Developer: Jutsu Games, Modus Games/Games Operators
Plataforma: PS5, PS4, Xbox Series S|X, Xbox One, Nintendo Switch e PC
Data de Lançamento: 31 de Agosto de 2021
Rustler é daqueles jogos que nos apaixonam desde o seu início. Com um um full motion video, o jogo apresenta todos os condimentos que vamos encontrar no desenrolar da ação, isto é, humor a dar literalmente com um pau, peripécias que não lembram ao menino Jesus, e um caos medieval. Basicamente estamos a falar de um Grand Theft Auto 2 em formato medieval, onde vamos roubar, bater em toda a gente que nos aparece à frente, pilhar plantações, roubar vacas, vinho e cavalos, e ainda um combate de artes marciais medieval. Sim, é tudo isto e muito mais!
Vamos controlar a personagem chamada “Guy“, que não teve um nome propriamente dito, porque a sua família não teve para isso, que faz parte de um gangue e que terá, ao início, algumas tarefas para cumprir. Guy nem sequer sabe muito bem porque é que está metido num gangue, ou porque é que faz o que lhe mandam, mas como também nada lhe interessa, embarca nesse modo de vida sem qualquer complexo. No entanto há algo que o atrai de uma forma especial, participar no Grande Torneio de Artes Marciais de Cavaleiros, podendo resgatar a filha do Rei e tomar para si o Reino.
Como já perceberam o jogo tem muito de non sense, muito à Monty Python, em que a realidade e a ficção estão sempre em conflito, desde os diálogos, passando pelos objetivos e até toda a forma de estar e viver do reino. Para terem a noção estamos a falar de polícias com sirenes e as luzes de pirilampo nos seus cavalos, bardos que em vez de tocarem alaúde fazem breakbeats, cavalos que podemos levar à oficina para mudar a sua pintura, leia-se celas e afins.
Apesar de se denominar um GTA 2 medieval, Rustler não complica tanto. Temos as Quests da história propriamente dita a amarelo, e temos as Side Quests a azul, que servem para ganharmos mais uns trocos, mas também ganhar mais pontos de habilidade para o nosso Guy. A verdade é que se não fizerem as aventuras paralelas, mais tarde ou mais cedo, vão perceber que as coisas se tornaram mais complicadas de resolver e de nos safarmos aos agentes da autoridade. A árvore de habilidades está dividida em 4 filas, a primeira dedicada aos atributos da nossa personagem, desde a sua força, à sua stamina, passando pelo aumento de vida ou resistência aos danos, assim como ao dano que infligimos. A segunda refere-se à utilização das armas à distância, portanto estamos a falar de aumentar a velocidade de recarregar a besta, as setas que podemos carregar ou até poder recarregar a besta em andamento. A terceira prende-se com a utilização do cavalo, desde apanhar itens em cima do cavalo, aumentar a sua stamina, não cair facilmente do cavalo, dar coices ou podermos chamar o cavalo. E a quarta e última tem a ver com a componente mais social com gastarmos menos dinheiro a contratar bardos, o nível de procurado baixar em zonas de floresta, não perder as armas quando somos presos ou descontos nas lojas.
A movimentação faz-se a pé ou de cavalo ou carruagem, tal como o GTA, se andarmos à porrada com toda a gente que nos aparece à frente a polícia vai-nos logo tentar caçar, e para fugirmos vamos ter que arrancar posters de Procurado espalhados pelo mapa. Aqui não chega apenas os despistar, que aliás é bastante complicado, vamos mesmo ter que tirar os tais posters, mesmo que o polícia esteja mesmo ao nosso lado. Sim, Rustler tem estes pequenos atrofios de Inteligência Artificial, não só neste capítulo, mas em vários, nomeadamente dos nossos inimigos às vezes ficarem a dar voltas sobre si mesmo, ou os polícias a cavalo ficarem a bater numa árvore sem conseguir sair do sítio. Diria que são estas questões físicas e técnicas que é o ponto fraco do jogo.
A nossa personagem move-se com o tradicional analógico esquerdo, servindo o analógico direito para nos virarmos para os inimigos, que é determinante para as sessões de luta, tanto no ataque como para nos defendermos. A tecla X (na PS5, a versão que analisámos), funciona para rebolarmos ou desviarmos, o quadrado para interagir com os elementos, o triângulo para montarmos ou desmontarmos do cavalo. Depois em termos de combate propriamente dito temos o D-pad para escolher a arma que utilizamos, com o R2 para atacar e o L2 para bloquear e o L1 para correr. A cavalo o L1 serve para cavalgarmos mais rapidamente e o R1 para recuarmos.
