Developer: Ubisoft
Plataforma: Xbox Series X|S, Xbox One, PlayStation 5, PlayStation 4, Nintendo Switch, PC
Data de Lançamento: 18 de janeiro de 2024
Há jogos que transcendem o mero entretenimento, tornando-se marcos que marcam os respectivos géneros. Prince of Persia: The Lost Crown emerge com o peso de um nome que ficou marcado em muitos jogadores por várias décadas. Ainda assim, chega reinventando uma franquia que estava longe dos holofotes há 14 anos, onde certamente foi preciso muita coragem para trazer uma narrativa e uma abordagem de jogabilidade que desafiam as “convenções” estabelecidas da franquia. Desenvolvido pela Ubisoft Montpellier, a mesma das mentes brilhantes por trás da franquia Rayman, este título não é simplesmente um regresso às raízes da franquia, mas uma re-imaginação arrojada que mescla elementos clássicos com uma perspectiva moderna.
Desde os primeiros murmúrios sobre o regresso da franquia, The Lost Crown provocou expectativas e especulações, especialmente quando qualquer abordagem da Ubisoft é logo posta em causa pela crítica especializada e pelos jogadores. Este jogo, no entanto, não apenas responde às expectativas, mas supera-as com uma narrativa envolvente, uma jogabilidade refinada e inovações que elevam o género metroidvania a novos patamares.
Ao mergulharmos neste universo, exploraremos as camadas intricadas de The Lost Crown, desvendando desde a fundação narrativa que ancora a jornada até às nuances do design visual e sonoro que dão vida a excelente jogo. Este não é apenas um regresso ao passado glorioso da série, mas uma afirmação audaciosa de que Prince of Persia não só permanece relevante, mas também lidera a vanguarda da inovação nos jogos de ação e aventura.
Prince of Persia: The Lost Crown apresenta uma narrativa cativante, lançando os jogadores numa jornada épica e emocional pelo misterioso Monte Qaf. A história inicia-se com Sargon, um membro dos Imortais, guerreiros destemidos da Pérsia, que se unem para resgatar o príncipe da Pérsia, sequestrado e levado para essa terra amaldiçoada.
A trama, embora suportada numa premissa inicial simples, rapidamente se desdobra em camadas mais profundas, revelando segredos obscuros sobre a família real e o próprio Sargon. O enredo, habilmente elaborado pela Ubisoft Montpellier, mantém uma tensão constante, impulsionada por reviravoltas inesperadas e momentos emocionais que se alteram ao longo da jornada.
O jogo explora temas fundamentais da série, como a procura pelo trono e os conflitos de poder, enquanto injeta novos elementos que mantêm a história envolvente. A interação entre os personagens – destacando os membros dos Imortais – é rica e cheia de carisma e humor, proporcionando uma sensação autêntica de camaradagem forjada em muitas aventuras partilhadas. O protagonista, Sargon, não é apenas um guerreiro hábil, mas uma figura complexa que evolui à medida que desvenda os mistérios do seu passado e enfrenta as provações do presente.
A equipa de desenvolvimento optou por uma abordagem diferente do habitual para contar a história, optando por uma mistura de cutscenes e diálogos, em que os personagens aparecem em primeiro plano, mas sem grandes animações. Essa escolha, combinada com um voice acting notável, contribui para a construção de personagens memoráveis e imersivas, reforçando assim a narrativa.
O enredo também toca em questões mais profundas, como o governo ditatorial e a luta pela libertação do povo persa, acrescentando uma dimensão política à narrativa. Essa exploração de temas mais sombrios e maduros nunca compromete a essência de aventura e fantasia da série, mas oferece à história pilares para uma história solida que consegue divertir e entreter.
No que toca ao mapa e à exploração, Prince of Persia: The Lost Crown mostra-se uma lufada de ar fresco no género, apresentando um mapa vasto, repleto de segredos, desafios e inovações. Ao mesmo tempo, consegue oferecer uma jornada que não apenas respeita as raízes da série, mas também introduz elementos que enriquecem a narrativa e a jogabilidade.
O mapa do jogo é mais do que uma simples ajuda, é algo fundamental. A decisão de regressar à perspectiva 2D é uma homenagem ao legado da série, mas também serve como base para uma exploração meticulosa e envolvente. Cada área é meticulosamente elaborada, repleta de detalhes visuais que enriquecem o cenário e contribuem para a imersão. A transição fluída entre diferentes secções do mapa, facilitada por atalhos e mecânicas de movimentação, cria uma experiência coesa e gratificante.
O tamanho massivo do mapa desafia a noção tradicional de jogos de plataforma. Com mais de 20 horas de conteúdo principal e acima de 30 horas para os exploradores ávidos, The Lost Crown redefine a longevidade típica do género. No entanto, o que realmente destaca este título é a forma como a Ubisoft mantém a exploração estimulante ao longo de toda a jornada.
A introdução de elementos inovadores, como a mecânica de memória, demonstra um compromisso com a qualidade da experiência do jogador. Marcando locais no mapa com fotos, os jogadores podem registar áreas de interesse, puzzles não resolvidos ou locais inacessíveis no momento. Essa funcionalidade não apenas serve como uma ferramenta prática, mas também reflete um salto evolutivo neste género de jogos, onde o mapa normalmente fica apenas marcado com um símbolo de um local inacessível naquele momento.
