Developer: Game Freak, Wonderfy
Plataforma: Nintendo Switch, iOS, Android
Data de Lançamento: 22 de Julho de 2025
Uma das surpresas mais curiosas da Pokémon Presents de 22 de julho de 2025 foi o lançamento repentino de Pokémon Friends. Ao contrário de muitos dos títulos mais recentes centrados nas adoradas criaturas da franquia, este não aposta na aventura nem na batalha, mas sim numa abordagem mais lúdica e educativa. Desde o primeiro momento, fica claro que se trata de um jogo pensado para um público mais jovem, o que é algo essencial a ter em conta antes de o avaliar.
O conceito base é bastante simples, mas bem pensado: através da resolução de pequenos desafios lógicos e matemáticos, obtemos novelos de lã, que depois utilizamos para criar peluches de Pokémon numa máquina especial. Esta premissa serve de base para dezenas de minijogos de raciocínio que estimulam o pensamento geométrico, a percepção espacial e até a memória visual. Embora a experiência possa parecer demasiado básica para um adulto, a verdade é que, ao ser jogado por crianças — como tive a oportunidade de observar ao lado da minha filha —, revela-se divertida, estimulante e até cativante.
A narrativa não é propriamente o foco, mas serve o seu propósito. Assumimos o papel de uma personagem que realiza o sonho de viver em Think Town, uma cidade completamente obcecada por Pokémon de peluche. O nome da cidade, “Think”, não é acidental: transmite logo a ideia de que aqui se vem para pensar, resolver, desafiar o cérebro, algo que, convenhamos, faz falta num mundo cada vez mais estranho.
É dentro desta cidade que tudo acontece. A nossa casa é o centro de operações, onde está instalada a máquina que transforma lã em peluches. O tipo de Pokémon que surge é influenciado pelo tipo de lã usada, o que introduz um leve elemento de aleatoriedade e colecionismo.
Os desafios surgem com o objetivo de desenlear lã para colocarmos na máquina, para isso temos de resolver três conjuntos de minijogos por cada novelo, cada um composto por vários desafios sequenciais. Quanto mais rápidos formos, maior a quantidade de lã limpa que conseguimos. À medida que os puzzles vão sendo completados, a dificuldade aumenta de forma progressiva, embora, como adulto, essa dificuldade nunca chegue a ser particularmente desafiante. No entanto, para crianças pequenas, o ritmo é perfeitamente equilibrado.
É importante referir desde já que existem dois DLC já disponíveis para o jogo, e foi com ambos adicionados que realizei esta análise. Com esse conteúdo extra, posso dizer que a variedade de minijogos se torna bastante interessante e diversificada. Para dar uma ideia do que esperar, há desafios como adivinhar a sombra projetada por uma figura 3D, ou perceber qual a figura resultante de um corte ao meio de um objeto tridimensional – um exercício que exige uma boa capacidade de visualização mental. Outros desafios incluem labirintos, manipulação de espaço, contagem de elementos ocultos e até pequenos jogos de raciocínio rápido e memória.
É fácil para qualquer fã mais velho de Pokémon achar que o jogo é “demasiado simples” ou “sem conteúdo”, mas essa crítica ignora completamente o público-alvo. Quando o jogo é entregue a uma criança, e se observa a forma como ela se envolve, experimenta e vibra com cada puzzle superado — como testemunhei com a minha filha — percebemos que a Game Freak e a Wonderfy criaram algo muito especial. A sensação de conquista que uma criança sente ao resolver um quebra-cabeças e, em troca, ver sair da máquina um peluche do seu Pokémon favorito… é mágica. E difícil de descrever em palavras.
Além dos puzzles, Pokémon Friends inclui uma vertente de missões diárias muito simples, nas quais os habitantes de Think Town pedem peluches específicos, seja de um certo tipo (como Fogo, Água, etc), de determinado tamanho, ou até de um Pokémon em concreto. Ao entregarmos o peluche certo, recebemos como recompensa mobiliário e objetos decorativos.
Esse mobiliário pode ser usado para decorar pequenas divisões dentro da nossa casa, algo que, à partida, não me diz grande coisa. No entanto, bastou ver a dedicação e entusiasmo da minha filha a organizar cada peluche com carinho, a criar simetrias, a escolher os papéis de parede e os móveis certos, para perceber como esta funcionalidade é, afinal, um dos grandes trunfos do jogo. É um espaço de criatividade, de expressão pessoal e de diversão pura para os mais novos.
A personalização é mais profunda do que parece: é possível empilhar objetos, rodá-los, reorganizar o espaço à vontade e até combinar diferentes temas visuais. É um mini-sandbox de decoração com os Pokémon favoritos da criançada.
Na Nintendo Switch, Pokémon Friends pode ser jogado com os Joy-Con, com o Pro Controller ou utilizando o ecrã tátil da consola. Embora todas as opções funcionem bem e o jogo responda de forma competente a qualquer dos controlos, é com o touch screen que as crianças tiram maior proveito da experiência. Nota-se uma diferença clara na forma como interagem com os minijogos e, sobretudo, com a decoração das salas. O toque direto permite-lhes um controlo mais intuitivo e natural, especialmente para mãos pequenas habituadas a tablets e smartphones, e isso torna toda a experiência muito mais envolvente e acessível.
Mas nem tudo é positivo. Um dos problemas mais evidentes prende-se com a progressão imposta pelo próprio jogo. Mesmo na versão da Nintendo Switch, muitas funcionalidades estão limitadas, como é o caso das missões dos habitantes de Think Town. Nos dispositivos móveis, ainda se compreende este tipo de estrutura, já que segue o modelo típico de jogos mobile, com conteúdos racionados diariamente, e é precisamente por isso que raramente jogo nessa plataforma. No entanto, na Switch, essa limitação perde completamente o sentido. Estamos a falar de uma experiência paga numa consola, onde o jogador devia ter liberdade total para avançar ao seu ritmo, sem existir este tipo de restrições.
Outro ponto negativo difícil de ignorar é a ausência da língua portuguesa. Numa experiência claramente desenhada para crianças, não disponibilizar legendas ou menus em português é incompreensível. Muitas crianças não sabem ainda ler em inglês, o que obriga os pais a intervir constantemente. Para uma franquia tão popular e global como Pokémon, isto é uma falha grave e sem justificação aceitável.
No aspecto gráfico e sonoro, o jogo é muito agradável, pensado para ter muita cor, com música relaxante e uma interface pensada claramente para os mais pequenos perceberem onde ficam todos os locais.
Graficamente o jogo oferece um ambiente alegre com muitas cores vibrantes, os modelos em forma de peluche e a música calma e relaxante compõem um ambiente seguro e confortável. A interface é simples e clara, visivelmente pensada para mãos pequenas e acima de tudo para crianças que gostem de superar desafios.
Pokémon Friends foi uma excelente surpresa, é uma experiência genuinamente educativa, que promove a aprendizagem de forma lúdica, leve e envolvente. Para os mais pequenos, é uma porta de entrada fantástica para o pensamento lógico. E para os pais que estão fartos de ver os filhos a consumirem vídeos e aplicações sem proposto, aqui têm uma alternativa muito mais rica e útil para as crianças. E para perceberem isso, basta olhar para o brilho nos olhos delas ao resolverem cada desafio, mostrando como o jogo cumpre plenamente o seu papel.