Developer: NetherRealm Studios / WB Games
Plataforma: PS5, PS4, Xbox Series X|S, Xbox One e PC
Data de Lançamento: 19 de Setembro de 2023

Há quem olhe para o novo Mortal Kombat como um reboot, mas na verdade não poderiam estar mais enganados. A única parecença que podemos encontrar nessa definição é uma viagem a um passado criado pelo, agora Deus do Fogo, Liu Kang. Mas no fundo, isso apenas abriu um leque de opções para revisitar todas as personagens icónicas da franquia e percorrer a sua nova história que agora começa.

Por isso é que eu acho que chamar de reboot acaba por ser redutor, porque no fundo o trabalho da NetherRealm nunca esteve mais apurado e definido, com uma aposta numa campanha cinematográfica, cada vez mais extensa e com um foco em que partes dessa história seja abordada em outros modos de jogo, nomeadamente com as Klassic Towers. São elas que nos vão dar, no final de cada uma, e com cada personagem, uma ligação à narrativa da campanha e até aprofundá-la, ao mesmo tempo que recuperam aquele sentimento nostálgico das máquinas arcade onde conhecemos o primeiro Mortal Kombat.

Mortal Kombat 1 é assim uma ode ao mítico jogo que nos conquistou em 1992 e nos arrebatou pela sua violência, essa violência tão bela quanto cruel. Graficamente a NetherRealm continua a surpreender, com as animações de entrada de cada personagem ainda mais detalhada e com efeitos visuais mais definidos, assim como a fluidez na passagem para o combate em si. O jogo é um festival de efeitos visuais, com a roupa das personagens a ficarem machados de sangue, com a presença das personagens de suporte num segundo plano, mas que interferem com o plano de combate e com várias animações no pano de fundo dos cenários. É, de facto, de babar.

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É claro que o auge dessa qualidade gráficas nas consolas da nova geração são as cutscenes. Sentimos que estamos a acompanhar uma série, ou um filme sobre Mortal Kombat, com as cutscenes a terem uma longa duração, maiores do que muitas curta-metragens, e com uma qualidade invejável. A forma como essas mesmas cutscenes se encadeiam com os combates, com uma fluidez extrema, faz com que a imersão seja imensa e o melhor jogo, de todos, a fazê-lo. Devo acrescentar que acredito piamente que o fraco sucesso de qualquer filme que seja feito do Mortal Kombat, como aconteceu recentemente, é devido à qualidade do jogo nos dias de hoje. Parece que nada que seja concretizado em live-scene possa igualar a qualidade do que vemos em jogo.

É também inegável não sentir que o klássico dos anos 90 está de volta com todo o sue glamour, com a paleta de cores a recuperar muito desse ambiente, mas com o trabalho de iluminação, animação e recriação dos movimentos super polidos. As animações mais robóticas que, por vezes, encontrávamos no jogo anterior, não existem mais. Tudo está mais fluído e encaixado, sentindo-se um verdadeiro salto geracional.

Thiago Gomes, Diretor de Desenvolvimento de Arte da NetherRealm, não pode estar mais orgulhoso do trabalho que desenvolveu com a sua equipa, pois, tal como Ed Boon já referenciou, estavam mesmo à procura do tom vívido da década de 90, mas sem perder o realismo característico da série.

No entanto, o jogo poderia ser muito bonito e depois a jogabilidade deixar a desejar, mas não sei bem como, mas ainda está mais “soltinho”, com as combinações a serem relativamente fáceis de dominar, havendo, ao mesmo tempo, factores que são incluídos numa curva de aprendizagem, para tirar um maior proveito em termos de dano e de combos com a tecla R2 e as combinações de cada personagem.

A introdução das personagens de suporte também é algo a destacar, pois dão uma nova forma de jogar. Podemos activar a nossa personagem de suporte premindo o R1, fazendo a aparecer, mas tendo nós que o comandar em termos da acção que queremos que ela faça. Para isso, temos que premir o R1 para a chamar e um botão de acção, dando um bom leque de opções para a sua utilização, assim como, para quebrar a defesa do adversário e encaixarmos o combo que queremos. Dependendo da personagem com que estivermos, falando especificamente de Kenshin, isso pode ser extremamente útil para conseguirmos fazer a evocação do fantasma que o acompanha. Mas será também útil em termos de defesa, visto que podemos utilizar a personagem de suporte para nos safar do combo que estamos a levar ou quebrar o seu momentum. Tudo isto dá uma nova vivacidade a cada partida.

