões começam a ser bastante repetitivas, ainda que os cenários e os inimigos mudem. Além disso, é um jogo com muitos detalhes o que se torna difícil para jogadores mais casuais, em comparação com outros jogos do mesmo género, e nota-se, claramente, que requer mais tempo de aprendizagem.

Em termos gráficos o jogo mantém-se fiel ao visual clássico que tantos jogadores conhecem. O estilo gráfico inspira-se nos últimos jogos da franquia, utilizando um pixel art detalhado e com animações fluídas, que são já um dos marcos da franquia. A paleta de cores é vibrante e cuidadosamente escolhida, tornando-o visualmente atraente e chamativo. Cada cenário será bastante familiar, com os famosos Terrenos Urbanos, Florestas, Selvas, Desertos, Montanhas, e as Bases Militares. Além disso, as personagens são meticulosamente trabalhadas, o que transmite uma sensação de familiaridade.

A banda sonora é toda ela muito competente, as músicas são cativantes e para os fãs da franquia, certamente a sensação nostálgica estará sempre presente. Depois temos os habituais efeitos sonoros das batalhas, das explosões e dos tiros característicos da franquia estão todos lá, embora um pouco alterados para fazerem sentido num jogo de combate por turnos.

Metal Slug Tactics foi uma aposta ousada, que conseguiu fazer de forma eficaz a transição de um jogo repleto de ação frenética para um RPG tático por turnos – embora essa mudança de género não vá agradar a muitos fãs da franquia. Para os fãs do género tático, como é o meu caso, não tenho dúvidas de que o jogo vai agradar aos jogadores.

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Desde o tempo do seu Spectrum+2 128k que adora informática. Programador de profissão nunca deixou de lado os jogos, louco por RPGs e jogos de futebol. Adora filmes de acção e de ficção científica, mas depois de ver o Matrix nunca mais foi o mesmo.
analise-metal-slug-tactics<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">O combate bem estruturado</li> <li style="text-align: justify;">Grafismo e componente sonora bastante nostálgica</li> <li style="text-align: justify;">Várias habilidades disponíveis</li> </ul> <h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #ff0000;">NÃO</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Pode tornar-se repetitivo depois de várias horas</li> <li style="text-align: justify;">Os novos jogadores terão dificuldade devido à quantidade de informação a absorver</li> </ul>