Developer: Milestone
Plataforma: PC, PS5, PS4, Xbox One e Xbox Series S|X
Data de Lançamento: 8 de Junho de 2023
A nova temporada do MotoGP já arrancou e agora arranca também no mundo dos videojogos. Já com o nosso Miguel Oliveira numa nova equipa, a RNF MotoGP Team, aos comandos de uma Aprilia RS-GP, tentámos seguir as suas pisadas, começando no MotoGP 3 e subindo de escalão até chegarmos ao pódio da maior competição de motociclismo.
Comecemos esta análise precisamente pelo Modo Carreira que foi actualizado, não só com as equipas e os pilotos da nova edição, mas também com novas componentes para o jogo. Desde logo, começamos por demonstrar a nossa qualidade em MotoGP 3, com uma equipa modesta, onde apenas nos pedem para ficar nos 15 primeiros. A mota em si, é mais fraquinha em velocidade de ponta, e teremos que demonstrar a nossa habilidade nas curvas para conseguir subir posições e especialmente vencer os nossos rivais directos.
É aqui que é introduzida uma das novidades, a Rivalidade. Somos presenteados com algumas animações antes de cada prova, demonstrando a rivalidade que temos com determinados pilotos, quase que dando uma dose extra de adrenalina à corrida, não exigindo apenas que sejamos os melhores, mas que sejamos melhores que o nosso rival directo. E esse rival até pode ser o nosso colega de equipa, pois não podemos esquecer que apenas o piloto principal pode decidir o desenvolvimento da mota e, que a mesma, seja feita para as nossas necessidades e objectivos. A rivalidade ainda passa também pelas Redes Sociais. Podemos responder a comentários de uma forma mais gentil ou crispada, alimentando ou não novas rivalidades que, vão se notar em pista, sendo alguns pilotos mais agressivos, ou mesmo umas bestas.
O jogo dá-nos várias possibilidades de escolha, o que me agradou em particular, dando uma maior densidade ao Modo Carreira. Depois de uma primeira fase numa equipa modesta de Moto 3, podem escolher se continuam nessa competição, mas para almejar serem o rei da prova e o piloto principal de uma equipa, ou se preferem aventurar-se no patamar seguinte numa equipa satélite ou independente. Ainda podem saltar directamente para a competição principal, começando por baixo.
Para os mais novatos, tentar não dar um salto maior do que a perna, poderá ser a opção mais sensata. Dominar o Moto 3, aprendendo os truques de cada pista e começar a amealhar troféus ao vosso currículo, apresentará trunfos novos, os chamados Turning Points. Estes são uma variedade de cenários opcionais com objectivos para cumprir e ajudar na progressão da vossa carreira, como, por exemplo, assinar um novo contrato com a equipa em que estão, surgir a oportunidade de passar para outra, ou subir de classe.
Com o Modo Carreira podem experimentar o novo sistema de ajudas e de abordagem ao jogo. MotoGP 23 teve como objectivo para este ano, voltar a dar a oportunidade a jogadores menos experientes e que querem uma condução mais simplista e apenas desfrutar do jogo sem a componente pura de simulação e isso vai trazer mais público e outro que já tinha desistido do género.
Como já tinha referido na antevisão ao jogo, como motociclista, a curva de aprendizagem é muito elevada. A razão é relativamente simples, mas é mais complexa na tentativa da sua explicação. Vamos por partes, começando pela questão do equilíbrio, passando depois pelos comandos e finalmente pelas assistências de condução.
O equilíbrio é algo que nos jogos motorizados de 4 rodas apenas se traduz na questão da tração das rodas, se dianteira ou traseira, ou até às 4 rodas. Numa mota a questão não se coloca da mesma forma, pois, para além do óbvio de ser um veículo de duas rodas e necessitar equilíbrio do piloto para não cair, há também a questão dos travões, o dianteiro e traseiro. Estas duas questões estão intimamente ligadas, visto que a travagem a fundo com o travão da frente, fará a mota fazer uma “égua” e perder a tração atrás, já uma travagem a fundo com o travão da frente, fará com que percamos o controlo na roda da frente e consequentemente no guiador e cair será inevitável. Portanto, o equilíbrio do piloto é definido pelo equilíbrio na intensidade do uso dos travões, na sua utilização sincopada e no domínio dos timings de os “largar” para sair das curvas e ganhar aqueles segundos preciosos.
Com esta percepção passemos aos comandos do jogo. Devo dizer que, para mim, é sempre uma luta, como motociclista, habituar-me à alocação dos botões dos travões. Na realidade tenho o travão da frente no punho direito, o mesmo do acelerador e no pé direito, o travão de trás, portanto, mecanicamente para o jogo tenho sempre uma curva de habituação e aprendizagem. O ideal, para mim, é tentar passar os travões para os dois gatilhos da direita e o acelerador para um botão de acção, o X ou o A, dependendo do comando usado. No mesmo sentido, coloco as mudanças, para cima e para baixo no gatilhos esquerdos. Também diferente de outros jogos de desportos motorizados é a transposição do equilíbrio para os comando onde aqui, temos que, com o analógico direito controlar o movimento do corpo do nosso piloto.
