Developer: Straight4 Studios, GIANTS Software
Plataforma: PlayStation 5, Xbox Series X|S, PC
Data de Lançamento: 25 de Novembro de 2025
Para os fãs de jogos de corridas de simulação, o nome Ian Bell é sinónimo de inovação e atenção a todos os detalhes, seja nos carros, seja na própria condução. Se nunca ouviram falar dele, saibam que foi o mentor de Project Cars, franquia de algum sucesso entre 2015 e 2020, até à chegada de um terceiro jogo que deixou de lado as bases iniciais e fugiu para um estilo mais arcade. Um erro que levou a EA a colocar um fim na franquia. Mas desistir não estava no dicionário de Ian Bell e por isso, fundou nos últimos anos a Straight4 Studios, na qual juntou velhos conhecidos com quem já tinha trabalhado para lançar este Project Motor Racing.
Se olharmos para o mercado de jogos de corridas de carros, nomeadamente para o chamado “sim racing”, podemos ver o iRacing no topo das preferências, com corridas online competitivas, mas onde também é necessário pagar uma espécie de subscrição para poder participar nelas e apenas está disponível no PC. Também há o LMU, o Le Mans Ultimate que aposta nas corridas longas de resistência, as chamadas endurance, isto também no PC, mas sem ser necessário pagar subscrição. Para as consolas existe a franquia Assetto Corsa, uma alternativa mais moldável e versátil na jogabilidade do que os que falei anteriormente. Há ainda, e os meus preferidos, Gran Turismo 7 e Forza Motorsport, mas onde a proposta vai para lá da simulação, misturado um pouco de arcade. É para tentar rivalizar e diferenciar-se destes todos, que Project Motor Racing tenta equilibrar realismo com acessibilidade e ter modos offline capazes de agarrar os jogadores por muito tempo. Já vamos ver se consegue.
Já se sabe que quando a tarefa envolve conduzir um carro num jogo de simulação, a tarefa não se adivinha fácil. E podem logo, à partida para os primeiros arranques contar com essas dificuldades. Não tem mal nenhum, faz parte, principalmente para quem, como eu, que joga este tipo de jogo ocasionalmente e não faz dele uma rotina diária. É aí também que se ganha atributos, resiliência e experiência de corrida. E digo-vos que as primeiras corridas com este Project Motor Racing foram penosas a nível de condução, equilíbrio do carro, aceleração no momento certo, travagens mal calculadas, enfim, tudo havia de passar com o tempo.
No entanto, as coisas não são assim tão simples e não basta ter experiência. Isto porque cada carro tem a sua ciência e uma panóplia de opções customizáveis com valores que me fizeram sentir um Engenheiro automóvel a olhar para eles. Ter o feedback do carro ajustável ao nosso gosto, o combustível no limite mínimo para não o deixar demasiado pesado, ter a preocupação com os pneus, a força do motor, etc, etc… Não sendo eu um expert na matéria, entre o recurso à internet e ver a maneira como o carro reagia a cada alteração, lá me fui tentando orientar. E até consegui algumas vezes.
Porém, Project Motor Racing, parece-me, mais do que exigente, um bocado desajustado. Há carros em que conduzir é uma maravilha e no final de duas voltas já o dominamos, mas há outros, que nem ao fim de meia hora de corrida o conseguimos endireitar. Isto não pode ser culpa dos “settings”. Até porque uma coisa é o carro não responder, ou ter pouca tração, outra é ele deslizar de uma forma absurda sem razão aparente. Convém dizer que joguei com comando e não com volante, numa PS5. Pode haver diferenças para quem joga com volante e noutra plataforma.
Posso dizer que adorei conduzir o Mazda MX-5, de 2017 ou o clássico Porche 917K. A tendência que notei foi que carros mais velhos se conduziam muito melhor do que os chamados “hipercarros” ou os mais recentes, fossem eles de Grupo 3 ou 4. Na verdade, acho que devia ser o contrário, mas eu na verdade sou só um piloto de consola e nunca peguei nenhum na vida real por isso também não sei. Mas não me fez muito sentido. O que sei é que o aquecimento dos pneus vai fazer toda a diferença durante a condução e é fundamental que se mantenham numa temperatura alta, se não o carro desliza por todo o lado e não se agarra à pista. Já agora falo também do sistema de penalização, que me parece exagerado. Não digo que não me tirem dois segundos ou mais se fizer corta-mato ou fizer batota na corrida, mas quando numa situação normal, há um deslize e o carro perde o controlo e nem sequer estamos a ganhar tempo com isso, só porque saímos para a relva já estamos a levar uma sanção, é demais.
As condições da pista também têm influência na condução, claro. Project Motor Racing usa uma tecnologia a que chamou True2Track que faz com que cada pista evolua de forma dinâmica durante a corrida. Desde o desgaste do asfalto, à mudança da aderência ou à aquaplanagem em dias de chuva, tudo vai mudando ao longo das corridas. Gostei de ver também a abordagem ao clima nas diferentes estações do ano. No inverno há chuva e árvores pálidas, no outono, nota-se as cores mais acastanhadas e os ramos de árvores a condizer, enquanto no verão, há mais verde, mais brilho e nota-se que o sol está presente, até mesmo na temperatura do asfalto de cada pista e gostei disso.
No desempenho gráfico, o jogo apresenta-se bem na PS5 para os padrões de jogos de corrida atuais, mas tem algumas partes menos boas. Gosto dos pormenores das pistas e dos carros vistos por fora, mas quando passamos para o seu interior, não tem nem metade do brilho que podemos ver em Gran Turismo 7 por exemplo. Quando batemos, vemos os carros com amolgadelas, algumas exageradas, mas achei interessante ter o sistema de danos que falta em muitos outros jogos deste tipo.
