A Nintendo é, provavelmente, a marca mais reconhecida no universo dos videojogos. Este ano celebra o seu 135.º aniversário — algo que pode parecer estranho, mas a verdade é que a companhia nipónica foi fundada a 23 de setembro de 1889. Obviamente que não se iniciou com produtos digitais, sendo os seus primeiros produtos cartas de jogos de mesa, e, quase um século depois, entre 1970 e 1980, é que se lançou na indústria das consolas.

Uma das grandes virtudes que sempre apreciei na Nintendo é que ao longo das décadas em que sou jogador, a companhia tem tipo sempre a capacidade de manter uma identidade própria. Nunca se deixou intimidar pelas marcas concorrentes – muitas das quais já desapareceram do mercado das consolas – e, com uma postura de não entrar em guerras comerciais diretas, foi seguindo o seu próprio caminho, por vezes acertando em cheio, outras vezes arriscando e não tendo grande sucesso. Acredito que foi precisamente essa visão singular que os fez chegar onde estão hoje, com uma ideia clara do que oferecer aos jogadores e conseguindo um lançamento muito bem sucedido.

Para isso acontecer, é impossível não recordar a sua “irmã mais velha”, a Nintendo Switch original. Lançada em 2017, revolucionou o mercado das consolas ao apresentar um conceito verdadeiramente inovador: uma consola híbrida, capaz de funcionar tanto numa televisão como em modo portátil. Adicionando a isso a tecnologia trazida pelos Joy-Con e a sua enorme biblioteca de jogos que foi construída ao longo de todos estes anos – que foi para muitos o lugar perfeito para acolher muitos dos jogos independentes de maior sucesso que já vimos – tornou-a a consola mais vendida da história da Nintendo.

Com todo este sucesso, era fácil perceber que a Nintendo Switch 2 teria de ser quase uma evolução natural de todo o conceito da Nintendo Switch original. A consola chega com melhores especificações técnicas, os novos Joy-Con 2 que introduzem funcionalidades únicas, como a possibilidade de funcionar como um rato e o novo CPU desenhado em colaboração com a Nvidia que permite à consola receber os jogos de nova geração com uma óptima qualidade e estabilidade.

Entrando agora na componente de hardware, e começando pelo ecrã, percebemos rapidamente que é uma das melhorias face ao modelo original. A consola vem equipada com um novo painel LCD de 7,9 polegadas e resolução Full HD (1080p) – um salto considerável em relação aos 720p da primeira geração. Além disso, agora suporta HDR10 e uma taxa de atualização variável (VRR) até 120 Hz – isto significa que o ecrã irá atualizar-se dinamicamente consoante os frames por segundo (FPS) que o jogo está a correr, isto é, se um jogo correr a 120FPS o ecrã será atualizado 120 vezes por segundo. Já no caso de correr a 60 FPS o ecrã será atualizado 60 vezes por segundo, não existindo assim perdas de FPS e garantindo uma experiência visual mais fluída e sem quebras de performance.

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Confesso que fiquei verdadeiramente impressionado com a qualidade deste novo ecrã LCD. Devo admitir que tinha algum receio de uma regressão significativa em relação ao modelo OLED, felizmente isso não aconteceu. O brilho é praticamente idêntico quando temos a consola de frente, embora os mais exigentes (picuinhas…) possam notar que em ângulos mais extremos, a OLED oferece um pouco mais de luminosidade, ainda assim, acredito que ninguém vá jogar a fazer o pino, ou em ângulos estranhos. Já a qualidade de imagem é excelente, com cores vivas e uma excelente nitidez.

No interior da consola, encontramos um processador personalizado desenvolvido pela Nvidia em colaboração com a Nintendo. Este chip foi desenhado para oferecer um desempenho significativamente superior, permitindo que vários jogos corram em 4K a 60 FPS quando a consola está ligada à dock. O suporte para ray tracing e tecnologias de inteligência artificial como o DLSS — upscaling em tempo real — tornam possível uma qualidade gráfica verdadeiramente impressionante para uma consola portátil.

Acreditem que as melhorias são evidentes desde logo, basta colocar um jogo da Nintendo Switch (mesmo os jogos que ainda não foram atualizados), para tirar partido do novo hardware. Nota-se uma redução significativa nos tempos de carregamento — devido não só ao processador mais rápido, mas também do novo sistema de armazenamento. Já nos títulos que foram atualizados para a Nintendo Switch 2, as diferenças são ainda mais claras: FPS mais altos e estáveis, melhor qualidade de imagem, resolução superior e tempos de carregamento muito superiores.