Por fim, as assistências, fulcrais para esta adaptação e para não cair na frustração da aprendizagem necessária para um jogo como este. Para isso existe a MotoGP Academy que nos permite adaptar a cada troço da pista que escolhermos para tentarmos aprender a melhor abordagem a cada sector. A abordagem à curva, o uso dos travões, a inclinação do corpo e da mota ou o local onde podemos sair com maior velocidade da curva, são fundamentais para dominarmos cada metro de asfalto. Para além dessa aprendizagem da pista, há também a aprendizagem da condução da mota em si. Aqui temos 4 modos de dificuldade e assistências para nos irmos habituando às mecânicas baseado numa nova tecnologia implementada pela Milestone para este MotoGP 23 que através de uma rede neural consegue ajudar o jogador em termos de travagem, assistência no equilíbrio, ABS, embraiagem e por aí fora, que torna o jogo, pela primeira vez, para mim, bastante mais acessível de jogar e de divertir-me.
É graças a este novo sistema que, tanto um “Rookie”, como um veterano, vai sentir a que a Inteligência Artificial o ajuda realmente em colmatar uma ou outra falha de controlo, ao ponto de não o levar à frustração, mas sim à aprendizagem e consequente divertimento. Para outros, que gostam de uma abordagem mais arcade, também vão encontrar aqui um conjunto de soluções que os pode levar a simplesmente fazer umas voltas ou um Grande Prémio, ou outro dos modos, sem a conotação de simulação. Acaba por ser um MotoGP para toda a gente que adora este desporto.
Um dos elementos que fazem a sua estreia nesta edição é o tempo dinâmico. Agora poderá acontecer numa pista totalmente seca, o tempo mudar subitamente, e começar a chover, por exemplo, obrigando a alterações forçadas dos pneus e idas à boxe. Também o sistema Flag-to-Flag, que nos vai permitir, nessas circunstâncias, regressar à boxe para trocar de mota, tudo in-game.
Destaque ainda para o novo editor, mais aprofundado do nosso piloto, aquele que criamos para enveredarmos no Modo Carreira. Agora podemos editar os stickers que colocamos, dando um leque alargado de opções de customização, para além de podermos escolher e editar o nosso capacete, o número que usamos na nossa mota ou o patch da alcunha que usamos no nosso fato na zona do rabo.
No aspecto gráfico há alguma discrepância. Não me interpretem mal, as pistas, as motas, os pilotos e alterações climatéricas estão impecáveis, especialmente se jogarem no PC ou nas consolas da nova geração, mas essa qualidade resume-se a tudo o que se passa no asfalto. Fora dele, os NPC’s dos mecânicos, dos chefes de corrida, da nossa equipa no Pit, até das raparigas que seguram o chapéu de sol ou de chuva, estão muito datados, para não dizer pior. Há casos em que ficamos especados a olhar e a pensar: o que é que se passou aqui?!
Tenho ainda que referir que, para além do Modo Carreira, vão ter acesso a outros modos de jogo, tanto em formato single player como multiplayer. Na componente de um jogador podem fazer apenas corridas singulares completas ou simplificadas, fazendo apenas a corrida em si, sem os treinos e as qualificações. O mesmo acontece na vertente online contra outros jogadores, com crossplay nas consolas, sendo que há o modo MotoGP Live, onde todas as semanas há um evento activo em que podemos participar online recriando cada uma das provas da competição. Por fim, podem ainda jogar contra um amigo em modo local.
O modo Nine Season 2009, ou algo semelhante, é que não regressa à série, com pena minha. Não queria dizer que gostava de voltar novamente ao mítico ano de 2009 para reviver uma das mais históricas épocas do MotoGP, mas poderia ter outra época. Gosto sempre quando existe um pouco de história nestes jogos de simulação ou algo perto disso, e o modo era bastante competente, quase que em formato documentário jogável, que trazia um certo espírito ao de cima, de gostarmos de determinado piloto ou determinada equipa, mas a Milestone não decidiu dar continuidade a isso.
MotoGP 23 é talvez o mais acessível dos últimos anos, devido aos vários modos de personalização das nossas competências para jogar e da tecnologia implementada, o Neural Aid, que pretende funcionar quase que como uma Inteligência Artificial que nos guia na curva de aprendizagem. Em geral, é bastante competente, não traz uma série de novidades, e perdeu o modo Nine Season 2009, para além de já se notar que o motor de jogo, em termos de animações fora do asfalto já está bastante datado. Para os fãs, é uma actualização, para os que chegam agora, é a melhor porta de entrada na série.