Developer: Visual Concepts, 2K Sports
Plataforma: PlayStation 5, Xbox Series, PC
Data de Lançamento: 08 de Setembro de 2023
Esta edição do NBA 2K24 celebra a carreira de Kobe Bryant, uma das maiores estrelas de sempre que já passou pela NBA e que certamente levou muitas pessoas a ficarem acordadas durante a madrugada, nas quais me incluo, para ver os seus jogos ao longo de vários anos. Tal como já tinha feito o ano passado com Michael Jordan, este ano a 2K Sports dedicou o seu modo de jogo de desafios de carreira ao “Black Mamba”, que durante a sua vida vestiu a camisola 8 e posteriormente, a 24 dos LA Lakers.
Este é já um regresso habitual daquele que é o único jogo de NBA que existe no mercado para mais um ano a dominar dentro do campo. Isto já acontece noutras franquias desportivas, mas não deixa de ser preocupante, uma vez que quanto maior a concorrência, melhores são os jogos. Ainda assim, a Visual Concepts e a 2K não se deixaram dormir e ao contrário do que se possa pensar, é na jogabilidade que está a maior evolução deste ano, muito provavelmente devido à introdução do ProPLAY, tecnologia que foi capaz de transportar para o jogo algumas jogadas reais que vemos regularmente na TV e tudo o que isso depois implica.
Preparem-se então para ver ainda mais imagens espetaculares e bastante familiares para quem acompanha estas andanças da NBA ao longo do ano. Já tínhamos nos outros jogos as parecenças visuais e alguns lançamentos típicos de cada jogador, mas não me lembro de ver algo tão autêntico como neste NBA 2K24. As jogadas de penetração no garrafão não são tão lineares nem idênticas umas às outras. Os jogadores mais ágeis fazem coisas absolutamente deliciosas e isso dá uma nova vida ao jogo.
Se antes me queixava que era muito difícil de fazer lançamentos de dois pontos, este jogo marca um ponto de viragem nesta matéria. Nunca fui tão eficaz a fazê-lo, muito por causa do chamado step back em que os jogadores dão um passo atrás ou para o lado e lançam como o fazem na realidade. Cada jogador interpreta-se a si próprio de uma maneira irrepreensível. É claro que jogadores como LeBron, Doncic ou Curry já tinham bem vincados os seus movimentos, mas juntem-lhes os outros todos, uma maior rapidez de execução e uma fluidez que nunca tinha existido até aqui e é fácil dizer que este é o melhor NBA 2K de sempre a nível de jogabilidade.
Os lançamentos abertos são uma delícia e depois de um bom passe é gratificante vê-los serem executados de forma mais rápida deixando a defesa em maus lençóis. Além das cutscenes que o jogo mostra quando mandamos triplos certeiros, agora também a câmera muda quando vamos afundar. Isto acaba por criar uma maior envolvência com o jogo. Por outro lado, também era interessante ver estas perspetivas no chamado abafo em que o defesa faz o bloco na perfeição a um lançamento, mas isso talvez só no futuro.
Há também mudanças na defesa, nomeadamente nos saltos para tentar evitar que a bola vá para o cesto, em que agora, em muitas situações, acaba por ser marcada falta. Os ressaltos e os roubos de bola estão mais disputados e a bola pode agora embater no corpo, bater na mão e ficar quase perdida até alguém a conseguir segurar. A IA também acerta com maior rapidez as marcações individuais, dando um maior realismo a cada partida. Já os contra-ataques continuam demasiado lentos para a vantagem que se devia ter num momento como este. A isto podem juntar muitas animações novas, como jogadores a agarrar o equipamento junto à boca, novas atrações nos descontos de tempo, continuar a ver as excelentes apresentações de cada encontro, os comentários de intervalo e tudo o que os anteriores NBA 2K nos habituaram a ver.
