Developer: Bethesda Softworks, Arkane Studios
Plataforma: Xbox Series X|S, Xbox One, PC
Data de Lançamento: 02 de Maio de 2023
Redfall era uma das apostas da Xbox para este ano de 2023. O jogo da Arkane Studios mostrou e prometeu bastante em muitos trailers e até em algumas antevisões que li. Sem ter jogado nada do jogo antes de fazer esta análise, a expectativa era bastante, até porque contando ser um dos exclusivos da consola da Microsoft e com entrada direta no Game Pass, rapidamente pensei que podia vir a ser mais um dos jogos bandeira da consola, tal como Halo, Gears, Forza Horizon ou o mais recente Hi-Fi Rush. Mas nada disso aconteceu, pelo menos para já.
A primeira aparição do jogo foi na E3 de 2021, durante a conferência que a Xbox fez juntamente com a Bethesda em que a previsão do seu lançamento era para o verão de 2022. Tal como aconteceu com muitos jogos, este foi mais um daqueles que foi adiado e a julgar pelo resultado entregue nas consolas, no dia do seu lançamento, talvez devesse ter sido novamente adiado. Isto porque se nota que o jogo não está devidamente pronto, desde muito cedo. Não é que faltem missões, ou partes da história, falo de bugs que, em último caso, até provocam algum riso, mas que não devia ser suposto.
Para enquadrar o que é o jogo, a proposta de Redfall é, aparentemente, simples. Um jogo em primeira pessoa que pode ser jogado sozinho ou em equipa até quatro jogadores com quatro personagens que podem escolher para a vossa aventura. A história não é das mais originais, mas aceita-se o clichê de haver uma praga de vampiros impulsionada pelo sangue de uma jovem a que chamam de “paciente zero” que pensava que ia salvar a cidade, mas afinal não foi. Redfall está então atolada de vampiros e de humanos fanáticos por esse culto, tinha de ser não era? A nós cabe descobrir o que se passa, como tudo aconteceu e salvar a cidade.
Para isso podem escolher uma de quatro personagens jogáveis, são eles: Jacob, Devinder, Layla e Remi, cada um com os seus atributos especiais. Jacob tem um corvo para marcar os inimigos e pode ficar invisível, Layla pode invocar o seu ex-namorado vampiro e proteger a equipa com um escudo. “Dev”, é assim que os amigos lhe chamam, tem armas elétricas para rebentar inimigos e pode criar portais de passagem entre espaços enquanto Remi é especialista em detonar C4 e em atrair os vampiros para uma determinada zona através de uma sirene. Podemos editá-los, mas limitados dentro das propostas apresentadas, como por exemplo mudar as roupas ou o equipamento que usam. Vão ter muito por onde escolher, pelo menos no que toca às armas, uma vez que todas as que apanhamos ficam guardadas e podem ser escolhidas e alteradas em quase todas as circunstâncias. Isto ajuda em situações de algum desespero em que ficamos sem balas e é necessário matar mais uns quantos inimigos. Os personagens têm ainda uma árvore de habilidades que, tal como acontece noutros jogos, vão ganhando pontos para poder usar e evoluir determinada característica. Cada um deles tem ainda outras opções divertidas, o que até dá uma boa variedade de jogabilidade se quisermos ir rodando personagens.
Mas há um grande problema aqui, porque quando começam com uma personagem a aventura em single-player, se quiserem mudar, terão de começar o jogo do início, ou seja até podem jogar com todos, mas têm de fazer tudo novamente. O jogo ganhava muito mais em permitir mudar de personagem a meio, sem ter de repetir missões. Pior, se jogarem online, o progresso do jogo apenas fica no host, ou seja, naquele que criou a partida, portanto se planearem fazer a história toda de Redfall é bom que joguem sempre com os mesmos amigos e que vocês, ou um deles seja sempre o host, caso contrário, vão andar a repetir e a repetir missões que nem são assim tão memoráveis. É pena porque a experiência que tive em jogar sozinho é de que jogo um bocado e desisto, porque o ambiente não puxa para grandes descobertas ou momentos emblemáticos que façam querer lá voltar e se houvesse essa dinâmica de trocar de personagens, talvez a história fosse outra. O jogo é claramente melhor quando se joga online, porque ganha uma nova vida, principalmente se conseguirem juntar bons amigos e fazer umas combinações de combate à maneira com o uso das habilidades especiais de cada personagem. A juntar a isso, a boa cadência de tiro e a sua jogabilidade como jogo em primeira pessoa até é bastante bom. Em alguns momentos, Redfall até parece outro jogo, e dos bons, mas são raros.