A diversidade de desafios no que toca às plataformas também existe, muitas das quais desdobram-se em secções desafiadoras, algumas opcionais, outras obrigatórias, mas criando sempre uma exploração motivadora, emocionante e variada. A tradição da série em oferecer secções precisas e desafiadoras permanece intacta, mas a inclusão de atalhos após essas secções intensas demonstra um entendimento profundo do equilíbrio entre desafio e acessibilidade.
Algo também muito bem adaptado a The Lost Crown foi a perspetiva 2.5D, já que além das direcções “esquerda, direita, cima e baixo” habituais nestes jogos, existe também o conceito de profundidade, com inimigos a aparecer e a saltarem para a nossa frente, vindos de outros locais. O fundo que vemos, sempre bastante vivo e a mostrar movimentos e muito mais conteúdo além daquele onde estamos a caminhar.
Um ponto em que é impossível não ficarmos impressionados é na jogabilidade e no combate, que consegue incorporar elementos clássicos da série numa estrutura moderna de metroidvania. Oferecendo uma experiência envolvente que cativa os jogadores desde os primeiros momentos até aos desafios finais.
A essência da série Prince of Persia, conhecida pelos seus desafios de plataforma e mecânica única de volta no tempo, é habilmente revitalizada neste título. Desde os primeiros minutos, o jogador é colocado em secções de plataformas precisas e desafiadoras, marcadas por movimentos fluídos e animações de alta qualidade. O protagonista, Sargon, incorpora a agilidade e a destreza que definiram a série, proporcionando uma experiência autenticamente Prince of Persia.
Os desafios, inicialmente simples, evoluem à medida que o jogador adquire novas habilidades, exigindo mestria e perícia na navegação pelos cenários. O jogo oferece uma curva de aprendizagem gratificante, equilibrando a acessibilidade para novos jogadores e a complexidade para os veteranos.
O elemento de volta no tempo, uma característica marcante da série, é habilmente integrado à jogabilidade. Ao longo da aventura, Sargon desbloqueia habilidades que envolvem manipulação temporal, abrindo caminho para desafios de plataforma inovadores e que desafiam a lógica. Essa mecânica não apenas respeita a tradição, mas também eleva a experiência a novos patamares, oferecendo uma gama de possibilidades estratégicas e criativas.
O verdadeiro destaque da jogabilidade está na transição perfeita entre a exploração e o combate. Com o passar do tempo, e de conseguirmos comandar na perfeição Sargon, percebemos como o combate é uma sinfonia de movimentos fluídos e ataques calculados. Sargon, é ágil e letal, mas ainda assim, seremos obrigados a ter uma abordagem diferente a cada inimigo, e acreditem que foram introduzidos inimigos bastante diferentes no jogo. A mecânica de combos é extensa, evoluindo à medida que o jogador progride, e a sensação de impacto é realçada por animações detalhadas. Os bosses, um dos pontos altos do jogo, não apenas desafiam habilidades de combate, mas também apresentam excelentes sequências cinematográficas.
A estratégia é uma parte integral do combate, com a habilidade de aparar ataques, desviar de golpes, ter atenção a golpes inimigos indefensáveis e usar ataques especiais. A progressão da personagem, impulsionada pelos cristais do tempo que vamos adquirindo, adiciona uma camada de personalização ao permitir melhorias de equipamentos e amuletos. Este equilíbrio entre desafio, estratégia e progressão torna o combate uma experiência envolvente que transcende as expectativas.
Além da jogabilidade gratificante e dos desafios envolventes, Prince of Persia: The Lost Crown é também bastante rico no que toca à imersão gráfica e sonora. A ideia de voltar às origens, optando por uma perspectiva 2.5D conseguiu adicionar ao jogo elementos nostálgicos ao mesmo tempo que introduz gráficos modernos. Cada detalhe, desde os cenários de fundo exuberantes até à animação fluída de Sargon, reflete um cuidado meticuloso com a estética. A escolha de cores vibrantes contribui para a atmosfera rica e dinâmica do jogo, proporcionando uma experiência visualmente deslumbrante.
Os cenários, em particular, merecem destaque. Com cenários em profundidade que oferecem vida ao jogo, já que cada local tem detalhes que merecem ser visualizados. Nota-se que existiu uma atenção especial a este pormenor, desde os elementos arquitetónicos até aos cenários mais exóticos, criando uma Pérsia que se adapta muito bem a um Prince of Persia.
A banda sonora conduz muito bem os jogadores por esta jornada épica. É uma componente vital para a atmosfera imersiva. Os temas musicais adaptam-se muito bem à narrativa, intensificando os momentos de tensão, elevando as batalhas com bosses e oferecendo uma sensação de satisfação durante a exploração. Além disso, os efeitos sonoros contribuem para a autenticidade do mundo do jogo. Cada salto, deslize e ataque é acompanhado por sons precisos e impactantes, que oferecem vida à jogabilidade. Assim como o voice acting, que consegue trazer ainda mais vida às personagens, dando-nos a conhecer cada um deles, assim como criando uma maior imersão na narrativa que temos pela frente.
Prince of Persia: The Lost Crown conseguiu trazer claramente à ribalta a aclamada franquia. A Ubisoft conseguiu começar 2024 da melhor maneira, desenterrando da areia esta ideia maravilhosa de colocar-nos perante um metroidvania único e desafiador. Ao mesmo tempo que é nostálgico, é repleto de inovações e cada uma delas parece encaixar na perfeição em tudo aquilo que uma experiência de Prince of Persia deve ser.