O armazenamento interno também foi significativamente melhorado. A consola conta agora com 256 GB de capacidade, utilizando tecnologia UFS, o que garante uma velocidade de leitura e escrita muito superior face ao modelo anterior. Para quem sentir necessidade de mais espaço, e acreditem que provavelmente vão precisar – principalmente devido aos jogos third-party – continua a ser possível utilizar cartões, mas agora tem de ser microSD Express, que podem ir até 2 TB. Esta combinação de maior capacidade e maior velocidade traduz-se em tempos de carregamento substancialmente reduzidos em todos os jogos.

Sendo uma consola que muitos jogadores irão usá-la em modo portátil, e muitas vezes em jogos online, era essencial a conectividade ter sido melhorada. Por isso, a Nintendo Switch 2 contra agora com Wi-Fi 6, garantindo ligações mais rápidas e estáveis, além do Bluetooth para ligação de acessórios sem fios. Encontramos ainda duas portas USB-C — uma na parte superior e outra na inferior —, uma entrada jack para auscultadores, a habitual ranhura para os cartuchos de jogo e, como novidade, uma pequena ranhura onde está o microfone, usado por exemplo para o Game Chat, que falaremos mais à frente.

Já na Dock, destacam-se também várias melhorias. A presença de uma porta LAN, que já existia na dock da versão OLED mas não na original, uma porta HDMI, a entrada USB-C para o adaptador de corrente e duas portas USB 2.0 na parte lateral para ligação de periféricos.

Visualmente, a consola também apresenta mudanças evidentes. A consola cresceu, ganhou alguns centímetros quer em altura como em comprimento, mas a espessura manteve-se praticamente igual. Com os Joy-Con 2 encaixados, as dimensões passam a ser 116 mm x 272 mm x 13,9 mm. Ainda em termos visuais, temos uma consola que dá a sensação de ser ainda mais robusta, toda ela preta com um acabamento mate, além de ter ganho algumas gramas, passando a pesar 534 g, Ainda assim, é super leve e muito confortável de jogar com ela em modo portátil.

Algo que também quero realçar é o novo suporte traseiro. Tal como no modelo OLED, este percorre agora toda a largura da consola, oferecendo maior estabilidade quando usada em modo de mesa. A diferença está mesmo no novo suporte, que embora bastante fino é mais sólido, possivelmente feito numa liga metálica, oferecendo bastante confiança de jogar com a consola neste modo, sabendo que mesmo que a mesa abane ela não irá cair. Além disso, permite um ângulo de abertura bastante assinalável — diria que é de aproximadamente 150º.

Os Joy-Con também foram alvo de uma renovação significativa, tanto em termos de design como de funcionalidades, passando agora a designar-se Joy-Con 2, sendo que o destaque de maior impacto vai sobretudo para as novas dimensões e para o incrível sistema de encaixe magnético. A Nintendo Switch 2 possui agora dois ímanes laterais em cada lado, que prendem os Joy-Con a partir dos botões SL e SR que agora são em aço. É desta maneira que acontece a fixação magnética, que é surpreendentemente forte e depois de testada transmite-nos uma sensação de segurança e robustez. Para terem noção, é possível segurar a consola apenas por um dos Joy-Con e agitá-la sem que ela se solte, a não ser, que pressionemos o botão de desencaixe.

Quanto à tecnologia HD Rumble bem conhecida dos Joy-Con originais, foi igualmente melhorada, oferecendo vibrações precisas, detalhadas e mais fortes. Um excelente local para testar estas melhorias é no Nintendo Switch 2 Welcome Tour onde podemos experimentar alguns mini-jogos que nos mostram esta nova capacidade dos Joy-Con. E confesso que fiquei bastante intrigado para ver como alguns jogos vão tirar partido destas novas sensações de maneira a aumentar a imersão nos jogos.

Mas a grande novidade está no chamado modo mouse. Ao colocarmos as correias (straps) e virarmos os Joy-Con na horizontal, estes podem ser usados como um rato sobre uma superfície — mesmo que esta não seja totalmente lisa. Funciona, por exemplo, em cima de um sofá ou das pernas, e mesmo assim é possível obter uma óptima precisão. Além disso, e por os Joy-Con terem giroscópio integrado, é possível executar movimentos rotativos com grande fidelidade, algo que não encontramos num rato normal.