Quanto ao mapa e às missões do jogo, existem duas grandes zonas, uma que fica logo disponível e outra que desbloqueamos mais tarde. Funcionam como dois mapas de mundo aberto que podem ser explorados. A partida para essas explorações dá-se através de uma zona de operações, um quartel dos bombeiros onde na primeira missão, o jogo nos obriga a matar um dos vampiros e a salvar uns reféns que depois lá ficam como “ajudantes”. Sobre as missões, existem as primárias e as secundárias, embora algumas tenham mesmo de ser feitas para conseguirem seguir a história principal. Há ainda abrigos que encontramos no mapa e também eles têm as suas próprias missões para podermos limpar as zonas e usar isso para fazer viagens rápidas. O modelo de missão é bastante básico: há uma reunião de equipa, escolhemos que missão queremos fazer e lá vamos nós depois da cutscene que aparece. Até aqui nada contra, o pior é que as missões são um pouco estranhas, às vezes simples e outras repetitivas. Ir até um lugar marcado no mapa, derrotar os inimigos, sejam vampiros ou humanos fanáticos pelo culto, apanhar um determinado objecto e voltar para investigar é curto. Pelo meio encontramos bosses, mas que poucos acabam na nossa memória como uma luta para mais tarde recordar.
Os vampiros usam quase sempre o mesmo escudo para se protegerem e na altura do combate parece que estão ali só de presença, na deles, a fazer o que lhes vai na real gana. Têm uma Inteligência Artificial muito limitada e não reagem às várias características de um combate que devia haver em Redfall. Isto acaba por retirar algum entusiasmo, mesmo quando até estamos a passar um bom bocado. Outra coisa que me deixou com o nariz torcido foi não conseguir perceber de onde apareciam os inimigos. Muitas vezes lá vinha uma vaga deles, mas não se conseguia perceber bem de onde vinham nem como os podiamos controlar, sem ter de fugir daquela zona.
Entre as coisas estranhas de Redfall está o desempenho do jogo nas consolas. Joguei numa Xbox Series e já não estou muito habituado a jogos a correr a 30fps. Os gráficos parecem de uma geração anterior, e embora o design dos personagens seja mais num estilo de “bonecos” do que a tentativa de fazer pessoas mais reais, falha muito nas texturas e nos bugs apresentados. Para dar alguns exemplos, numa determinada situação havia uma zona alta em que um dos personagens diz “olha essa paisagem tão bonita”, quando não se via nada; noutra ocasião quando aparecia o botão de interagir para falar e o personagem nem a boca abria ou ainda quando desapareciam e apareciam pessoas no mesmo local, sem sentido nenhum. Também a renderização de um certo símbolo na entrada do tal quartel dos bombeiros gerou alguma risada entre nós quando jogava online porque o meu estava totalmente renderizado, noutro estava tudo em pixels e noutro nem sequer aparecia. Um mistério que depois percebemos que não era só nosso ao ver alguns comentários pela internet. Também no hub de apresentação de jogadores online há alguns erros e nem sempre é fácil conseguir convidar alguém para se juntar ao jogo, porque os jogadores aparecem offline, quando na verdade, não estão. A solução é a clássica do sair e voltar a entrar, mas não deixa de ser estranho que um jogo preparado para Xbox tenha problemas com os próprios menus da consola.
No PC o jogo parece que mantém estes mesmos erros, mas corre a 60fps e pelos vídeos nota-se logo a diferença. Esta decisão de não incluir no lançamento os 60fps na Xbox Series foi uma má jogada por parte da Arkane. Também é verdade que, nesta altura, o jogo tem falhas, mas daqui a uns tempos talvez até se torne algo diferente. Não estou a ver a Bethesda a deixar o jogo ao abandono no próximo ano e por isso nunca digam “deste sangue não beberei”, embora para já possam consumi-lo apenas em doses moderadas.
Redfall foi um tiro mal dado pela Arkane Studios depois de já nos ter brindado com Deathloop, Prey ou Dishonored. O conceito até é bom e a espaços, o jogo é divertido quando jogado em modo cooperativo. É realmente uma pena as missões serem demasiado simplistas e repetitivas, bem como o vazio do mapa e a IA dos inimigos. A seu tempo, deve chegar o modo 60fps à Xbox Series e a correção de uma data de bugs. Talvez aí consiga ver uma cidade mais interessante e bonita, capaz de me fazer reinstalar o jogo para lhe dar mais uma oportunidade.