Developer: Artefacts Studio
Plataforma: PC
Data de Lançamento: 15 de Novembro de 2023
No vasto e dinâmico universo dos jogos de estratégia, poucos títulos conseguiram deixar uma marca tão indelével quanto o icónico Dungeon Keeper, lançado em 1997. Este jogo pioneiro não apenas definiu um género, mas também estabeleceu os padrões para o que viria a ser conhecido como os jogos de construção e gestão de masmorras. Agora, ao mergulharmos em Naheulbeuk’s Dungeon Master do Artefacts Studio, é impossível não reconhecer a profunda influência que Dungeon Keeper ainda exerce sobre a indústria de videojogos. Como um dos seus sucessores espirituais, Naheulbeuks Dungeon Master surge como uma homenagem inovadora a um clássico intemporal.
Quando Dungeon Keeper foi lançado, ofereceu aos jogadores uma perspectiva única: em vez de assumirmos o papel de heróis, eramos desafiados a descer às profundezas da maldade, construindo e gerindo as nossas masmorras com um toque de humor e um certo requinte de malvadez. Esse conceito revolucionário não apenas cativou os jogadores da época, mas estabeleceu uma referência para a narrativa invertida, em que o mal não era apenas uma escolha, mas uma forma alternativa de contar uma história.
A influência de Dungeon Keeper persiste ao longo dos anos, ecoando em títulos contemporâneos que buscam capturar a magia única desse clássico. Naheulbeuk’s Dungeon Master assume essa tocha com uma abordagem fresca e vibrante, atirando os jogadores para um mundo de fantasia cómico. Ao explorar o legado do Dungeon Keeper, não apenas celebramos uma era dourada dos jogos, mas também testemunhamos como as sementes plantadas por esse ícone continuam a florescer nos corações de novas e emocionantes experiências de jogos.
Numa narrativa que precede The Dungeon of Naheulbeuk: The Amulet of Chaos – o outro título da franquia – vamos ter de assumir o controlo da torre de Naheulbeuk. A tarefa? Criar um dungeon capaz de gerar receitas de maneira a ganharmos os argumentos necessários para podermos enfrentar os heróis que eventualmente teremos de combater. A fórmula é muito idêntica a Dungeon Keeper, mas diria que a série Dungeons é o seu clone mais directo. Em Naheulbeuk’s Dungeon Master há a vontade de encaixar outros elementos de jogos de gestão que funcionaram muito bem, como Theme Hospital.
O papel central é desempenhado por Raivax, um duende numa pressão constante para conseguir atender às exigências de Zangdar, o feiticeiro diabólico da região. Após responder a um anúncio de emprego muito peculiar, Raivax é agora o mais recente recruta desta masmorra que, contrariamente ao publicitado, encontra-se em condições deploráveis. oferecendo pouca motivação para que qualquer aventureiro o invada. Nesse sentido, ficaremos com a missão de transformar esta dungeon na mais atractiva de todo o reino, enquanto, claro, Zagdar reclama toda a glória.
Olhando para a situação desastrosa em que está a nossa dungeon, vamos ter muito mais trabalho do que esperávamos inicialmente. Por isso mesmo, é fundamental construir novas instalações para melhorar a sua reputação, recrutar pessoal e atrair aventureiros, de forma a que o ouro nunca pare de entrar. E tudo enquanto protegemos os nossos colaboradores e as nossas riquezas dos invasores.
Inicialmente é somente possível construir salas mais simples como quartos, salas de descanso, refeitórios e algumas mais, e com peças de mobiliário e de decoração limitados. No entanto, ao longo do crescimento da nossa dungeon, mais as opções vão sendo bloqueadas para tornar a estrutura no global muito mais sofisticada. E tudo começa com uma taberna que vai servir como um tutorial mais abrangente para nos ensinar alguns conceitos básicos.
O próximo passo será o de contratar empregados que nos irão ajudar na gestão do dungeon, seja para limpar, postos de guarda, ou mesmo cozinhar. Como não há preconceitos em Naheulbeuk’s Dungeon Master, a sua população será bastante vasta e plural, e será composta por humanos, elfs, ou mesmo orcs, e todos têm os seus caprichos, o que irá pedir de nós uma certa atenção para que tenham tudo o que precisam para se manterem produtivos.
As suas acções são automatizadas o que significa que, tendo em conta a especificidade das suas capacidades, irão responder perante as necessidades e as suas funções. Porém, se toda esta gestão de recursos humanos não for gerida corretamente, preparem-se para greves ou escaramuças entre subalternos. Na verdade, se deixarmos que os problemas se arrastem, pode até agravar-se para situações de canibalismo, por exemplo. Portanto, saibam resolver as coisas enquanto podem.
À medida que a reputação da dungeon vai melhorando, teremos de contratar guardas para nos defendermos dos invasores, utilizando para esse propósito armadilhas e outras ferramentas. É mesmo crucial recrutar soldados de várias classes e origens, já que temos a competição de outras masmorras, logo, vamos ter de enviar ocasionalmente os nossos pequenos exércitos para capturar os tesouros das dungeons vizinhas e causar o caos.
Tudo se resume à gestão do orçamento, ou seja, contratar os melhores funcionários para o trabalho e a equipá-los para desempenhar essas funções. Existe uma espécie de “barra de contentamento” que mede o quanto o mestre da masmorra está satisfeito com a nossa gestão. E acreditem, não o vão querer ver chateado, porque no reino do mal, raramente estas coisas acabam bem.
O humor é outro dos elementos que é aproveitado para conduzir a narrativa e tornar todo o jogo mais divertido e descontraído. Há uma certa satirização do mal, visto que leva tudo para o mundano, mostrando que, no fundo, todos temos de lidar com os mesmos problemas. Sim, até no mundo dos vilões existem direitos do trabalho, e é algo que eles farão questão de que não nos esqueçamos. Como tal, seremos igualmente aqui atormentados com burocracia, e com episódios e circunstâncias verdadeiramente hilariantes. É um dos pontos fortes de Naheulbeuk’s Dungeon Master, e um aspecto em que acertaram mesmo em cheio, mais até do que em Dungeon Keeper.
Não é nenhum primor gráfico, como era de esperar, mas funciona muito bem para o tipo de jogo em questão. É até comum, títulos do género de dugeon management, terem um estilo mais animado, tal como acontece aqui. As cores e o design encaixam bem na jogabilidade e no humor que o conceito do jogo tenta transmitir, e não será por aqui que se sentirão desiludidos. É agradável ao olhar e bastante fluído de movimentos, o que é particularmente importante tendo em conta que estamos sempre a mexer o nosso angulo de um lado para o outro dentro da masmorra.
Quanto à parte sonora, tenta ser acima de tudo discreta, mas adequada, para não nos distrair. É um jogo que exige concentração e atenção, e faz sentido que a música sirva apenas para nos fazer companhia. Os efeitos sonoros estão bons, e principalmente o voice acting, que está surpreendentemente bom para um jogo indie que não costuma dedicar grandes esforços a esta componente.
Naheulbeuk’s Dungeon Master é um digno sucessor do jogo que o inspirou. Não se limita a copiar outros títulos dentro deste conceito e traz as suas próprias ideias, conseguindo uma certa dose de inovação. Sem dúvida um bom reforço para o género do dungeon management.