No combate a nossa personagem consegue disferir ataques perante a sua barra de stamina, isto é, dar socos ou golpear com uma espada, um pau ou uma lança gastam essa stamina, e quando ela fica a zero, nem conseguimos levantar os punhos ou a arma que tivermos na mão. Isto faz com que tenhamos que medir bem o que fazemos, se o jogo é descomplexado em todas as suas premissas, no combate torna-se mais técnico e até mais desafiante, dando uma jogabilidade fluída, divertida, mas também com uma boa dose de desafio. Neste campo referir ainda que atacar com uma espada, não é o mesmo do que atacar com uma lança. Devido ao seu peso e tamanho a lança tira-nos muito mais stamina em que cada ataque, do que uma espada ou os punhos. Por acaso gostei muito deste pormenor, porque nos faz pensar como abordar os inimigos, quer seja pelo seu número ou força ou armas disponíveis. Temos ainda a possibilidade de usar uma besta, e se procurarem bem, até vão encontra uma semiautomática, onde aí vamos apontar com o analógico direito e disparar com o R2, sendo que temos um número limitado de setas até termos que recarregar a arma, e recarregar demora bastante tempo, portanto usem com sapiência.
Ao nosso dispor temos ainda um mapa, ativado através do touchpad, que nos mostra os principais locais que podemos visitar, onde estamos e para onde temos que ir. O mapa do jogo não é muito grande, mas é um open world simpático que ganha pelo facto de, como é um jogo que mistura a visão top dowm com a isométrica, nos obriga a explorar os vários cantos. E explorar o mapa pode ser muito proveitoso, isto porque podemos encontrar armas melhores, umas ferraduras que recolhendo um x número ganhamos mais pontos de habilidade, ou novas “canções” para o nosso bardo tocar. Tudo aquilo que encontrarem passa a estar disponível no vosso inventário para usarem, seja uma armadura, escudo ou um besta semiautomático, sendo que também podem usar o dinheiro que roubarem para adquirir novos utensílios. O dinheiro serve ainda também para comprar uma nova moradia e até podem fazer upgrades à vossa mansão, mas também vos dá pontos novos de acesso para fazerem save à vossa jornada, assim como, cada uma delas, nos dá acesso directo a quando fazemos save recarregarmos as armas ou aceder automaticamente a outras.
O jogo desenvolve-se sempre numa premissa de nos deslocarmos do Ponto A ao Ponto B, mesmo que para o fazer tenhamos que fazer uma carrada coisas, a lógica é bastante simples. O que difere muito são as tarefas que temos pela frente, desde simplesmente roubar um cavalo, dar-lhe uma nova “pintura” e entregar ao seu novo dono, matar um alvo e levá-lo para o cemitério, roubar uma vaca, encontrar um tesouro numa plantação, queimar uma “bruxa”, passarmo-nos pela própria morte, entre outros; a verdade é que são sempre tarefas diferentes e sempre com um enorme sentido de humor associado. É difícil não haver um momento, em cada uma delas, em que não vão soltar umas gargalhadas. O que é também memorável são as personagens que vamos conhecendo ao longo do percurso, desde um normal agiota, passando por um falsificador de documentos, um ervanário que trafica drogas, a Santa Inquisição espanhola ou até os Cavaleiros do Santa Graal, e sim, os mesmos da série Monty Python, incluindo o Cavaleiro Negro.
A nível técnico, Rustler tem um aspeto simples mas eficaz, uma espécie de Cell Shading que lhe dá um ar pitoresco, fluído e atrativo, com pequenos pormenores de alto detalhe, nomeadamente em termos de iluminação, quer de noite ou de dia, e com um efeito de transparência em zonas mais densas de população ou arvoredo, para que consigamos ver melhor por onde vamos e não estarmos constantemente a bater em objetos. A nível sonoro também está bastante bom, com elementos de profundidade bastante apurados, quer na aproximação ou afastamento de locais, especialmente dando-nos a perceção de onde vêm ou da proximidade dos polícias em nosso encalce, assim como pormenores deliciosos através da coluna do DualSense, tais como a marcha-atrás das carruagens ser executado através do comando.
Rustler é um excelente jogo para descomprimir e dar umas valentes gargalhadas. Pode parecer que não se leva a sério, mas é competente em praticamente tudo e é excecional na abordagem cómica/satírica. Graficamente interessante, com pormenores deliciosos, um sistema de combate equilibrado, e com uma narrativa completamente fora mas que nunca sentimos que é só parvo. O humor é requintado e apesar de assentar nas bases de um GTA, consegue ser original e divertido.