Developer: Mimigames
Plataforma: PC, PS5 e Xbox Series S|X
Data de Lançamento: 17 de Agosto de 2023 / DLC – 6 de Dezembro

Depois de termos testado o novo jogo da Mimimi Games, Shadow Gambit: The Cursed Crew, agora é a vez de o analisarmos e com o seu primeiro DLC – Yuki & Zagan.  Não é de espantar que este seja um jogo de estratégia em tempo real, visto que já produziram ícones do género como Desperados III e Shadow Tactics: Blades of Shogun.

No entanto, a ideia era fugir de um ambiente mais realista, como foi o Western ou o Japão Feudal, e dar largas à imaginação com personagens que não estão presas a qualquer lei da física ou da história, oferecendo também uma narrativa de fantasia, ambientada na Era Dourada da Pirataria, mas criando personagens completamente originais e cuja personalidade só pode ser comparada com aquelas das dos Piratas das Caraíbas.

Nesse contexto, algumas pessoas são atingidas pela denominada Maldição das Almas Perdidas, que as transforma em mortos-vivos e, de uma maneira peculiar, assombra o enigmático arquipélago do Caribe Perdido. Nesse cenário, a Inquisição, uma entidade opressora, entra numa verdadeira caçada aos piratas amaldiçoados que percorrem os quatro cantos dessas ilhas.

A nossa personagem central, Afia Manicato, vai juntar-se a Red Marley, um navio fantasma com alma viva, e montar uma tripulação pirata amaldiçoada. Vamos abraçar poderes sobrenaturais para desafiar o ameaçador exército da Inquisição, que se interpõe entre a nossa querida tripulação pirata e amaldiçoada e o tesouro misterioso do lendário Capitão Mordechai.

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O Red Marley, o tal navio fantasma, foi brutalmente dizimada pelas forças da Inquisição, mas um estranho poder emanado pela alma da embarcação vai levar a nossa personagem, a tentar reanimar toda a tripulação para combaterem juntos a impiedosa Inquisição. Por conseguinte, um dos nossos primeiros actos oficiais em Shadow Gambit é recuperar alguns bucaneers – antes de partirmos para a caça ao tesouro do lendário Mordecai.

Um dos atributos mais notáveis deste jogo é, precisamente, este conjunto ilustre de piratas

Shadow Gambit: The Cursed Crew traz uma dinâmica diferente dos anteriores jogos da Mimimi Games, pois o Red Marley funciona como uma base, a que voltamos recorrentemente para tentar aprender os segredos da embarcação e escolhermos quem reanimos primeiro, após conseguir as Black Pearl que lhes confere uma nova oportunidade. Mas para isso, é preciso recolher alguns objectos místicos e, portanto, no início teremos apenas uma personagem disponível no primeiro nível.

Afia Manicato é a primeira personagem que temos à nossa disposição. A jamaicana é a Navegadora, consegue definir os pontos de entrada de cada missão, uma das novidades do jogo, visto que podemos escolher um deles para a abordagem a cada ilha poder ser diferente. Retirando a espada do seu peito, Afia consegue teletransportar-se e executar um ataque mortífero. Para além disso também pode parar o tempo, para que consigam executar alguns movimentos mais complicados.

Toya of Iga, foi a segunda personagem que escolhi reanimar nesta demonstração e é o cozinheiro de serviço. O japonês é capaz de deixar para trás um pequeno amuleto de papel humanóide que só ele pode ver e, em seguida, teletransportar-se de volta para sua localização a qualquer distância. Se um inimigo estiver ao alcance do feitiço quando ele se teletransportar, Toya o matará com estilo. Também carrega um pequeno apito para atrair os inimigos, porque alguns truques nunca envelhecem.

Suleidy é outra das personagens disponíveis, é a médica do navio e cultiva plantas infundidas com almas para poções e remédios. Com o chamado sementes de caveira destila aspectos da sua própria alma e cultiva-os como frutas que têm vários efeitos. Já as sementes de cobertura criam um arbusto oculto no impacto com qualquer superfície do solo. Por fim, o Wander Dust contém esporos que fazem as pessoas “irem dar uma volta”.

John Mercury, o carpinteiro, pode contar com o auxílio do seu fiel companheiro, o peixe Sir Reginald, para distrair os adversários, bem como utilizar a sua âncora e esconder-se nas profundezas do Abismo, surpreendendo os inimigos e arrastando-os para um destino sombrio.

A canhoneira do navio, Gaelle le Bris, exibe uma força bruta ao manusear o seu canhão, possibilitando o abate à distância dos oponentes ou a distração deles através das suas bombas. Apesar da sua aparência rude, o seu verdadeiro talento reside na poesia.

Em contraste, temos Teresa la Ciega, a atiradora de elite. A sua besta nunca falha o alvo, mesmo quando este se encontra a longas distâncias. É como se fosse a sniper da equipa, dando cobertura e tratando dos alvos de maior difícil acesso.

