Developer: Sunnyside Games
Plataforma: Xbox Series X|S, PlayStation 5, Nintendo Switch e PC
Data de Lançamento: 08 de Junho 2023
No meio de tantos jogos com orçamentos elevadíssimos, a tentar oferecer aos jogadores mundos abertos, uma exploração sem limites, recursos para jogar durante várias horas ou até meses, através do lançamento de conteúdos e da transformação de jogos em serviços; há dois géneros, que por vezes se cruzam, que estão a ganhar uma maior preponderância no universo indie: os side-scrollers e os metroidvanias.

O mais curioso é que, têm sido estes dois géneros que, neste ano, têm-me surpreendido com a sua capacidade de se reinventar, explorar novas abordagens no level design e no salto qualitativo na qualidade gráfica e na construção de narrativas. Se olharmos para os anúncios dos últimos eventos desta semana, especialmente do Future Games Show e do Future of Play, podemos ver a quantidade de jogos neste género e as várias abordagens que os developers estão a ter para renovar estes clássicos.
Se olharmos para o caso mais recente, o do Last Case of Bennedict Fox, que já analisámos aqui, desde a mutação dos cenários 2D, para um 2.5D, dando até a sensação tridimensional, com uma profundidade e uma imersão totalmente nova no género. Isso faz também com que o level design seja abordado de uma outra forma, com acções a serem executadas em vários planos, em várias dimensões, e a narrativa ganha novos contornos com a qualidade gráfica de cut scenes e até do uso de várias perspectivas e câmaras para contar as histórias dos protagonistas.
Nocturnal, o jogo da Sunnyside Games, confirma, em absoluto estas questões. Com uma arte primorosa, jogabilidade desafiante e diversa e uma fluidez soberba, este metroidvania em formato side-scroller é obrigatório para todos aqueles que têm um PC, uma PS5, uma Nintendo Switch ou uma Xbox Series S|X.
O jogo é uma odisseia de exploração de ação que pedirá aos jogadores para repelir uma névoa sinistra que envolve uma ilha antiga. Usem o fogo para descobrir os segredos que estão escondidos sob a névoa num jogo 2D com um estilo de arte bastante aperitivo.
Após uma difícil jornada pelo mar agitado, Ardeshir, um soldado da Ordem da Chama Perpétua, regressa à sua ilha natal de Nahran. Tal acontece porque Ardeshir soube que a Névoa tomou conta da ilha e decide voltar para encontrar a sua irmã, Arsia. Ela que ainda está em algum sítio daquela terra condenada, ocupada por criaturas da escuridão e pelos soldados seduzidos pelas promessas do Invisível que tudo escurece.
Como já perceberam, o nome do jogo, e a ligação entre a luz e as trevas, com o fogo como elemento que ilumina a escuridão, são os elementos principais de Nocturnal. Algo que vai desde a narrativa, como descrevi, mas que passa também para as mecânicas e para a jogabilidade em si.
A chama pode ser usada de diversas formas e pode proteger das Névoas, incendiar o cenário, ligar algumas máquinas e ser usada para queimar seres de magia sombria insensíveis ao armamento convencional. Ardeshir empunha assim uma espada que fica em chamas quando toca no fogo, algo que será usado tanto em combate, como para atravessar zonas onde a Névoa é densa. E se respirarmos essa Névoa, é o nosso fim. Sendo assim, vamos usar a nossa espada como catalisador, basta tocarmos numa tocha flamejante para que a nossa espada fique envolta em fogo, mas durante pouco tempo.

Vamos ter um medidor na parte inferior do ecrã que nos indica que a chama se está a extinguir na espada e precisamos de encontrar ou outra tocha para reactivarmos este timer, ou ir acedendo novos pontos de luz e de “recarregar” a nossa espada para continuarmos. É claro que mediante o desenrolar do jogo, os desafios vão sendo mais complicados, desde termos que executar um número de acções e saltos, cronometrando todos os movimentos para que a espada não se apague, como há também momentos em que o único ponto de luz/fogo vai se mexendo e temos que acompanhar a acção enquanto tentamos derrotar os vários adversários que vão surgindo.
https://youtu.be/nq4rPzyQg40
É muito curioso, como algo tão simples, acaba por ter uma panóplia tão grande de acções e propostas do level design ao longo das mais de 5 horas de jogo. O jogo é relativamente curto, mas também não poderia ser de outra forma, pois chegamos ao fim e percebemos que tanto a história, como as habilidades de Ardeshir não podem evoluir mais, e, em vez de esticarem, os developers decidiram assumir esse risco, e para, tem o tempo indicado.
Como qualquer metroidvania, vão andar aos pulinhos, vão ter a oportunidade de atacar os inimigos com uma espada, depois com o auxílio de uma adaga também, mas será o elemento fogo que fará, mais uma vez diferença. Não só, porque alguns inimigos só podem ser verdadeiramente atingidos pelo fogo, como há um ataque poderoso que podemos lançar e, o mais importante, concentrar o fogo na nossa personagem é a única forma de nos curarmos.

Por isso, o fogo, é também um elemento central na componente gráfica de Nocturnal. A relação entre o fogo e a escuridão, para ser mais preciso, onde os efeitos são vividos e graciosos, espalhando-se em ondas espontâneas, vemos quase o efeito do calor dissipar a névoa a cada movimento, livre de loops de animações. Diria que houve mesmo momentos em que andei com Ardashir para um lado e para o outro só com a espada em chamas para observar a beleza da animação, é mesmo incrível.
O combate é rápido e eficiente, baseado em golpes de espada, depois com acesso às adagas arremessáveis, que também podem estar a flamejar, e com a esquiva e o podermo-nos baixar, como restantes comandos utilizáveis. Basicamente também o combate será uma questão de timing, percebendo os esquemas de combates dos vários inimigos, esquivando quando necessário, recuperando vida quando tivermos um tempinho, e concentrar o nosso fogo nos adversários.

A variedade dos inimigos é boa, mas a dos Bosses nem tanto, para ser honesto. São apenas quatro, sendo o segundo uma variação do primeiro e o último bastante básico, oferecendo a Ardeshir, agora muito mais poderoso, uma maior facilidade do que desafio, atrapalhando a intensidade do clímax que combinaria com a determinação implacável do soldado perante a Névoa corruptora.
Em termos de curva de aprendizagem e desenvolvimento do jogo, temos uma skill tree relativamente simples, mas cujos pontos para ela não são o mais fácil de encontrar. Nesta skille tree podemos aumentar os nossos pontos de vida e cura, o tempo de duração do fogo e a velocidade de movimento enquanto a espada está em chamas, para além de desbloquearmos um ataque poderoso.
Por fim, dizer que o jogo não tem um grande factor de repetibildiade, apenas com um Modo Speedrun, uma adição singela, e que se não encontrarem os collectibles todos do jogo, são 11 textos ao todo, vão ter que repetir Nocturnal todo novamente, visto que não há a possibilidade de escolher um capítulo ou trecho. O que vale é que o jogo é curto.
Nocturnal é um excelente jogo para terminar em uma ou duas sessões de jogo. Ninguém vai ficar mal servido com a proposta da Sunnyside Games, e se ficar, é porque queria mais. Para mim tempo o tempo certo para ser uma excelente experiência, graficamente é muito bonito, com uma das melhores animações de chamas que já vi, com o combate rápido e fluído e com quebra-cabeças interessantes e bem conseguidos. Por mim, está bom!