Depois temos os tradicionais Fatal Blows que podem mudar, por completo, o rumo da partida e com animações ainda mais ricas e cheias de adrenalina, assim como, as Fatalities e Brutalities. Agora com a presença dos Kameos, as tais personagens de suporte, temos ainda os Kameo Fatalities onde, podemos deixar a nossa personagem de suporte sujar as mãos. Temos ainda Quitalities, para aqueles que desligam-se da partida em Rage Quit.

Mortal Kombat 1 não possui um sistema de variações, como os seus dois antecessores. Os personagens têm acesso a todos os movimentos a qualquer momento da luta, o que para além de ser interessante, é notável, visto que a lista de movimentos é gigantesca. E aqui não estou apenas a falar da quantidade de golpes especiais que podemos fazer, estou a falar também do leque muito amplo que temos de sequências possíveis para os nossos golpes. São tantas as opções, que até pode assustar, mas o Pro Player vai aqui encontrar tudo o que precisa para a componente de eSports. E nota-se que há uma preocupação bastante grande para que Mortal Kombat 1 consiga ganhar o pódio dos jogos de combate nos eSports, e devo dizer que, mesmo não o sendo, é o jogo em que vejo um maior arsenal à disposição para que as partidas possam mesmo ser baseadas em skill level.

Como já perceberam a jogabilidade está no ponto, mas como está então a nova história deste Mortal Kombat 1?! Bem, para quem acompanhou e terminou a campanha de Mortal Kombat 11, viu Liu Kang a tornar-se o Deus do Fogo e a criar uma nova linha do tempo. Basicamente o seu intuito é reescrever a história na tentativa de construir uma realidade livre das dificuldades que enfrentaram anteriormente. No entanto, como tudo na vida, nada pode ser perfeito, e poderes obscuros de outras linhas do tempo começam a controlar eventos que não deveriam ocorrer nesta nova linha do tempo, e Kronika, a antiga Guardiã do Tempo poderá estar de volta.

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Começamos por acompanhar a vida modesta e enfadonha de Kung Lao e Raiden e a forma como são conduzidos por Liu Kang para o torneio, a transformação do actor arrogante Johnny Cage em lutador e a sua amizade com o enigmático Kenshin, passando pela preponderância de personagens que, até agora, viviam na sombra como Baraka ou Reptile, até ao duelo final e algumas reviravoltas surpreendentes. No total, há 15 capítulos, divididos por 4 atos, para explorar as diferentes personagens do universo em cerca de 6 horas de gameplay. A ideia deste recomeço é brilhante e coloca as personagens em papéis completamente diferentes. Por exemplo, Sub-Zero é Bi-Han e Scorpion é Kuai outro exemplo é Baraka que deixou de ser uma máquina assassina e possui uma história de fundo bastante trágica, enquanto Reptile é muito mais humano do que apenas o réptil que se transforma em humano e vice-versa.

Contudo as histórias das personagens não se ficam por aí, visto que, e daí a importância de jogar primeiro o Modo História, nas Klassic Towers desbravarmos um pouco mais de cada personagem com que subimos a torre. Embora não tenham muitos spoilers, cada personagem possui um final diferente para a sua história. Muitos deles fazem referência a eventos da história principal ou logo após a sua conclusão. À nossa disposição estão 23 personagens, portanto acho que vão gastar algum tempo a ver os finais de cada uma, como se fazia antigamente nas arcades, sendo que os Kameo Fighters são 15.

Falando dos restantes modos, antes de ir à grande novidade, o Invasion. Temos o Modo Versus, onde podem jogar em formato local com os vossos amigos, ou jogar contra oponentes de todo o mundo online. Assim como nos modos single-player, também aqui vão ganhar experiência para o vosso lutador e para o Kameo, para além de contribuir para o vosso progresso geral na conta.

