Developer: P-Studio, ATLUS, SEGA
Plataforma: Xbox One, Xbox Series, PlayStation 4, PlayStation 5 e PC
Data de Lançamento: 2 de Fevereiro de 2023
Em 2006, a indústria dos videojogos testemunhou o lançamento de uma obra-prima que deixaria uma marca duradoura no estilo dos RPGs japoneses: Persona 3. Desenvolvido pela Atlus, este título não só se destacou pelo seu enredo complexo e pelas personagens memoráveis, como introduziu ainda inovações revolucionárias que tiveram uma forte influência no género.
Uma das características mais distintas de Persona 3 foi a sua abordagem única de gerir uma vida dupla. Os jogadores tinham de equilibrar a vida diária de um estudante com as responsabilidades de combater criaturas sobrenaturais durante a noite. Este sistema inovador adicionou autenticidade e imersão, já que as nossas escolhas afectavam diretamente a progressão do jogo, criando um sentido de urgência e significado para cada acção tomada.
Outro aspeto inovador foi o sistema de combate. Persona 3 introduziu o conceito das “Social Links”, que eram laços emocionais que os jogadores podiam estabelecer com outras personagens. Estes laços influenciavam directamente a eficácia das Persona (criaturas invocadas para a batalha), além de contribuírem para o desenvolvimento da narrativa e aprofundar a ligação emocional dos jogadores com o resto do elenco.
A atmosfera sombria e adulta do jogo também foi um desvio dos tropos típicos dos JRPGs da época. Persona 3 abordou temas como a morte, isolamento e identidade, de uma forma madura e provocadora, capturando a atenção de jogadores que procuravam uma narrativa mais intrincada e envolvente.
À medida que a indústria dos videojogos cresceu, a tendência de remasters e remakes tornou-se proeminente. Persona 3, com toda a sua originalidade e impacto, inevitavelmente atraiu a atenção desta nova e actual disposição. Os fãs clamaram por uma revitalização do clássico, ansiosos para experimentar a história envolvente e os sistemas inovadores com gráficos mais modernos e outras melhorias. A Atlus, em resposta a essa demanda fervorosa, eventualmente cedeu a esta tendência, passando para o P-Studio a missão de nos trazer este remake.
E assim, o anunciado Persona 3 Reloaded permitirá que uma nova geração de jogadores explore a magia do jogo pela primeira vez, ao mesmo tempo que irá oferecer uma experiência aprimorada para os veteranos que desejam reviver a nostalgia enquanto desfrutam de melhorias técnicas e visuais, onde continuará a inspirar e a cativar audiências muito para além do seu lançamento inicial.
A história de Persona 3 Reloaded leva-nos a assumir o papel de um novo estudante que foi transferido para a Escola Secundária de Gekkoukan. Uma vez que somos alguém com o poder de operar durante a Dark Hour, somos imediatamente recrutados pelo esquadrão anti-sombra chamado S.E.E.S., que tem o objectivo de encerrar todo o incidente investigando a enigmática estrutura labiríntica da Tartarus Tower. Acontece que esta é a tua escola, embora numa versão muito diferente daquela que conhecemos.
A “Dark Hour” decorre entre 23h59 e 00h é apresentada como um período sinistro em que a humanidade se transforma em caixões e criaturas chamadas Shadows emergem. A única forma de resistência existe naqueles capazes de invocar e controlar os Persona, e levar estes seres mitológicos para lutar em seu nome. O protagonista é uma dessas pessoas, e o seu dormitório passa a ser a base secreta do S.E.E.S.
Como na maioria dos títulos deste franchise, Persona 3 Reload apresenta uma jogabilidade dividida em duas partes. Durante o dia, iremos participar em atividades escolares normais, sociabilizando com colegas e amigos e realizando tarefas do dia-a-dia. Este é um ponto fundamental para o desenvolvimento da personagem, já que irá fortalecer os “Social Links”, que, por sua vez, dão poder aos Personas, cuja ênfase na preparação para a incursão na Tartarus requer um certo pensamento estratégico e obriga a alguma reflexão na gestão de recursos.
A exploração da torre de Tartarus é essencial na jogabilidade, visto que se associa ao sistema de progressão. O uso de destas entidades conhecidas por “Personas”, concedem habilidades especiais, sendo a mecânica elementar que está na base do combate tático nas batalhas contra as Sombras. A ligação entre a escola e a torre Tartarus cria uma relação interessante no gameplay, separando o tempo entre actividades normais diurnas e uma exploração noturna mais intensa.
Persona 3 Reload possui a mesma trama do jogo original. Existem novas cenas, novos diálogos e algum conteúdo inédito, mas não há nada que vá surpreender verdadeiramente quem jogou o título de 2006. É dada aos jogadores a oportunidade de explorar Tartarus, derrotar as Sombras, conviver com amigos e melhorar a personagem. Muito disso é idêntico ao que ocorre em Persona 4 e Persona 5, no entanto, os Social Links não concedem bónus especiais como nestes últimos dois jogos.
Por outro lado, foram adicionadas muitas mais opções para o que pode ser feito durante os períodos em que as personagens socializam. Além de ser possível passar tempo com cada membro do grupo, vamos ainda poder ver filmes, ou até aprender a cozinhar. É algo que concede uma perspectiva mais profunda sobre as personagens, mas tem igualmente benefícios ao nível das habilidades passivas, levando a que possam melhorar as suas capacidades de diferentes formas.
Há ainda mudanças na navegação pela Tartarus Tower, dado que o sistema de fadiga foi removido, e agora podemos deslocar-nos mais rapidamente pelas dungeons, o que é bastante útil se tivermos em consideração as quantidade de andares e o conteúdo disponível. Algumas das novidades que podemos encontrar são random events como o minigame Greedy Shadows, e claro, as Monad Doors, que nos dão acesso a intensas batalhas com bosses, com diversas recompensas à nossa espera que valem bem a pena.
O sistema de combate é muito familiar para quem conhece o gameplay da franquia, sendo mais uma refinação do original do que algo realmente novo. Atingir os pontos fracos elementares permite realizar Shift (conhecido nos jogos anteriores como um “Baton Pass”) e assim trocar de turno entre personagens. Além de que vamos poder usar também novas habilidades poderosas chamadas “Theurgy”, que ficam disponíveis assim que uma determinada barra é preenchida e depende directamente da personalidade de cada personagem.
Visualmente, e como era de esperar, melhorou significativamente. Conserva a alma do original, mas as animações, texturas e cinemáticas estão agora num patamar bastante superior e isso é desde logo evidente. Felizmente, o estúdio não se limitou a embelezar o que já havia sido criado, e mesmo para quem jogou Persona 3 há quase 20 anos, sentirá aqui uma experiência com muitas diferenças.
Quanto à parte sonora, podem contar com muitas músicas novas e versões remasterizadas dos clássicos. O voice acting melhorou substancialmente, sendo que o casting tem inclusivamente novos intérpretes, e na maioria dos casos com performances superiores aos actores anteriores. É um dos pontos fortes de todo o jogo, e que em muito contribui para a imersão que os jogadores procuram.
Persona 3 Reload é um óptimo remake de um dos mais importantes jogos da saga. As melhorias na parte visual e na jogabilidade aproximam-nos da qualidade dos jogos mais recentes da franquia, e isso já é elogio suficiente. Um jogo que os fãs de Persona não vão querer perder.