Se dentro de campo NBA 2K24 faz um triplo no último segundo para garantir a vitória, fora dele acaba por fazer um turnover que lhe pode custar caro. Tal como vos falei no início, o jogo dedica a Kobe Bryant o modo Mamba Moments, passando por alguns momentos da carreira do jogador. Infelizmente fiquei desiludido, Kobe merecia muito mais do que sete momentos, em comparação com os 15, que Jordan teve no ano passado.
Merecia ter depoimentos de jogadores, histórias sobre a sua carreira e algo mais trabalhado e elaborado do que um simples modo em que nos dizem para cumprir três objetivos, mostram umas imagens desse jogo e lançam-nos para dentro de campo. É pouco para alguém que deu tanto à NBA. É certo que vamos ter de recriar os jogos em que fez 62 e 65 pontos, nos que ganhou uma data de ressaltos, mas o último é o Jogo 7 da Final de 2010 frente aos Boston Celtics, em vez de ser o da sua despedida em que obteve também a marca dos 60 pontos. Lá pelo meio, também me pergunto onde está o jogo contra os Toronto Raptors em que fez 81 pontos? Eram pelo menos mais dois momentos que marcam a sua carreira.
Outro dos modos de jogo habituais é o MyCareer, onde criamos o nosso jogador e o vamos evoluindo para se tornar o melhor de sempre. Da mesma forma que já o tem feito noutros anos, este modo integra a The City, uma cidade gigante onde competimos de diversas maneiras com outros jogadores online. A história deste NBA 2K24 é praticamente inexistente, sem nos contar aquelas novelas de superação, de passar no College, de nos prepararmos para o draft, lutar por um lugar na equipa durante a Summer League, etc… Isto faz falta para uma maior envolvência com o jogador que estamos a criar. Percebo que existem muitos jogadores anuais que não gostem de “perder tempo” com isto, mas podiam ter dado a hipótese de saltar essa parte. Desta forma, existe um vazio, onde fica a ideia que o jogador acaba por aterrar na NBA de pára-quedas.
Este ano, depois da criação do nosso jogador, escolhemos então em que equipa queremos jogar e somos logo escolhidos no draft. O nosso objetivo é ser o GOAT, o melhor jogador de todos os tempos. Para isso é preciso fazer boas exibições, ganhar jogos, títulos e ir ultrapassando objetivos em determinados jogos chave. Existem vários níveis de GOAT e é preciso ir evoluindo muito para chegar aos melhores dos melhores. Esta acaba por ser uma operação bastante penosa de se fazer, muito devido à forma como os nossos atributos evoluem. O que interessa é ter VC Coins, a moeda virtual do jogo para poder evoluir o nosso homem e das duas uma, ou passamos a vida a jogar NBA 2K ou compramos dinheiro virtual e nunca deveria ser assim. Para terem uma ideia, quem tem a versão normal do jogo tem de começar com um overall perto dos 60, mas se comprarem uma versão superior, já conseguem começar ali nos 73.
Esta diferença são mais ou menos os 100 mil VC Coins que para os obter dentro do jogo, teremos de jogar perto de 100 jogos, ou seja uma época bem sucedida. Esta moeda serve para tudo, o que torna as coisas ainda mais complicadas. Se quisermos comprar roupa nas lojas da The City, vão reparar que custam os olhos da cara e terão de fazer escolhas entre vestir bem ou evoluir o jogador. Pior ainda é a cidade não filtrar nem nivelar os jogadores que estão em cada servidor. É comum querer jogar em vários campos de rua e apanhar jogadores com mais de 90 de overall logo nos primeiros dias e tudo graças ao dinheiro que meteram no jogo. Ano após ano isto acontece e não será resolvido porque o lucro é abismal certamente.