Esta inovação irá ter um impacto direto nos jogos que chegarão à Nintendo Switch 2. Percebemos rapidamente como os shooters e os jogos de estratégia, que muitas vezes nos obrigam a ter uma mira afinada, uma navegação rápida, ou andarmos por interfaces mais completas, ganharam aqui uma nova vida. A grande dúvida que muitos terão é se funciona assim tão bem, e a resposta é simples e direta: funciona na perfeição, de uma forma que me deixou claramente impressionado. O controlo é extremamente preciso, os botões são bastante responsivos, e não tenho dúvidas de que será uma funcionalidade amplamente explorada em exclusivos da Nintendo, e certamente com ideias inovadoras como a marca sempre nos habituou.

Algo que também é facilmente perceptível é a melhoria na sensibilidade dos analógicos. Agora, os movimentos mais suaves e subtis são detectados com maior precisão, oferecendo-nos uma jogabilidade mais apurada. Mesmo sem estarmos a jogar nenhum jogo, só ao agarrarmos os Joy-Con e movimentarmos os analógicos conseguimos logo detectar essa diferença. Outro destaque são os gatilhos – R, L, ZR, ZL – agora maiores e mais largos, sendo muito mais fácil encaixarmos os dedos. Isso nota-se ainda mais quando estamos a usar os Joy-Con no modo mouse, já que nesses casos, esses botões são essenciais.

Mas nem tudo conseguiu ser melhorado, e existe um ponto em que a Nintendo Switch 2 perde em relação ao modelo original: na autonomia da bateria. Segundo dados oficiais da Nintendo, a nova consola oferece entre 2 a 6,5 horas de utilização, dependendo do jogo e das nossas configurações. Naturalmente, títulos mais exigentes irão consumir mais energia, assim como quanto maior o brilho do ecrã, maior será o consumo. Ainda assim, devo confessar que para o salto geracional que aconteceu, acho bastante interessante o tempo estimado de bateria.

Em termos de desempenho – e deixando de lado as especificações técnicas —, a experiência de jogo é excelente. Todos os títulos que testei correram de forma fluída e com uma estabilidade notável. Os jogos que foram atualizados para tirar partido das capacidades da Nintendo Switch 2 apresentam melhorias evidentes: maior resolução, texturas mais detalhadas e uma performance mais sólida. O mesmo acontece aos jogos lançados em simultâneo com a consola, como Mario Kart World ou Split Fiction, que se mantêm estáveis em todos os momentos de jogo, mesmo naquelas sequências mais exigentes.

Já em modo portátil, o desempenho continua impressionante. A consola apresenta resultados bastante consistentes, conseguindo rivalizar — e muitas vezes superar — outras consolas portáteis disponíveis no mercado. Diria mesmo que é incrível como não temos quebras ou interrupções durante as sessões de jogo, mantendo-se os jogos sempre estáveis. No que toca à portabilidade, é importante referir que o aumento de tamanho da consola é notório quando a usamos em modo portátil. Não que seja desconfortável, ou que deixe de ter a portabilidade que sempre foi reconhecida na Nintendo Switch original, mas para quem, como eu, estava habituado a uma consola mais compacta, vai certamente notar essa diferença. Ainda assim, é algo que depois de umas boas sessões de jogo, desaparece.

Outro ponto incontornável no lançamento da Nintendo Switch 2 é a impressionante quantidade de jogos disponíveis desde o dia de lançamento. Nota-se claramente que os estúdios third-party passaram a ver esta nova consola como uma plataforma viável para lançamento de muitos dos seus títulos mais exigentes, deixando para trás as limitações técnicas da geração anterior. Exemplo disso é Yakuza 0: Director’s Cut, que foi lançado como exclusivo e traz consigo conteúdo adicional, demonstrando que a consola aguenta claramente jogos mais exigentes.

A retrocompatibilidade é outro ponto de destaque e até algo essencial. A Nintendo Switch 2 permite jogar praticamente todo o catálogo da consola anterior, tanto em formato físico como digital. Esta funcionalidade permite que se faça uma transição sem qualquer problema para a nova consola, permitindo manter toda a biblioteca que acumulámos ao longo dos anos, e com o bónus de melhorias de desempenho que falei anteriormente. Além disso, vários jogos já receberam — e outros certamente receberão — atualizações específicas para tirar partido do novo hardware, beneficiando de melhorias nas texturas, iluminação, resolução e efeitos visuais.

No que toca aos exclusivos, a Nintendo continua a demonstrar o motivo de ser uma referência na indústria. A empresa habituou-nos a novos lançamentos de forma constante — praticamente um por mês durante grande parte de toda a vida da Nintendo Switch original — e tudo indica que a Nintendo Switch 2 seguirá essa tradição. São precisamente estes títulos que conseguem demonstrar da melhor maneira as capacidades técnicas da consola, recorrendo frequentemente a ideias inovadoras e a uma optimização impressionante.