Quero aproveitar aqui para ressalvar esta questão dos pontos de experiência, porque me parece o ponto menos positivo de todo o jogo. Em Mortal Kombat 11 tínhamos uma parafernália de items de costumização para a nossa personagem que nos fazia jogar e jogar, para desbloquear mais e mais opções. Aqui o mesmo não acontece, os Kameos basicamente são têm items de recolor e uma skin alternativa. As persoangens jogáveis, aí temos mais algumas opções, para além dos esquemas de cores para as skins, temos ainda as chamadas provocações, a animação para as vitórias nos rounds e um acessório. Por exemplo, se forem o Scorpion ou o Sub-Zero serão as máscaras, Kung Lau o chapéu, ou Kitana os seus leques. Como dá para perceber, depois do trabalho em MK 11 ou até em Injustice 2, parece pouco, e é.

Vamos lá então falar do Modo Invasions que vem tentar substituir a Krypta. Eu gostava da mecânica da Krypta, porque parecia um RPG, com segredos e desafios, mas é verdade que era bastante maçudo passado algum tempo, agora o Invasions acaba com essa perspectiva de terceira pessoa em que andávamos livremente, e coloca-nos num mapa em estilo de tabuleiro. Cada ponto do tabuleiro é um desafio, e em grande maioria são combates.

Ao longo do tabuleiro vamos aumentando os atributos da nossa personagem, como força ou pontos de vida. Depois há items, como relíquias que fornecem alguns aprimoramentos e o talismã. Os talismãs podem executar ataques ou defesas na nossa personagem durante o combate, como lançar um projéctil, invocar um tornado ou activar uma armadura. Para além dos combates tradicionais, há também aqueles em que temos que vencer o oponente em determinada situação, há ainda Test Your Might, um mini-jogo em que temos que spammar botões como se não houvesse amanhã para preencher uma barra de energia para despoletar um ataque. Em caso de sucesso a cena continua, se falharmos vamos ver uma brutal cena de falhanço. Por fim, temos o Survive, onde basicamente somos colocados em cenários em que nos temos de de desviar de projéteis.

Este modo Invasions funciona por temporadas. A atual, que é focada em Scorpion, coloca diferentes tabuleiros e conforme vamos avançando, vamos desbloqueando skins para as personagens nas cores vermelha e amarela. Estas skins também podem ser desbloqueadas num menu de loja usando uma moeda da temporada, a qual apenas pode ser obtida por jogar Online (Kombat League), além do próprio Modo Invasions. Não se preocupem com as micro-transações, porque aqui nã existem, esta moeda só serve mesmo para comprar items de temporada e não há forma de ganhar esta moeda com dinheiro real. Vale a pena referir que o Boss final desta Season é Scorpion, como seria de esperar.

Mortal Kombat 1 é um regalo para a vista e para o coração, mesmo que este esteja prestes a ser arrancado do nosso peito, triturado ou devorado. É uma ode ao clássico dos anos 90, com as cores e as recordações que vamos encontrando no Invasions, mas também por esse novo começo, que por um lado é saudosista, por outro é completamente inovador. O jogo da NetherRealm Studios consegue oferecer um Modo História cinematográfico e envolvente, com uma narrativa muito melhor do que alguns filmes que vemos no cinema, para além de introduzir majestosamente as personagens do Roster e os seus golpes. O Modo Invasions acaba por funcionar muitas vezes como um Tutorial exaustivo, desafiando-nos cada vez mais, para além de ser divertido e nostálgico, assim como recompensador para continuar agarrado ao jogo. E por fim, os Modos Versus e Klassic Towers alimentam a diversão com amigos, contra o computador ou com perfeitos desconhecidos, mesmo que sejam mais, ou menos, competitivos. Para mim, Flawless Victory!

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Pedro Moreira Dias
Fundador do Site - Salão de Jogos, o Commodore Amiga 500 foi o seu melhor amigo durante décadas e ainda hoje sabe de cor a equipa principal do Benfica do Sensible Soccer 94/95. Nos tempos vagos ainda edita as botas dos jogadores do FIFA e do PES.
analise-mortal-kombat-1<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Graficamente super impressionante</li> <li style="text-align: justify;">Mecânicas de combate mais apuradas e diversificadas com a introdução dos Kameo</li> <li style="text-align: justify;">Um filme com combates pelo meio no Modo História</li> <li style="text-align: justify;">O Modo Invasions é uma boa adição e uma melhor forma de introduzir as Temporadas</li> <li style="text-align: justify;">O roster de personagens é o mais equilibrado e interessante da franquia</li> </ul>