Developer: Nine Dots Studio
Plataforma: PC, PlayStation 4 e Xbox One
Data de Lançamento: 26 de Março de 2019
Outward é um bom exemplo de como os jogos indie por não submeterem tanto à pragmática orientação pelo lucro, ganham espaço para experimentar novas e interessantes ideias, contruídas quase exclusivamente através da paixão pelos videojogos.
O jogo desenvolvido pela Nine Dots Studio choca contra muito do que conhecemos do género RPG mais convencional. Se os RPG’s actuais tentam transportar o jogador para uma posição de empoderamento, em Outward é o inverso, como que um regresso à origem dos RPG’s, quando ainda nos tabuleiros, eramos nós quem criávamos as nossas histórias.
A intenção por trás do jogo é colocar-nos no papel de uma pessoa perfeitamente normal num universo de fantasia temporalmente medieval, onde os elementos de survival reforçam as dificuldades de um cenário cuja dinâmica raramente nos dá tréguas.
Poderá parecer um cliché, mas somos nós quem faz o próprio caminho, sem grandes instruções ou explicações. E o desenvolvimento da história vai depender essencialmente dos NPC’s com os quais vamos interagindo, fazendo e cobrando favores.
Explorar, experimentar e aprender são as palavras que melhor descrevem Outward, que por essa razão poderão afastar os jogadores sem a paciência necessária para uma evolução que leva o seu tempo em praticamente todos os aspectos.
Contudo, tenta encorajar o jogador por meio de uma mecânica muito singular, porque em Outward o protagonista nunca morre. A derrota será uma constante, e o erro e o fracasso farão mesmo parte de nós. O propósito é percorrer toda a história de uma aventura, do seu início, ao fim.
A forma encontrada para tornar esse pormenor tanto possível, como credível, foi tornar cada falhanço num percalço, e assim, em vez do personagem morrer e voltar ao checkpoint anterior – tal como na esmagadora maioria dos jogos –, aqui, simplesmente acabamos capturados, numa qualquer jaula fria, ou abandonados no meio da floresta, enquanto acordamos doridos da última sova.
O resultado é realmente interessante e poderá até abrir portas para ser aproveitado em futuros jogos, já que obriga a que sejamos mais cautelosos nas decisões que tomamos e nas batalhas que escolhemos. Todas as experiências, boas ou más, dão origem a que a história vá ganhando cada vez mais complexidade, porque tudo vai evoluindo conforme os acontecimentos, sendo que todos têm a sua importância.
A partir do momento que escolhemos a aparência do nosso personagem e entramos no mundo de Aurai, somos largados ao nosso destino, tornando a jornada rica e única para cada jogador. Esse é o verdadeiro brilho de Outward.
Ao contrário do que é normal encontrar nos RPG’s, o combate é apenas um aspecto do jogo, e nem por isso central. O planeamento sim, é fundamental. Porém, o elemento de maior relevância é mesmo o crafting. Tudo se crafta em Outward, especialmente o que é vital para a nossa sobrevivência. Na verdade, é possivelmente dos sistemas de crafting mais brilhantes já criados num videojogo e dividido em três categorias: Backpack Crafting, Cooking e Alchemy.
O Backpack Crafting oferece as opções mais básicas, onde somente precisamos da nossa mochila, de maneira a atearmos um fogo, ou mesmo para produzirmos itens como setas; a Alchemy permite criarmos poções; e o Cooking, tal como o nome sugere, serve para cozinharmos os alimentos, de forma a evitar doenças causadas por ingerirmos alimentos crus. Um sistema tão bem pensado, que até o sal será usado para conservar os alimentos.
Mas existe ainda outra particularidade inédita num RPG, porque além do modo de Co-op Online, há também possibilidade de ser jogado localmente com um amigo, ou seja, em split-screen. Uma novidade que é de tal ordem experimental que poderá mesmo ser pioneira para um estilo que grita por inovação.
Tem as suas limitações graficamente, mas também não podemos esquecer que foi desenvolvido por estúdio independente. Ainda assim, a construção dos cenários está fantástica, com uma notória dedicação por parte da equipa de desenvolvimento. Todos as paisagens e locais são diferentes uns dos outros, e há outra razão para isso, já que neste jogo, não existem quaisquer ajudas que nos guiam por onde temos de ir, e a navegação vai depender do vosso sentido de orientação e das referências que memorizarem pelo caminho.
Não será um jogo para todos, mas merece um lugar especial nos RPG’s pela sua coragem em desenvolver ideias que à partida não eram sequer consideradas para o género. Numa altura em que a variedade nos videojogos parece querer cada vez mais estreitar-se, Outward prova que a criatividade continua a ser o recurso mais importante em qualquer forma de arte.