Se não pensarmos nisso a The City até é um lugar divertido, onde completamos várias missões, jogamos 5vs5, 4vs4, 3vs3, 2vs2 ou até 1vs1, criamos uma equipa e podemos editar equipamentos, pavilhões e jogar com outras equipas criadas por outros jogadores, à boa maneira do Pro Clubs. Podemos andar de skate, este é gratuito, aliar-nos a uma facção da cidade, ir ao ginásio, apostar em resultados reais, ir às compras e mais uma data de atividades. Pena mesmo dar-se mais valor às microtransações do que ao valor real dos jogadores.
É por isso que gosto de dividir NBA 2K em duas partes e como sou daqueles que gosta de agarrar numa equipa para a levar ao título, fazendo trocas de jogadores, contratar staff e ajustar rotações prefiro jogar o MyEras, uma das introduções feitas o ano passado, e que está de regresso. Além de podermos jogar com os atuais jogadores na Era Moderna, o jogo permite começar em outros anos bastante marcantes da NBA. Além das já existentes Era Magic Johnson vs. Larry Bird; Era Jordan e Era Kobe Bryant há uma nova adição ali pelo início dos anos 10 que chamam a Era LeBron James, altura em que ele fazia parte dos Miami Heat.
Eu comecei duas épocas, uma na Era Moderna para jogar com os Boston Celtics e colocar o nosso Neemias Queta a jogar e outra na Era Lebron para jogar com os OKC Thunder que tinham, na altura, Kevin Durant, Russell Westbrook e James Harden ainda a dar os primeiros passos. Podem customizar uma data de configurações da Liga, desde o limite salarial, até votar mudanças profundas no funcionamento da própria organização. Podem também optar por jogar o MyEras Lite, um modo mais direto, sem grandes preocupações extra jogo em que escolhemos uma equipa e jogamos sem nos chatearmos com outras coisas.
Há ainda o MyTeam, o tal modo das cartas, à boa maneira do Ultimate Team do FIFA, agora EA FC, onde criamos uma equipa com o que nos vai calhando ou com o que vamos comprando ou obtendo em recompensas. Há diversos desafios, online e offline, partidas cooperativas, nomeadamente as de 3vs3 que são divertidíssimas. O Clutch Time, onde jogamos a última parte de um jogo, fazendo com que cada ponto seja quase decisivo. Há o Domination, onde se pode enfrentar todas as equipas de NBA, desafios diários, semanais que estão divididos por temporadas de cerca de um mês. Este ano há novidades no mercado de jogadores, podendo vender a qualquer altura e até comprar um jogador específico se ele não nos calhar. Existe agora uma espécie de tecto salarial para podermos participar nas ligas online, o que é extremamente interessante.
A WNBA, competição feminina, também não ficou esquecida e o modo The W é quase outro jogo dentro do próprio jogo. Podem jogar offline ou online, competir numa liga de divisões, criar uma jogadora e levá-la à glória, ou apenas fazer uma época com uma equipa, levá-la aos Playoff e tentar vencer o campeonato.
As franquias desportivas vão nos habituando, nestes últimos anos, a não evoluírem demasiado de um ano para o outro e apesar de ter boas melhorias dentro do campo, fico na dúvida se vale a pena pagar um preço total por um novo jogo para quem já tem o do ano passado. Se o compram todos os anos, podem avançar à confiança e vão sentir as melhorias, mas se costumam apenas jogar ocasionalmente diria para esperar por uma promoção. Este ano a 2K voltou a colocar à venda uma versão com o NBA League Pass que permite ter acesso a todos os jogos da liga real, programas, estatísticas e muitas outras coisas. Essa edição custa 150 euros, mas se são daqueles que costumam ter o serviço anual, acaba por ficar o jogo a apenas 30. Fica a dica.
NBA 2K24 é um jogo com dupla personalidade. Refina a jogabilidade dentro de campo e dá ainda mais realismo a cada partida que disputamos. No entanto, perde a bola em zona proibida e deixa muito por fazer nos imensos modos de jogo que tem. Além da ausência de uma história no MyCareer, Kobe Bryant merecia mais no modo que lhe foi dedicado.