Quanto a Quentin Aalbers, um entusiasta de tesouros, transformou a sua própria cabeça num adorno de ouro, e que também a usa para distrair e eliminar os inimigos. Carrega ainda uma vara de pesca para guardar os despojos no baú que carrega nas costas para levar todos os espólios que conseguir.

E, por fim, o extravagante contramestre da tripulação, Pinkus Pravus Pernelion von und zu Presswald. Autodenomina-se um árbitro do bom gosto e, para além disso, é um autêntico artista quando se trata de se apoderar dos corpos dos outros, para se transformar neles e passar despercebido para além das linhas inimigas.

Ao todo são oito as personagens disponíveis no jogo, cada uma com o seu estilo próprio e mecânicas específicas, que vão desde a capacidade de controlar a mente de outra pessoa, disparar uma personagem pelo ar, abrir um portal para se esconder, ou mesmo incapacitar inimigos.

Um dos atributos mais notáveis deste jogo é, precisamente, este conjunto ilustre de piratas dotado de personalidades singulares que nos conquistam à medida que entramos no universo de Shadow Gambit. Os diálogos, interacções e a narrativa dão “corpo” a estas personalidades, mas é o voice acting acima da média que dá credibilidade, a vivacidade e individualidade a cada um destes piratas, estabelecendo um apreço por suas contribuições na trama.

Como já devem ter percebido, para reviver os nossos camaradas piratas vamos precisar de algo especial, neste caso, as chamadas Pérolas Negras e Energias de Alma durante as missões. O que tem de especial esta estrutura é que, a determinado ponto, podem escolher a que ponto vão primeiro, que ilhas vão explorar e que companheiros vão reviver. Dando aqui uma liberdade substancial e uma diversidade bastante assinalável. Outro dos factores é que, com cada camarada que reanimarem, vão poder treinar as suas habilidades no porão do vosso navio, com a ajuda de Estelle, um macaco também ele com poderes especiais, colocando à prova as vossas habilidades.

Shadow Gambit: The Cursed Crew é facilmente um dos jogos mais bonitos do estilo RTS

É evidente que o jogo se destaca pela sua jogabilidade intuitiva e versátil, e este título da Mimimi Games, talvez seja o mais criativo nesse aspecto devido às possibilidades ilimitadas que este universo lhes dá. A habilidade de controlar individualmente os membros da equipa, bem como utilizar as capacidades únicas de cada um, confere uma profundidade notável ao gameplay. Para além disso, e como é habitual, temos a visão estratégica de coordenação das várias personagens e das suas acções, aqui denominada de Shadow Mode. Basicamente conseguimos colocar em pausa o jogo e emitir comandos para as várias personagens e executá-los de uma vez. Vamos ainda poder usar os elementos de ambiente a nosso favor, como empurrar uma pedra gigante para esmagar um grupo de inimigos, ou algo do género. A mecânica do poder temporal de Red Marley também adiciona um elemento inovador, permitindo revisitar os momentos cruciais e corrigir erros.

A visão dos guardas é outra característica que vem importada de há alguns jogos. Os jogadores conseguem, ao selecionar o inimigo, ver qual é o seu campo de visão através de cones, que indicam onde eles podem ou não ver. Linhas tracejadas no cone de visão indicam áreas em que o jogador não será detectado se estiver agachado. Esta mecânica exige que os jogadores planeiem os seus movimentos cuidadosamente para evitar serem vistos.

Cada mapa do jogo é uma região aberta e os jogadores podem usar uma infinidade de maneiras de abordar os seus objetivos. Embora existam várias maneiras de os jogadores entrarem numa ilha, vão ter que escapar sempre através de “Tear Into The Below”, um portal que transporta magicamente a tripulação de volta ao seu navio, o Red Marley. Como é habitual nestes jogos, os inimigos ficam em alerta com ruídos altos e pegadas, para além de termos que evitar os, já clássicos, cones de visão. Também habitual, é  Para além disso temos também o tradicional save rápido e a possibilidade de voltarmos ao save anterior, aqui, é claro, com uma dose de magia e de voltar atrás no tempo.

Soma-se à isso o fato das ilhas e demais ambientes de Shadow Gambit: The Cursed Crew serem extremamente detalhados e interativos. O jogo mostra-nos tutoriais muito bem feitos para praticamente todas as ações que são introduzidas, o que é ótimo. Como o gameplay acaba funcionando como um grande puzzle, onde existem várias variáveis, avaliar o posicionamento e os movimentos dos inimigos, combinando habilidades e movimentos de personagens é fundamental para avançar nas missões.

A possibilidade de personalização do nível de dificuldade permite que jogadores com diferentes níveis de habilidade desfrutem da experiência. Isso, aliado à sugestão de utilizar um controle para jogar, demonstra a atenção da Mimimi Games às preferências e conveniências dos jogadores.

Shadow Gambit: The Cursed Crew é facilmente um dos jogos mais bonitos do estilo RTS. O seu estilo de arte é único, e o mapa é extremamente bem detalhado. Dá para notar o cuidado que os developers tiveram com o título ao criar as artes, o ambiente, as personagens, os efeitos, as magias, a história que cada personagem conta também com o seu visual muito próprio. Em termos de performance roda facilmente nas definições máximas de uma máquina média/alta mantendo os 60FPS.