Como prova disso, basta ver os títulos exclusivos já confirmados para este ano: Pokémon Legends: Z-A – Nintendo Switch 2 Edition, Super Mario Party Jamboree – Nintendo Switch 2 Edition + Jamboree TV, Donkey Kong Bananza, Hyrule Warriors: Age of Imprisonment, Drag x Drive, Kirby Air Riders, Kirby and the Forgotten Land – Nintendo Switch 2 Edition + Star-Crossed World e Metroid Prime 4: Beyond – Nintendo Switch 2 Edition.

Mas também existem grandes títulos third-party a serem lançados ainda este ano: ELDEN RING: Tarnished Edition, FINAL FANTASY VII REMAKE INTERGRADE, Hades II, Borderlands 4, Tony Hawk’s Pro Skater 3 + 4, EA SPORTS Madden NFL 26, Story of Seasons: Grand Bazaar – Nintendo Switch 2 Edition, RAIDOU Remastered: The Mystery of the Soulless Army, Star Wars Outlaws, entre outros.

Passando às funcionalidades, existem duas totalmente novas que se destacam das demais e não podia deixar de as referir, o Game Chat e o Game Share, que são pedidos dos jogadores desde o lançamento da Nintendo Switch original.

Começando pelo Game Chat, esta funcionalidade está agora totalmente integrada na interface da consola, sendo que a podem iniciar pela interface como com um simples toque no botão “C” dos Joy-Con 2. Ao ativar a funcionalidade, temos a opção de criar uma conversa ou consultar a lista de amigos que já se encontram em chamadas. Depois de escolhidos os participantes, inicia-se uma chamada de voz através do microfone embutido na própria consola.

Mas a Nintendo foi mais longe: além da voz, é possível ativar a partilha de ecrã — com a salvaguarda de que a transmissão é automaticamente interrompida ao aceder a menus ou definições privadas — e até iniciar uma chamada de vídeo. Esta última requer o novo acessório Câmara para a Nintendo Switch 2 (vendido separadamente) ou uma câmara USB-C compatível. No modo dock, também é possível utilizar câmaras USB 2.0, desde que sejam suportadas pela consola.

Uma questão que certamente surgirá a muitos jogadores é se estas funcionalidades afectam o desempenho dos jogos. No entanto, durante os testes — mesmo com todas as opções ativas e em títulos exigentes como Split Fiction — a performance manteve-se totalmente estável. A qualidade do áudio foi surpreendentemente boa, com voz clara e sem ruído de fundo. No caso da câmara e da partilha de ecrã, a resolução é visivelmente reduzida, mas tudo indica que se trata de uma escolha intencional da Nintendo para preservar recursos do sistema e garantir a estabilidade da jogabilidade. A funcionalidade cumpre plenamente o seu propósito: permitir que os jogadores se vejam e partilhem o que estão a fazer sem comprometer o desempenho.

Já o Game Share acredito que ainda esteja numa fase inicial. Atualmente, o número de jogos compatíveis é bastante limitado, mas testei a funcionalidade com Super Mario Odyssey e 11 Worldwide Games, e a experiência revelou-se positiva. A jogabilidade é fluida, e jogar em conjunto à distância torna-se viável e divertido. A latência é bastante reduzida, especialmente quando a ligação é feita por cabo de rede. No entanto, em termos visuais, nota-se claramente uma resolução baixa, com a imagem a apresentar-se bastante pixelizada.

A Nintendo Switch 2 é a prova de que a Nintendo continua a saber exatamente que passos dar, de forma inteligente e estratégica. Em vez de estar a criar algo totalmente novo, a empresa optou por aperfeiçoar um conceito que já era brilhante, elevando-o com melhorias técnicas e novas funcionalidades que abrem as portas a novos estúdios e a novas ideias. As novas funcionalidades do Joy-Con 2, o reforço no desempenho gráfico, o suporte a funcionalidades pedidas há vários anos como Game Chat mostram uma Nintendo mais atenta às necessidades dos jogadores e preparada para o futuro. Manter a retrocompatibilidade era algo essencial e isso aconteceu de forma sublime, permitindo aos jogadores continuar a explorar a sua biblioteca, agora com melhorias visuais e de performance em diversos jogos. Juntando-se a isto um catálogo de lançamento sólido, recheado de exclusivos promissores e um novo entusiasmo por parte das editoras third-party.

Ser o lançamento mais bem-sucedido de sempre de uma consola, mostra bem como a Nintendo Switch 2 é uma aposta ganha, e certamente será uma das consolas mais bem sucedidas de sempre.