A chuva também deixou a desejar. Sou um fã de corridas à chuva e quando acontece isso num F1, por exemplo, adoro jogar, mas aqui a chuva às vezes nem parece bem água nos salpicos. No asfalto e nas poças que vemos no asfalto sim, mas no que cai no vidro do carro parece mais um efeito pré fabricado com um padrão igual cada vez que o pára-brisas passa pela água. É estranho. Quanto a quebras de framerate, não notei nada e achei o jogo bem preparado para corridas com muitos carros.
Também gostei dos elementos sonoros no geral. Cada carro tem o seu barulho típico, já vemos isso noutros jogos, mas aqui também parece estar fiel à realidade. Pior é mais uma vez quando usamos a visão dentro do próprio carro, porque aí parece-me que estão muito exagerados e a certa altura dá a ideia que tudo se está a partir e a destruir por dentro, o que não é verdade.
Saímos de pista, o que não é difícil, e passamos para os modos de jogo que Project Motor Racing apresenta. Começo pelo offline e o ambicioso, ou pelo menos prometedor, modo carreira. Assim que começamos, escolhemos um nome para a equipa, um para o piloto e colocamos as definições ao nosso gosto. Apesar dos desenvolvedores do jogo sugerirem jogar no modo autêntico, onde não se pode reiniciar corridas, e a dificuldade está sempre nos 100%, eu não recomendo que o façam. Pode até haver mais realismo, mas não há tanta diversão, principalmente se não estiverem habituados a estes níveis de desempenho demasiado exigentes. Ficar constantemente em último não é assim tão fixe.
Com a equipa criada é preciso perceber como queremos ser recompensados a nível de patrocinador. Podemos optar por receber uma certa quantia fixa por evento, um valor mais por objetivos ou até pela nossa classificação nas corridas. Há várias opções. O orçamento conta também com a quantia que queremos iniciar para nos permitir comprar carros para participar nas corridas e cobrir os custos de arranjo dele cada vez que batemos. Gostei de ver este sistema ao estilo Master League do PES, mas em carros. Gerir o orçamento é fundamental para ir sobrevivendo no modo carreira. Os eventos são feitos e escolhidos conforme os carros que temos elegíveis para ir a cada evento. O formato de treinos, qualificação e depois corrida estão presentes para dar um maior realismo e imersividade às competições. No entanto, falta ao jogo uns menus bem mais agradáveis de navegar. Falta um calendário mais certo de eventos e opções mais customizáveis. Ainda vão a tempo de as fazer. Além da carreira, há desafios, contra-relógios e eventos temáticos em que podem participar. O pior é mesmo a Inteligência Artificial, ou falta dela nos adversários.
Parece que não sabem que estão numa corrida com outros condutores. A maior parte das vezes vão todos em fila a fazer as mesmas trajetórias, não interessando se há alguém ou não ao lado. Se nas primeiras vezes em que batia, pensava que a culpa era minha, isso passou-me porque de facto, mesmo nós estando numa posição mais à frente, lá vêm eles desalmados contra nós para fazer a sua trajetória pré-programada. Algo que deveria ser corrigido já nos próximos tempos e que me dificultou a diversão. Por outro lado, gostei de ver alguns acidentes entre os condutores da CPU, enquanto eu ganhava lugares. Essa parte até está bem feita.
Online, Project Motor Racing apresenta-se sem serviços de subscrições próprios e pagos, como em alguns dos seus rivais e distingue-se por isso. Podem fazer corridas rápidas, criar lobbies, participar em eventos especiais que o próprio jogo cria e claro, as corridas ranqueadas. Aqui, para entrar e chegarmos a um tipo de classificação precisamos de ultrapassar o primeiro desafio com o Mazda. Esta é a porta de entrada para qualquer nível de jogador, no entanto têm de bater o tempo numa corrida de quatro carros, o que não é fácil. Esse tempo limite estava nos 8 minutos e 20 segundos nos primeiros dias, mas devem ter visto que havia muita gente a não conseguir e aumentaram mais 15 segundos. Fica mais acessível. Já vos falei do mau sistema de penalizações e aqui tem mesmo de ser aperfeiçoado em casos de colisões graves e outras menos graves. Se quer ser competitivo, terá de melhorar isso.
Termino com o conteúdo que o jogo apresenta inicialmente, sendo que a promessa é de que vai chegar mais ao longo do tempo, além dos mods que também estão prometidos, não só no PC, mas também para consolas. São mais de 70 carros nas mais diversas categorias GT4, GT3, GTE, Hypercars, clássicos GT1, Group C e por aí fora. Falta um F1, marcas como a Ferrari ou a McLaren. Mas encontramos Porche, Aston Martin, Jaguar, Mazda, entre outros. Nas pistas podem contar com as clássicas Spa-Francorchamps, Monza, Nürburgring GP, Laguna Seca, Fuji, entre outras e cada uma delas com algumas variações de pista.
Project Motor Racing é tal como o nome indica um projecto que ainda mal começou, mas que quer trazer para a ribalta o estilo de simulação que Project Cars já conseguiu em tempos. Talvez saia numa altura em que ainda não está totalmente oleado e encontra alguns bugs e coisas a melhorar. Talvez esteja ainda num regime de “Early Access”, mas a um preço de jogo final. Isso dará duas leituras aos jogadores. Ou acreditam em Ian Bell e confiam nas melhorias a longo prazo ou esperam que o jogo esteja melhor para gastar o seu dinheiro. Da minha parte, a pontuação é dada com base na análise que fiz no jogo até ao momento do lançamento. Se depois melhorar, cá estaremos para falar dele novamente.