E para acompanhar esta componente, também a banda sonora é especial. Com o trabalho de Filippo Beck Peccoz que novamente, faz um trabalho excepcional utilizando instrumentos da época e capturando a essência da Era Dourada da pirataria. O voice acting, como já referi, também é muito bom, e até a dobragem para brasileiro está bastante boa, porque adapta as piadas de forma a fazerem sentido em português do Brasil.

Como tivemos também acesso ao DLC Yuki & Zagan que traz consigo 12 novas missões, mas o mais importante, duas novas personagens para jogarmos.

Comecemos pela Yuki, cujo DLC, “Yuki’s Wish”, onde chega ao Red Marley com o seu adorável parceiro tanuki, Kuma. Os fãs de MiMiMi vão reconhecer Yuki como uma das melhores personagens de Shadow Tactics: Blades of the Shogun. A sua atitude corajosa e encantadora torna-a única entre a equipa, mas suas habilidades são insanamente boas.

Yuki é capaz de definir um tripwire, tal como fazia em Shadow Tactics, desencandeando uma morte elegante e violenta. Tal como Toya de Iga, no outro jogo, Yuki tinha a capacidade de atrair os guardas com um apito, mas agora já não pode fazer isso. Em vez disso, ela é capaz de utilizar Kuma, seja para distrair os guardas e manter a sua atenção ou levá-los diretamente para o tripwire. Além disso, quando Yuki mata um guarda, estes transformam-se num pedaço de madeira que não atrai nenhuma atenção das patrulhas.

Yuki está à procura de um dragão lendário que pode conceder desejos. A primeira besta indescritível está numa ilha chamada Dragon’s Dream, que tem uma estética claramente japonesa. É um belo ambiente que lembra a aventura anterior de Yuki. A história desenrola-se através das seis missões e, mais uma vez, podemos combinar com todos os outros elementos da nossa tripulação.

A segunda parte do DLC Shadow Gambit: The Cursed Crew é o “Zagan’s Ritual” que apresenta o novo companheiro de tripulação Zagan, um traidor da Inquisição e recentemente ressuscitado e amaldiçoado que está à procura dos segredos da “Maiden’s Flame”. Como Yuki, podem recrutá-lo após a missão “Fruits of Labour” na campanha e, a partir daí, é utilizável em qualquer missão durante todo o jogo, embora tenha seis missões dedicadas à sua personagem. Também podem visitar a sua ilha, onde está a realizar algumas experiências com fins, no mínimo, desagradáveis.

Os seus poderes são muito diferentes das outras personagens. Os poderes de Zagan têm animações longas, mas são extramente poderosos. Por exemplo, pode usar um movimento em que sufoca o inimigo até à morte utilizando capacidaes telepáticas ou mágicas, se preferirem, o que lhe rouba um ponto de saúde. Mas ao tornar outro inimigo catatônico, recebe o ponto de saúde de volta. Mais útil, no entanto, é  a sua capacidade de “enjaular” um guarda que está prestes a vê-lo e passar por eles sem interrupções.

Ambos os DLCs e as suas missões e personagens associados trazem uma grande quantidade de novos conteúdos e táticas para um título já incrível – mas há mais. Além do conteúdo premium, há uma atualização gratuita chamada Treasure Hunts, que adiciona um novo modo de jogo ao Shadow Gambit: The Cursed Crew. O que adiciona 14 missões de desafio que permitem que joguem com qualquer outra personagem para completar missões mais difíceis com objetivos específicos, para algumas recompensas extraordinárias. Embora eles não sejam especificamente parte de nenhum dos DLCs, vale a pena mencionar aqui.

Shadow Gambit: The Cursed Crew solidifica ainda mais o status da Mimimi Games como uma produtora de experiências marcantes e gratificantes no género de estratégia furtiva e em tempo real. Num mercado talvez não tão vasto, a empresa continua a cativar tanto os aficionados quanto os recém-chegados, como um corsário habilidoso conquistando novos territórios.
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Pedro Moreira Dias
Fundador do Site - Salão de Jogos, o Commodore Amiga 500 foi o seu melhor amigo durante décadas e ainda hoje sabe de cor a equipa principal do Benfica do Sensible Soccer 94/95. Nos tempos vagos ainda edita as botas dos jogadores do FIFA e do PES.
analise-shadow-gambit-the-cursed-crew<h4 style="text-align: justify;"><strong><span style="color: #339966;">SIM</span></strong></h4> <ul> <li style="text-align: justify;">Graficamente espetacular</li> <li style="text-align: justify;">As mecânicas de cada personagem são muito boas</li> <li style="text-align: justify;">O melhor RTS que vimos este ano</li> <li style="text-align: justify;">A personalidade e caracterização de cada personagem</li> <li style="text-align: justify;">O voice acting e banda sonora</li> <li style="text-align: justify;">A inovação e a liberdade de podermos escolher o mapa, o destino e a equipa em cada momento</li> </ul>